ZONEAMENTO AGROCLIMÁTICO PARA CULTURA DO CAFÉ ARÁBICA NO ESPÍRITO SANTO

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1 ZONEAMENTO AGROCLIMÁTICO PARA CULTURA DO CAFÉ ARÁBICA NO ESPÍRITO SANTO Lima Deleon Martins 1, João Vitor Toledo 1, Sebastião Vinícius Batista Brinate 1, Natiélia Oliveira Nogueira 1, Valéria Hollunder Klippel 1, Felipe Pianna Costa 1, Maycon Patricio de Hollanda 1. 1 Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Alto Universitário, CEP , Alegre ES, deleon_lima@hotmail.com. Resumo- A cafeicultura é uma das atividades agrícolas mais difundida no estado do Espírito Santo, em função da tradição do estado com essa cultura, o mesmo encontra-se atualmente inserido como o segundo maior produtor de café do país, perdendo apenas para o estado de Minas Gerais. O Espírito Santo possui 0.5% do território nacional, configurando uma variação de clima alta, devido possuir tanto clima de montanhas como clima de baixadas litorâneas, neste sentido mostra-se necessário fazer estudos com o objetivo verificar a aptidão de diversas áreas em função de fatores climáticos como déficit hídrico e temperaturas, para conhecer a adaptabilidade do cafeeiro aos diversos climas do estado. Utilizando modelos matemáticos e programas computacionais, foi feito o zoneamento para a cultura do café arábica do estado do espírito santo em função de déficit hídrico e temperatura. Conclui-se que dois terços do estado do Espírito Santo possui áreas inaptas para o cultivo e que apenas 15,83% do estado esta apta para o desenvolvimento do cafeeiro. Palavras-chave: Cafeicultura, clima, temperatura, deficiência hídrica, zoneamento Área do Conhecimento: Ciências Agrárias Introdução A cultura do café arábica possui uma influência significativa na economia do país. Segundo relatório da Conab (2008) o estado do Espírito obteve a segunda colocação no ranking nacional de produção cafeeira, ficando atrás somente do estado de Minas Gerais, apesar de ocupar apenas 0,5% do território brasileiro. Assim vê-se a precisão de aperfeiçoar técnicas, através de um sistema gerencial com o melhor aproveitamento possível dos recursos produtivos. O zoneamento agroclimático constitui uma tarefa de fundamental importância na organização dos programas de planejamento da agricultura, possuindo com base os fatores que definem as aptidões agrícolas, que são definidas em diferentes faixas da região estudada. Entender as delimitações edafoclimáticas de uma região é muito importante para a cultura do café, pois a demarcação das regiões semelhantes pode padronizar os indicadores da região, a delimitação da região e o conhecimento de suas características de clima e solo, iram auxiliar na implantação da lavoura cafeeira, indicando fatores de manejo da cultura como a variedade, época de plantio, tipo de precocidade, necessidade de irrigação, planejamento de safra, manejo fitossanitário entre outros (Santos, 1999). Estudos buscando identificar a aptidão climática para a cultura de café devem levar em conta, prioritariamente, deficiência hídrica e temperatura média anual (Assad et al., 2001). À medida que o déficit hídrico atinge faixas elevadas, o aparecimento dos sintomas como murcha, desfolha, secamento dos ramos, morte das raízes e deficiência nutricional induzida começam a limitar o estande. Esses sintomas trazem como consequência a queda da produção, devida a necessidade que a planta tem em encontrar umidade no solo tanto no período de vegetação e de frutificação, em alguns casos pode levar a perda da planta no campo. Outra característica climática a levar em consideração e a temperatura, esta afeta diretamente a produção de frutos e a sua maturação. No caso do cafeeiro, temperaturas médias anuais ótimas situam-se entre 18 ºC e 22 ºC (Matielo, 1991). Quando a temperatura média anual é inferior a 18 C, o período de dormência das gemas florais pode ser retardado e o desenvolvimento dos frutos torna-se mais lento (Camargo & Pereira, 1994). Inversamente, quando a temperatura média anual é superior a 23 C e a temperatura média mensal de novembro é próxima a 24 C, é freqüente haver problemas de frutificação por abortamento das flores (Camargo, 1985; Thomaziello et al., 1999). O cafeeiro quando submetido à faixa de temperatura de 34 ºC pode apresentar distúrbios vegetativos e fisiológicos, essas temperaturas podem favorecer o abortamento floral dos cafeeiros e a formação de estrelinhas, 1

2 diminuindo, consideravelmente, a produtividade. Inversamente temperaturas iguais ou superiores a 2 ºC, podem influenciar na cultura causando dormência e afetando negativamente o cafeeiro, ocasionando sintomas típicos de crestamento foliar no período de inverno (Camargo et al.,1974). Entendendo que o crescimento e o rendimento da cultura do café arábica são influenciados, principalmente, por fatores climáticos, objetivou-se como este trabalho definir áreas aptas, do ponto de vista agroclimático, para a cultura de café no estado do Espírito Santo. Metodologia A área de abrangência do trabalho foi o estado do Espírito Santo localizado na região sudeste do Brasil entre as latitudes 17ºS a 22ºS e longitudes 39ºW a 42ºW, confrontando com os estados de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Possui uma área de ,519 km 2, com de habitantes, distribuídos em 78 municípios (IBGE, 2005). As variáveis climáticas selecionadas foram temperatura média anual e o déficit hídrico anual acumulado. No balanço hídrico utilizou-se uma série histórica com 30 anos de dados englobando o período de , os dados foram coletados em estações meteorológicas do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Agropecuária (INCAPER) e Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), além de postos pluviométricos da Agência Nacional de Águas (ANA) no Espírito Santo e vizinhança, totalizando 110 pontos. A inclusão de postos pluviométricos fora dos limites do Estado tem como objetivo eliminar o efeito de borda no processo de interpolação, sendo também utilizado por Andrade (1998) e Castro (2008). No cálculo da deficiência hídrica anual (DHA) foi usado o Balanço Hídrico de Thornthwaite & Mather (1955), para uma capacidade de armazenamento de água no solo de 300 mm. Os dados de temperatura média anual foram obtidos através de um modelo matemático, desenvolvido por Castro (2008). O procedimento para confecção dos mapas de zoneamento climático do café arábica foi feito com o uso do software ArcGis 9.2 / ArcMap. O mapa de temperatura média anual foi obtido usando a equação de Castro (2008), sendo: T= -0,0071*Altitude + 0,4690*Latitude 1,1761*Longitude 12,9848 Desta forma a altitude é disponibilizada a partir do modelo digital de elevação, obtido através de dados de radar SRTM (Shuttle Radar Topography Mission). A latitude e longitude usadas foram as coordenadas dos extremos do Estado, e essas interpoladas pelo método linear, obtendo imagens raster de latitude e longitude. O mapa produzido foi reclassificado através do módulo ArcToolbox > Spatial Analyst Tools > Reclass, considerando as faixas de aptidão da cultura. Com o auxílio do programa BHnorm, elaborado em planilha EXCEL por Rolim et al. (1998), foi possível realizar os cálculos do balanço hídrico para cada ponto de coleta de dado, assim foi elaborado o mapa de deficiência hídrica anual acumulada a partir da interpolação pelo método da krigagem modelo esférico como recomendado por Castro (2008). Como feito para a temperatura, a deficiência hídrica anual, foi reclassificada de acordo com as faixas de aptidão. Usando o módulo Spatial Analyst > Raster Calculator fezse a multiplicação dos dois mapas, gerando zoneamento para o café arábica. Foram estabelecidas as seguintes classes de temperatura média anual (T ºC) e o déficit hídrico anual acumulado (DH), que definiram as áreas aptas e as não recomendadas para cultivo, referindo-se às exigências térmicas e hídricas do cafeeiro. Matiello (1991) estabeleceu parâmetros técnicos para o zoneamento climático da cultura, conforme Tabela 1. Tabela 1 Parâmetros técnicos para o zoneamento climático da cultura do café. APTIDÃO TEMPERATURA ( ºC) DÉFICIT HÍDRICO (mm) Regiões aptas < 150 Regiões restritas Regiões inaptas Resultados e < 18 e > 23 > 200 O gráfico 1 e a figura 1 estão no anexo 1. Discussão O resultado do zoneamento agroclimático para o café arábica no estado do espírito santo (figura 2) mostrou que 15,82% da área do estado está apta para o cultivo, sem restrição de umidade e de temperatura. Esta área em sua maioria localiza-se no sudoeste do estado onde está implantado o parque cafeeiro (arábica). O mesmo zoneamento apresentou que 74,78% da área é totalmente inapta, ou seja, não recomenda-se o cultivo de café arábica neste 2

3 local, apresentando também que 0,71 % da área possui impedimento hídrico, figurando que o cultivo do cafeeiro nesta região é aconselhável apenas com a utilização da irrigação. As áreas inaptas podem modificar-se no decorrer da evolução, tornando-se aptas, devido a mudanças climáticas e uso de variedades adaptadas. O gráfico 1 apresenta as áreas, em porcentagens, com relação às categorias de aptidão de cada região. Podemos ressaltar que, áreas que possuem impedimento hídrico, áreas com temperaturas elevadas e áreas com impedimento hídrico e temperaturas elevadas quando somadas representam 6% do território estadual, praticas como irrigação e cultivo consorciado com plantas florestais, quando associadas, poderiam ser uma alternativa para o cultivo sem restrição do cafeeiro nestas áreas, todavia outros estudos devem ser feitos para ver a aptidão de duas ou mais culturas nestas áreas. Uma outra alternativa é a obtenção de cultivares com tolerância as temperaturas e as deficiências hídricas do estado. Conclusão Aproximadamente três quartos do estado do Espírito Santo é inapto para o cultivo do café arábica, a área apta encontra-se em sua maioria no sul do estado. Referências ANDRADE L. A. Classificação ecológica do território brasileiro situado a leste do meridiano de 44º oeste e ao norte do paralelo de 16º sul: uma abordagem climática p. Dissertação (Doutorado em Ciências Florestais). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, ARRUDA, F.B., IAFFE, A., WEILL, M.A. et al. Resultados do consumo de água e do coeficiente de cultura do cafeeiro a partir do controle da umidade do solo em Pindorama. In: SIMPÓSIO DE PESQUISAS DOS CAFÉS DO BRASIL, 1., 2000, Poços de Caldas. Anais... Poços de Caldas, p ASSAD, E.D.; EVANGELISTA, B.; SILVA, F.A.M.; CUNHA, S.A.R.; ALVES, E.R., LOPES, T.S.S.; PINTO, H.S.; ZULLO JUNIOR, J. Zoneamento agroclimático para a cultura do café (Coffea arabica L.) no Estado de Goiás e sudoeste do Estado da Bahia. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.9, p , CAMARGO, A.P.C. Clima e a cafeicultura no Brasil. Informe Agropecuário, n.126, p.13-26, CAMARGO, A. P. de; PINTO, H. S.; PEDRO JR., M. J. Aptidão climática de culturas agrícolas. In: SÃO PAULO. Secretaria da Agricultura. Zoneamento agrícola do estado de São Paulo. CATI, v. 1, p , CAMARGO, A.P. de, PEREIRA, A.R. Agrometeorology of the coffee crop. Geneva, Switzerland: World Meteorological Organization, CagM Report, n.58,wmo/td, n.615). p CARELLI, M.L.C., FAHL, J.I., PEZZOPANE, J.R.M. et al. Densidade de fluxo de seiva em plantas de café (Coffea arabica L.) em diferentes regimes de água e irradiância. In: SIMPÓSIO DE PESQUISAS DOS CAFÉS DO BRASIL, Poços de Caldas. Anais... Poços de Caldas, p CASTRO, F. da S. Zoneamento agroclimático para a cultura do pinus no Estado do Espírito Santo. 121 f. Dissertação (Mestrado em Agrometeorologia Agrícola) - Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES, CONAB. Acompanhamento da safra Brasileira. Brasília, MATIELLO, J. B. O café: do cultivo ao consumo. Globo Rural, Coleção do agricultor - Grãos, 320 p., ROLIM, G.S.; SENTELHAS, P.C.; BARBIERI, V. Planilhas no ambiente EXCEL para os cálculos de balanços hídricos: normal, sequencial, de cultura e de produtividade real e potencial. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.6, p , SANTOS, A. R. dos. Zoneamento agroclimático para a cultura do café conilon (Coffea canephora L.) e arábica (Coffea arabica L.), na bacia do Itapemirim, ES f. Dissertação (Mestrado em Meteorologia Agrícola) Universidade Federal Viçosa, THOMAZIELLO, R.A., OLIVEIRA, E.G., TOLEDO FILHO, J.A. et al. A cultura do Café. Campinas: CATI. p THORNTHWAITE, C.W., MATHER, J.R. The water balance. Centerton, N.J. Publ. In Climatology, v.8, n.1, p. 3