PREVALÊNCIA DE PEDICULOSE EM ALUNOS DE PRIMEIRA À QUARTA SÉRIE NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL TANCREDO NEVES, SÃO LEOPOLDO/ RS.

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1 IX Salão de Iniciação Científica PUCRS PREVALÊNCIA DE PEDICULOSE EM ALUNOS DE PRIMEIRA À QUARTA SÉRIE NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL TANCREDO NEVES, SÃO LEOPOLDO/ RS. Luciano Pazinato Martins 1, Gelson Luiz Fiorentin 1 (orientador) 1 Ciências Biológicas, Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS Resumo As ectoparasitoses têm-se apresentado como um grande problema de saúde pública principalmente em países em desenvolvimento. Nesse sentido, este trabalhou foi desenvolvido em uma escola pública no Sul do Brasil para verificar a prevalência de Pediculus humanus capitis em crianças de primeira à quarta série do ensino fundamental, relacionando com aspectos físicos e culturais. Como metodologia para coleta de dados, usou-se um questionário que abordava conhecimentos e características físicas dos escolares. Após a aplicação do questionário, foi realizada inspeção nas cabeças para verificar a possível presença de piolhos e lêndeas. Essa metodologia de coleta de dados foi aplicada em dois momentos: primeiro ao final do ano letivo de 2007 e a segunda no início do ano letivo de 2008, atingindo 39% e 46% dos alunos da escola, respectivamente. O trabalho não identificou nenhuma relação significativa entre aspectos físicos e prevalência de piolhos, verificando a possível infestação de piolho de cabeça em qualquer pessoa. Portanto, torna-se imprescindível a existência de medidas preventivas e de controle da pediculose, sendo estas responsabilidade da sociedade civil, da escola e do Poder Público. Introdução O presente estudo foi realizado com alunos de primeira à quarta série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Tancredo Neves, na cidade de São Leopoldo/ RS, Brasil. A área é caracterizada pela sua vulnerabilidade social e utilizada como local de transição de moradias, uma vez que a maioria dos moradores se instala temporariamente na região.

2 A pediculose é uma parasitose cosmopolita de fácil infestação, que atinge qualquer pessoa, principalmente escolares em áreas de vulnerabilidade social. Apesar disso, há poucas ações de políticas públicas. Segundo Catalá et al. (2004, p.499), A pediculose é uma doença muito comum na infância, causada por Pediculus humanus capitis, um ectoparasita que desenvolve todo o seu ciclo de vida no ser humano, alimentando-se de sangue. A alta disseminação de piolho em áreas de vulnerabilidade social é favorecida pela falta de políticas públicas que atuem na prevenção e controle das doenças parasitárias. Conforme Wilcke et al. (2002, p.100) Estimase que até dois terço da população de favelas de grandes cidades e de comunidades carentes rurais são afetados por pelo menos uma ectoparasitose evidenciando um problema de saúde pública. De acordo com Linardi (2001, p.191), os piolhos da cabeça são um dos mais antigos ectoparasitas do homem, e o recrudescimento dos piolhos nas duas últimas décadas, permitiu que a pediculose despontasse como uma das mais importantes parasitoses na faixa escolar. Segundo Barbosa & Pinto (2003, p.580) no Brasil a pediculose atinge cerca de 30% das crianças em fase escolar podendo afetar além do desempenho escolar o convívio social das crianças parasitadas. O presente trabalho verificou a prevalência da pediculose nos alunos da escola Municipal de Ensino Fundamental Tancredo Neves em São Leopoldo/RS, Brasil. Metodologia A escola situa-se na Zona Norte de São Leopoldo, região onde a UNISINOS está inserida com projetos de extensão universitária, facilitando o intercâmbio de informações entre o conhecimento popular e o científico. Utilizou-se como ferramenta de estudo um questionário que considerou diversos fatores como: tamanho e cor de cabelo, sexo e cor de pele com suas respectivas taxas de infestação. Os questionários foram aplicados às crianças autorizadas pelos responsáveis em dois momentos: nos meses de novembro e dezembro do ano de 2007 e no retorno das atividades escolares no ano de Juntamente com a aplicação dos questionários, foi realizada inspeção da cabeça em cada criança, verificando a possível presença de piolhos e lêndeas. As inspeções foram feitas pelas mesmas pessoas nos dois momentos de análise e, quando necessário, foi utilizado um pente fino de aço inox para coleta de piolhos e lêndeas.

3 Resultados (ou Resultados e Discussão) A pesquisa contou com a participação de menos da metade dos alunos da escola, a primeira fase do estudo teve apenas 39% dos alunos da escola e a segunda 46%. Dentre os fatores apontados pela não participação dos demais alunos estão a não entrega das autorizações aos responsáveis, a recusa do aluno e o não consentimento do tutor das crianças, visto que todas as crianças receberam o termo de consentimento. Pode-se verificar um percentual maior de crianças com piolho na segunda coleta (Figura 1), sendo que esta foi realizada logo após o período de férias escolares e a primeira coleta foi realizada ao final do ano letivo, após um ano de informações sobre saúde, isso evidencia que a escola interfere nas questões sanitárias do corpo discente, sendo responsável também pela promoção da saúde. Figura 1- Prevalência de Piolhos nas duas coletas realizadas. O estudo apontou que as meninas possuem maior taxa de infestação em relação aos meninos, como observado na Tabela 1. Inúmeras pesquisas também apontam que o sexo feminino possui maior taxa de infestação. Por exemplo, HEUKELBACH (2005, p.153) encontrou infestação feminina superior ao dobro da masculina. Brincadeiras de aproximação e contato interpessoal, juntamente com a socialização de utensílios como chapéus, bonés e prendedores de cabelos podem justificar as altas taxas de infestação de Pediculus capitis na faixa escolar.

4 SEXO Cor de Cabelo Cor de Pele TABELA 1- Prevalência de piolhos em relação ao sexo na primeira e segunda coleta. PRIMEIRA COLETA SEGUNDA COLETA SIM NÃO TOTAL SIM NÃO TOTAL Masculino Row % 2,6 97, Feminino Row% 15,9 84, ,3 66,7 100 Preto Row% 11,5 88, ,7 90,3 100 Castanho Row% 10,2 89, Loiro Row% ,9 98,1 100 Branca Row% 9,7 90, ,8 70,2 100 Preta Row ,5 62,5 100 Parda Row% 10,9 89, ,9 81,1 100 Assim como em BORGES (2002, p.190), esta pesquisa não encontrou uma diferença significativa entre as cores de cabelo, sendo evidenciada a presença de Pediculus capitis em todas as colorações de cabelo (Tabela 1). Constatou-se que não existe uma diferenciação significativa de prevalência de piolho e coloração de pele (Tabela 1), sendo evidenciado a pediculose em crianças de todas as raças. Ao contrário, outras pesquisas apontaram diferenciações e até raridades de infestação em algumas colorações de pele. Segundo Linardi (2001, p.194) Nos EUA, a infestação em negros é rara. As infestações de piolho da cabeça evidenciadas na pesquisa, em quase sua totalidade, não foram constatadas pelo corpo docente da escola, o que evidencia uma falta de preparo técnico dos profissionais da educação para lidar com aspectos ligados à saúde. Para que

5 programas e ações de promoção à saúde sejam inseridos em ambientes escolares torna-se imprescindível uma preparação adequada do pessoal que participa do programa de educação em saúde nas escolas (MARCONDES, 1972, p.96). Conclusão Ectoparasitoses epidérmicas continuam sendo preocupantes nos ambientes escolares, principalmente em áreas de vulnerabilidade social. Esta pesquisa evidenciou casos de infestação de piolho em uma escola do Sul do Brasil e os dados foram semelhantes a pesquisas desenvolvidas em outras localidades de similar situação socioeconômica, refletindo um problema global. Trabalhos sobre a prevalência de piolhos com inspeções da cabeça, realizados com crianças, principalmente em idade escolar, tornam-se complexos devido ao não consentimento e desinteresse de alguns responsáveis legais, uma vez que a autorização legal é imprescindível para realização da pesquisa. Um maior diálogo entre escola e responsáveis poderia reduzir essa recusa de liberar as crianças para este tipo de trabalho. Ainda que ações preventivas e promocionais ocorram, a situação requer maior atenção do Poder Público, capacitação dos profissionais que estão em constante contato com crianças, a fim de identificar uma infestação em sua origem. O estreitamento de relações entre a escola e os responsáveis pelas crianças pode ser um método eficaz de controle da pediculose em ambientes escolares, pois o intercâmbio de experiências, saberes populares e conhecimento técnico podem reduzir, em muito, a infestação de piolho da cabeça. Referências BARBOSA, Júlio Vianna & PINTO, Zeneida Teixeira. Pediculoso no Brasil. Entomol. Vec. 10 (4): , BORGES, R. & MENDES, J. Epidemiological Aspects of Head Lice in Children Attending Day Care Centres, Urban and Rural Schools in Uberlândia, Central Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, vol. 97(2), p , CATALÁ, Silvia; CARRIZO, Lorena; CÓRDOBA, Marina; KHAIRALLAH, Roxana; MOSCHELLA, Fabrizio; BOCCA, Julio Nacif; CALVO, Ana Nieto; TORRES, Judiht & TUTINO, Rodrigo. Prevalência e intensidade da infestação por Pediculus humanus capitis em

6 escolares de seis a onze anos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, vol 37(6): , nov/ dez HEUKELBACH, J.; WILCKE, T.; WINTER, B. & FELDMAIER, H. Epidemiology and morbidity of scabies and pediculosis capitis in resource-poor communities in Brazil. British Journal of Dermatology, vol. 153, p , LINARDI, Pedro Marcos. Piolhos (Sugadores e Mastigadores). In: MARCONDES, C. B. Entomologia Médica e Veterinária. São Paulo: Editora Atheneu, p MARCONDES, Ruth Sandoval. Educação e saúde na Escola. Rev. Saúde pública. Vol. 6. P , WILCKE, Thomas; HEUKELBACH, Jörg; MOURA, Rômulo César Saboia & FELDMEIER, Hermann. Scabies, pediculosis, tungiasis and cutaneous larva migrans in a poor community in northeast Brazil. Acta Tropica, vol 83, supl. 1. p. S100, 2002.