A REVOLTA DE JEÚ E A ESTELA DE DÃ: Um Estudo Em 2 Reis 10,28-36

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1 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO BRUNO CAVALCANTE DE SOUZA A REVOLTA DE JEÚ E A ESTELA DE DÃ: Um Estudo Em 2 Reis 10,28-36 SÃO BERNARDO DO CAMPO 2016

2 BRUNO CAVALCANTE DE SOUZA A REVOLTA DE JEÚ E A ESTELA DE DÃ: Um Estudo Em 2 Reis 10,28-36 Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. José Ademar Kaefer SÃO BERNARDO DO CAMPO 2016

3 A Dissertação de Mestrado intitulada A Revolta de Jeú e a Estela de Dã: Um Estudo Em 2 Reis 10,28-36, elaborada por Bruno Cavalcante de Souza foi apresentada e aprovada em 21 de Março de 2016, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. José Ademar Kaefer (Titular/UMESP), Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira (Titular/UMESP) e Prof. Dr. José Adriano Filho (Titular/FUV). Prof. Dr. José Ademar Kaefer Orientador e Presidente da Banca Examinadora Prof. Dr. Helmut Renders Coordenador do Programa de Pós-Graduação Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Linguagens da Religião Linha de Pesquisa: Literatura e Religião no Mundo Bíblico

4 Esta pesquisa foi produzida com o apoio do CNPQ que ofereceu bolsa de estudos integral entre 2014 e 2015.

5 Para a família Cavalcante de Souza, meu alicerce. À minha amada Esposa Cristiane Fiori

6 AGRADECIMENTOS Ao Deus todo poderoso, que me capacitou e vocacionou para o ministério pastoral, me levando por caminhos pelos quais jamais sonhei passar. À minha querida e amada esposa Cristiane Fiori, por seu amor, carinho, incentivo e compreensão que fizeram com que ela suportasse minhas ausências e minhas jornadas de estudo, bem como aos meus sogros, Eliana e GG, que me concederam o privilégio de seu amor e confiança. Aos meus amados pais, Jane e Aparecido, que me mostraram o valor da honestidade, e da vida simples, me despertando sempre para o valor dos estudos, mesmo sem poderem ter tido o privilégio de estudar. Ao meu irmão Jonathan, eterno sonhador e parceiro para a vida toda. Obrigado por seu amor e sua amizade. À Igreja Presbiteriana Independente de Rancharia, comunidade que me ensinou a preciosidade da vida em comunhão, e do amor que sempre se multiplica na vida de todos aqueles que buscam vivê-lo intensamente. Aos pastores que passaram por minha vida, e pelos exemplos que me deram de como servir ao Senhor com alegria: Ary Botelho, Douglas Alberto, José Claudemir, Wanderley José, Edson Carlos, dentre outros, queridos e amados. Ao meu orientador Prof. Dr. José Ademar Kaefer. Obrigado pela confiança, atenção, amizade, carinho e compreensão que creditou ao receber e orientar um simples rapaz de rancheria. Seu amor pela bíblia e pela seriedade na pesquisa me emocionaram! Guardá-lo-ei sempre em meu coração. Gratidão aos tios: Carlos, Patrícia, Gilbas e Elaine, por me receberem de uma forma tão fidalga durante os longos períodos de viagens! Aos primos e primas, um big beijo, pela amizade e companheirismo. Ao professor e amigo Everson Spolaor que me mostrou o caminho das pedras : Quantas conversas e quantas lágrimas! Deus seja contigo meu amigo! A amiga Kellen Araújo, pelo incentivo. Sua perseverança me abriu as portas para um novo mundo. Ao amigo Silas Klein pelo prazer da companhia em tantas caronas que me deu: Sucesso sempre parceiro! A irmã Jony Cerqueira Leite, você me abriu as portas e me fez enxergar que o sonho era possível, Obrigado!

7 Aos meus amados avós maternos Ezequiel e Nilza (Obrigado pelo Presente), e paternos Roque e Eva (ambos In Memoriam). Aos meus tios maternos e paternos, vocês sempre estão em minhas orações. Ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, por tornar tudo isto uma realidade. Realmente, aqui encontrei a excelência em ensino e a qualidade de uma formação que vai além da sala de aula. Ao meu amigo Telmo Teixeira Lima, por sua paciência e, pelo fato de ter acreditado em mim. Obrigado! As ovelhinhas da TTL Controladoria; Elisandra, Melissa e Marcela. Enfim, agradeço a todos aqueles que me apoiaram tornando este um sonho possível. O espaço é sempre limitado para tantos agradecimentos! Por isso de uma forma muito amorosa, de maneira tal que as palavras jamais poderão traduzir, o meu muito obrigado!

8 Nem foi Tempo Perdido. Somos Tão Jovens.... Renato Russo Tempo Perdido

9 SOUZA, Bruno Cavalcante. A Revolta de Jeú e A Estela de Dã: Um Estudo em 2 Reis 10, São Bernardo do Campo: Umesp, Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) Faculdade de Humanidades e Direito, Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). RESUMO A pesquisa tem por objetivo trabalhar o evento da Revolta de Jeú, em conjunto com a Estela de Dã, tendo como ponto de partida para tal, a exegese da perícope de 2 Reis 10-28,36. A história Deuteronomista apresenta o ato da Revolta de Jeú como sendo um feito demasiadamente importante, na restauração do culto a Javé em Israel, a partir de um contexto onde o culto a outras divindades, em Israel Norte, estava em pleno curso. No entanto, a partir da análise conjunta da Estela de Dã, que tem como provável autor o rei Hazael de Damasco, somos desafiados a ler esta história pelas entrelinhas não contempladas pelo texto, que apontam para uma participação ativa de Hazael, nos desfechos referentes a Revolta de Jeú, como sendo o responsável direto que proporcionou a subida de Jeú ao trono em Israel, clarificando desta forma este importante período na história Bíblica. Para tal análise, observar-se-á três distintos tópicos, ligados diretamente ao tema proposto: (1) A Revolta de Jeú e a Redação Deuteronomista, a partir do estudo exegético da perícope de 2 Reis 10,28-36, onde estão descritas informações pontuais sobre período em que Jeú reinou em Israel; (2) Jeú e a Estela de Dã, a partir da apresentação e análise do conteúdo da Estela de Dã, tratando diretamente dos desdobramentos da guerra em Ramote de Gileade, de onde se dá o ponto de partida à Revolta de Jeú; e por fim (3) O Império da Síria, onde a partir da continuidade da análise do conteúdo da Estela de Dã, demonstraremos a significância deste reino, além de apontamentos diretamente ligados ao reinado de Hazael, personagem mui relevante no evento da Revolta de Jeú. Palavras-Chave: Jeú, Hazael, Estela de Dã, Israel, Síria.

10 SOUZA, Bruno Cavalcante. The Revolt of Jehu and the Stele of Dan: A Study in 2 Kings 10.28, 36. São Bernardo do Campo: Umesp, Thesis (Master of Sciences of Religion) Humanities and Law Faculty, Universidad Methodist of São Paulo (UMESP). ABSTRACT The research aims to work the event of Jehu's revolt, together with the stele of Dan, taking as a starting point for such exegesis of the perícope of 2 Kings 10 to The story Deuteronomist presents the act of Jehu's revolt as an important achievement too, the cult of the restoration to the Lord in Israel, from a context where the worship of other deities in Israel North, was in full swing. However, from the joint analysis of the stele of Dan, whose probable author King Hazael of Damascus, we are challenged to read this story between the lines not covered by the text, pointing to an active participation of Hazael on outcomes related to revolt of Jehu as being directly responsible that gave the rise of Jehu king in Israel, thus clarifying this important period in the Biblical story. For this analysis, it will be observed three distinct topics directly related to the proposed theme: (1) The Revolt of Jehu and the Deuteronomist Writing, from the exegetical study of the perícope of 2 Kings to 36, which are described timely information about the period in which Jehu reigned in Israel; (2) Jehu and the Stele of Dan, from the presentation and analysis of the contents of the stele of Dan, comes directly from the war unfolding in Ramoth-Gilead, where takes place the starting point of the revolt of Jehu; and finally (3) The Empire of Syria, where from the ongoing analysis of the contents of the stele of Dan demonstrate the significance of this kingdom, and notes directly related to the reign of Hazael very important character in the Revolt of Jehu event. Keywords: Jehu, Hazael, Stele of Dan, Israel, Syria.

11 11 SUMÁRIO Introdução 13 CAPÍTULO I: A REVOLTA DE JEÚ E A REDAÇÃO DEUTERONOMISTA Tradução Interlinear do Texto da Bíblia Hebraica Stuttgartensia Proposta de Tradução (literal) do Texto Massorético Crítica Textual Aparato Crítico da BHS Delimitação Estrutura do Texto Coesão do Texto Gênero Literário Data e Autoria Comentário Exegético Declaração de Sumário/Transição (v.28) Comentário Teológico (v.29-31) Aviso de Derrota (v.32-33) Concluindo o Currículo do Reinado (v.34-35) Demonstração do Corpo do Reinado (v.36) Considerações Intermediarias 42 CAPÍTULO II: JEÚ E A ESTELA DE DÃ A Arqueologia e a Bíblia A Arqueologia e a Revolta de Jeú: O Tell Dã As Escavações em Tell Dã Estrutura do Tell Dã A Estela de Dã A Estela de Dã e a Revolta de Jeú 57

12 Jorão, Rei de Israel ( a.c) Ocozias, Rei de Judá (841 a.c) Jeú, Rei de Israel ( a.c) Considerações Intermediárias 66 CAPITULO III: O IMPÉRIO DA SÍRIA A Origem dos Arameus Damasco A Influência de Aram-Damasco em Israel A Estela de Dã e o Reino da Síria A Estela de Dã e o Reinado de Hazael Considerações Intermediárias 86 Considerações Finais 89 Referências Bibliográficas 93

13 13 Introdução Esta dissertação tem por finalidade estudar o evento da Revolta de Jeú, descrita nos capítulos 9 e 10 do segundo livro dos Reis, em uma análise conjunta com a Estela de Dã. De maneira geral, os textos dos livros dos Reis sempre desempenharam um papel significativo, em grande parte das propostas que apresentaram por objetivo a reconstrução da história de Israel, principalmente em casos que tratem de eventos específicos. Além disso, muitos livros que procuram trabalhar a história de Israel aparentam argumentar sobre o tema, partindo unicamente de um relato básico acerca da narrativa bíblica, sem adentrar a outros horizontes, muito significativos para a construção desta história. (ROBCKER, 2012, p.2). A história do golpe político de Jeú, descrita em 2 Reis 9 e 10, representa um exemplo prático de uma narrativa que se enquadra nos moldes descritos por Robcker mencionados acima, sendo o relato sobre Jeú muitas vezes citado em reconstruções históricas a respeito de Israel Norte. Como um dos episódios mais violentos da Bíblia, a Revolta de Jeú relata a escalada do general de Israel ao trono, através de um genocídio que acabou por eliminar toda a Dinastia Omrida. A tradição sobre Jeú se apresenta da seguinte maneira: Com a morte de Acab, em aproximadamente 853 a.c, o reino de Israel começa a perder seus territórios na região da Transjordânia para a Síria, que naquele tempo a partir de sua capital, Damasco, demonstrava grandiosa relevância, especialmente do ponto de vista político-militar, estando por detrás das rebeliões arquitetadas e executadas pelos vassalos israelitas. A partir do contexto em voga, os reis Jorão de Israel, e Ocozias de Judá, uniram-se em batalha contra Hazael, rei de Damasco, em Ramote de Gileade. Neste espaço Jeú, filho de Josafá, e neto de Ninsi, é apontado pelo texto bíblico como o general deste exército. Jeú fica no comando das tropas após o rei Jorão, acompanhado de Ocozias, voltar para Jezrael, para tratar dos ferimentos ocasionados pela batalha. Neste intervalo, a pedido do profeta Eliseu, um mensageiro não identificado pelo texto, vai até o acampamento dos israelitas, e termina por ungir ao general Jeú como rei de Israel, encarregando-o de pôr termo à Dinastia Omrida, em seus últimos representantes: Os descendentes de Acab.

14 14 Estrategicamente, antes de enviar seu mensageiro a Ramote de Gileade para ungir o general Jeú como novo rei, o profeta unge em primeiro lugar a Hazael, como rei em Damasco, no lugar de Ben-Haddad, de acordo com 2 Reis 8,7-15. Jeú parte em direção à Jezrael juntamente com aqueles que lhe juraram fidelidade, guiando seu carro de uma forma mui furiosa conforme 2 Reis 9,20. Ao chegar a Jezrael, Jeú acaba por exterminar os reis Jorão e Ocozias, iniciando em seguida o seu derramamento de sangue contra a Dinastia Omrida, que se se estendeu, conforme a redação deuteronomista, de uma forma muito rápida, chegando no mesmo dia a Judá. Vale a pena destacar que, neste ínterim, Jeú também mata os profetas de Baal, em Samaria. Resumidamente, esta é a forma pela qual a redação deuteronomista lê e interpretada os textos que perfazem o evento da Revolta de Jeú, desencadeados por volta do século IX. A partir de tais apontamentos, um elemento surge mudando completamente os ângulos pelos quais a redação deuteronomista conta esta história: A Estela de Dã. Como uma ferramenta importante na construção desta pesquisa, o seu conteúdo nos convida a observar a questão da alternância de poder em Israel e, por conseguinte, em Judá, por um outro prisma, não contemplado pela redação deuteronomista. Sendo provavelmente erigida pelo rei Hazael, que a configurou em Dã, onde foi encontrada durante as escavações nos anos de 1993 e 1994, a Estela nos aponta que a ascensão de Jeú ao poder, antes de tudo, fora arquitetada pelo próprio rei de Damasco, que tornou tanto a Israel, quanto a Judá, seus vassalos. Robcker (2012, p.03) nos diz que além da inscrição da Estela de Dã fontes advindas do acadiano, destacando nesta ocasião as fontes de Salmanassar III, apontam que a imagem bíblica sobre Jeú, pode não ser completamente confiável. Aqui se constrói o eixo pelo qual se baliza esta dissertação. Tendo a exegese como metodologia para o estudo sobre a Revolta de Jeú, a partir da perícope de 2 Reis 10,28-36, algumas perguntas centrais se elevam em consideração aos aspectos apresentados: Embora a unidade macro que trata especificamente de Jeú, a saber, os capítulos 9 e 10 de 2 Reis, abordem o seu reinado positivamente, o resumo de seus atos (10,28-36) aponta-lhe crítica. Então, qual o saldo de seu reinado? Positivo ou Negativo? Do ponto de vista religioso, com o assassinato dos profetas de Baal, podemos dizer que o culto a Baal foi realmente extinto em Israel? Qual a relação que se dá entre Baal e

15 15 Javé? Qual o formato e que tipo de culto era aquele prestado ao bezerro de ouro, tão criticado pelo autor da perícope de 2 Reis 10,28-36? Continuando, se a Síria, com Hazael de Damasco, era tão forte ao ponto de subjugar os reinos de Israel e Judá, tornando-os seus vassalos, e o texto bíblico em sua forma sincrônica, sequer menciona esta possibilidade ao narrar o evento da Revolta de Jeú, quais tipos de influência Israel Norte teria sofrido mediante tal situação de submissão? Qual o teor histórico dos versos 32 e 33 da perícope, que trata da perda dos territórios de Israel na Transjordânia? Qual a relação dos mesmos versos com a Estela de Dã? Qual a importância/relevância da cidade bíblica de Dã no contexto da revolta de Jeú? Por que este fora o local escolhido por Hazael, provável autor da Estela, para erigi-la? E, por conseguinte, como analisar o nível de presença do poderoso império Assírio, através do rei Salmanassar III, contemporâneo a Jeú, que subjugou a Hazael de Damasco, neste pleito? A partir destes questionamentos, podemos ver que o horizonte para o desenvolvimento da pesquisa é amplo e deveras convidativo. Nossa hipótese inicial é a de que Hazael teria matado os reis de Israel e Judá e, que consequentemente tenha sido responsável por estabelecer Jeú no poder. Uma segunda hipótese diz que a Revolta de Jeú, não se trata de um ato revolucionário vindo de dentro. Antes, trata-se de uma articulação político-militar, orquestrada por Damasco, que acabou por dominar Israel, já fragilizado por uma política interna conduzida equivocadamente, pois como já foi destacado, neste período o reino da Síria se expandiu muito, chegando inclusive a se apoderar de territórios que pertenciam a Israel Norte. Uma terceira hipótese diz possivelmente tenha sido Jeú aquele que introduziu o Javismo em Judá, de maneira que a história deuteronomista parece fazer questão de apontar que não lhe era agradável aos olhos, ao destruir o culto institucionalizado a Baal, que houvesse quaisquer resquícios de oposição a Javé, em Israel, e em Judá, lugar para onde a Revolta se expande. Como vistas a trabalhar estes pontos, a pesquisa se desenvolverá em três capítulos. No primeiro, nos ocuparemos, como mencionado acima, da exegese, a partir do método histórico crítico, da perícope de 2 Reis 10,28-36, objetivando ressaltar a forma pela qual se tem lido e interpretado a tradição de Jeú, além de se lançar olhares atentos a história bíblica, com uma abordagem do reino do norte. Em sequência, no capítulo II, faremos uma apresentação seguida de uma análise do conteúdo presente na Estela de Dã, que é o elemento surpresa dentro da temática em torno de

16 16 Jeú. Com esta análise, pontuaremos as observações que seu conteúdo traz sobre os fatos a partir da ótica do reino da Síria, e de seu governante Hazael, provável autor da Estela, que é uma personagem central nesta história. Além disto, consideraremos o papel de cada um dos reis envolvidos na Revolta de Jeú, discorrendo cuidadosamente sobre o enquadramento de cada um dentro do texto. Por fim, dedicaremos o capítulo III a observar o reino da Síria. Neste capítulo, será abordado um breve histórico acerca das origens dos Arameus, no entanto, dar-se-á ênfase a pessoa de Hazael durante sua trajetória como rei, o que nos ajudará, sem sombra de dúvidas a entender melhor o contexto por detrás dos desdobramentos em Ramote de Gileade, bem como, sobre boa parte do histórico dos confrontos entre Israel e a Síria.

17 17 CAPÍTULO I A REVOLTA DE JEÚ E A REDAÇÃO DEUTERONIMISTA O evento da Revolta de Jeú será trabalhado em prospecto ao que a redação deuteronomista apresenta sobre o tema, partindo da exegese da perícope de 2 Reis 10, Pretende-se empreender um estudo exegético sobre esse tema, apresentando a maneira pela qual o texto tem sido lido tradicionalmente, e pontuar relevantes observações sobre o texto. Com finalidade de clarificar os motivos presentes por detrás desse fato, além de compreender a importância da história bíblica, agora, partindo do reino do norte. Para desenvolver esse capítulo, serão trabalhados os seguintes tópicos: Tradução Interlinear do texto da Bíblia Hebraica Stuttgartensia (B.H.S.), Proposta de tradução literal do Texto Massorético, Crítica Textual, Aparato Crítico da B.H.S., Delimitação, Estrutura e Coesão do Texto, Gênero Literário, Data e Autoria, Comentário Exegético - e por fim - a Conclusão. Também estarão presentes os principais conceitos que nortearão a construção dessa dissertação, nos temas que a mesma se propõe a analisar. A história que traz um breve relato sobre o reinado de Jeú, também faz menção a Hazael de Damasco, que é personagem central na Revolta de Jeú, além do fato de ser o provável autor da Estela de Dã, que será analisada no decorrer desse trabalho.

18 Tradução interlinear do texto da Bíblia Hebraica Stuttgartensia 28 ו יּ שׁ מ ד י הוּא א ת ה בּ ע ל מ יּ שׂ ר א ל de Israel a baal Iehu E destruiu 29 ר ק ח ט א י י ר ב ע ם בּ ן נ ב ט א שׁ ר ה ח ט יא fez pecar o qual filho de Nebat Jeroboão os pecados Somente de א ת י שׂ ר א ל לא ס ר י הוּא מ אַח ר יה ם א שׁ ר ה זּ ה ב ע ג ל י o qual o ouro bezerros de depois Iehu não desviou Israel de de eles בּ ד ן ס Em Dã בּ ית א ל ו א שׁ ר e o qual Beith-el 30 ו יּ אמ ר י הו ה א ל י הוּא י ע ן א שׁ ר ה ט יב ת ל ע שׂוֹת para executar o qual fizeste por causa para Iehu YHWH e disse Bem de ר ב ע ים בּ נ י אַח אָב ל ב ית ע שׂ י ת בּ ל ב ב י א שׁ ר כּ כ ל בּ ע ינ י ה יּ שׁ ר quartos filho Ahab para a tens em meu o conforme em O de casa feito coração qual todo meus direito de olhos י שׁ בוּ ע ל כּ סּ א ל ך י שׂ ר א Israel para ti sobre o trono de se assentarão 31 ו י הוּא לא שׁ מ ר ל ל כ ת בּ תוֹר ת י הו ה em lei de YHWH para andar vigiou não E Iehu א לה י י שׂ ר א ל מ ע ל ס ר לא בּ כ ל ל ב בוֹ ח טּ אות י ר ב ע ם א שׁ ר o qual Jeroboão pecados de se não em todo Deus de Israel de sobre desviou seu coração ה ח ט יא א ת י שׂ ר א ל Israel fez pecar

19 19 בּ י שׂ ר א ל ו יּ כּ ם 32 בּ יּ מ ים ה ה ם ה ח ל י הו ה ל ק צּוֹת e golpeou em Israel para YHWH iniciou os estes Em os a eles cortar os dias limites ח ז א ל בּ כ ל גּ בוּל י שׂ ר א ל Israel em todo território de Hazael 33 מ ן ה יּ ר דּ ן מ ז ר ח ה שּׁ מ שׁ א ת כּ ל א ר ץ ה גּ ל ע ד o Gileade toda a terra o sol de lugar Desde o de nascer Jordão ה גּ ד י ו ה ר אוב נ י ו ה מ נ שּׁ י אַר נ ן ע ל נ ח ל א שׁ ר מ ע ר ע ר ו ה גּ ל ע ד e o Arnon sobre a o qual desde e o e o o gileade torrente Aroer mansassita Rubenita gadita rio ו ה בּ שׁ ן e o Basã 34 ו י ת ר דּ ב רי י הוּא ו כ ל א שׁ ר ע שׂ ה ו כ ל גּ בוּר תוֹ e toda sua força fez e tudo o Iehu de E resto de que discursos atos de ה לוֹא ה ם כּ תוּב ים ע ל ס פ ר דּ ב ר י ה יּ מ ים ל מ ל כ י י שׂ ר א ל Israel? para os dias discursos sobre escritos acaso reis de atos de livro de não eles י הוּא ע ם א ב ת יו ו יּ ק בּ רוּ א תוֹ בּ שׁ מ רוֹן 35 ו יּ שׁ כּ ב em Samaria e enterraram a ele com seus pais Iehu E deitou-se ו יּ מ ל ך י הוֹאָח ז בּ נוֹ תּ ח תּ יו em lugar dele seu filho Jeoacaz E reinou 36 ו ה יּ מ ים א שׁ ר מ ל ך י הוּא ע ל י שׂ ר א ל ע שׂ ר ים vinte sobre Israel Iehu reinou que E os dias que וּשׁ מ נ ה שׁ נ ה בּ שׁ מ רוֹן פ em Samaria E oito anos

20 Proposta de Tradução Literal do Texto Massorético 28 E destruiu 1 Iehu a Baal de Israel; 29 Somente os pecados de Jeroboão filho de Nebat, o qual fez 2 pecar Israel não desviou 3 Iehu depois de eles. Bezerros de o ouro o qual Beith-el e o qual em Dã; 30 E disse 4 YHWH para Iehu: Por causa de o qual fizeste 5 bem para executar 6 o direito em meus olhos, conforme todo o qual em meu coração tens feito 7 para a casa de Ahab, filho de quartos se assentarão 8 para ti sobre o trono de Israel; 31 E Iehu não vigiou 9 para andar 10 em lei de YHWH Deus de Israel, em todo seu coração não se desviou 11 de sobre pecados de Jeroboão, o qual fez 12 pecar Israel; 32 Em os dias, os estes, iniciou 13 YHWH para cortar 14 os limites em Israel e golpeou 15 a eles Hazael em todo território de Israel; 33 Desde o Jordão, de lugar de nascer o sol toda a terra de o Gileade, o Gadita, e o Rubenita, e o Manassita, desde Aroer, o qual sobre a torrente (rio) Arnon, e o Gileade, e o Basã; 34 E resto de discursos (atos) de Iehu e tudo o que fez 16 e toda sua força, acaso não eles escritos sobre livro de discursos (atos) de os dias para reis de Israel? 35 E deitou-se 17 Iehu e enterraram 18 a ele com seus pais em Samaria, e reinou 19 Jeoacaz, seu filho, em lugar dele; 1 Singular. - Verbo Hifil Imp. 3 Pessoa Masc. שׁמד 2 Singular. - Verbo Hifil Perf. 3 Pessoa Masc. שׁמד 3 Singular. - Verbo Qal Perf. 3 Pessoa Masc. סור 4 Singular. - Verbo Qal Imp. 3 Pessoa Masc. אמר 5 Singular. - Verbo Hifil Perf. 2 Pessoa Masc. טוב 6 Construto. - Verbo Qal Infin. עשׂה 7 Singular. - Verbo Qal Perf. 2 Pessoa Masc. עשׂה 8 Plural. - Verbo Qal Imp. 3 Pessoa Masc. ישׁב 9 Singular. - Verbo Qal Perf. 3 Pessoa Masc. שׁמר 10 Construto. - Verbo Qal Infin. הלך 11 Singular. - Verbo Qal Perf. 3 Pessoa Masc. סור 12 Singular. - Verbo Hifil Perf. 3 Pessoa Masc. חטא 13 Singular. - Verbo Hifil Perf. 3 Pessoa Masc. חלל 14 Construto. - Verbo Piel Infin. קצה 15 Singular. - Verbo Hifil Imp. 3 Pessoa Masc. נכה 16 Singular. - Verbo Qal Perf. 3 Pessoa Masc. עשׂה 17 Singular. - Verbo Qal Imp. 3 Pessoa Masc. שׁכב

21 21 36 E os dias que reinou 20 Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria; 1.2 Crítica Textual Nessa etapa, passa-se a análise do aparato crítico da B.H.S., objetivando aprimorar a proposta de tradução, conhecendo as variantes que são apresentadas na composição do texto. A tarefa da crítica textual é de suma importância em apontar os diferentes manuscritos encontrados - à que se referem ao Antigo Testamento - sempre na tentativa de restaurar o texto original, ou perceber fontes e camadas do mesmo (SILVA, 2000, p.45) Aparato Crítico da Bíblia Hebraica Stuttgartensia O aparato crítico é sobremodo importante, pois demonstram as situações pelas quais passaram o texto hebraico, desde a antiguidade até a idade média - de modo que se possam apontar as variantes existentes nas versões bíblicas clássicas - tais como: a Septuaginta 21, Vulgata 22, Vetus Latina 23, Peshitta 24, o Pentateuco Samaritano 25, Targum 26, e os Manuscritos do Mar Morto 27 ; dentre outras referências (FRANCISCO, 2008, p.69). O episódio de 2 Reis 10,28-36 nos traz as seguintes observações: Verso 28: o termo ה בּ ע ל (a baal) é acompanhado da seguinte nota explicativa: [2 Mss Ö N min + tyb cf Ö L ]: Dois Manuscritos Hebraicos Medievais (M.H.M.) citados nas edições de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg, o Códice Basiliano-vaticano, junto 18 Plural. - Verbo Qal Imp. 3 Pessoa Masc. קבר 19 Singular. - Verbo Qal Imp. 3 Pessoa Masc. מלך 20 Singular. - Verbo Qal Perf. 3 Pessoa Masc. מלך 21 Versão da Bíblia Hebraica traduzida em etapas para o Grego Koiné, entre o século III e o século I a.c., em Alexandria. 22 Versão da Bíblia traduzida para o latim, entre o final do século IV e o início do século V d.c., por São Jerônimo, a pedido do Bispo Dâmaso I. 23 Coletânea de textos traduzidos para o latim, antes da Vulgata. 24 Versão padrão da Bíblia no idioma Siríaco. 25 Nome que se dá a Torá usada pelos Judeus Samaritanos. 26 Nome atribuído às traduções das frases e comentários aramaicos da Bíblia hebraica, escritos e compilados da época do segundo templo, até o inicio da Idade Média. 27 Coletânea de textos e fragmentos de texto encontrados nas cavernas de Qumran, no Mar Morto, entre fim da década de 1940 e durante a década de 1950.

22 22 com o Códice Vêneto (Sec. VIII/IX) minúsculo, acrescentam בּ ית (casa) ao vocábulo ה בּ ע ל (a baal), conforme a Recensão de Luciano de Antioquia. O verso ficaria a partir da variante: E destruiu Iehu a casa de Baal de Israel ; Verso 29: o termo construto ע ג ל י (bezerros de), bem como בּ ד ן (em Dan), traz que [ a- a add?]: Os editores da Bíblia Hebraica Stuttgartensia consideram o verso 29 como uma adição típica da redação Deuteronomista. O propósito aqui é tecer uma crítica a Jeú por ter seguido as mesmas práticas pecaminosas de Jeroboão 28 (ROBCKER, 2012, p.33-50). O termo בּ ית (beith) anota, [mlt Mss Seb Vrs tybb.]: Muitos M.H.M. (de 21 a 60 de B. Kennicott, G.B de Rossi e de C.D. Ginsburg - e de 16 a 60 em B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel) e na situação textual sevirin 29, em todas as versões, traz a preposição בּ (Em). Ficaria então: Somente os pecados de Jeroboão, filho de Nebat, o qual fez pecar Israel não desviou Iehu depois de eles Bezerros de Ouro o qual em Beith-el e o qual em Dan. ; Verso 30: O termo כּ כ ל (Conforme todo), traz a explicativa: [Ms Seb lkb., Ö N min (ãç) kai panta]: (M.H.M.) nas edições de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg, na situação textual sevirin, vem com o termo atrelado à preposição בּ (Em). O verso seria: E disse YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar o direito em meus olhos, em todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho de quartos se assentarão para ti sobre o trono de Israel;. O Códice Basiliano-vaticano, junto com o Códice Vêneto (Sec. VIII/IX) minúsculo das versões Peshita e Vulgata trazem a expressão kai panta (e todo). Que seria: E disse YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar o direito em meus olhos, e todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho de quartos se assentarão para ti sobre o trono de Israel; ; Verso 31: O termo מ ע ל (De Sobre), explica-se [pc Ms Or å lkomi]: Poucos M.H.M. (de 3 a 10 nos M.H.M. citados por B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg - e de 3 a 6 nos M.H.M. de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel) dos Massoretas Orientais e o Targum trazem a expressão lkomi (De todo). 28 Cf.Comentário Exegético, p Particípio passado masculino plural da raiz verbal rbs (aram, sbr. Supor, sugerir, ser de opinião de, cogitar), na construção piel (Cf. Francisco, 2008, p.247)

23 23 O verso ficaria E Iehu não vigiou para andarem lei de YHWH Deus de Israel, em todo seu coração não se desviou de todo, pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel ; Verso 33: O termo ו ה ר אוב נ י (e o Rubenita), traz a nota [sic L, mlt Mss Edd War-]: O Códice L, muitos M.H.M. e edições impressas da Bíblia Hebraica, cf. Êxodo 33,10, substitui o Kibbuts ( U), pelo shureq (W). O termo נ ח ל (a torrente/rio), traz [2 Mss Öã A å Mss + tpf]: Dois M.H.M. por B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg da Septuaginta, do Códice Ambrosiano (Sex VI/VII) e dos Manuscritos do Targum - acrescentam ao vocábulo a palavra tpf (aprisco). A versão seria: Desde o Jordão, de lugar de nascer o sol toda a terra de o Gileade, o Gadita, e o Rubenita, e o Manassita, desde Aroer, o qual sobre a torrente (rio), o aprisco, Arnon, e o Gileade, e o Basã ; Verso 34: O termo ו כ ל (e todo), explica [pc Mss å Ms ç bgw]: Poucos M.H.M. (de 3 a 10 nos M.H.M. por B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg - e de 3 a 6 nos M.H.M. em B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg em 1 e 2 Samuel), nos M.H.M. de B. Kennicott, G.B de Rossi e C.D. Ginsburg do Targum e da Vulgata, trazem a expressão bgw (e feito de). Ficaria: E feito de discursos (atos) de Iehu e tudo o que fez e toda sua força, acaso não eles escritos sobre livro de discursos (atos) de os dias para reis de Israel?. Como resultado da análise do aparato crítico, aponta-se que 2 Reis 10, não é uma perícope que apresenta profundas mudanças em seu histórico de variantes. Com isso mantém-se a tradução do texto conforme a bíblia hebraica nos apresenta em sua forma final, não adotando nenhuma das variações apresentadas Delimitação Os livros de Reis eram originalmente um único volume, sendo mais tarde subdividido em dois pelos tradutores da Bíblia hebraica para o grego (Septuaginta). Neles narra-se a história da monarquia israelita dos últimos dias de Davi - através da divisão do Reino Unido para os reinos rivais de Israel e Judá - até a destruição de Jerusalém e do exílio na Babilônia (COGAN, TADMOR, 1988, p.03). A história que desencadeará no golpe de Jeú especificamente, tem seu início no capítulo 9 de 2 Reis; onde se pode apontar a sucessão de acontecimentos que envolvem tal

24 24 fato - a fim de identificar o texto em exame como uma unidade perfeitamente localizada e delimitada; no capítulo 9,1 a 9,14 - temos descrito o episódio onde Jeú é ungido como rei por um dos filhos dos profetas, enviado por Eliseu, à Ramote de Gileade, sendo inclusive aclamado pelos seus comandados. Em seguida, a partir de 9,15 até 9,37 a narrativa apresenta o início de um genocídio, começando pela realeza. Em 9,24 - Jeú mata Jorão de Israel - em 9,27 Ocozias de Judá - e por fim - em 9,33 - Jezabel - ao lançá-la da janela de onde estava. O capítulo 10 prossegue na temática da Revolta de Jeú. Após o general ter eliminado Jorão, Ocozias e Jezabel, ele haveria de eliminar os setenta filhos de Acab, conforme nos diz o verso 1 do capítulo 10; além de assassinar brutalmente os profetas de Baal, conforme os versos do mesmo capítulo. O verso 28, onde tem início o estudo analisado, apresenta uma ruptura clara em relação à narrativa anterior, embora a temática ainda continue a mesma. Se no início do capítulo 10 temos o relato do assassinato dos filhos de Acab e dos profetas da Baal, que vai até o verso 27 - a perícope que se inicia no verso 28 - seguindo até o verso 36 é desproporcionalmente breve, em relação à primeira, e aparece como um conjunto de documentos de arquivo e reelaboração teológica do redator deuteronomista (CROCETTI, 1994, p.149), que tem por objetivo retratar o balanço do reinado de Jeú. A seguir, no capítulo 11 a partir do versículo 1, temos exposta uma nova ruptura em relação ao estudo em questão - onde se marca o início de outra unidade - com novos personagens, porém bem próximas em temática e enredo. A cena de ação se desloca de Israel, no norte; para Judá - no sul - a partir da narrativa que aponta uma sucessão de eventos, não menos violentos, que culminam na substituição de Atalia por um descendente legítimo de Davi - Joás - no trono de Judá. A ruptura é acentuada pelo fato do capítulo 11 de 2 Reis ser a primeira instância em que o editor de Reis incorporou uma narrativa que deriva de fontes judaicas. Assim, mesmo que a cadeia de acontecimentos em Jerusalém teve seu início no assassinato de Ocozias (9,27-28), o narrador de 2 Reis 11 concentra-se exclusivamente sobre o papel central desempenhado pelo sacerdote Joiada na restauração da monarquia davidita e da renovação da aliança entre YHWH e as pessoas. Assim sendo, torna-se evidente o fato de que os capítulos 9 e 10 de 2 Reis, já não compõem as histórias pertencentes ao bloco do ciclo dos profetas Elias (1 Reis 17,1 2 Reis 1,18) e Eliseu (2 Reis 2,1 8,29) - mas antes estão voltados exclusivamente a Revolta de Jeú,

25 25 sendo assim a passagem presente no capítulo 10,28-36, um relato único, com um objetivo específico, perfeitamente localizada como uma unidade bem delimitada Estrutura do Texto Do ponto de vista da estrutura, em uma visão geral, o livro Reis como um todo é uma composição complexa que emprega um método sincrônico de narração, não muito diferente dos modelos mais antigos da Mesopotâmia, que coordenam as histórias da Assíria e da Babilônia (COGAN, TADMOR, 1988, p.119). Seguindo uma ordem cronológica, geralmente a narração se alterna entre os reinados dos reis de Israel e Judá. A estrutura narrativa consiste em fórmulas cronológicas - a declaração sobre a duração do reinado particular de um rei e seu sincronismo com a do seu homólogo no reino rival, por exemplo; Ocozias - filho de Acabe - começou a reinar em Samaria no ano dezessete de Josafá - rei de Judá - cf. 1 Reis 22,52. Esse reinado, trazido como exemplo acima, pode ter existido de forma independente na lista de reis ou anotada em crônicas reais e do templo. Mas, ao contrário, nas crônicas da Mesopotâmia, as fórmulas cronológicas em Reis, são colocadas no início de cada reinado e não no seu fim. A preocupação com a história da redação, certamente nos levará a encontrar razões para detectar, dentro do prospecto do redator deuteronomista, vestígios editoriais na constituição da perícope que estamos estudando. Na tentativa de empreender a reconstrução dessa história, especialistas apontam algumas evidências, dos assim chamados - retoques redacionais (HAM, 1999, p.156). Por exemplo, a argumentação aponta que um redator tenha trabalhado os versos 28-29, e outro os de 30-32, e que o 29 tenha sido uma adição posterior. O texto de 2 Reis 10,2-36 é um texto complexo no quesito estruturação. Teóricos como Adolfo Ham e Jorge Pixley, propõem uma abordagem tríplice: Sumário e Transição (V.28); uma Avaliação do Reino (V.29-32); e por fim, um Resumo Final do Reinado (V.34-36) (HAM, 1999, p ). Wiseman também traz uma divisão tripartite, no entanto um pouco mais simplória: Resumo dos feitos de Jeú (V.28-33); Demais Acontecimentos (V.34); e Um Pequeno

26 26 Histórico da Duração do Reinado (V.35-36), que segundo o referido autor, não era algo comum de se fazer em relatos desta natureza, a não ser que se a intenção do autor fosse ressaltar o início de uma grande dinastia - que no caso de Jeú - se entendeu entre os anos de 841 a 752 a.c.. Com a finalidade de adentrar com maior profundidade aos temas do texto, O. Long (1991, p.142) propõe uma divisão um pouco mais sistêmica, em relação às demais apontadas, mas com algumas similaridades. Inicia-se com um Sumário (V.28); que também pode ser entendido como uma partícula de transição entre perícopes; os versos 29 e 31 trazem um breve comentário teológico acerca das práticas cultuais durante o reinado de Jeú; 32 e 33 um aviso de derrota para Hazael - que haveria de retomar os territórios da Transjordânia; 34 e 35 retratam o curriculum do reinado e no 36 traz a demonstração do corpo do reinado. Após observar estas propostas, parece bem mais adequado o modelo trazido por O. Long. Dadas as informações, apresenta-se a seguinte estrutura: I Declaração de Sumário/Transição; V.28 II Comentário Teológico; III Aviso de Derrota; IV Concluindo o Currículo do Reinado; V V V V Demonstração do Corpo do Reinado. V Coesão do Texto De forma geral, uma relevante observação se faz necessária: Dentro do relato acerca do reinado de Ocozias, se inseriu a narrativa profética da Revolta de Jeú. Tendo sido levado em conta os pontos de contato e conteúdo literário desta narrativa entre as frases, e as notícias do golpe contra Ocozias. Um compositor provavelmente fundiu as duas unidades literárias, ele terminou a notícia e distribuiu suas partes pelos lugares mais apropriados na história: antes do início da mesma em (8,28a) incluindo referências à proclamação de Jeú e a tomada de poder, e (9,14a) com referência ao ataque contra Ocozias.

27 27 A narrativa, não contém qualquer referência que indique um processo de sucessão, em uma perspectiva dinástica (BARRERA, 1984, p.188). Este fato torna a narrativa em exame; como sendo uma unidade perfeitamente coesa, conforme demonstrado abaixo, sendo um texto crucial para a compreensão dos relatos sobre Jeú. Barrera (1984, p.188) ainda aponta que tal carência no processo redacional, só é compensada com a adesão do trecho que vai de 10, assim como ocorre nos casos das narrativas sobre Davi e Salomão (1 Reis 2,11; 11,42) - ressaltando que parte da formula inicial sobre o comportamento moral e religioso de Jeú, está armazenada em 10, O fato é seguido pelo relato dos versos 32 e 33, que enquadram historicamente esse reinado, terminando com a fórmula conclusiva que vai dos versos 34 a 36. Existem outras peculiaridades interessantes na definição da coesão da história. Após o Sumário (V.28), se é conduzido imediatamente aos versos 29-31, onde se tem uma estrutura em forma de quiasmo 30, que aponta questões da organização redacional aplicadas para união de versículos. Essas traçam o eixo do tema, que concordando com a proposta de estrutura, se desdobram em um comentário teológico que faz referência aos pecados de Jeroboão, em comparação àqueles cometidos por Jeú - que são semelhantes - colocando entre ambos o 29 e 31 - ordenadamente - um discurso centrado em Javé. No bloco de versículos (28-31), é possível averiguar alguns contrastes da narrativa, que podem revelar a outras camadas presentes no texto. O verso 28 - somado ao 30 - representa a redação deuteronomista, que faz uma menção positiva ao reinado de Jeú em destruir a Baal de Israel ; já os 29 e 31 - de provável origem pós-exílica - contrariando este argumento, revelam uma face negativa desse, pelo fato de Jeú, não ter se desviado dos pecados de Jeroboão: 28 E destruiu Iehu a Baal de Israel; ו יּ שׁ מ ד י ה וּא א ת ה בּ ע ל מ יּ שׂ ר א ל 31 E Iehu não vigiou para andar em lei de Javé, Deus de Israel, em todo seu coração, não se desviou de sobre pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel; ו י ה וּא ל א שׁ מ ר ל ל כ ת בּ ת וֹר ת י הו ה א לה י י שׂ ר א ל בּ כ ל ל ב ב וֹ ל א ס ר מ ע ל ח טּ אות י ר ב ע ם א שׁ ר ה ח ט יא א ת י שׂ ר א ל 30 Estrutura sintática em que dois segmentos de frase têm duas ou três das suas palavras repetidas em ordem inversa e de tal modo que a final do primeiro segmento é a inicial do segundo.

28 28 29 Somente os Pecados de Jeroboão, filho de Nebat, o qual fez pecar Israel, não desviou Iehu de depois de eles bezerros de o ouro, o qual Beith-el e o qual em Dã; ר ק ח ט א י י ר ב ע ם בּ ן נ ב ט א שׁ ר ה ח ט יא א ת י שׂ ר א ל ל א ס ר י ה וּא מ א ח ר יה ם ע ג ל י ה זּ ה ב א שׁ ר בּ ית א ל ו א שׁ ר בּ ד ן ס 30 E disse Javé para Iehu: Por causa de o qual fez o bem para executar o direito em meus olhos conforme todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab filho de quartos, se assentarão para ti, sobre o trono de Israel; ו יּ אמ ר י הו ה א ל י ה וּא י ע ן א שׁ ר ה ט יב ת ל ע שׂ וֹת ה יּ שׁ ר בּ ע ינ י כּ כ ל א שׁ ר בּ ל ב ב י ע שׂ ית ל ב ית אַח א ב בּ נ י ר ב ע ים י שׁ ב וּ ל ך ע ל כּ סּ א י שׂ ר א ל Dando prosseguimento a análise do texto, os versos 32-33, mencionam o rei Hazael de Damasco, e a ameaça que o reino da Síria representou a Israel, durante o reinado de Jeú. Desde o capítulo 8, versículos 7 a 15, a figura do governante Sírio paira na memória do leitor de introspecção de Eliseu, de acordo com 2 Reis 8, Esse ponto do texto demonstra sua coesão, pelo fato de que é bem possível perceber, pela menção ao nome de Hazael - e que ele é uma figura que se move perifericamente à margem do reinado de Jeú (2 Reis 8,28; 9,15) - personagem central da narrativa, confrontando agora o leitor de forma direta com o relato da vitória militar sobre o Norte, e posteriormente sobre o Sul (LONG, 1991, p.144). Os versos de 34 a 36 são aqueles que encerram o breve relato sobre o reinado de Jeú. Favorecendo a uma melhor compreensão, pode-se apontar o como sendo fechamento do currículo do reinado iniciado pelo sumário (V.28); e o 36 - como o fechamento definitivo dos relatos sobre este reino - apontando perfeita sincronia na tarefa à qual realizam, conforme demonstrado abaixo: 28 E Destruiu Iehu a Baal de Israel; (Inicio) ו יּ שׁ מ ד י ה וּא א ת ה בּ ע ל מ יּ שׂ ר א ל 34 - E resto de, de discursos/atos de Iehu e tudo o que fez e toda sua força acaso não eles escritos sobre livro de discursos/atos de os dias para reis de Israel?;

29 29 ו י ת ר דּ ב ר י י ה וּא ו כ ל א שׁ ר ע שׂ ה ו כ ל גּ בוּר ת וֹ ה ל וֹא ה ם כּ תוּב ים ע ל ס פ ר דּ ב ר י ה יּ מ ים ל מ ל כ י י שׂ ר א ל 35 E deitou-se Iehu com seus pais enterraram a ele em Samaria, e reinou Jeoacaz seu filho em lugar dele; ו יּ שׁ כּ ב י הוּא ע ם א ב ת יו ו יּ ק בּ ר וּ א ת וֹ בּ שׁ מ ר וֹן ו יּ מ ל ך י הוֹאָח ז בּ נ וֹ תּ ח תּ יו 36 E os dias que reinou Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria; (Fim) ו ה יּ מ ים א שׁ ר מ ל ך י הוּא ע ל י שׂ ר א ל ע שׂ ר ים וּשׁ מ נ ה שׁ נ ה בּ שׁ מ ר וֹן פ Favoráveis à tarefa de coesão; são os diferentes campos semânticos que se formam no decorrer da perícope, que contribuem também à tarefa de identificação das camadas redacionais do texto. O nome Jeú (,(י הוּא que é o principal personagem da história, percorre boa parte da extensão dos versículos, ocorrendo 7 vezes. Em volta desta referência, os demais termos que perpassam a extensão da narrativa, evidenciando sua coesão, realçam as mais relevantes características do reinado de Jeú, à luz da redação deuteronomista. A menção a palavra Pecado,(ח ט א י) em conjunto com a expressão Pecados de Jeroboão י ר ב ע ם),(ח ט א י ocorre 4 vezes no texto, destacando o fato de que Jeú incidiu nos mesmos erros cometidos por Jeroboão. A grande ocorrência da palavra Israel ( ), י שׂ ר א ל 07 vezes ao todo, ligada a Jeú, somada à ocorrência de outras localidades geográficas: Gileade, Gade, Aroer, Basã - dentre outras mencionadas diretamente às questões de território - nos versos 32 e 33 do episódio, além de dar uma prédica sobre a extensão (limites) do reinado de Jeú, revelam uma nova camada da redação, apontando para a influência Síria, na pessoa de seu rei, Hazael. Dados os fatos, podemos apontar que a descrição de 2 Reis 10, pela gama significativa de evidências apresentadas - constitui-se em uma narrativa coesa e bem construída Gênero Literário

30 30 Os livros de 1 e 2 Reis, são uma das principais fontes de todo o estudo acerca da história de Israel, que abarca o período compreendido entre os séculos X e IX a.c. Trata-se de uma obra que parece apresentar em seus relatos, uma valorização que compreende um pouco mais o lado político de toda a história, onde quase nada é relatado sobre os problemas econômicos e sociais que se erguem em seu decorrer (BUIS, 1997, p.07). O livro em si, constitui-se em um importante tratado teológico sobre os acontecimentos, com forte presença do movimento profético, que acaba por funcionar como sendo um movimento porta-voz do autor, ressaltando uma das intenções do livro, que é a de promulgar uma mensagem religiosa. Partindo destas informações, pode-se apontar também, que boa parte dele dedica-se a explicar a interferência de Javé na história dos homens, evidenciando assim um pouco desta perspectiva religiosa da obra, a qual foi mencionada acima. Apontar um gênero literário específico para os manuscritos de 1 e 2 Reis é um trabalho difícil. Em todo o enredo, se podem encontrar similitudes com as inscrições reais, listas monárquicas e anais reais que remetem ao Egito e a Mesopotâmia. Porém Burke O. Long (1991, p.4-5), traz uma interessante perspectiva analítica sobre todo o conjunto da obra: 1. Entre as características literárias, se destacam algumas articulações sinóticas dos dois reinos (norte e sul), e outros eventos da história exterior dos impérios; 2. Uma segunda análise é a parataxe, que consiste na colocação paralela de pequenas unidades textuais para a construção de unidades maiores. Não há subordinação, e nem clímax. A história se encerra quando aparece o último elemento, sem a necessidade de um sumário, ou conclusão - e para isso - se utilizam diferentes ferramentas: conjunções, frases conectivas e adverbiais, repetições, etc. Por Exemplo: E aconteceu que... 1 Reis 11,15; Depois destas coisas... 1 Reis 17,17 e 21,1 - dentre outras; 3. Uma terceira observação é a analogia, por exemplo: entre Jeroboão e Basa - Elias e Eliseu - Salomão e Joás - Jeroboão e Manasses - Jeroboão e Jeú; e outros; 4. Uma quarta alternativa, são as estruturas avaliativas em fórmulas de julgamento (1 Rs 22-43) ou a estrutura de apostasia/reforma - por exemplo - a reforma de Josias depende muito de Joiada (2 Reis 12,4-16 e 22,3-7). Uns são exemplos de apostasia e outros de reforma. A descrição de 2 Reis 10,28-36 é uma composição literária pós-exílica, de gênero narrativo por parte do escritor deuteronomista, que oferece uma série de declarações ao

31 31 período do reinado de Jeú. Os elementos importantes são genéricos: (1) Comentário Teológico (29-31); (2) A conclusão do resumo do reinado (vv.34-35); (3) Nota histórica (vv.32-33) e (4) Duração do reinado (v.36) (LONG, 1991, p.144) Data e Autoria Não apenas sobre o estudo, mas em se tratando dos livros dos Reis, de maneira geral, as teorias que abordam o trabalho de escrita e compilação da obra, são sobremodo extensas. Existe um grande problema de aceitação entre o que pode ser pós-exilico, ou algo fruto de uma editoração. O caso é que a maioria dos comentários que são somados ao padrão histórico, traz em seu bojo o ponto de vista de diferentes editores. Algumas observações são necessárias à tarefa de datação e autoria do texto. Em primeiro lugar: o fato de que parece haver um único autor responsável pela tarefa de seleção das fontes históricas presentes no texto, que permitiram que ele levasse adiante sua interpretação dos eventos (WISEMAN, 2008, p.49). Casualmente, este mesmo autor parece intercalar seus próprios comentários (Cf. 2 Reis 17,1-23), porém trata suas fontes de maneira reverente ressaltando sua credibilidade de uma forma clara e objetiva. Um ponto a ser ressaltado, é o fato de que as intenções do autor, sempre pairam em torno de evidenciar a ação de Javé nas diferentes narrativas acerca dos reis. O lado econômico, político e social quase não encontram espaço nos textos, prova disso são as narrativas reduzidas do internacionalmente conhecido Omri (1 Reis 16,22-28), e do longo reinado de Jeroboão II (2 Reis 14,23-29). A tradição judaica, durante um tempo, atribuiu a autoria dos livros a Jeremias pelo fato da proximidade que o livro tem com o do referido profeta - tendo basicamente o mesmo final - bem como o do profeta Isaías, tanto na teologia, na linguagem e no propósito. É possível que por sua presença no seio da corte - além do círculo dos escribas em Jerusalém - que Jeremias tenha tido acesso aos primeiros arquivos do estado de ambos os reinos hebreus que antecederam a queda da cidade em 586/587 a.c. (WISEMAN, 2008, p.50).

32 32 A sugestão é que a história tenha sido concluída por volta de 580 a.c. a partir de registros existentes, seja por Jeremias ou por alguém próximo a ele - quem residia com Gedalias em Mispa - antes dele e seu grupo retirarem-se para o Egito (NOTH, 1968, p.415). Argumentando em sentido contrário, Wiseman (2008, p.50) trata a possibilidade que o autor possa ter sido alguém durante o exílio na Babilônia, pelo menos vinte anos depois de 561 a.c. que foi o ano onde se fez a última referência à libertação de Joaquim para que pudesse ir rumo a um refúgio que fosse mais favorável. A proposta de Noth, coloca como data aproximadamente o ano de 580 a.c. e um único autor/compilador que trabalha com as fontes históricas, isso parece mais aceitável, dentro da tarefa à qual se propõe esse ponto do trabalho. Somado a estas informações, a visão do referido autor, Weinfeld (1972, p ) aponta que provavelmente pertence à tradição deuteronomista, uma vez que os livros de Reis compartilham em muito as ideias e a linguagem de Deuteronômio. A obra completa, compõe uma narrativa que segue desde Deuteronômio a 2 Reis, o que automaticamente colocaria Reis como parte dos profetas anteriores, na Bíblia hebraica (Josué-Reis). Esta inclusão traria o entendimento de que a nação inteira era o povo da aliança, que fora separado por Deus - e que nesse ínterim - a monarquia foi o viés político pela qual se daria o ajuntamento desse povo novamente, mesmo que a nação fosse julgada e grandemente influenciada pelos seus vizinhos politeístas, voltando inclusive às práticas Cananeias. Acerca do peso de Deuteronômio sobre Reis, algo importante deve ser ressaltado. Existem aqueles que pensam que o livro de Deuteronômio foi encontrado por Josias, no ano de 622 a.c. na época da reforma que este realizou no templo. Assim sendo, a conclusão à qual se chega, é que a obra se tratava de algo terminado pouco antes deste período, e que sua influência em relação aos livros de Reis, date do início do século seguinte. Contudo, não se tem certeza de que o Livro da Lei - do qual 2 Reis 22,3 nos fala - seja o livro de Deuteronômio em sua forma final, mesmo que contivesse provisões que motivaram a reforma de Josias.

33 33 O foco gira em torno do seguinte argumento: a descoberta do livro; que incluiu documentos do início do Pentateuco, escritos nos primórdios da monarquia, formando assim base de qualquer avaliação por toda a história dos reinos hebraicos (WISEMAN, 2008, p.51). Archer (2012, p.357) diz que a composição de Reis deve ser datada depois da queda de Jerusalém, provavelmente após a época do exílio. No entanto, ele relata que é possível que apenas o capítulo final de 2 Reis 25, pertença diretamente, à época do exílio. O talmude babilônico assevera sobre a possibilidade levantada anteriormente de que Jeremias era o autor o livro de Reis 31. Archer (2012, p ) parece entender da mesma maneira. Para ele, o tom profético do livro de Reis aponta para o fato de que possivelmente, seu autor possa ter sido um profeta e que, assim como Jeremias, possuía considerável capacidade literária. Archer ainda nos diz que o fato de não haver a mínima alusão ao próprio Jeremias, nos capítulos que tratam sobre Josias seria outro indício. Tendo sido Jeremias o último grande profeta de Judá, possuindo uma importância singular na história deste reino, não haveria outra razão para a omissão de uma referência ao ministério do profeta, a não ser o fato de que ele - possivelmente - seja o autor do livro Comentário Exegético Declaração de Sumário/Transição (v.28) 28 E destruiu Iehu a Baal de Israel; ו יּ שׁ מ ד י הוּא א ת ה בּ ע ל מ יּ שׂ ר א ל O verso 28 demonstra que era dada importância para a história dos reis em seus feitos, destacando fatos e registros históricos sobre os respectivos reinados, que seriam compostos. Destaque aqui, em se tratando desse estudo, para a expressão questão. E א ת ה בּ ע ל destruiu a Iehu a Baal de Israel, demonstrando esta מ יּ שׂ ר א ל ו יּ שׁ מ ד י הוּא 31 Disponível em: Acesso em 17/02/2016

34 34 Interessante, ainda neste versículo 28, a luz da indicação da crítica textual (cf. item 3); seria de pensar na questão de Baal de Israel, como sendo entendido pelo acréscimo da terminação בּ ית (beith) a expressão מיּ שׂ ר א ל ה בּ ע ל (habaal), que a colocaria como Casa de Baal de Israel mostrando o que de fato Jeú destruiu - que foi o culto institucionalizado a Baal - com a derrubada do templo e o assassinato dos profetas. O fato do anúncio da destruição do deus de Tiro era importante. O sentido perpassa o de uma simples luta entre deuses, no caso Javé e Baal. Antes de qualquer coisa, destruir a Baal era importante, pelo fato do baalismo ser a representação de um sistema tributário explorador de uma forte ingerência estrangeira, seguida de uma invasão cultural e de uma estratificação social característica das cidadesestado, onde os deuses legitimavam a estrutura hierárquica, representada pelo rei e as elites (PIXLEY, 1987, p ). Ainda sobre a questão do baalismo, Norman Gottwald nos diz: Devemos esforçar-nos por salientar o fato de que o complexo político-cultural, como uma totalidade, é que se detestava e se impugnava, isto é, não os deuses e os cultos como práticas religiosas autônomas erradas, senão os deuses e os cultos, enquanto contrapartes e contrafortes ideológicos e funcionais deturpados, da opressão socioeconômica e política (GOTTWALD, 1986, p ). Pode-se caminhar na seguinte direção; não foi o ódio a Baal que provocou a destruição do seu templo e o assassinato de seus profetas durante a Revolta de Jeú, antes, tal feito se deu pelo fato de que o templo de Baal em Samaria era enquanto incrustação estrangeira - posto avançado da Fenícia - em Israel (ASTOUR, 1959, p. 37). Robker relata que o testemunho contido no verso 28, presumidamente fora alterado pelo relato da destruição de Israel, contido em 2 Reis 17 - especialmente no versículo 16 deste capítulo - onde tem-se um ato claro de adoração a Baal por parte da nação. Ressalta ainda, que não é pelo fato de Israel ter sido destruída, no capítulo 17, que Baal tenha sido destruído (ROBKER, 2012, p.33). Provavelmente é por essa razão, que alguns manuscritos, tanto do hebraico - quanto do grego - trabalham o texto a partir do princípio que, Jeú só destruiu o templo de Baal em Samaria sem inteiramente remover o culto a Baal do contexto popular.

35 Comentário Teológico (v.29-31) 29 ר ק ח ט א י י ר ב ע ם בּ ן נ ב ט א שׁ ר ה ח ט יא א ת י שׂ ר א ל לא ס ר י הוּא מ אַח ר יה ם ע ג ל י ה זּ ה ב א שׁ ר בּ ית א ל ו א שׁ ר בּ ד ן ס 29 Somente os pecados de Jeroboão filho de Nebat, o qual fez pecar Israel não desviou Iehu depois de eles bezerros de o ouro o qual Beith-el e o qual em Dã; 30 ו יּ אמ ר י הו ה א ל י הוּא י ע ן א שׁ ר ה ט יב ת ל ע שׂוֹת ה יּ שׁ ר בּ ע ינ י כּ כ ל א שׁ ר בּ ל ב ב י ע שׂ ית ל ב ית אַח אָב בּ נ י ר ב ע ים י שׁ בוּ ל ך ע ל כּ סּ א י שׂ ר א ל 30 E disse YHWH para Iehu: Por causa de o qual fez bem para executar o direito em meus olhos, conforme todo o qual em meu coração tem feito para a casa de Ahab, filho de quartos se assentarão para ti sobre o trono de Israel; 31 ו י הוּא לא שׁ מ ר ל ל כ ת בּ תוֹר ת י הו ה א לה י י שׂ ר א ל בּ כ ל ל ב בוֹ לא ס ר מ ע ל ח טּ אות י ר ב ע ם א שׁ ר ה ח ט יא א ת י שׂ ר א ל 31 E Iehu não vigiou para andar em lei de YHWH Deus de Israel, em todo seu coração não se desviou de sobre pecados de Jeroboão, o qual fez pecar Israel; Do ponto de vista redacional, essa parte da história se inicia a partir de um advérbio restritivo ר ק (Somente), que leva diretamente o texto para a avaliação do escritor, sobre o reinado de Jeú V Para o resumo conclusivo contido nos versos 34-35, o narrador acrescentou uma explicação sobre a duração do reinado. Normalmente uma declaração típica do material que introduz um governante pela primeira vez, assim como no caso de Davi, em 1 Reis 2,11 e Jeroboão, em 1 Reis 14,20. O relato sobre a descendência de Jeú assentar-se ao trono até a quarta geração (v.30), faz coro ao verso 28. Essa constatação demonstra que ambos os textos são de um mesmo autor, provavelmente o deuteronomista, que tece elogios a Jeú, e seria recompensado com a continuidade de seu reinado, pois ele havia feito àquilo que era bom aos olhos de Javé. Após a morte de Jeú, seu filho Joacaz ( a.c.) assume o trono em Israel. Este foi um período difícil, já que ele teve uma redução considerável em seu exército, de acordo com 2 Reis 13,7 - além do fato de que foi nesta época que provavelmente Israel perdeu a Galiléia - ficando reduzida apenas à região da Samaria (FERNANDES, 1998, p.68). No entanto, o deuteronomista parece considerar de bom alvitre o reinado de Joacaz, de acordo

36 36 com 2 Reis 13,3-5 - embora a grande responsável pela libertação de Israel do domínio arameu tenha sido a Assíria (KAEFER, 2015 p.84). Joás ( a.c.) deu continuidade à dinastia de Jeú. Fernandes (1998, p.71) nos diz que, em termos políticos e econômicos o reinado de Joás constitui uma antecipação daquilo que ele chama de glória jeroboânica, haja vista ter sido Joás sucedido por Jeroboão II. Também neste período, de acordo com 2 Reis 13,20 - morre o profeta Eliseu. Jeroboão II ( a.c.) teve o reinado mais longo da história de Israel, de acordo com 2 Reis 14, Durante o seu reinado Israel retoma as fronteiras do tempo de Omri e Acab (2 Reis 14,25), além do fato de que cidades como Betsaida, Hazor e até mesmo Dã - passam a ser administradas por Israel norte - que retomou o caminho do desenvolvimento (KAEFER, 2015, p.84). Por fim, o último rei da dinastia de Jeú foi Zacarias (753 a.c.). Este teve um curto período de reinado, apenas seis meses, sendo posteriormente assassinado por Salum, de acordo com o relato de 2 Reis 15, fato este que pôs um fim abrupto a esse governo. Os estudiosos, no entanto, preocupados com a reconstrução de uma história de redação - naturalmente - encontram razões para detectar os vestígios de vários editores dentro desta unidade. Por exemplo, Gray (1970, p.562) coloca ao menos dois redatores, um para os versos 28 e 29 e outro para 30 a 32 pelo contraponto das opiniões que hora convergem em elogiar o reinado de Jeú, e hora divergem sobre este mesmo assunto. Wurthwein (1977, p.343) atribui aos versos 28 a 31 a uma redação mais tardia - à deuteronomista - que envolve uma série de glosas secundárias; posições estas encontradas também em Dietrich (1972, p.34) e em Barré (1988, p.22-23) que entendem o V.29 como estando sozinho, sendo uma expansão em uma composição do redator. Outra possibilidade que merece destaque é o fato de que os versos podem ser pós-exílicos. Isto se dá pelo fato da existência de algumas peculiaridades no escopo do texto. A expressão pecado ( (ח ט א י aparece duas vezes, além do fato de haver uma menção clara a lei de Javé ת י הו ה א לה י י שׂ ר א ל),(בּ תוֹר que também revela uma tendência pós-exílica, uma vez que a lei e o pentateuco, apenas foram concluídos em 400 a.c.. Como de costume, as divergências entre os estudiosos indicam os motivos problemáticos para tais hipóteses. Em qualquer caso, a forma de quiasmo presente entre os versos é um ponto importante à integridade autoral, coloca em questão o fato de como a desunião argumentativa pode ser feita, pois se tem uma avaliação teológica nos versículos 29

37 37 e 31 que repetem a questão dos "pecados de Jeroboão" e ordenadamente um enquadramento de discurso centrado em Javé. Sobre a questão dos pecados dos quais não se desviou Jeú, e que o texto faz menção a história de Jeroboão I, a quem são atribuídos estes pecados em primeira instancia, faz compreender a que temática se refere o autor. Jeroboão I ( a.c.), não tinha residência fixa quando iniciou o seu reinado em Israel, chegando a habitar em diferentes localidades, tais como: Siquém (Tell Balata) - as montanhas de Samaria e Penuel (Tilal edh-dhahab) cf. 1 Reis 12:25 - bem como em Tirza (Tell el-far a) sob o impacto da campanha de Shoshenk I ( a.c.) na Palestina (DONNER, 2000, p.281). Ele fortaleceu a influência religiosa dos santuários de Betel e Dã, onde introduziu bezerros de ouro na adoração. Harrison (2010, p.213) diz que há uma boa probabilidade de que Jeroboão tenha sido influenciado pelo antigo culto ao touro Mênfis, no Egito, onde esteve por um tempo. Além disso, mantinha bosques para o culto da fertilidade em Samaria. Nestes locais eram prestados cultos as divindades cananeias agrícolas, além dos deuses Quemos, Milcom e Astarote (HARRISON, 2010, p.214). Fica difícil optar seguramente por qualquer uma das argumentações apresentadas, haja vista, que há de se considerar as intenções e convicções de Jeroboão I e seus conselheiros de um lado; as opiniões de seus contemporâneos, e ainda de seus pósteros, que nem sempre são contempladas pela argumentação contida no texto. No entanto, uma coisa fica clara: provavelmente os adoradores residentes em Israel, prenderam-se à adoração daquilo que viam: o bezerro de ouro que representava o deus estatal Javé, mas que também podia ser considerado símbolo de um dos deuses cananeus da tempestade; dos quais inicialmente Javé não se diferenciava muito (DONNER, 2000, p.283). O relator ao escrever sobre o reinado de Jeú, retoma indiretamente o contexto de um henoteísmo 32 ascendente no período de Jeroboão I, que a luz do signo do Deuteronômio, traduz como sendo pecado de idolatria à adoração das imagens de touro. Além do mais a circunstância descrita em 1 Reis 12,28 - que alude a este contexto - acaba quase que por retornar ao texto de Êxodo 32,4 - evidenciando que a saga do bezerro de ouro é uma etiologia polêmica; com a qual a imagem do touro, interpretada como ídolo, foi reprojetada para o período mosaico. 32 Forma de religião onde se cultua uma única divindade, considerada suprema, mas sem negar a existência de outros deuses.

38 Aviso de Derrota (v.32-33) 32 בּ יּ מ ים ה ה ם ה ח ל י הו ה ל ק צּוֹת בּ י שׂ ר א ל ו יּ כּ ם ח ז א ל בּ כ ל גּ בוּל י שׂ ר א ל 32 Em os dias, os estes, iniciou YHWH para cortar os limites em Israel e golpeou a eles Hazael em todo território de Israel; 33 מ ן ה יּ ר דּ ן מ ז ר ח ה שּׁ מ שׁ א ת כּ ל א ר ץ ה גּ ל ע ד ה גּ ד י ו ה ר אוב נ י ו ה מ נ שּׁ י מ ע ר ע ר א שׁ ר ע ל נ ח ל אַר נ ן ו ה גּ ל ע ד ו ה בּ שׁ ן 33 Desde o Jordão, de lugar de nascer o sol toda a terra de o Gileade, o Gadita, e o Rubenita, e o Manassita, desde Aroer, o qual sobre a torrente (rio) Arnon, e o Gileade, e o Basã; Esse ponto do texto é de extrema relevância para a compreensão da tradição em torno de Jeú. Até mesmo em uma leitura despretensiosa, é clara a ruptura que este bloco possui em relação aos versos anteriores (28-31) e posteriores (34-36), pois aqui não há qualquer referência à Jeú, aos pecados de Jeroboão - a Baal - ou a qualquer outra temática, antes o texto trata especificamente de uma situação história real - que é a perda dos territórios de Israel a partir da inserção de uma personagem central: Hazael, de Damasco. A tradição conta que Hazael foi um usurpador (2 Reis 8,7-15) e que teria sido designado rei pelo profeta Eliseu, de acordo com 2 Reis 8, No início, Jeú teve paz com ele, pois Damasco estava lutando contra as forças de Salmanassar. De 841 a 837 a.c., os assírios acossaram Damasco, mas não a conseguiram conquistar e tiveram de dar-se por satisfeitos com o saque e a devastação das cercanias do oásis el-ghuta 33 (DONNER, 2000, p.325). A forma Em os dias, os estes é uma típica frase editorial que introduz citações provenientes de documentos de arquivo (2 Reis 16,6-18,16-20,12-24,10...) que na perícope em questão, parece apontar outra observação que se reporta especificamente aos dias em que Jeú reinou sobre a casa de Israel. Este tema será revisto e ampliado nos capítulos II e III dessa dissertação. O estudo traz a recordação da batalha de Damasco contra Israel, que no tempo de Jeú, Hazael já havia ocupado praticamente todos os territórios israelitas na Transjordânia e 33 Oasis localizado em torno do rio Barada, onde Damasco foi fundada.

39 39 que tinham sido agregados a Israel durante o reinado de Acab (KAEFER, 2012, p.41). A Estela de Dã 34 aborda esse tema, levando ao entendimento através de seu conteúdo, que Hazael, além de recuperar as terras, se encarregou de eliminar todos os reis que formaram a coalizão anti-damasco. A referência territorial conquistada por Hazael, presente no texto, faz alusão aos territórios da região montanhosa da Transjordânia, que estavam arrolados a Israel, mas que pertenciam, anteriormente, em sua maioria a Damasco. As linhas 3 e 4 da Estela de Dã, que será trabalhada nos capítulos a seguir, retratam que durante um determinado período, Israel dominou Damasco. A Transjordânia, geograficamente falando, possui alguns pontos de convergência com a formação topográfica da Cisjordânia. Além disso, é composta por três regiões principais: a planície, Gileade e o Basã - conforme as referências presentes em Deuteronômio 3,10 - Josué 20 e 2 Reis 10,33. A planície fica ao norte do Arnon, sendo palco da batalha entre Israel e Moabe. O Basã é a parte que fica ao norte do Yamurk e, por fim, Gileade é a seção claramente israelita da Transjordânia abrangendo as regiões do mar morto e do mar da Galiléia; de acordo com as informações de Genesis 37,25 - Josué 22,9-2 Samuel 2,9 - Ezequiel 47,18 e Amós 1,3 - dentre outros textos bíblicos. A região de Basã se destaca pelo seu alto índice de fertilidade, em relação as demais localidades. Especialmente para as atividades voltadas à pecuária (Amós 4,1) e para à edificação de cidades (1 Reis 4,13). Gileade detinha a maior concentração da população israelita na Transjordânia, abrigando inclusive alguns reis em tempos de crise política. Tratase também de uma região altamente fértil. 35 Aroer, localizava-se a margem do vale de Arnon (Deuteronômio 2,36) por onde os israelitas passaram durante sua peregrinação no deserto (Números 32,34). É listada como uma cidade pertencente à tribo de Ruben (Josué 13,16) mas posteriormente foi integrada ao território de Gad (Números 32,34). Às vezes traduzida como vale/desfiladeiro, Aroer possui como uma de suas principais características, o fato de ser alimentada por uma fonte de águas, inclusive citada no verso 33 (COGAN, TADMOR, 1988, p.117). 34 Cf. Capítulo II 35 Acesso em 15/02/2016.

40 40 Mesmo não citada no texto, há uma localidade de extrema importância na região da Transjordânia que merece ser destacada: Edom. Ela se apresenta como uma área de difícil acesso, possuindo muitas localidades militares. O controle dessa região representava a garantia de obtenção de recursos para chefes militares, além do fato de que - o domínio desta - possibilitava o controle da extremidade sul da Estrada Real (SIQUEIRA, 1997, p.126). Paralelo a isso, o texto retoma a temática de 2 Reis 8,7-15 e, paira na memória do leitor introspectivo de Eliseu, movendo-se as margens do sucesso do pleito de Jeú (Cf. 8,28-9,15), confrontando diretamente com a primeira das vitórias militares de Hazael, já que 2 Reis 12,18-13, , nos mostram os demais êxitos militares alcançados pelo rei Sírio Concluindo o Currículo do Reinado (v.34-35) 34 ו י ת ר דּ ב ר י י הוּא ו כ ל א שׁ ר ע שׂ ה ו כ ל גּ בוּר תוֹ ה לוֹא ה ם כּ תוּב ים ע ל ס פ ר דּ ב ר י ה יּ מ ים ל מ ל כ י י שׂ ר א ל 34 E resto de discursos (atos) de Iehu e tudo o que fez e toda sua força, acaso não eles escritos sobre livro de discursos (atos) de os dias para reis de Israel? 35 ו יּ שׁ כּ ב י הוּא ע ם א ב ת יו ו יּ ק בּ רוּ א תוֹ בּ שׁ מ רוֹן ו יּ מ ל ך י הוֹאָח ז בּ נוֹ תּ ח תּ יו 35 E deitou-se Iehu e enterraram a ele com seus pais em Samaria, e reinou Jeoacaz, seu filho, em lugar dele; Novamente tem-se uma ruptura entre as estruturas textuais. Os versos 34 e 35 diferem dos posteriores e anteriores, pois introduzem uma temática voltada para o encerramento padrão dos relatos dos Reis (o resto do discurso... o resto da história) que também pode ser verificada em textos como: 2 Reis 21,17 e 25-23,28, dentre outros. É possível que essas sejam fórmulas do deuteronomista utilizadas para concluir a narrativa sobre os reis e sua história. Os livros das crônicas dos reis de Israel e Judá - ou simplesmente o livro dos Anais reais de Israel e Judá - mencionados na maioria dos relatos sobre os Reis, inclusive aqui, são

41 41 dois conjuntos de anais reais, mencionados em 1 e 2 Reis - mas posteriormente perdidos. O autor refere-se a essas obras como a sua fonte, onde informações adicionais podem ser encontradas. Essas referências mostram como o historiador de Reis utiliza fontes extensas de forma seletiva (MONTGOMERY, 1951, p.24). De todos os reis de Israel, apenas Jorão e Oseias não são mencionados nos registros reais. Dos reis de Judá, o mesmo se aplica a Atalia, Jeoacaz, Joaquim e Zedequias. É incerto se esses livros foram registros reais próprios ou anais editados com base nos registros. É possível, tendo em conta as referências negativas a certos reis: Zinri (1 Reis 16), Selum (2 Reis 15) e Manassés (2 Reis 21) que os registros foram editados (COGAN, 2000, p.89-91). Somado a este fato, o autor dos registros dos reis de Judá, ao sul, dificilmente poderia ter acesso a todos os fatos reais do reino do norte. O conteúdo destes livros parece idêntico ao dos anais assírios; provavelmente os fatos narrados nos livros dos Reis têm por base este material. O livro das Crônicas menciona o livro dos reis de Israel e de Judá (1 Crônicas 9,1-2 Crônicas 16,11-20,34 e 27,7), onde o cronista parece estar se referindo as mesmas obras, mas provavelmente não as têm à sua disposição (MONTGOMERY, 1951, p.38). ו י ת ר דּ ב ר י י הוּא Pode-se também considerar nessa abordagem, onde é citado o trecho E resto de, de discursos (Atos) de Iehu e tudo o que fez o episódio da submissão ו כ ל א שׁ ר de Jeú a Salmanassar III em 841 a.c., retratado no obelisco negro. Esse foi descoberto por Henry Layard, no ano de 1846, em Calesh - Iraque, que retrata a figura de Jeú prostrado diante do rei Assírio e emissários Israelitas com tributos atrás dele. A inscrição apresenta-se da seguinte forma: O tributo de Jeú, filho de Omri; recebi dele prata, ouro, uma tigela saplu dourado, um vaso de ouro com fundo de pontas, copos de ouro, baldes de ouro, uma equipe para um rei (e) puruthu madeira (OPPNHEIM, 1969, p.281). A expressão ו כ ל א שׁ ר E tudo o que Fez, está geralmente ligada a períodos de guerra (Cf. 1 Reis 10,6). Alguns sustentam que Jeú tenha reconquistado Moabe, integrando-a ao território de Israel (WISEMAN, 2008, p.202). Jeú foi o grande responsável pela eliminação da Dinastia Omrida que reinou em Israel durante 42 anos ( a.c). Sua dinastia chegaria até a quarta geração, no ano de 753 a.c., nos dias de Zacarias, filho de Jeroboão II. Possui grande importância para a redação

42 42 deuteronomista, por ser o grande disseminador do Javismo em Israel e Judá, no entanto, aprofundar-se-á mais nessa temática, dentre outras, nos capítulos seguintes Demonstração do Corpo do Reinado (v.36) 36 ו ה יּ מ ים א שׁ ר מ ל ך י הוּא ע ל י שׂ ר א ל ע שׂ ר ים וּשׁ מ נ ה שׁ נ ה בּ שׁ מ רוֹן פ 36 E os dias que reinou Iehu sobre Israel vinte e oito anos em Samaria; A expressão בּ שׁ מ רוֹן em Samaria, estaria fora de posição no que diz respeito à construção do relato da localidade onde se deu o reinado de Jeú, considerando a referência de 1 Reis 22,52 - onde de fato Samaria é devidamente identificada como parte integrante de Israel, e não como um território isolado como o versículo em questão nos leva a entender. A partir dessa constatação, é bem possível que esse verso seja um relato mais tardio, sobre a história de Jeú (EISSFELDT, 1922 p.75). Não é de praxe o historiador colocar a duração do reinado no final. Talvez sua intenção fosse a de ressaltar uma longa dinastia. 1.9 Considerações Intermediarias O texto de 2 Reis 10,28-36, apresenta um resumo do reinado de Jeú, a partir de duas redações distintas: uma deuteronomista, evidenciada ao relatar a ação de Jeú - prometendo-lhe uma dinastia até a quarta geração e, outra pós-exílica - destacada uma vez que Jeú - segundo o texto (vv.29-31) não levou em consideração, andar segundo a lei de Javé, não se desviando de sobre os pecados de Jeroboão. Além dessas observações, através das análises realizadas, foi possível constatar que os relatos de perda de território a que se referem os versos 32 e 33, se tratam de uma situação histórica real, inclusive retratada pela Estela de Dã.

43 43 As tarefas de delimitação e estruturação do texto mostram a ordem redacional em polarizar os assuntos dentro de uma mesma unidade, através dos blocos destacados no corpo da exegese. Chega-se à conclusão de que essa disposição textual favoreceu muito a percepção de elementos de coesão que amarraram os assuntos dentro do estudo. Dadas as informações de data e autoria, é possível que o livro tenha sido escrito por volta do século VI. Embora carente de elementos de maior precisão, se tem como um autor em potencial, o profeta Jeremias, conforme destacamos no corpo da exegese. Conclui-se a partir de então, que a história do reinado de Jeú abordada em questão, é um relato que apresenta visões diferentes sobre uma mesma situação. Um rei, que segundo o texto - põe fim ao culto a outras divindades em Israel - não se aparta dos assim classificados pecados de Jeroboão, além do fato de perder parte dos territórios de Israel para Hazael de Damasco e, no entanto, sua dinastia chegaria até a quarta geração. Para o ponto de vista da redação deuteronomista, como já destacado, a história de Jeú é muito importante pelo fato de através dele, o Javismo ganhar expressão. No entanto, o exame do texto faz que paire sobre o imaginário do leitor a impressão de que as entrelinhas desta história precisem ser mais bem expostas, de maneira a se entender o papel de sua trajetória na história de Israel e, quais as reais heranças que o reinado de Jeú trouxe. Sobre isso, a Estela de Dã lança novas perspectivas ao levante, por isso passa-se em seguida à análise de seu conteúdo.

44 44 CAPÍTULO II JEÚ E A ESTELA DE DÃ No capítulo anterior, observou-se cautelosamente, através do estudo exegético, como tradicionalmente tem sido lido os eventos que tratam da escalada de Jeú ao trono em Israel Norte. A história deuteronomista - nome dado à composição dos livros que seguem de Deuteronômio até 2 Reis pelo fato de discorrerem os princípios teológicos elencados em Deuteronômio como uma das fontes subjacentes da Bíblia Hebraica, aponta este episódio como sendo um ato de revolta por parte de Jeú; que tinha por objetivo, a eliminação do culto à outras divindades em Israel. A partir desse contexto, se inicia uma apresentação/análise da Estela de Dã, que acredita-se trazer novas perspectivas sobre os eventos em questão, envolvendo o general Jeú, que mais tarde se tornaria o rei de Israel. Retomando a história naquele período, por volta do século VIII d.c., o artefato aponta para uma face não contemplada pelo redator deuteronomista, ao reproduzir a história de Israel. Para o desenvolvimento da temática, serão trabalhados alguns pontos considerados indispensáveis: A relação entre a bíblia e a arqueologia; o Tell Dã e seu histórico de escavações e principais achados arqueológicos; a Estela de Dã em uma abordagem genérica; e por fim - uma análise sobre o conteúdo da Estela de Dã e sua relação com a Revolta de Jeú. A descoberta da Estela de Dã causou um impacto significativo na compreensão do mundo bíblico. Nesse caso, principalmente no reino de Israel Norte - tão pouco explorado nos ambientes de pesquisa que - sempre tiveram suas atenções voltadas a Judá e consequentemente, Jerusalém. Ela surge no cenário da pesquisa bíblica, relatando - dentre outras coisas - o conflito de Israel contra Damasco em Ramote de Gileade. Seu conteúdo, embora fragmentado, evidencia uma participação clara e efetiva de Damasco na subida de Jeú ao poder.

45 A arqueologia e Bíblia Quando se olha para um texto bíblico pela primeira vez, geralmente em uma comunidade religiosa, quase nunca se presta atenção que por detrás de todo discurso hermenêutico empregado nas solenidades litúrgicas, há toda uma história que se constrói a partir disso, tanto de fatos históricos concretos, quanto da defesa de interesses, por parte daqueles que a escreveram. Dentro do universo bíblico pode-se observar os mais diferentes modelos de sociedades, nos mais diversos contextos; e como eles têm brindado à existência humana com as variadas manifestações culturais - prospectos religiosos - bem como, demonstrando toda sorte de articulações que nem sempre são perceptíveis a uma simples leitura despretensiosa. Nesse contexto, a exegese bíblica, em suas diferentes abordagens (históricocrítica, crítica da forma, dentre outras...) tem sido uma das mais eficazes ferramentas empregadas na descoberta do que vem a ser esse universo tão amplo da Bíblia, através de seus textos e contextos, que de uma maneira muito clara, se apresentam de forma a demonstrar a ação de Deus na história (KAEFER, 2015 p.8). Assim como anos de estudos detalhados do texto hebraico foram capazes de precisar diferentes gêneros literários; fontes orais e escritas pelas quais caminham as construções textuais - a arqueologia em paralelo - foi capaz de produzir um arcabouço de conhecimento, que permitiu aos exegetas, permearem outros caminhos na intenção de se desvendar os diferentes mistérios do texto bíblico. Kaefer (2015, p.9) sobre a importância dessa, diz que as descobertas arqueológicas podem causar certo mal-estar, devido às incertezas diante da palavra de Deus, pelo fato de que para a vida em comunidade - o texto bíblico torna-se referência para a fé e - consequentemente para o modo de agir daqueles que a integram. Finkelstein (2003, p.16) diz que o conhecimento produzido pela mesma é tão formidável, que é quase enciclopédico. Este cabedal de descobertas aponta informações sobre as condições materiais, as línguas, as sociedades e o desenvolvimento histórico dos séculos durante os quais as tradições do antigo Israel se solidificaram, transpondo cerca de seiscentos anos, período esse compreendido entre os anos de 1000 a 400 a.c..

46 46 Os métodos aplicados à investigação dos extratos arqueológicos têm sido muito valiosos em se tratando da precisão de datas de acontecimentos históricos, além de apresentarem, citações claras a certos personagens, reconfigurando totalmente suas narrativas de participação na construção da história do povo da Bíblia. Continuando, Finkelstein (2003, p.29) ainda relata que a arqueologia sempre desempenhou papel crucial nos debates sobre a composição e a credibilidade histórica bíblica. No começo, parecia refutar os mais radicais argumentos dos críticos, de que a bíblia era um trabalho bem mais posterior e que grande parte de seu texto não era historicamente confiável. Desde o século XIX, quando a exploração moderna das terras da Bíblia teve início, uma série de descobertas espetaculares e décadas de constante escavação e interpretação arqueológica sugeriram que muitos dos relatos bíblicos eram fundamentalmente confiáveis em relação aos principais contornos da história do antigo Israel. Thompson (2007, p.21), diz que a arqueologia na pesquisa bíblica possui toda a fascinação da ciência - e busca desvendar a história das eras passadas escavando seus remanescentes materiais. Além disso, ela acrescenta o interesse de que, mediante o seu estudo, se possa obter melhor esclarecimento sobre os fatos que compõem o relato bíblico. Uma afirmativa contundente em consonância com o texto bíblico é o fato de que ela não tem como propósito substituir o texto, mas sim auxiliá-lo (KAEFER, 2012, p.35). Kaefer ainda nos diz que por mais que alguns estudiosos afirmem que as recentes descobertas arqueológicas contradigam o texto bíblico, porque apresentam outras verdades, isto não seria correto. Dadas às circunstâncias, é possível afirmar que a arqueologia, a partir do que se conclui sobre ela, torna-se uma ferramenta de grande ajuda à exegese Bíblia. Ela percorre caminhos que passam despercebidos aos textos e, contribui significativamente com a interpretação dos mesmos. Resumindo, na perspectiva bíblica, ela vem nos ajudar a recontar a história. De maneira que tanto os planos dos grandes reis e seus reinos, bem como, os hábitos

47 47 cotidianos do povo - são reconstruídos - enriquecendo assim toda a compreensão que se tem até agora sobre o antigo Israel A Arqueologia e a Revolta de Jeú: O Tell Dã O Tell Dã está localizado no noroeste do Vale do Hule, à extremo norte de Israel, próximo ao Monte Hermon. Na Bíblia, a antiga cidade de Dã serve comumente de referência para falar do limite norte de Israel. É conhecida a expressão de Dã até Beersheva, conforme os relatos presentes em: Juízes 20,1-1 Samuel 3,20-2 Samuel 3,10-1 Reis 5,5 (KAEFER, 2012, p.35). O sítio arqueológico possui uma extensão de aproximadamente 50 acres, o que equivale cerca de 2,023 M². Vale destacar que o Tell Dã estava próximo a duas importantes estradas de comércio no período do Antigo Testamento, a saber; uma entre o Egito e Damasco - e a segunda grande estrada vindo também de Damasco - porém partindo para o oeste da cidade, chegando até o mar de Sidon Este pode ter sido o chamado caminho do mar Via Maris (cf. vulgata), apontado no texto de Isaías 9,1 e citada também em Mateus 4, Do ponto de vista bíblico, é possível localizar dois relatos diferentes sobre a localidade de Dã, praticamente como se fossem duas cidades distintas. Conforme Josué 19,40-46 e Juízes 1, Dã está localizada na região noroeste da Palestina - tendo Efraim ao norte, Benjamin a leste e os filisteus ao sul. No entanto, em Josué 19,47-48 e Juízes 18 encontra-se a tribo Dã migrando para o norte, onde se apodera de Laís, dando-lhe, posteriormente o nome de Dã. Laís era de fato o nome antigo da cidade, pois é com esse nome que ela aparece nos textos de execração egípcia do século XIX, nos escritos cuneiformes da antiga cidade de Mari, na Mesopotâmia - e na lista das cidades conquistadas por Tutmosis III (KAEFER, 2006, p ). Yadin, (1968, p.9-23) afirma que a tribo de Dã, originou-se como um dos povos do mar, que permaneceram em seus navios no início do Cântico de Débora, como 36 Acesso em 07/09/2015.

48 48 relato de Juízes 5. Essa hipótese é considerada pelo fato de não haver antes disso, nenhuma menção no texto bíblico a qualquer terra em Israel que levasse o nome da tribo. Também é conhecida pelo bezerro de ouro de 1 Reis 12, Jeroboão I a instalou ali para que o povo não fosse ao templo de Jerusalém (KAEFER, 2012, p.35). Friedman (2011, p.109) diz ser bem provável que Jeroboão estivesse tentando superar o santuário em Jerusalém (Templo), através da criação de um lugar de adoração para YHWH - representado pelo bezerro de ouro - com o objetivo de agregar toda a nação de Israel. O assento de YHWH na arca em Jerusalém - fora representado por um querubim de cada lado - ao passo que Jeroboão estava utilizando os bezerros erigidos em Betel e Dã, para representar os lados de seu assento para YHWH, fato este que, implicaria que o seu reino fosse igual em santidade para a arca (FRIEDMAN, 2011, p.109). De acordo com as escavações realizadas no local, a cidade foi originalmente ocupada no final do período Neolítico, sendo abandonada em algum momento durante o 4 milênio, a.c. por quase mil anos (YOSEF, 1987, p ). A partir da idade do ferro I, ela efetivamente permaneceu como uma cidade israelita em sua totalidade, até que os exércitos de Tiglate-Pileser III destruíram a maior parte do reino do norte no final do ano de 732 a.c., incluindo o bamah 372 de Dã que voltou a ser construído tempos depois, mas nunca recuperou sua importância primeira no cenário da época. Após a conquista, os Assírios deportaram a população israelita nativa, e reassentaram a cidade com os seus colonos, que vieram a familiarizar-se com a religião do antigo Israel. O rei assírio enviou um sacerdote israelita de volta da Assíria para instruir os colonos sobre os rituais adequados para o culto a YHWH 383. Talvez isto explique o porquê do centro religioso de Dã, estabelecido por Jeroboão I, no final do século X a.c. ter mantido a sua importância durante anos, mesmo depois dos israelitas do norte desaparecerem dos registros históricos. 37 Nome dado aos assim chamados lugares altos, dados comumente pelas bíblias, onde os judeus cultuavam as divindades. Vide tópico Escavações em Tel Dã Acesso em 15/09/2015

49 49 Uma inscrição datada do período Helenista faz referência a Zilas (transcrição aramaica), que fez um voto a Deus que estava em Dã, dando assim um forte indício de que o local - de fato - é a Dã bíblica. Por sua localização privilegiada, o Tell Dã é um dos sítios arqueológicos mais atraentes em Israel e, consequentemente um dos mais escavados. Além de ser rico em água - por ter uma das nascentes do Jordão cortando sua extensão - é também um local muito bem arborizado. É possível que o nome Dã tenha sua origem no nome da fonte. No hebraico, Dã é a raiz do verbo julgar segundo Gênesis 30,6 e 49, As Escavações em Tell Dã As escavações no Tell Dã começaram em por Avraham Biran - do Hebrew Union College, até o ano de 2003, quando se aposentou. O resultado de suas pesquisas está contemplado em dois volumes, abordando diferentes temáticas sobre o Tell; O primeiro, Dan I: A Chronicle of the Excavations, the Pottery Neolithic, the Early Bronze Age and the Middle Bronze Age Tombs, aborda os anos de 1966 a enfatizando os achados do Neolítico, Bronze Antigo e Médio. O segundo, Dan 2: A Chronicle of the Excavations and the Late Bronze Age - Mycenaean Tomb, abrange de 1993 a 1999 e enfatiza as Eras do Bronze Tardio e Ferro - além de uma série de artigos sobre a Estela de Dã. A partir de 2003 as escavações continuaram sob a direção de David Ilan, também do Hebrew Union College, que voltou suas atenções à parte externa da área dos portões - no lado leste - onde é possível ver uma extensa e intensa atividade arqueológica. Vale ressaltar que apesar dos vários anos de escavações, a maior parte do sítio ainda não foi explorada. Elas mostram que a cidade de Dã tem camadas sobrepostas em suas edificações - datando de diferentes períodos, - como; o neolítico, calcolítico, idade do bronze, idade do ferro, greco-romana, períodos medievais e otomanos - fatos esses que demonstram a importância da cidade Acesso em 15/09/2015.

50 50 Passando à apresentação e análise dos extratos arqueológicos localizados em Tell Dã, destaca-se um sistema de três portões do período do Bronze Médio, que se encontra unido à muralha que contorna a cidade. Um quarto portão sendo datado no período do ferro, também fora encontrado. Portão de Dã. Imagem obtida em: (Acesso em 27/12/2015) A figura do portão era muito importante para a vida em sociedade daquela época. Nesse grande espaço de uso público, funcionava o tribunal onde os anciãos se reuniam com testemunhas - para julgar ou homologar acordos veja em Rute 4,1-11 (KAEFER, 2012, p.35). As pessoas se encontravam ali para discutir sobre a vida (Salmo 63,13) - o rei realizava audiências - os profetas denunciavam as injúrias e injustiças dirigidas aos pobres; além dos julgamentos iníquos dos juízes, segundo Amós 5,10-12,15 - Zacarias 8,16-17 e Jó 5,4 (KAEFER, 2012 p.36). Outro destaque, dentre os extratos arqueológicos do Tell Dã, foi o escopo do que seria a bamah (Lugar alto), o qual 2 Reis 12,25-33 faz referência. Dentro do local - como parte componente deste lugar - foi encontrado um enorme altar de quatro chifres, com três metros de altura - tamanho único nesse estilo - atualmente representado por uma estrutura metálica.

51 51 Bamah de Tell Dã com três matsebooth 405. Foto by Ferrell Jenkins. Imagem Obtida em: (Acesso em 27/12/2015). Altar de Tell Dã. Imagem Obtida em: (Acesso em 27/12/2015). Este seria um testemunho solitário que atestaria a provável administração da cidade de Dã pelos reis Omri e Acabe, por volta do século IX a.c. aproximadamente, em um período onde a cidade atingiu um alto nível de desenvolvimento (KAEFER, 2012, p.36). Além destes achados, um terceiro extrato merece destaque especial: O portão do arco de adobe, datado da Era do Bronze Médio. Trata-se de um portão muito bem 40 Representação de Divindades.

52 52 preservado, além de ser o mais antigo desse estilo, sendo um trabalho de engenharia que até então se acreditava ser de origem bem tardia. Abaixo uma imagem descritiva do artefato. Arco datado da Era do Bronze Médio. Imagem Obtida em: (Acesso em 27/12/2015) Estrutura do Tell Dã Como precursor dos trabalhos arqueológicos em Tell Dã, Biran dividiu o lugar em sete áreas principais muito bem localizadas. As áreas 1, 2 e 3, na entrada do sítio, parte sul, abrigam o conjunto de portões, entre eles os do século IX e VIII, que são os que sobressaem à entrada do local. Somado a estes, tem-se: o pátio interno e externo; o altar; o pavimento e a muralha. Próximo ao centro, na ala norte, a área 4 - com a presença de um pavimento do século VIII já escavado. A oeste, a 5 - que somada ao conjunto de portões que formam as áreas 1, 2 e 3, é a mais importante - onde se encontra a bamah e o altar já demonstrados acima pelas imagens. Na ala nordeste, a 6, com a presença de uma fortaleza escavada, datada do período do Bronze Médio. E por fim, temos a 7 - a leste - onde se e encontra o portão de adobe datado do Bronze Médio, também demonstrado acima.

53 53 Vale ressaltar que a área 5, devida a sua importância foi dividida em outras quatro subáreas: 1) Norte, que se localiza a bamah; 2) Central, local do altar que fica num piso abaixo da bamah; 3) Oeste, onde se encontram as salas, formando uma longa estrutura retangular paralela ao complexo e 4) Sul, da qual se tinha uma prensa de azeite de oliva. No local onde se escavou o grande altar, foi encavado outro altar menor - mas também de quatro chifres - de formato inteiriço. É o maior encontrado nesse formato. Atrás do grande altar - ao sul - havia uma escadaria que conduzia até o alto, e outra que levava a bamah. Altar Menor de Tell Dã. Imagem obtida em: (Acesso em 27/12/2015) No complexo da área oeste - destinada aos sacerdotes e a preparação do culto - foram encontrados vários objetos usados nos cultos; dentre eles - uma grande bacia de cerâmica utilizada para os sacrifícios em cuja base há o desenho de um tridente. Na área da bamah - foi encontrado um altar para a queima de incenso - de tamanho menor em relação aos demais, juntamente com três pás de ferro usadas para

54 54 esse fim. Debaixo do altar foi achada a cabeça de um cetro de bronze e prata, de formato similar ao altar de quatro chifres. 2.5 A Estela de Dã As escavações em Tell Dã foram iniciadas oficialmente como um projeto de emergência pelo Departamento de Antiguidades de Israel e logo evoluíram para uma expedição arqueológica de pleno direito. Em 1974 elas se tornaram o maior projeto arqueológico da Glueck (Escola de Arqueologia Bíblica) pertencente ao Hebrew Union College e ao Nelson (Instituição de Religião Judaica) em Jerusalém (BIRAN; NAVEH, 1993, p.81). Nesse histórico de escavações, chama a atenção à descoberta de uma peça de basalto com inscrições aramaicas, e em bom estado de conservação. A maior parte do fragmento, denominada parte A, foi encontrada no sítio arqueológico de Tell Dã - no Israel norte - em Julho de A expedição foi liderada pelo arqueólogo Avraham Biran, e o extrato fora localizado em uso secundário nos restos de uma parede que fazem fronteira com a parte leste de um grande pavimento, na entrada do portão exterior da cidade de Dã. No ano seguinte, em escavações concentradas a leste da área onde fora encontrado o fragmento A, foi achado outro fragmento, denominado B1. Ele continha uma inscrição aramaica de seis linhas - e foram unidos ambos - como parte de um mesmo extrato arqueológico. No dia 30 de Junho de 1994, um terceiro fragmento - denominado B2 - fora achado a exatos 8 metros de onde B1 tinha sido encontrado. Além do mesmo ser o menor dos três, ele havia sido utilizado como parte componente para a construção do pavimento que estava unido à muralha. Em um esforço de se precisar a questão do período no qual a peça teria sido ali colocada, a partir de análises na laje superior da área - a data que mais se aproxima no tocante as constatações seria em meados do século IX - antes do início do século VIII. No entanto, tais apontamentos são passíveis de dúvidas quanto à exatidão.

55 55 Nessa época, para os construtores do pavimento, o fragmento não tinha qualquer importância. Até mesmo por se tratar de parte de uma Estela quebrada, que havia sido erigida por um rei sírio. As escavações não puderam apontar os responsáveis pela destruição da Estela. Há uma possibilidade de que tenha sido - Joás - neto de Jeú ou Jeroboão II - seu filho - que juntos governaram entre os anos de 800 a 745 a.c., época em que Tiglate-Pileser III, derrotou a Damasco (BIRAN; NAVEH, 1995, p.9). A estes reis são atribuídos tais feitos, pelo fato de Joás ter recuperado as cidades que haviam sido dominadas pelos Sírios (2 Reis 13;25) - e a Jeroboão II por ter expandido os limites do reino para o norte e leste (2 Reis 14;25 e 28). No entanto, o pêndulo favorece mais a Joás, por haver lutado contra os sírios três vezes - derrotando Ben-Hadad - filho de Hazael (BIRAN; NAVEH, 1995, p.9-10). Estela de Dã: Imagem Obtida em: (Acesso em 09/09/2015)

56 56 O monumento ficou na porta de Dã por mais de quatro décadas, como um lembrete aos israelitas de que os mesmos estavam sobre o domínio dos sírios. 416 Vejamos abaixo, a proposta de tradução do conteúdo da Estela 42 : 7 1. [...]...[...] e cortou [...] 2. [...] meu pai foi [contra ele quando] ele lutou em [...] 3. E meu pai deitou-se (morreu), e foi para seus [pais]. E O rei de I[s-] 4. rael entrou previamente na terra de meu pai. [E] Hadad me constituiu rei 5. E Hadad foi à minha frente [e] eu parti de [os] sete[...] 6. do meu reino, e eu matei [sete]nta rei[s], que usavam milha[res de caros] 7. ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos). [Eu matei Jeo]rão filho de [Acabe] 8. Rei de Israel, e eu matei [Acaz]ías, filhos de [Jeorão re]i 9. Da Casa de Davi. E eu tornei [suas vilas em ruínas e tornei] 10. sua terra em [desolação...] 11. outro...[...e Jeú gover] 12. nou sobre Is[rael...e eu pus cerco] 13. sobre[...] A união dos fragmentos A, B1 e B2, mesmo que limitadamente, demonstram a temática do conteúdo da Estela, de maneira que - à luz desta tradução - alguns pontos da história de Israel são rememorados, como também esclarecidos. Umas das descobertas que mais chamou à atenção na Estela de Dã, foi a expressão localizada na linha 9 do extrato, byt dwd, que foi traduzida como Casa de Davi. Essa menção seria um importante indício que atestaria a existência de Davi, fato este muito questionado pelos historiadores pela ausência de registros comprobatórios de fontes extra bíblicas. No entanto, Kaefer (2015, p.79) diz que há uma pequena quantidade de historiadores que sugerem como tradução para dwd, a palavra amado, pois as letras 41 Israel.aspx. Acesso em 09/09/2015; 42 Tradução realizada a partir do texto em inglês: The Tel Dan Inscription: A New Fragment. Israel Exploration Journal. 1995, vol. 45, N 1. p.1-18

57 57 que compõem o nome de Davi na inscrição - em hebraico - teriam este significado, porém sendo pronunciada como dôd, usada comumente em livros como Cântico dos Cânticos. A Estela de Messa trás um caso parecido. Ela tem uma referência à palavra dwd, caso este onde é bem mais provável que a expressão signifique amado, por fazer referência direta à Javé, como divindade de Israel, que teve seu altar arrastado perante a divindade Quemosh. Já na Estela de Dã, provavelmente a menção se refira de fato a Casa de Davi, como sendo uma dinastia conhecida no reino da Síria e, por conseguinte, detentora de certa importância a ponto de ser mencionada A Estela de Dã e A Revolta de Jeú A partir da agora, se está adentrando ao universo da Estela de Dã. No entanto, será examinado mais profundamente esse conteúdo, principalmente enfatizando o reino de Damasco sob o domínio de Hazael - a quem ela se refere ao narrar os eventos em Ramote de Gileade. Esse capítulo é direcionado a Jeú - o genocídio empreendido por ele e - como a Estela de Dã contribui a este contexto histórico no Israel Norte. Esse fato remete automaticamente ao início da Dinastia Omrida, que foi aquela exterminada por completo pelo general Jeú. Antes de Omri ascender ao poder, Israel experimentara um período de grande instabilidade, fato este que a deixou incapaz de defender-se de seus vizinhos hostis. Em síntese, Israel era um estado reduzido em extensão territorial e grandemente enfraquecido do ponto de vista econômico, ocasionado pelos muitos anos de lutas internas (FERNANDES, 1998, p.32). Entre os principais vizinhos hostis que possuía, era o reino de Damasco ocupante de uma dessas posições, pois havia usurpado o posto de potência dominante em toda a região da Palestina, Síria e Israel. Essa projeção aconteceu sobre a liderança do rei Ben-Hadad I (aproximadamente a.c.), que havia atacado Baasa,

58 58 devastando assim o norte da Galiléia, e possivelmente se apoderando da Transjordânia ao norte do Yamurk (BRIGHT, 2003, p.247). Um monolito de Ben-Haddad II ( a.c.) encontrado próximo de Alepo mostra que em aproximadamente 850 a.c. sua influência dominante - embora provavelmente não seu território real - alcançava a parte externa do norte da Síria (BRIGTH, 2003, p.249). Omri ascende ao poder através de um golpe militar. Ao que tudo indica, de acordo com a narrativa deuteronomista, ele era o chefe do exército durante o reinado de Elá ( a.c.) - o qual foi assassinado por Zambri - que se proclamou rei - relato de 1 Reis 16,9-16. Porém para se afirmar no trono, Omri precisou vencer uma guerra civil, que durou aproximadamente quatro anos contra metade do povo (1 Reis 16,15-22). Não se tem muita certeza da origem tribal de Omri. Tendo em conta que seu nome soa estrangeiro (BORN, 1987, p.85), alguns autores se perguntam se não se tratava de um mercenário ou um soldado profissional que se tornou chefe do exército (GOTTWALD, 1988, p.241). A dinastia Omrida exerceu um reinado profundamente relevante em Israel. No reinado do próprio rei Omri ( a.c.) - Israel pôde experimentar novamente estabilidade - podendo vir a gozar de grande força, prestígio e prosperidade, embora tais atributos não tenham feito parte de toda a história que permeia os anais dessa dinastia - que chegaria até os reis Jorão de Israel e Ocozias de Judá. A Estela de Dã, dentre outros fatos, remonta o histórico dos conflitos entre Israel e Damasco no período do reinado de Hazael. O rei arameu viria a dominar Israel na segunda metade do século IX, e a Estela de Dã nos leva de volta àqueles dias. Nas linhas 7 e 8, formadas pelos fragmentos menores da Estela, é possível identificarmos - a partir da proposta de tradução descrita no item anterior - o nome de dois reis: [Jeo]rão, rei de Israel ( a.c.) e [Acaz]ias Ocozias (Casa de Davi), rei de Judá (841 a.c.). Partindo destes indícios, podemos apontar que aquele que encomendou a estela, provavelmente tenha sido o rei Hazael de Damasco, que possivelmente a configurou em Dã. O objetivo para tal, seria o de comemorar sua vitória sobre Jorão e

59 59 Ocozias em Ramot de Galaad, no evento conhecido como a Revolta de Jeú, por volta do ano 841 a.c. (2 Reis 8,28-29). Outro fato que fortalece este argumento, se dá na linha 3, onde a expressão E meu pai deitou-se, ele foi para seus [ancestrais] - parece se referir à doença de Ben- Hadad - que o deixou de cama, antes de ser morto por Hazael, (2 Reis 8,7-15) deixa isso evidente (KAEFER, 2013 p.39). Por conta dos espaços presentes entre as linhas da Estela, pode-se atribuir uma série de interpretações, e nesta oportunidade considerar-se-á o histórico de cinco dos seis reis, que segundo entende-se - se encontram associados à Estela - e seu conteúdo: Acabe; Ocozias: Jorão; Ben-Haddad II; Jorão e Jeú. Hazael é o personagem central na descrição dos eventos narrados na Estela. No entanto, será trabalhado mais incisivamente sobre ele ao se discutir o reino de Damasco no capitulo III Jorão, Rei de Israel ( a.c.) A menção a Jorão de Israel - filho de Acabe - na Estela de Dã, é a primeira referência deste rei fora dos limites da escritura. Conforme o redator deuteronomista, ele reinou seguindo os mesmos preceitos de seus pais, porém não fora tão ruim quanto eles. O caso é que o maior evento ocorrido em seu reino parece ser a remoção da pedra sagrada de Baal, que Acabe tinha erigido (2 Reis 3,2). Jorão reinou durante doze anos em Israel (2 Reis 31), sendo o quarto monarca da Casa de Omri. A dinastia Omrida governou durante quase meio século, durante os quais defenderam Israel contra vizinhos agressivos - expandindo as relações diplomáticas e comerciais - construindo novas cidades - e desenvolvendo a economia - através de uma aliança com os Fenícios (BERLYN, 2007.p.211). A aliança selada através do casamento de Acabe com Jezabel trouxe um forte cenário de opressão em Israel. Além desse fato, somado aos efeitos colaterais dessa aliança, uma série de questões de viés religioso por ocasião do culto às divindades

60 60 estrangeiras passou a ser um grande problema aos interesses do governo, perturbando o equilíbrio da sociedade naqueles dias. O poder pessoal de Jezabel foi diminuído durante o reinado de Jorão (2 Reis 3,1). Como rei, diferente de seus antecessores, não se submeteu aos mandos da rainhamãe. Jorão chegou a empreender uma dura campanha contra Moabe e, acabou falhando em subjugar o vassalo de outrora. De semelhante forma, travou uma batalha contra Hazael de Damasco - em Ramot de Galaad - na qual também não foi bem sucedido, mesmo antes de Jeú se rebelar (BERLYN, 2007, p.213). A disputa entre Israel e Síria objetivava a conquista de pequenos estados a oeste do rio Eufrates. Ao ser morto por Jeú, o corpo de Jorão foi jogado no campo de Nabot. Aos olhos do redator deuteronomista, este episódio serviu para que se cumprisse a profecia anunciada após o assassinado de Nabot por Jezabel (2 Reis 8,20-22) Ocozias, Rei De Judá (841 a.c.) Ocozias era o filho mais novo de Jorão, rei de Judá, - e neto de Josafá (2 Reis 8,16-29). Exerceu um período de reinado muito breve, durando cerca de um ano aproximadamente ( a.c.). Pouco depois de sua ascensão, tomou parte na batalha de Ramot de Galaad - contra Hazael de Damasco - auxiliando Jorão, de quem era fiel vassalo. Sua ligação com a corte em Israel se dava também através de sua mãe Atalia, que era filha de Jezabel e Acabe (2 Reis 8,26-27). Jorão, tendo sido ferido em batalha, voltou a Jezreel para se recuperar. Ocozias também deixou o campo de batalha, em Gileade, e depois de uma visita a Jerusalém, veio a Jezreel para uma conferência com Jorão. Enquanto isso, o golpe militar sob o comando de Jeú tinha começado. Jorão foi surpreendido por ele e morto. Ocozias fugiu pelo caminho da "casa do jardim." Ele foi ultrapassado por soldados de Jeú - e ferido dentro de seu carro, mas ainda assim,

61 61 conseguiu escapar para o sul, e morreu ao chegar a Megido. Seu corpo foi levado para Jerusalém e sepultado junto de seus pais (2 Reis 9,28). A presença da figura de Ocozias na Estela de Dã, é muito importante. Para se referir a ele, Hazael faz referência a Casa de Davi, fato esse que torna a Estela de Dã como o primeiro relato extra bíblico a apresentar uma referência à existência desse reinado. Este fato também nos mostra que no século IX, a dinastia Davídica era conhecida entre os grandes impérios da época. No entanto - na Estela de Dã - ela é citada em segundo plano, após a menção a Casa de Omri, fato este que mostra que a Dinastia Omrida era mais importante e respeitada do que a de Davi, em Judá Jeú, Rei De Israel ( a.c.) Jeú - o general dos exércitos de Israel - foi o responsável direto pelo derramamento de sangue dos reis Jorão de Israel e Ocozias de Judá (2 Reis 9 e 10) no evento que ficou conhecido como a Revolta de Jeú. 2 Reis 9, 1-10 diz que Eliseu envia um dos Filhos dos Profetas, para os quartéis generais do exército israelita em Ramote de Gileade, com a estrita finalidade de ungir Jeú como rei. Ele se aproveita do fato de que Jorão estava ausente, pois havia voltado para Jezrael para tratar de seus ferimentos. Ao perceberem a movimentação que estava acontecendo, e tomarem conhecimento dos fatos que ali foram sucedendo, os oficiais comandados pelo general Jeú aclamaram-no calorosamente como novo rei de Israel (2 Reis 9,13). Após o episódio de sua unção como rei, Jeú de imediato sobe em seu carro juntamente com os seus comandados - que conscientes do que ele estava por fazer - lhe demonstraram fidelidade, e a toda velocidade parte em direção a Jezrael ao encontro do rei Jorão e de seu parente Ocozias. Ao chegarem lá, Jorão é notificado da presença de uma tropa, por sua sentinela.

62 62 Jorão envia ao encontro da comitiva de Jeú - sem saber que se tratava da comissão de seu general - dois cavaleiros, que vão saber se a situação estava em paz, mas não obteve resposta. Ao descobrir que se tratava do general Jeú - e que o mesmo estava por vir guiando como um doido - (2 Reis 9,20) - o rei Jorão pede que seu carro seja preparado para que ele mesmo possa ir ao encontro do general para assim receber as informações que ele daria. Quando chegou ao local, Jorão percebeu que se tratava de um legítimo ato de revolta, então vira o seu carro em retorno, e alerta a Ocozias - que tinha naquele ano subido ao trono de Judá - participando da ação em Ramote de Gileade (2 Reis 8,28). Os dois fogem em disparada, porém a fuga empreendida se torna inútil, uma vez que são mortos por Jeú. Jeú entra em seguida em Jezrael e, mandando lançar Jezabel de uma janela, começou a exterminar não só toda a família de Acabe - mas tudo o que se relacionava de alguma forma com a sua corte - acabou por se tornar um completo banho de sangue. Dirigindo-se para Samaria, encontrou uma delegação da corte de Jerusalém e, com uma brutalidade anormal e sem razão aparente alguma, eliminou a todos. Conforme o redator deuteronomista (2 Reis 10,19-25), o genocídio realizado por Jeú alcançou também aos profetas de Baal, que atraídos ao templo, em Samaria, foram executados - eliminando assim o culto oficializado a Baal em Israel 438. Como se não bastasse, incluiria em sua lista de atrocidades a decapitação de 70 crianças/príncipes (2 Reis 10,7). A Estela de Dã surgiu como um elemento a inserir uma nova perspectiva ao levante de Jeú, descrito no segundo livro dos Reis, e abordado sucintamente nos parágrafos acima. Logo que Hazael assume o trono em Damasco, começa a ampliar seus domínios. Ele mesmo declara ter vencido os reis de Israel e Judá em Ramote de Gileade, a 50 km a sudeste do mar da Galiléia. A linha 09 da Estela de Dã traz o seguinte texto: [...Suas cidades em ruínas virou... ], provavelmente em uma menção direta aos resultados desta batalha. 43 Porém, vale a pena ressaltar que este não foi o fim do culto a outras divindades, pois o culto ao bezerro de ouro teria continuado tanto em Betel, quanto em Samaria, conforme 2 Reis 10,29

63 63 A Estela de Dã reforça o argumento de que Hazael é o grande mentor por detrás da Revolta de Jeú, quando demonstra que os reis - Jorão de Israel e Ocozias de Judá - que foram mortos nos desdobramentos da batalha de Ramote de Gileade, tiveram os seus assassinatos reivindicados por Hazael na Estela de Dã, nas linhas 07 e 08: 7. ros e milhares de cavaleiros (ou cavalos). [Eu matei Jeo]rão filho de [Acabe] 8. Rei de Israel, e eu matei [Acaz]ías, filhos de [Jeorão re]i 9. Da Casa de Davi. E eu tornei [suas vilas em ruínas e tornei] 10. sua terra em [desolação...] 11. outro...[...e Jeú gover] 12. nou sobre Is[rael...e eu pus cerco] 13. sobre[...] O fato de Hazael ter relatado a autoria dos assassinatos dos reis de Israel e Judá, torna a ascensão de Jeú ao poder muito mais uma obra de estratégia política, e que tornou Israel seu vassalo, do que simplesmente uma revolta que tinha por representatividade uma abordagem popular, mesmo que houvesse certa conveniência a este pleito. Em um momento posterior a 836 a.c. - já durante o reinado de Jeú - Hazael continua a empreender batalha contra Israel e Judá. Ele capturou todo o território no leste israelita, a leste do Jordão (2 Reis 10,32-33) e no ano XXIII do reinado de Joás, filho de Ocozias (2 Reis 12,6) a.c. - ele captura Gate e ataca Jerusalém. Joás - que pagou para recuperar a cidade real - tomou todos os objetos sagrados dedicados por seus antecessores: Josafá; Jorão e Ocozias, além daqueles que ele mesmo havia consagrado para saldar o débito com Hazael. Além de Dã, onde o domínio arameu é comprovado pela Estela celebrativa, existe a possibilidade deste domínio ter deixado vestígios vistosos em Megido, por volta do século IV a.c. - Hazor, por volta do século VI a.c. e em Yizre el e na reocupação Deir alla, por volta do século IX a.c. - depois de um século de abandono (LIVERANI, 2008, p.154).

64 64 Em uma estela que homenageia o deus Tiro Melqart, encontra-se uma referência a Hazael, onde a ele são dedicados os marfins encontrados em Arslan Tash 449. Esses, provavelmente tomados como espólio pelos assírios, têm inscritos na parte traseira como uma dedicação, a qual diz ao nosso senhor Hazael (PITTARD, 1994 p.104; EPHAL e NAVEH 1989, p.197). Nas inscrições de Salmanassar III, a partir do 18 ano, Hazael já figura como principal adversário dos assírios - herdando o papel já exercido por seu pai Haddad do ano 6 ao ano 11 - sendo até mesmo capazes de resistir a repetidas campanhas. Ainda seu filho Ben-Haddad III comandará a coalizão que assediou Hadrak na Síria setentrional. Sem dúvida, Damasco foi uma potência hegemônica de grande parte da Síria- Palestina e que Israel, bem como Judá, teve de se restringir a uma posição de vassalo que o texto bíblico minimiza e atribui, aliás, a punição divina. A Revolta da Jeú acontece em um momento insatisfatório para Israel em termos políticos (2 Reis 8,12) e por esse motivo, o povo vem a sofrer grandes tormentos. O golpe não foi suficiente para resolver os problemas de Israel, e as tentativas posteriores de matar Hazael, de quem Israel era vassalo, foram completamente inúteis, o que fez com que o reino de Israel, durante a passagem de Jeú, perdesse força, com as muitas guerras civis que ali se estabeleceram (MENDONÇA, 2013, p.8). O reinado de Jeú pode ser caracterizado em três pontos distintos e significativos: Em primeiro lugar, destaca-se que apesar de tudo o que ele fez - o perfil das coisas não sofreu muita ou quase nenhuma mudança (2 Reis 10,28-29). Em segundo, aqueles que aparentemente demonstraram apoio para com a causa empreendida pelo general, não receberam da parte dele qualquer tipo de satisfação em relação as suas expectativas (2 Reis 10,30-31). Por fim, a redação deuteronomista aponta um terceiro ponto, expresso com material de arquivo Em os dias, os estes, iniciou Javé para cortar (os limites) em Israel. E golpeou a eles Hazael em todo território de Israel (2 Reis 10,32). 44 Sitio Arqueológico no norte da Síria em Aleppo, cerca de 30 quilômetros a leste do Rio Eufrates.

65 65 Um ponto importante da história merece ser destacado. Crocetti (1994, p.151) aponta que Hazael conseguira dominar a Israel porque Jeú quebrara a aliança com os fenícios ao exterminar a casa de Acabe, acabando assim com a sua garantia de proteção. Somado a isto ele destruiu as boas relações com Judá e fez uma estrondosa revolução, tal como a história nos apresenta. Jeú governou por 28 anos, e foi sepultado com seus pais, em Samaria (2 Reis 10,35). E de fato, os arameus não conseguiram impedir que o poderoso império Assírio, invadisse e saqueasse suas terras, em 841 a.c., e paralelamente a tudo isso, a ocasião haveria de juntar o opressor e oprimido na mesma situação - pois tanto Jeú - quanto Hazael viriam a pagar tributos a Salmanassar III, por conta de sua quarta expedição contra Damasco. O obelisco de Salmanassar 4510, que foi descoberto por Henry Layard em Calash, Iraque, em 1846, nos conta um pouco dessa história. Neste é retratada a figura de Jeú prostrado diante do rei Assírio, com emissários israelitas com tributos atrás dele, a inscrição apresenta-se da seguinte forma: O tributo de Jeú, filho de Omri; recebi dele prata, ouro, uma tigela sapo dourado, um vaso de ouro com fundo de pontas, copos de ouro, baldes de ouro, uma equipe para um rei... dentre outras coisas que o obelisco apresenta (OPPNHEIM, 1969, p.281). O fato é que a descoberta da Estela de Dã faz olhar para o texto bíblico com lentes que outrora pareciam distantes. A vitória do rei Hazael, sobre os reinos de Israel e Judá, não fora um fato isolado apenas de consequências locais. Essas novas diretrizes são sobremodo importantes para que se possam traçar os rumos que a história tomou em um período pouco conhecido do relato bíblico - os séculos IX e X - o esforço da arqueologia nessa tarefa, tem tornado cada vez mais precisas estas informações, e de fato tem descoberto que o reino de Damasco possuía grande força durante o reinado de Hazael ( a.c.), e que em muito pode justificar sua intervenção sobre os reinos de Judá e Israel, o que acabou por torná-los seus vassalos (KAEFER, 2013, p.44). Muito se tem para caminhar dentro deste prospecto, principalmente com a ajuda da arqueologia, que se torna uma ferramenta cada vez mais reveladora e eficaz. O que se tem diante dos olhos é nada mais nada menos do que uma importante página da 45 Monumento datado no ano de 827 a.c. construído durante o período Assírio.

66 66 história, que vem à tona com a finalidade de complementar o sentido que o texto sagrado tem. Não se trata de suplementação do texto, mas muito mais uma perspectiva onde tudo parece convergir para o propósito primeiro de Javé, mesmo que para isso sejam adotados caminhos e posturas que parecem não ser lógicos, a não ser pela investigação minuciosa e pelo debruçar nos caminhos da compreensão. 2.6 Considerações Intermediárias Nesse capítulo, objetivou-se apresentar uma nova perspectiva ao evento da Revolta de Jeú, a partir da Estela de Dã. Para tal, o tema proposto, obedeceu a estrutura discriminada abaixo: Em um primeiro momento, por ser a Estela de Dã um extrato arqueológico, foi tecido um comentário sobre a relevância da arqueologia para a pesquisa bíblica. Seguido da apresentação de um breve relato sobre o Tell Dã, o sítio arqueológico onde ela foi encontrada - bem como - um histórico das escavações e demais achados arqueológicos. A partir de então, seguiu-se trabalhando especificamente com a Estela de Dã, detalhando o conteúdo da inscrição, os personagens que nela se encontram, bem como o contexto histórico do qual se refere. A tradição de Jeú disposta em 2 Reis, nos capítulos 9 e 10, é um tanto quanto complexa. Se é levado ao entendimento, a partir da perspectiva deuteronomista - de que Jeú foi um rei que deteve como único compromisso - estabelecer o domínio de Javé sobre Baal. Desse ponto de vista, ele é apenas uma ferramenta de purgação nas mãos de Javé. No entanto, dadas às circunstâncias apresentadas, chega-se a uma conclusão contrária a esta perspectiva. Mais do que uma revolução, que tinha por objetivo solidificar o culto a Javé em Israel e Judá - conforme nos apresenta a redação deuteronomista - o genocídio empreendido por Jeú, a luz do que traz a Estela de Dã -

67 67 parece ter se tratado de um golpe militar - que tinha como força maior, o rei Hazael de Damasco. Hazael parece ser também o autor do conteúdo da Estela de Dã.

68 68 CAPÍTULO III O IMPÉRIO DA SÍRIA No capítulo II observou-se - à luz da Estela de Dã - outra face acerca da Revolta de Jeú, contada através de prospectos advindos do exame desse importante extrato arqueológico. A análise do conteúdo da Estela somado à exegese da perícope de 2 Reis 10, capítulo I desse trabalho - serviram para proporcionar uma ampliação de tudo o que se tem visto sobre esse acontecimento na história de Israel, inclusive norteando novas conclusões. Foram vistos relevantes desdobramentos envolvendo a figura de Jeú em Israel, além do fato de perceber quão significativo era o reino de Damasco, sob a batuta de Hazael. O rei arameu, galgou caminhos altaneiros na busca pela solidificação do seu domínio - durante os séculos IX e VIII - fato esse inclusive constatado pela arqueologia, no qual demonstra que a Síria - em seu reinado - alcançou significativas conquistas. Visto ampliar a visão sobre esse importante reino na história bíblica, e deveras crucial no evento o qual essa dissertação se propõe a analisar, nesse capítulo se atentará sobre o reino da Síria - com ênfase especial aos reinados de Hazael e Ben-Haddad - em uma análise conjunta com a Estela de Dã, que trata sobre o assunto. De maneira a alcançar os objetivos projetados, serão trabalhados os seguintes tópicos: A Origem dos Arameus; Damasco; A Influência de Aram-Damasco em Israel; A Estela de Dã e o Reino da Síria; A Estela de Dã e o Reinado de Hazael e as Considerações Intermediárias. A partir dessa proposta, segue uma análise sobre o tema preterido. 3.1 A Origem dos Arameus É durante o reinado de Adadezer 46, rei da cidade de Soba, que era uma das pequenas cidades estado de Aram no século XI a.c. (THOMPSON, 2007, p.110), que os arameus aparecem pela primeira vez na história bíblica como um reino consolidado.

69 69 Somado a Soba, compunham o território arameu naquele tempo: as cidades de Betá, Berotai 471 e, não menos importante - Damasco - que veio a ser nos tempos de Hazael, uma das principais cidades do reino da Síria, sendo inclusive sua capital. Antes do rei Adadezer, os arameus apresentavam registros biográficos paralelos com os da história de Israel, em sua formação. No terceiro milênio a.c., encontravam-se divididos entre Sírios 482 e Caldeus 49, habitando respectivamente na Alta e Baixa Mesopotâmia (HARRISON, 2010 p.32-50). Dentre os arameus orientais, tem-se como um dos mais notáveis - Abraão - que surge da cidade de Ur dos Caldeus 50, que mesmo sendo uma cidade de origem suméria, tinha as portas abertas para os caldeus/arameus (MERRIL, 2007, p.12). A linhagem de Abraão 51 mostra que os caldeus eram semitas, assim como todos os arameus 523. Sua migração juntamente com a família para Padã-Aram, terra dos arameus ocidentais, coincide com o a invasão e domínio gutiano ( a.c.) na Baixa Mesopotâmia (HARRISON, 2010, p.52). Os relatos sobre a origem dos patriarcas, em sua maioria, conduzem o leitor para uma concepção de que os mesmos sempre são classificados - em sua ascendência - como arameus. Mesmo que tenham habitado por longos períodos em cidades que permitiriam a eles serem identificados a partir das mesmas, tais como Canaã, Padã-Aram e até mesmo Ur (ALBRIGHT, 1941, p.181). Na bíblia temos alguns exemplos: Jacó - neto de Abraão - foi reconhecido como sendo um arameu, que desceu ao Egito, vindo a ser uma grande nação Mesmo tendo passado boa parte de sua vida em Canaã, além do fato de ter ido para Padã-Aram ao fugir de Esaú e ter se hospedando na casa de Labão - seu tio - vindo a se casar posteriormente com Lia 46 Cf. 1 Crônicas 18, Cf. 1 Samuel 8, Arameus Ocidentais 49 Arameus Orientais 50 Cf. Gênesis 11, Cf. Gênesis 11, Cf. Gênesis 10, Cf. Deuteronômio 26,5

70 70 e Raquel 54 ; também temos o exemplo de Isaque que se casou com Rebeca - filha do arameu Betuel 55 - que era filho de Naor 56, irmão de Abraão. Desse modo, se pode concluir que Aram se relaciona intrinsecamente com Israel na construção de sua história e na formação de seu povo, ou seja, segundo esses textos bíblicos, as origens de Israel, seus patriarcas e suas matriarcas, estão em Aram, sendo por sua vez arameia. O contexto religioso dos arameus é indicado em diferentes trechos do antigo testamento. O livro de Josué 24,2 - diz que o pai de Abraão e Naor - Terá, servia a outros deuses, prática essa que não lhe era exclusiva, uma vez que Labão também tinha seus deuses domésticos (terāp îm), conforme Gênesis 31,19 nos traz. Hadade-Rimom era o principal deus do panteão arameu. Era o deus do trovão, vento e chuva - sempre acompanhando por sua consorte Astarte. Seus adoradores acreditavam que quando ele morria, as plantas secavam e por isso deveriam chorar a sua morte (KASCHEL, ZIMMER, 2005, p.57), segundo Zacarias 12,11. Ele também aparece no panteão semita oriental no período babilônico antigo, estando entre os deuses acadianos sob o nome Adad (GREENFIELD, 2001, p.284). Durante o século X enquanto Sheshonq I estava subjugando Judá, a dinastia aramaica de Damasco crescia exponencialmente, tornando-se um poder dominante na região da Síria (HARRISON, 2010, p.216). A estela de Zakkir 575, descoberta em 1940 ao norte da Síria, fez uma confirmação geral à lista dos primeiros governantes sírios (1 Reis 15,18), embora a posição de Rezim, fundador do estado damasceno, ainda seja incerta. O crescimento do poder sírio foi estimulado pelas hostilidades que havia entre Judá e Israel e pela perturbação que caracterizava a própria dinastia israelita. Quando Jeroboão I morreu por volta de 910/909 a.c., seu filho Nadabe o sucedeu por dois anos, mas foi assassinado por Baasa de Issacar na cidade filistéia de Gibetom. 54 Cf. Gênesis 28,5 e 31, Cf. Gênesis 25,20 56 Cf. Gênesis 22, Estela erigida por Zakkir, rei de Hamat, em gratidão ao deus Baal Shamin por livrá-lo da coalizão possivelmente liderada por Ben-Hadad III, filho de Hazael.

71 71 Isso ocorreu por volta do terceiro ano do reinado de Asa - rei de Judá - que se tornou monarca após a morte de Abias, o sucessor de Roboão. Baasa fortificou a cidade de Ramá, há oito quilômetros de Jerusalém, transformandoa em um posto militar avançado, ameaçando a fronteira de Judá 58, 6 e em desespero Asa apelou pelo auxílio de Ben-Haddad da Síria, enviando como suborno parte dos tesouros que restaram do templo. Ben-Haddad respondeu a este pedido enviando Baasa de volta à sua capital, Tirza - enquanto Asa marchou para Ramá e a demoliu. Ele resgatou o material das ruínas de Ramá e com ele construiu duas outras fortalezas em Judá, ato este que rendeu a Ben-Haddad benefícios políticos. Sua intervenção fez com que ele ganhasse o controle das prósperas rotas de caravanas para os portos fenícios, permitindo com que viesse a aumentar a sua riqueza e fizesse próspera a sua principal cidade Damasco - assim como fez Salomão em Judá. Sobre as rotas comerciais - os livros de Reis e Crônicas - trazem narrativas de guerras ocorridas nos territórios de Ramote de Gileade e na região de Basã, entre os arameus e os israelitas - tanto de Israel - quanto de Judá. A região era cortada pelo chamado Caminho do deserto de Edom 597, que ligava o Egito à Mesopotâmia, passando por: Cades-Barnéia, ao sul de Canaã; continuava a leste por Edom e subia a Transjordânia; atravessando os territórios de Amom; Moabe; Gileade; Damasco e por fim à Mesopotâmia (ANDREW, WALTON, 2007, p.47). O auge do poderio arameu se deu por volta dos anos a.c. com a retomada das regiões ao sul do Eufrates, o que coincidiu com o declínio da dominação israelita - da dinastia Omrida - como relata (2 Reis 10,32-33) e as Estelas de Dã e Mesha. Damasco vem a se tornar centro do estado arameu - já com Hazael - além de se tornar uma potência do oeste, liderando os povos da região e coligações militares contra a Assíria - e também Israel - no tempo dos Omridas (ANDREW, WALTON, 2007, p.172). O fim da hegemonia dos sírios acontece por volta de 732 a.c., com a invasão dos Assírios - promovida por Tiglate-Pileser III - quando este recebeu ouro e prata da parte de 58 Cf. 1 Reis 15,17 59 Cf. 2 Reis 3,8

72 72 Acaz, rei de Judá - para que fosse liberto da ameaça de Resim de Damasco e Peca de Israel 60. Tiglate-Pileser matou Rezim, dez anos depois Salmaneser III, destruiu Samaria Damasco Damasco está situada sob a encosta leste da cordilheira Antilíbano 62, nos confins da estepe Síria. Ergue-se no canal principal do Rio Barada, na borda noroeste do oásis de Gutah, sendo cercada por uma vasta área de pastagens (PITTARD, 1987, p.7-10). Também foi chamada de Sa-emari-su pelos assírios, que significa "terra do burro" (HONIGMANN, 1983, p.104). A imagem abaixo apresenta uma noção das condições geográficas, nas quais se localiza a cidade de Damasco, bem como, uma ideia da extensão do território pertencente à Síria: Mapa da Síria. Imagem obtida em: Acesso em 09/09/ Cf. 2 Reis 16, Cf. 2 Reis 18, Cordilheira a leste do Líbano, paralela ao monte Líbano, passando pela Síria e Israel.

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