Por que razão Portugal continua a arder todos os anos?
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- Isabela Ana Luiza Cabreira Escobar
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1 Por que razão Portugal continua a arder todos os anos? Estas são perguntas que todos os portugueses colocam todos os anos. Onde erramos? Quais as razões das sucessivas falhas? E que consequências existem para a manutenção da agricultura e ordenamento do território? Quais as soluções práticas? Os incêndios florestais são um flagelo crónico que polariza a atenção dos meios de comunicação social e dos portugueses em geral durante os meses de verão. Salvo situações climáticas verdadeiramente excecionais, a regra geral é arderem em Portugal todos os anos várias dezenas de milhar de hectares de floresta e matos, com anos em que as áreas ardidas atingiram as centenas de milhares de hectares, como foram os casos de 2003 e 2005 com cerca de hectares e , respetivamente. Entre 2001 e 2011 arderam em média hectares (há) de povoamentos florestais e matos este ano, e até 15 de Agosto, já ultrapassamos os ha. A promessa descrita no Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios era eliminar os fogos que ultrapassassem os 1000ha. Até 15 de Agosto já ocorreram 4 incêndios com área ardida superior a este valor, um deles no concelho de Tavira onde foram ultrapassados os ha. Quais os concelhos mais atingidos? O incêndio do concelho de Tavira foi o maior deste ano, teve início no dia 18 de julho, e atingiu ha, dos quais ha eram espaços. O maior número de ocorrências registadas, entre 1 de janeiro a 15 de agosto de 2012, foi no distrito do Porto, com registos, dos quais 91% das situações são fogachos. Os distritos de Aveiro, Braga, Vila Real e
2 Viseu também foram distritos onde ocorreram mais incêndios florestais. Uma das razões apontadas para o grande número de ocorrências de incêndios em Portugal é a questão da seca (severa e extrema) a que esteve sujeito o território durante o primeiro semestre do ano. No entanto razões como a falta de equipas de prevenção florestal, limpezas das matas e obviamente a desertificação do meio rural. O abandono das terras tem também sido uma das causas da devastação dos incêndios no nosso país não há população, não há terra protegida. A devastação dos incêndios Para além de destruírem um património produtivo criador de riqueza e pilar da economia de muitas áreas rurais, que é a floresta, os incêndios florestais têm impactos muito mais vastos, destruindo também culturas agrícolas, prejudicando a pecuária, não só através da morte dos animais, mas também queimando as suas pastagens, destruindo as máquinas agrícolas e todo um conjunto vasto de infraestruturas agrícolas, ceifando mesmo algumas vezes vidas, como ainda aconteceu bem recentemente. As causas dos incêndios estão abundantemente diagnosticadas, sendo de múltipla natureza, desde as origens criminosas à mera negligência. Mas, qualquer que seja a sua origem, é evidente que os estragos causados pelos incêndios são tanto maiores quanto menos ordenada for a floresta, quanto menos limpa esta estiver e quanto mais fraca for a moldura fiscal penalizadora da negligência ou desmazelo na limpeza das matas. A situação é ainda mais grave pois em muitas zonas do nosso país, a uma floresta sem gestão, somámos uma agricultura em declínio e uma população rural cada vez deprimida e esquecida, com menor capacidade de reação. O que devia ser feito, mas não é... É aqui, precisamente, que se deve colocar a equação da problemática dos incêndios. Todos os anos o nosso país gasta dezenas de milhões de euros em acções e meios de combate aos incêndios, desde o apoio a uma extensa estrutura de bombeiros que generosamente procuram cumprir o seu dever, até ao financiamento de uma indústria de combate aéreo extremamente dispendiosa. Além do seu extremo custo, uma política centrada no combate aos incêndios já não remedeia a riqueza que se perdeu. Temos hoje uma paisagem rural menos resistente ao fogo. Só assim se explicam os mais de hectares de área ardida num só incêndio na Serra Algarvia. Para poupar no combate aos incêndios é necessário
3 revitalizar o nosso Mundo Rural, investindo numa agricultura moderna, produtiva e numa floresta eficiente. Investindo numa paisagem dinâmica e de valor acrescentado onde todos (nacionais e estrangeiros) possam provar e comprar os nossos produtos agro-florestais, contribuindo assim para a dinamização do Mundo Rural. Políticas de combate aos fogos já não funcionam! É, assim, por demais evidente, que as políticas públicas têm que ser centradas nas acções de prevenção. Disto mesmo se fazem eco as políticas oficiais de sucessivos governos. Reconhece-se que se fizeram alguns esforços ao longo do tempo, de que são de destacar os apoios às plantações desde a adesão à U.E. e a criação do Fundo Florestal Permanente e das Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) em O problema é que se fizeram esforços a mais, e a cada ciclo político foram definidas novas estratégias, criados novos planos sem equacionar o desalento que tal barafunda causa nos proprietários e nas populações rurais. O facto, porém, é que, ano após ano, continua a sina dos incêndios, sem que seja possível descortinar uma inversão de tendências. As dotações do Fundo Florestal Permanente têm vindo em boa parte a substituir os financiamentos das Câmaras Municipais para estas construírem ou manterem infraestruturas de acessibilidade, em vez de serem destinadas ao apoio a produtores e suas organizações. E as ZIF e outras Organizações de Produtores Florestais, tendo uma concepção interessante, não têm tido resultados visíveis e não tem havido mecanismos de avaliação da sua actividade, por forma a deixe cairo apoio a quem não cumpre um mínimo de objectivos e premiar as eficientes.
4 As propostas da Confederação das Cooperativas Agrícolas e Crédito Agrícola A CONFAGRI considera que é tempo de mudar de política, e deverá ser centrada em medidas de carácter preventivo. 1 - Afetação predominante e prioritária das dotações do Fundo Florestal Permanente para investimentos realizados pelas organizações de produtores e proprietários florestais em acções de caráter preventiva como: acessibilidades, pontos de água, pontos de vigia, redes de vigilância e comunicação, etc. 2 - Criação de uma medida simplificada de apoio directo à limpeza das matas, impondo uma área mínima de intervenção que poderá ser associativa e coerciva para terrenos encravados e majorando os projectos agrupados 3 - Simplificação da elevada carga burocrática associada aos projectos agrícolas e florestais, que obrigam o agricultor e /ou proprietário a percorrer gabinetes atrás de gabinetes de outras tantos institutos e autoridades públicas, atrás de autorizações que parecem nunca ter fim. 4 - Criação de legislação punitiva dos proprietários que não limpem as matas através da política fiscal em sede de Imposto Municipal sobre Imóveis. 5 - Maior envolvimento das Comunidades Intermunicipais nas funções de coordenação da Política Florestal, tendo em conta o progressivo afastamento do terreno do Ministério da Agricultura e a necessidade de reforçar as sinergias com os mecanismos da protecção civil. 6 - Apostar em medidas de encorajamento da produção agrícola, com mobilização de incultos para a actividade produtiva, já que a actividade agrícola, para além do contributo próprio para a criação de riqueza, também contribui para reduzir a matéria combustível e ordenar melhor o espaço rural, compartimentando áreas cultivadas com áreas florestais. 7 - Reconhecimento do sector cooperativo agrícola e florestal como pilar de desenvolvimento rural e como agentes produtivos por excelência, impedido a sua descriminação relativamente a outras organizações de cariz associativo, que por definição têm objectivos válidos, mas distintos. 8 - Garantir que estas cooperativas não são descriminadas no acesso a todos os mecanismos de apoio disponíveis e o reconhecimento de todas as cooperativas agrícolas e florestais como agentes activos e presentes na substituição necessária do papel que o Estado foi perdendo junto das populações
5 9 - Diminuição da proliferação de organizações de proprietários, reconhecendo desde já as existentes, entre as quais as cooperativas agrícolas e florestais, como agentes dinamizadores do sector produtivo rural, pois não devemos cair no erro recorrente de inventar novas soluções, devemos sim apoiar as que já existem, distinguindo as que fazem bem das que nada fazem.
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