Maria, acolhedora e obediente à Palavra

Transcrição

1 Solenidade da Assunção de Nossa Senhora (Missa Vigília) 19 de agosto de 2017 Maria, acolhedora e obediente à Palavra Leituras: Primeiro Livro de Crônicas 15, ; 16,1-2; Salmo 131 / 132, Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 15, e Lucas 11, COR LITÚRGICA: Branca ou Dourada Animador: Assunção de Nossa Senhora, pelos merecimentos de Cristo, vem lembrar-nos que não temos aqui na terra morada permanente, que nosso destino é o céu. É preciso contemplar a eternidade presente no meio de nossa humanidade. Gostamos de contemplar tantas coisas bonitas no mundo, mas a eternidade não pode ficar esquecida por nós. Maria é a Arca da Aliança e ela antecipa com sua assunção a glória a que todos estamos destinados. Contemplemos Maria, que é nossa Mãe e Mãe da Igreja peregrina. 1. Situando-nos brevemente A Assunção da Virgem Maria possui um interessante percurso histórico e litúrgico pouco conhecido, por meio do qual podemos entender como gradativamente a Igreja chegou em modo definitivo ao dogma católico, ainda hoje, polêmico em contextos ecumênicos. Na primeira etapa histórica podemos conhecer que o Oriente criado é o primeiro a venerar a pia devoção da Dormição de Maria sem defini-la como dogma. É a liturgia siríaca e egípcia que, a partir do século V, tornando o testemunho de narrações lendárias, forma sua liturgia. Em Jerusalém, em 450, a festa é fixada em 15 de agosto sem fazer aceno à Assunção e toma impulso em Bizâncio pelo imperador Maurício com o título de Dormitio à luz dos apócrifos. É com o bispo de Creta, André, que, no século VIII, com suas famosas homilias evitando a estória apócrifa, procura centrar o mistério mariano com profunda doutrina, enfatizando a Maternidade divina de Maria. Outros Padres da Igreja do Oriente, como Germano de Constantinopla (+733) e João Damasceno (+749) também seguem com especificidade teológica. A tradição oriental da Dormitio entra no Ocidente cristão em Roma, em 650, mas tudo indica que a porta de entrada foi a Gália (França) provavelmente pela pregação de 1

2 Gregório de Tours (+594) pela influência dos apócrifos com duas datas, incialmente em 18 de janeiro e depois o dia tradicional, 15 de agosto. Mas, desde o princípio, a liturgia romana se sobressai com uma ênfase toda particular quando denota a doutrina teológica e não a legendária; isto se entreve na antiga oração processional utilizada antes da missa, datada do século VII: Senhor, devemos venerar a festa deste dia ao qual a Santa Mãe de Deus foi submissa à morte natural. Ela todavia, não pode ser retida aos laços da morte, tendo gerado na mesma substância o vosso Filho encarnado, Nosso Senhor. A importância da Festa da Assunção, foi tão grande que foi equiparada às Festas do Natal, da Páscoa e de Pentecostes. 2. Recordando a Palavra Em chave mariana, os três textos bíblicos sobre a Arca da Aliança, na Missa Vespertina, evidenciam o maior símbolo por excelência de Israel. É justamente Lucas, em 1,39-56, o primeiro mariólogo bíblico, que vai fazer sua hermenêutica aplicando a imagem da Arca a Maria, na visitação de Isabel. O livro das Crônicas, narrando a introdução da Arca na Tenda construída pelo rei Davi, nos recorda que este objeto de veneração do povo de Israel estará sempre sobre à sombra do Senhor. A provisoriedade da Tenda, que será o futuro Templo, sinal de proteção divina, abrigará a Arca. Este objetivo tão sacro e importante para Israel continha três milagres de Deus: o Bastão de Aarão [Sacerdócio], o Maná do deserto [Eucaristia] e as Tábuas da Lei [Novo Testamento] (Hb 9, 4b). Estes sinais relembrados pela carta aos Hebreus são símbolos direcionados a Jesus Cristo, o Sacerdote por excelência, o Pão vivo descido dos céus e o Novo Testamento. Vale apontar a relação da Arca com Maria, relação esta que Lucas faz em seu Evangelho de modo sútil. Mesmo que o evangelista não seja explicito, alguns traços entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento é salutar que saibamos. A Arca era identificada por outros títulos também aplicáveis a Maria, tais como: Arca do Senhor (Js 4,1), em Lc 1, 28.43; Arca de Deus (1Sm 3,3) se identifica a pertença de Maria a Deus e sua Maternidade divina em Lc 1, ; Arca do Testemunho (Ex 25, 22) se identifica em Jo 19, 25-27; e Arca da Tua Força (Sl 132, 8) se identifica em Lc 1, 35. Tomando o testemunho do sacro autor patrístico, João Damasceno, justamente em sua homilia sobre a Dormitio, reflete sobre o texto de 1Cr 15, 3-4, dizendo: Hoje a arca viva de Deus, que carregou o Salvador em seu seio, repousa no templo de Deus, que não foi construído por mão de homem. Davi, o seu antepassado, exulta; os anjos dançam em coro; os arcanjos celebram (...) os querubins entoam um cântico de louvor e os serafins cantam seu hino (VON BATHAZAR, H. =-U. O culto a Maria hoje, São Paulo: Paulinas, 1979, p. 168). 3. Atualizando a Palavra Na renovação litúrgica se acrescentou a leitura paulina para iluminar ainda mais o sentido do dogma da Assunção da Virgem Maria. A liturgia utiliza o texto paulino com a promessa futura para todos os revestidos em Cristo: a vitória sobre o pecado e a morte. Depois de Cristo, Maria, imagem da Igreja, 2

3 povo de Deus. Mas como Maria é isenta do pecado, a afirmação paulina é aplicável à Mãe de Deus, quando ele diz: O aguilhão do pecado é a morte e a força do pecado é a lei, portanto, nem Cristo, nem Maria poderiam estar submissos ao agulhão do pecado e da morte. Cristo por ser Emanuel, Deus conosco (Is 7,14; Mt 1,23) e Maria, a Nova Arca (Lc 1, 39-56) incorruptível. Sim, a incorruptibilidade da Arca é indicada em relação à confecção da mesma em madeira de acácia (Ex 25, 10-22). Tal madeira é de grande durabilidade. A Arca era revestida de ouro por dentro e por fora (Ex 25, 10-16), imagem da glória de Deus. Maria é a cheia de graça (Lc 1, 28). Havia uma tampa que se chamava de Propiciatório e, sobre este, dois Querubins com seus rostos escondidos com suas asas voltadas um para o outro (Ex 25, 10-21; 37, 7-9), imagem da proteção divina sobre Arca. Maria estará sob a sombra do Altíssimo (Lc 1,35). Entre os querubins, Deus se manifestava a Moisés (Ex 25,22), Maria, como Nova Arca, se tornou a Cristófora e a Pneumatófora (Lc 1,41). Após este ensaio de mariologia, o que pode ser aplicável a nós, povo de Deus? Tudo o que Maria é, podemos nos tornar pela graça de Cristo. Às graças conferidas à Virgem assunta aos céus, não se fechou nela, mas é um dom para a Igreja. Pois, como Paulo nos enche de esperanças, Cristo é a cabeça da Igreja que é o seu corpo, portanto, o corpo, tendo uma cabeça divina, jamais poderá se corromper definitivamente, a não ser que este corpo se deteriore por livre e espontânea vontade. 4. Ligando a Palavra com ação litúrgica A comunidade celebrativa deve levar em conta a tradição histórica da festa Assunção de Maria para poder chegar ao cerne espiritual e mariológico de como se chegou a tão importante culto mariano com a Eucaristia. O Evangelho da Vigília é o tradicional, desde o século VIII, e conservado na reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Lucas evidencia o ventre abençoado que gerou Jesus e os seios que o amamentaram, porém, o foco que Cristo põe é na escuta e na prática da Palavra. Aparentemente, muitos podem pensar que não tem nada a ver com o tema a Assunção de Maria. Mas é o contrário. Maria é para Lucas o modelo exemplar da escuta e prática da Palavra, pois, em, 1, 19.50, interpreta afirmando por duas vezes o ruminar/escutar da Palavra e guardando-a no coração de Maria. O substantivo coração no sentido bíblico, não se refere ao órgão e sim a toda a pessoa de Maria. Jesus de modo algum rejeita o elogio de sua filiação humana, mas Ele vai à centralidade do perfil de Maria o que deve ser o perfil da Igreja, povo de Deus. Ora, Cristo rejeita o oba-oba de admirações e elogios aparentes, infrutíferos, mas exige atitudes. Eleva sua Mãe a um alto grau de discipulado, provocando ontem e hoje a sua comunidade a este esquema de experiência com Ele. Os devotos de Maria, antes de serem só voltados a exaltá-la, devem ser imitadores. Oração dos fiéis: Presidente: A festa da Assunção de Maria nos consola, porque, andando por entre as tribulações do tempo presente, erguemos os olhos ao céu e rezamos: Salve Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa salve!. 3

4 Ladainha de Nossa Senhora Senhor, que nascestes da Virgem, Tende piedade de nós! Ó Cristo, Filho de Maria. Tende piedade de nós! Senhor, Senhor, 1. Virgem do sim à Palavra, Rogai por nós! Virgem do risco do amor, Virgem de toda alegria. Rogai por nós, ó Maria. Piedade, piedade de nós! 2.Virgem das altas montanhas, Virgem do entusiasmo, Virgem do irmão caminheiro. 4.Virgem das mãos que se doam, Virgem do amor tão fecundo, Virgem do amor consagrado. mundo, Tende piedade de nós! mundo, Tende piedade de nós! 3.Virgem dos desamparados, Virgem de todos os lares, Virgem da paz para o mundo. 5.Virgem do amor verdadeiro, Virgem Maria da Igreja, Virgem do amém, do aleluia. mundo, Dai-nos vossa paz, vossa paz! Amém! Presidente: Ouvi, Senhor, a nossa prece, pois a fazemos por intercessão da Virgem Maria. Por Cristo, nosso Senhor. III. LITURGIA EUCARÍSTICA ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS: Acolhei, ó Deus, o sacrifício de reconciliação e de louvor ao celebrarmos a Assunção da santa Mãe de Deus, para que ele nos obtenha o perdão e nos faça viver sempre em ação de graças. Por Cristo, nosso Senhor. ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO: Tendo participado da mesa celeste, imploramos, ó Deus, vossa bondade para que, ao celebrarmos a Assunção da Mãe de Deus, nos liberteis de todos os males. Por Cristo, nosso Senhor. BÊNÇÃO E DESPEDIDA: Presidente: O Senhor esteja convosco. Todos: Ele está no meio de nós. 4

5 Presidente: O Deus de bondade, que pelo Filho da Virgem Maria quis salvar a todos, vos enriqueça com sua bênção. Presid.: Seja-vos dado sentir sempre e por toda a parte a proteção da Virgem, por quem recebestes o autor da vida. Presid.: E vós, que vos reunistes, hoje para celebrar a sua solenidade, possais colher a alegria espiritual e o prêmio eterno. Presid.: (Dá a bênção). Presid.: Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe. Todos: Graças a Deus. 5