O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROGRAMA DE ESTÁGIO DO PROJETO TAMAR UBATUBA-SP

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1 O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROGRAMA DE ESTÁGIO DO PROJETO TAMAR UBATUBA-SP Resumo Fernanda Felisbino Ferreira da Silva 1 - PUCPR Janete Dubiaski da Silva 2 - PUCPR Eixo Educação Ambiental Agência Financiadora: não contou com financiamento O Projeto Tamar é um projeto que visa a pesquisa, o manejo e a conservação das cinco espécies de tartarugas marinhas que estão ameaçadas de extinção e que ocorrem no litoral do Brasil. Além disso, o Projeto propõe a criação e o apoio ao desenvolvimento de alternativas econômicas sustentáveis que gerem renda e empregabilidade para parte da população costeira onde o Tamar desempenha suas atividades, além de trazer melhorias na qualidade de vida, valorizar a cultura local e garantir a proteção das tartarugas marinhas e a conservação de seus habitats por intermédio da sensibilização e conscientização dos pescadores e comunidade. Assim, além do trabalho conservacionista, o Tamar tem foco na sensibilização e educação ambiental, informando e orientando moradores, empresários, pescadores, turistas e estudantes, de faixa etária variada sobre a importância da colaboração de todas as pessoas para a conservação das espécies de tartarugas marinhas, para que elas possam continuar seu ciclo de vida com o mínimo da interferência humana, reconstituindo suas espécies. Esse relato de experiência tem como intuito descrever a experiência e conhecimento obtidos sobre Educação Ambiental durante um mês de estágio no Projeto Tamar de Ubatuba no estado de São Paulo, além disso, também discute a metodologia aplicada no Centro de Visitantes do Projeto Tamar. No entanto, observaram-se atividades muito bem aplicadas, mas numa linha mais comportamentalista, seguindo ainda uma Educação ambiental conservacionista e pragmática, denotam a falta de um aporte da Educação Crítica na formação dos envolvidos na Educação Ambiental desenvolvida com as pessoas que visitam o projeto. Palavras-chave: Sensibilização ambiental. Tartarugas Marinhas. Conservação. 1 Graduanda do quinto período do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 2 Doutora em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), professora titular e coordenadora do subprojeto de Ciências Biológicas do PIBID da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). ISSN

2 19849 Introdução O Projeto Tartarugas Marinhas TAMAR foi desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF - atual Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA) em convênio com a Fundação Brasileira para Conservação da Natureza FBCN (MARCOVALDI et al., 1995; MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999). O Projeto iniciou seu trabalho no litoral Brasileiro no ano de 1980 em vista da pressão internacional para com a preservação e conservação das tartarugas marinhas. Em vista da grande pressão exercida mundialmente, o Brasil deu início a programas de conservação e de conscientização levando ao exercício da Educação Ambiental no contexto de uma crise ambiental reconhecida, no final do século XX. Esses programas surgiram da necessidade de mudança de visão de mundo e de práticas sociais capazes de minimizar os impactos ambientais causados pelos seres humanos (LAYRARGUES; LIMA, 2014). O Tamar se apresenta exatamente nesse contexto para desenvolver ações que levem à conservação das espécies de tartarugas marinhas do Brasil e também despertar o interesse nas pessoas pela sua conservação. Hoje, o Tamar protege as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, sendo elas: Tartaruga Cabeçuda (Caretta caretta), Tartaruga Verde (Chelonia mydas), Tartaruga de Pente (Eretmochelys imbricata), Tartaruga Oliva (Lepidochelys olivacea) e Tartaruga de Couro (Dermochelys coriácea). Todas estão sob risco de extinção, variando seus status de conservação (CARREIRA; MANEYRO, 2013). Primeiramente, o Tamar levantou e mapeou todas as possíveis áreas de desova das tartarugas marinhas e em seguida levantou os resultados que apontavam todas as espécies que desovam no litoral do Brasil, seus períodos de reprodução, locais de alimentação e os principais problemas que ameaçam suas sobrevivências. Foram então implantadas as bases pioneiras em áreas de risco para as tartarugas marinhas: Praia do Forte (BA), Comboios (ES) e Pirambu (SE) (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999). Atualmente, o Projeto tem como seu patrocinador oficial a PETROBRAS, recebendo também apoio de empresas e dos órgãos governamentais das regiões envolvidas, além dos convênios de cooperação técnica e parcerias com as instituições de pesquisa nacionais e internacionais (PATIRI, 2002).

3 19850 Consolidando as atividades desenvolvidas nas áreas de desova, deu-se a continuidade nas atividades de proteção expandindo-as para outras áreas de concentração de tartarugas marinhas (zonas de alimentação ou desenvolvimento), coincidindo também com um alto índice de captura incidental na pesca comercial. Nesses locais, o Projeto desenvolveu uma estratégia de aproximação e requisição de apoio das comunidades costeiras, que possuem papel fundamental na comunicação de ocorrências de tartarugas marinhas presas em suas redes de pesca (MARCOVALDI, 1991; MARCOVALDI et al., 1998a). No ano de 2001, foi criado o Plano de Ação Nacional para a Redução da Captura Incidental de Tartarugas Marinhas pela Atividade Pesqueira, que vem sendo desenvolvido sob a forma de um Programa denominado Programa Interação Tartarugas Marinhas e Pesca, que atua através de um sistema de gestão em rede, envolvendo as Bases do Projeto TAMAR e instituições parceiras. Atualmente existem 19 Bases de Proteção e Pesquisa, distribuídas em nove Estados do Brasil, cobrindo cerca de 1.100km de praias na costa e nas ilhas oceânicas de Fernando de Noronha/PE; Atol das Rocas/RN e Ilha da Trindade/ES (PROJETO TAMAR, 2011). O Projeto Tamar visa à criação e ao apoio ao desenvolvimento de alternativas econômicas sustentáveis que vêm gerando renda e empregabilidade para mais de pessoas das populações costeiras, além de trazer melhorias na qualidade de vida, valorizar a cultura local e garantir a proteção das tartarugas marinhas e a conservação de seus habitats. A mensagem de conservação também tem sido disseminada através dos Centros de Visitantes, que recebem em torno de 1,5 milhão de visitantes por ano, e de palestras, exposições, campanhas educativas públicas e na mídia que se desenvolvem por todo o país e fora dele. Já o treinamento de cerca de 150 estudantes e recém-formados que anualmente participam do Programa de Estágio contribui na formação profissional voltada para a conservação marinha, e muitos se dedicam hoje a outros programas de conservação, ou são selecionados para trabalhar com o Tamar (PROJETO TAMAR, 2011). No Estado de São Paulo, o Projeto Tamar está localizado entre o mar e as montanhas na cidade de Ubatuba que se localiza no litoral norte de São Paulo, a 262km da capital do estado. Ubatuba está cercada pela Serra do Mar e recoberta por um dos mais importantes e bem preservados remanescentes de Mata Atlântica no Estado de São Paulo. Aproximadamente, 80% do território do município está dentro dos limites do Parque Estadual da Serra do Mar. São 73 praias em 106km de litoral, alternadas por extensos costões rochosos repletos de algas, o que propicia a vinda de muitas tartarugas juvenis para alimentação.

4 19851 Inaugurada no ano de 1991, Ubatuba foi a base pioneira em área de alimentação das tartarugas marinhas no litoral brasileiro. É a única no Estado de São Paulo e uma das mais importantes, ao lado de Fernando de Noronha e Praia do Forte. O Tamar de Ubatuba recebe, em média, 100 mil pessoas por ano. Conta com uma infra-estrutura completa de educação ambiental, informação e lazer, incluindo tanques e aquários, auditório com 30 lugares, espaço para exposições, loja e lanchonete (PROJETO TAMAR, 2011). O Programa de Estágio na base do Tamar em Ubatuba SP tem foco na sensibilização e educação ambiental no Centro de Visitantes do Projeto na cidade. Está aberto para estudantes universitários dos cursos de biologia, oceanografia, medicina veterinária, engenharia de pesca, gestão ambiental, engenharia ambiental, turismo e outras áreas afins (PROJETO TAMAR, 2011). As principais atividades que são desenvolvidas se referem à educação e sensibilização ambiental junto a estudantes, turistas e comunidade, ocupando a maior parte do tempo do estágio. Entretanto, atividades são realizadas, tais como: manejo das tartarugas em cativeiro (preparo do alimento, limpeza de recintos, entrevistas de opinião com visitantes; apoio na rotina de reabilitação de tartarugas feridas, doentes ou debilitadas e eventuais saídas para registro de ocorrências de capturas incidentais na pesca e realização da identificação de espécies, biometria e anilhamento de tartarugas marinhas, bem como registro de dados e elaboração de relatórios (PROJETO TAMAR, 2011). No Brasil, em 27 de abril de 1999, quase vinte anos depois da fundação do Projeto Tamar, foi aprovada a Lei n que dispõe sobre a educação ambiental e institui uma Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) trazendo um marco legal para a EA no Brasil. A lei do PNEA combina educação formal e não-formal e propõe responsabilizar toda a sociedade, através das mais diversas esferas organizativas, pela educação ambiental (Lipai, 2007). O artigo Art. 2 afirma que "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. Além das modalidades formais de educação, há um papel muito importante da educação não formal, podendo articular a educação ambiental conforme o que é realizado no Projeto Tamar que tenta sensibilizar e conscientizar, através das tartarugas marinhas, para um interesse e perspectiva de preservação do meio ambiente como um todo. Esse trabalho tem por objetivo realizar um relato de experiência sobre o desenvolvimento das atividades durante um estágio em Educação Ambiental no Projeto

5 19852 Tamar de Ubatuba/SP, descrevendo o treinamento recebido para o seu desempenho e de que forma ocorreu a prática da mesma, ressaltando também como é a sua abordagem dentro das perspectivas do Projeto. Desenvolvimento A experiência em promover Educação Ambiental no Projeto Tamar Para promover a educação ambiental no Centro de Visitantes na base do Projeto Tamar em Ubatuba-SP, foram necessários três dias de treinamento, totalizando 24 horas de palestras com os responsáveis por toda a coordenação da base; dentre biólogos e oceanógrafos que ficaram encarregados de explicar todo o conhecimento sobre a biologia dos animais (anatomia, fisiologia, ecologia), administradores que apresentaram todo o histórico do Projeto, missão, administração do Projeto e as vertentes sociais que o Tamar desempenha, além do veterinário responsável que mostrou o funcionamento do Centro de Reabilitação e comentou sobre a alimentação e cuidados para com os animais do Projeto. Também foram abordados os aspectos históricos e institucionais do Projeto Tamar, seu início e motivos pelos quais o Projeto foi criado, além da conservação de tartarugas marinhas em áreas de desova, mostrando a importância dessas áreas para a proteção das espécies e como se dá a proteção de ninhos. Da mesma forma se abordou a ação social e grupos produtivos apoiados pelo Tamar, o suporte que é oferecido para as famílias da comunidade que têm no Tamar uma forma de sustento através da venda de artesanato na loja do Projeto. A conservação de tartarugas marinhas em áreas de alimentação, na cidade de Ubatuba- SP tem o maior foco, sendo uma área de muitos costões rochosos propícios ao desenvolvimento de algas que servem de alimento para juvenis de tartarugas marinhas. Também orientou-se sobre a identificação, biometria, marcação das tartarugas e preenchimento das fichas de campo, como e o porquê de fazer todo esse processo com as tartarugas que chegam com a pesca artesanal, bem como sobre o Plano Nacional para a redução da captura incidental de tartarugas marinhas pela pesca, como é seu funcionamento e prática. Da mesma forma, houve informações sobre as tartarugas de água doce no centro de visitantes, espécies, identificação, alimentação, reprodução e distribuição geográfica. Por fim, esclareceu-se sobre a abordagem com a Educação Ambiental no Centro de Visitantes e, com o coordenador do Programa de Estágio percorreu-se todo o Centro de

6 19853 visitação, para conhecimento de sua dinâmica e compartilhamento das experiências com a sensibilização dos visitantes do Projeto. A maior parte do tempo de estágio ocorreu no Centro de Visitantes: turistas de todo o Brasil e, esporadicamente, do mundo chegavam com muitas dúvidas para com as ações do Projeto Tamar e sobre as próprias tartarugas. As abordagens mais frequentes se referiram a dúvidas sobre a biologia dos animais, curiosidades sobre eles e elogios à ação promovida. A respeito da biologia dos animais, os visitantes queriam saber sobre a quantidade de tempo em que as tartarugas marinhas ficavam embaixo da água, o que elas comiam, a diferenciação das espécies, sua longevidade e sobre a reprodução e desova. Dentre as curiosidades, eram frequentes perguntas sobre o tamanho e peso das tartarugas, a idade que os animais em cativeiro possuiam, se eram agressivas e se ficavam somente na água. O contato físico com as tartarugas foi questionado muitas vezes, as pessoas sentem a necessidade do toque, o que não era permitido pelo Projeto Tamar, ao contrário de alguns aquários que possuem tanques específicos para toque em animais, geralmente invertebrados. Os visitantes, ocasionalmente, especulavam sobre o real intuito do Projeto, o valor dos objetos vendidos na loja e, principalmente, a confinação em cativeiro de animais que estão em risco de extinção. Além do mais, a crítica sobre o tamanho, relativamente pequeno, dos tanques em que estão confinadas as tartarugas marinhas era algo sempre relatado pelos turistas. Entretanto, muitos visitantes não economizaram elogios se referindo às ações do Tamar no Brasil e a importância do trabalho em prol das tartarugas marinhas. Monitorias foram realizadas ocasionalmente em que turistas eram guiados desde o início do trajeto do Centro de Visitantes até o fim, passando pelos tanques das tartarugas marinhas com Tartarugas de Pente, Tartarugas Olivas, Tartarugas Cabeçudas e Tartarugas Verdes, conhecendo os Tigres d água, Jabutis, Cágados, Tartaruga Mordedora e Muçuãs. Sequencialmente, os visitantes passavam pelo museu onde obtinham explicações sobre a consequência do lixo no mar, a anatomia e morfologia das tartarugas marinhas e seus ciclos reprodutivos. Por fim, caminhavam ao redor do último tanque de tartarugas marinhas, onde se alojavam as adultas que dispõe de um extenso espaço e uma praia artificial para eventuais desovas. O Centro de Visitantes do Projeto Tamar de Ubatuba-SP também acomoda um espaço para as crianças com jogos educativos e cantinho do desenho, museu caiçara onde era possível observar a cultura dos primeiros moradores da cidade, espaço para shows e apresentações, quiosque e loja.

7 19854 Todos os dias era proporcionado à tartaruga mais jovem do Centro de Visitantes um picolé de peixe e alga com o propósito de enriquecimento ambiental, o qual segundo Boere (2001, apud PIZZUTTO, 2009) consiste em uma série de medidas que modificam o ambiente físico ou social, melhorando a qualidade de vida dos animais cativos, proporcionando condições para o desempenho de suas necessidades etológicas. O Projeto Tamar de Ubatuba-SP possui uma sala de multimídia onde, ao critério do visitante, fica disponibilizada uma série de curtas metragens sobre o Tamar e outros projetos que visam a conservação do meio ambiente. Além destas atividades, também é realizada a alimentação interativa, todos os dias no mesmo horário, quando as crianças que estão visitando o Projeto Tamar podem participar da alimentação das tartarugas adultas. Tal atividade proporciona maior sensibilização para com as tartarugas marinhas além do divertimento das crianças e familiares. Desta forma, o Centro de Visitantes do Projeto Tamar de Ubatuba-SP proporciona uma aproximação das pessoas com as tartarugas marinhas que se encontram ameaçadas de extinção, bem como com os problemas que as levam para esse caminho e possíveis alternativas incentivadas para contornar a situação atual. Além disso, as pessoas que visitam o Projeto Tamar ajudam inconscientemente às tartarugas com o valor pago no ingresso, justificando a existência de tartarugas marinhas em cativeiro, pois sem a existência dos centros de visitantes não seria possível gerar recursos para a manutenção de todas as importantes bases ao longo de todo o litoral brasileiro em que o Projeto Tamar atua. A Educação Ambiental promovida pelo Projeto Tamar O Projeto Tamar tem como sua principal missão a pesquisa, conservação e manejo das tartarugas marinhas que ocorrem no litoral brasileiro. Dentro da conservação desenvolve-se a vertente de conscientização promovida com os pescadores ao longo dos 35 anos de Projeto e sensibilização ambiental com a comunidade, estudantes e turistas nos Centro de Visitantes. A Educação Ambiental brasileira apresenta, simplificadamente, três macrotendências político-pedagógicas que de acordo com Layrargues e Lima (2014): Conservacionista, Pragmática e Crítica. A Educação Ambiental Conservacionista, desenvolvida predominantemente nos anos 1970, durante a ditadura militar, consiste em uma aproximação do homem com a natureza, com o objetivo de despertar uma nova sensibilidade humana para com o meio ambiente. Já a Educação Ambiental Pragmática surgiu nos anos 1980 e aborda o homem como problema da deterioração do meio ambiente, apontando o consumismo

8 19855 exarcebado, consumo incorreto da água, descarte incorreto do lixo, a dominância da lógica do mercado sobre o homem, afetando consideravelmente a natureza. Mais recentemente, a partir dos anos 1990, amadurece a macrotendência Crítica, a qual ressalta o modelo de sociedade como o real problema para a natureza, buscando contextualizar e politizar o debate sobre o meio ambiente, problematizando as contradições de desenvolvimento social (LAYRARGUES; LIMA, 2014). Diante disto, pôde-se observar que o Projeto Tamar possui características que o levam para dentro dos três tipos de macrotendências políticopedagógicas da Educação Ambiental Brasileira. No Centro de Visitantes do Projeto, foi possível perceber a grande preocupação em sensibilizar as crianças sobre a importância das tartarugas para o ecossistema marinho. Além disso, muitos recursos para que desperte nas crianças o amor pelas tartarugas são utilizados como desenhos cartunescos que representam as tartarugas e seus desafios com a Galera da Praia, são transmitidos na sala de vídeo, sempre com um grande público infantil. Há uma área destinada para as crianças com jogos, cantinho do desenho onde elas podem desenhar as tartarugas e, além disso, todos os dias em horário determinado pelo Projeto, as crianças podem participar da alimentação dos animais do Centro, jogando pedaços de peixe para as tartarugas, fazendo com que esses jovens se aproximassem ainda mais do objetivo do Projeto que é amar para preservar, sendo essa uma característica fundamental da macrotendência Conservacionista. Dentro da macrotendência Pragmática, o Projeto ressalta a influência do homem na vida das tartarugas marinhas, evidencia a grande produção e descarte incorreto do lixo, tenta mostrar para os visitantes de que forma o lixo afeta as tartarugas e todo o ecossistema marinho, sendo este uma das maiores causas de morte de tartarugas e outras espécies, pois esses animais vêem o lixo como alimento e acabam morrendo sufocados por conta disso. No Centro de Visistantes do Projeto Tamar de Ubatuba-SP, foi possível observar exposições sobre o lixo, consumo da água no Brasil, trabalhos educativos usando lixos recicláveis e um lixômetro que consistia em uma estrutura comprida de vidro que mostrava a quantidade de lixo já encontrada dentro do estômago de tartarugas que foram encontradas mortas nas praias ou em redes de pesca de pescadores. Por fim, desde sua fundação, o Projeto Tamar faz um grande trabalho socioambiental junto a todas as comunidades pesqueiras onde está inserido. O Programa de sensibilização ambiental Nem Tudo que Cai na Rede é Peixe, tem como objetivo a orientação e valorização dos pescadores, informando-os sobre a importância de sua participação no

9 19856 programa de conservação das tartarugas marinhas, as equipes do Tamar vão até as comunidades pesqueiras e fazem palestras sobre os impactos causados pelo lixo e pelas redes de pesca, sobre o porquê e como fazer a reabilitação de uma tartaruga afogada, legislação, etc. Além disso, o Projeto dá suporte para a sustentabilidade em longo prazo, cuidando primeiro das pessoas para que então, elas possam cuidar da natureza. Desta forma, o Tamar busca alternativas de subsistência para os pescadores e seus familiares sem que haja a predação das tartarugas, beneficiando-os com ações de inserção social. Como resultados, os pescadores libertam com vida ou entregam aos pesquisadores um número cada vez maior de tartarugas com ferimentos ou capturadas incidentalmente. Com isso, o Projeto Tamar promove uma conscientização sociocrítica com essas populações. Com o trabalho junto às comunidades se realizou uma modificação do modo de vida predador e não sustentável, propondo alternativas viáveis de subsistência sem a matança de tartarugas e ovos. As pequenas vilas de pescadores se modificaram, de maneira a continuarem vivendo nos mesmos locais, mas através do artesanato e atividades relacionadas ao turismo, em hotéis, restaurantes e estabelecimentos comerciais, além de atividade no próprio Centro do Tamar. Os pescadores passaram a ter seu pescado predominantemente vendido no local em função do fluxo de turistas e, ao invés de venderem o casco ou se alimentarem de ovos e carne de tartarugas, é de seu real interesse a conservação desses animais e do ambiente costeiro e marinho. Diegues (1992, p.23) afirma que: Há a necessidade de se pensar em vários tipos de sociedades sustentáveis ancoradas em modos particulares, históricos e culturais de relações com os vários ecossistemas existentes na biosfera e dos seres humanos entre si. Esse novo paradigma a ser desenvolvido se baseia antes de tudo, no reconhecimento da existência de uma grande diversidade ecológica, biológica e cultural entre os povos que nem a homogeneização sociocultural imposta pelo mercado capitalista mundial, nem os processos de implantação do socialismo real conseguiram destruir. Contudo, apesar de ser realmente um trabalho de sucesso, percebeu-se que com os visitantes nos centros as atividades de Educação Ambiental a Educação Ambiental desenvolvida tem caráter conservacionista e pragmático, sendo acrítico em relação ao modelo de sociedade que construímos, assumindo, talvez não concientemente, uma vertente mais comportamentalista. O comportamentalismo é criticado, segundo Carvalho (2002 apud LIMA, 2009), tanto porque reduz a complexidade do agir humano à dimensão

10 19857 comportamental quanto porque reduz à esfera individual e privada questões públicas e políticas inexoravelmente dependentes de mediações socioculturais. Por outro lado, a concepção crítica de Educação ambiental cresceu nas últimas décadas e é uma expressão dominante no núcleo orientador do campo e tendo contribuição decisiva no debate e à atividade educacional, associada ao meio ambiente e ao desenvolvimento, ao introduzir as reflexões indispensáveis da ecologia política, da complexidade e da ética socioambiental (Lima, 2009, p. 161). Uma Educação Ambiental Crítica necessita de reflexões, que talvez turistas não tenham o interesse de vivenciar e a visitação tem um volume de informações tão grande sobre as espécies que, após essa sensibilização inicial, não haja tempo real para se desenvolver uma reflexão mais aprofundada sobre a sociedade em que vivemos. As atividades de sensibilização ambiental ligadas a uma Educação Ambiental de cunho mais comportamentalista estão disseminadas e algumas ténicas são bem desenvolvidas, enquanto que abordagens ligadas a uma exologia mais politizada envolvendo questões éticas são muito mais complexas e necessitam de um aporte teórico mais denso que a formação dos profissionais e estagiários envolvidos no projeto Tamar não lhes subsidiou. Provavelmente esses são os principais motivos das atividades desenvolvidas com os visitantes tenham caráter eminentemente conservacionista, pragmático e comportamentalista. Considerações Finais O Projeto Tamar abriu portas para o mundo da conservação das tartarugas marinhas, pois todos os conhecimentos adquiridos em todas as áreas são de caráter único. Trabalhar com espécies ameaçadas de extinção e contribuir para a conservação das mesmas com as saídas de campo, sensibilizando pessoas de todo o mundo através da educação ambiental no centro de visitantes e poder ajudar na reabilitação de animais doentes no centro de reabilitação, são experiências profissionais respeitáveis. Entretanto, dificuldades sempre estão presente no cotidiano de qualquer trabalho, e no Projeto Tamar não foi diferente. No início do estágio houve algumas barreiras que ao final do mesmo foram contornadas, como informações técnicas sobre os animais do Centro de Visitantes como a idade, nome e peso de cada animal em cativeiro eram solicitadas por todos os visitantes e isso foi sendo memorizado cada vez mais a cada nova pergunta sobre o mesmo tema.

11 19858 Abordagens críticas de alguns visitantes para com animais presos em cativeiro e destinação dos recursos recolhidos pelo Projeto com ingressos e loja também foi discutido muitas vezes, reforçando sempre que os animais estavam ali para ajudar na sensibilização ambiental e que todo o recurso adquirido no Projeto era destinado à subsistência do mesmo e à subsistência de inúmeras famílias que antes viviam da predação das tartarugas, as quais vivem hoje de sua conservação. Durante os trinta e cinco dias de estágio, foram devolvidas ao mar 98 tartarugas marinhas, da espécie Chelonia mydas, saudáveis e anilhadas. Isso refletirá daqui alguns anos quando esses animais chegarem à fase adulta e iniciarem seus ciclos de reprodução, recuperando sua espécie pouco a pouco. Em 35 anos o projeto já devolveu ao mar 25 milhões de filhotes, conseguindo restaurar o ciclo reprodutivo que fora interrompido, protegendo a desova e promovendo a sobrevivência e a recuperação das populações das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no litoral brasileiro. Quanto maior o numero de nascimentos, maiores as chances de sobrevivência para as tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. Toda a equipe do Tamar trabalha arduamente para a conservação das tartarugas marinhas, não medindo esforços, fazendo o possível para a recuperação e restauração da vida desses animais, atuando na pesquisa, recuperação, sensibilização ambiental e projetos socioambientais. Ele é prova de que trabalhos de conservação de espécies não podem, jamais, estar desvinculados de projetos socioambientais, com as populações historicamente e socialmente envolvidas com espécies ameaçadas. No entanto, atividades muito bem aplicadas, mas numa linha mais comportamentalista denotam a falta de um aporte da Educação Crítica na formação dos envolvidos na Educação Ambiental desenvolvida com os visitantes do projeto. REFERÊNCIAS DIEGUES, A. C. Desenvolvimento sustentável ou sociedades sustentáveis: da crítica dos modelos aos novos paradigmas. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 6, n. 1-2, p , LIMA, G.F.C.. Educação ambiental crítica; do socioambientalismo às sociedades sustentáveis. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.35, n.1, p , MARCOVALDI, M.Â. & Marcovaldi, G.G. dei. Marine turtles of Brazil: the history and structure of Projeto TAMAR-IBAMA. Biological Conservation, Washington, USA n.91, pp.35-41, 1999.

12 19859 MARCOVALDI, M.Â.; SILVA, A.C.C.D. da; GALLO, B.M.G.; BAPTISTOTTE, C.; VIEITAS, C.F.; BELLINI, C.; LIMA, E.H.S.M.; CASTILHOS, J.C. de; THOMÉ, J.C.A. & ;, T.M.. Sea turtle feeding grounds of 36 Brazil. Annual Symposium on Sea Turtle Biology and Conservation Proceedings, 18, Mazatlan, México, 3-7 Março, p 87, MARCOVALDI, M.Â. & MARCOVALDI, G.G. dei,.. Marine turtles of Brazil: the history and structure of Projeto TAMAR-IBAMA. Biological Conservation, 91:35-41, PATIRI, V.J.A.. Projetos ecológicos e o desenvolvimento local: estudo de caso do Projeto Tamar. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Bahia, 2002 PIZZUTTO, C.S.; SGAI, M.G.F.G.; GUIMARÃES, M.A.B.V. O enriquecimento ambiental como ferramenta para melhorar a reprodução e o bem estar de animais cativos. Rev.Bras Reprod Anim. v.33, n.3, p , PROJETO TAMAR. Disponível em: < Acessado em: 11 de mar