BOLETIM AGROCLIMÁTICO DEZEMBRO/2017

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1 BOLETIM AGROCLIMÁTICO DEZEMBRO/2017 Gilmar Ribeiro Nachtigall 1 & Fernando José Hawerroth 2 No período de agosto a dezembro de 2017 foi registrado uma situação similar para as temperaturas máximas e mínimas nos municípios de Caxias do Sul, Lagoa Vermelha, Vacaria e Bom Jesus, com ocorrência de picos de altas seguidos por baixas temperaturas no período de floração, com intensidades superiores aos dois últimos anos (Figura 1). Em 2017, a média das temperaturas mínimas no período de floração da macieira na região foi de 11,7 C, já em 2015 e 2016, a média das temperaturas mínimas no período de floração na região foi de 11,8 C e 7,5 C, respectivamente. Outra condição diferenciada em 2017 foi a alta amplitude térmica (12,4 C) verificada no período de 18/11 a 31/12, enquanto que em 2015 e 2016 esse valor para o período de floração foi de 7,0 C e 12,4 C, respectivamente, praticamente 5,4 C superior quando comparado ao ano de Essa variação foi influenciada pelas temperaturas máximas no período, que foram praticamente 1,0 C mais alto que nos anos anteriores. Os valores de Graus-dia (GD) acumulados mensalmente, considerando as temperaturas bases de 4,5; 10; e 14ºC, no período de 01 de agosto à 31 de dezembro de 2017, segundo equações propostas por Vila Nova et al. (1972), foram superiores aos observados nos anos de 2015 e 2016 e média do período de 2013 a 2017, para os municípios de Bom Jesus e Caxias do Sul. Os GD foram similares ao ano de 2015 para os municípios de Vacaria e Lagoa Vermelha (Tabela 1). Ao final do mês de dezembro de 2017 foram contabilizados, em média, GD para a temperatura base de 4,5 C, GD para a temperatura base de 10 C e 642 GD para a temperatura base de 14 C. Considerando o mesmo período, verifica-se que o valor acumulado em 2017, até dezembro, foi 10% superior para a temperatura base de 4,5 C, 15% superior para a temperatura base de 10 C e 17% superior para a temperatura base de 14 C, em relação aos valores observados em Considerando os locais avaliados no período de 1 de agosto à 31 de dezembro de 2017, os valores de GD acumulados, foram maiores em Lagoa vermelha, seguidos por Caxias do Sul, Vacaria e Bom Jesus, considerando as temperaturas bases de 4,5; 10 e 14 C. 1 Pesq. Nutrição de Plantas - Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado - Embrapa Uva e Vinho - gilmar.nachtigall@embrapa.br. 2 Pesq. Fitotecnia - Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado - Embrapa Uva e Vinho - fernando.hawerroth@embrapa.br

2 Figura 1. Temperaturas médias, mínimas e máximas diárias entre os dias 01 de setembro e 31 de dezembro, nos anos de 2015, 2016 e 2017, nos municípios de Caxias do Sul, Lagoa Vermelha, Vacaria e Bom Jesus, RS (fenologia considerando as áreas experimentais da Embrapa Uva e Vinho). Fonte dos dados meteorológicos: Bom Jesus - Estação Meteorológica da BASF (2409); Caxias do Sul - Estação Meteorológica da BASF (2417); Lagoa Vermelha - Estação Meteorológica da BASF (2416) e Vacaria - Estação Meteorológica do INMET (A880).

3 Tabela 1. Valores de Graus Dias, considerando diferentes temperaturas bases (4,5 C; 10 C; 14 C), ocorridas mensalmente e acumuladas entre os dias 01 de agosto e 31 de dezembro e médios entre os anos de 2013 e 2017, nos municípios de Bom Jesus e Vacaria, RS. 1 Graus Dias calculados segundo equações propostas por Vila Nova et al. (1972). 2 Valor médio dos anos de 2013 a 2017, cujos dados foram obtidos nas Estação Meteorológica da BASF (2409) e Estação Meteorológica do INMET (A880). 3 GDH C calculado de acordo com Richardson et al. (1975). A soma térmica contabilizada na região dos Campos de Cima da Serra do RS, no período de 01 de agosto à 31 de dezembro de 2017 em GDH C, segundo modelo proposto por Richardson et al. (1975) foi, em média, de unidades, valor superior ao observado no ano de 2016 ( unidades), sobretudo nos meses de agosto e setembro. A maior contabilização de Graus Dia e GDH C no ano de 2017 pode ser justificada pela menor amplitude térmica observada no período, em razão da ocorrência de temperaturas noturnas mais baixas, quando comparada a observada no ano de 2016.

4 Tabela 2. Valores de Graus Dias, considerando diferentes temperaturas bases (4,5 C; 10 C; 14 C), ocorridas mensalmente e acumuladas entre os dias 01 de agosto e 31 de outubro e médios entre os anos de 2013 e 2017, nos municípios de Caxias do Sul e Lagoa Vermelha, RS. 1 Graus Dias calculados segundo equações propostas por Vila Nova et al. (1972). 2 Valor médio dos anos de 2013 a 2017, cujos dados foram obtidos nas Estação Meteorológica da BASF (2417) e Estação Meteorológica da BASF (2416). 3 GDH C calculado de acordo com Richardson et al. (1975). Após um inverno relativamente seco em 2017, a precipitação pluviométrica, no período de desenvolvimento vegetativo da macieira, apresentou variações em relação aos municípios avaliados (Figura 2). A precipitação nos meses de agosto a dezembro de 2017 nos municípios de Bom Jesus, Vacaria e Lagoa Vermelha foi inferior aos volumes observados no município de Caxias do Sul. Considerando a média histórica de agosto a outubro, o volume de precipitação foi 28% abaixo do volume normal esperado para a região, com exceção do município de Caxias do Sul, cujos valores foram 31% superiores a média histórica (500 mm).

5 Destacam-se as condições observadas para Bom Jesus, Vacaria e Lagoa Vermelha, onde a precipitação foi de apenas 68%, 63% e 84% da média histórica de 129 mm, 179 mm e 203 mm para os meses de agosto, setembro e outubro, respectivamente. Figura 2. Precipitação pluviométrica acumulada nos meses de agosto a dezembro de 2017 e a precipitação média do período entre 1991 e 2016, nos municípios de Bom Jesus, Vacaria, Lagoa Vermelha e Caxias do Sul, RS. Fonte dos dados meteorológicos: Bom Jesus - Estação Meteorológica da BASF (2409); Caxias do Sul - Estação Meteorológica da BASF (2417); Lagoa Vermelha - Estação Meteorológica da BASF (2416) e Vacaria - Estação Meteorológica do INMET (A880). Os extratos dos balanços hídricos climatológicos estimados pelo método de Thornthwaite e Mather (1955) mostraram que o volume total do excedente hídrico em 2017 foi de 325, 738, 411 e 954 mm, para os municípios de Bom Jesus, Vacaria, Lagoa Vermelha e Caxias do Sul, respectivamente (Figura 3). Verifica-se que os valores observados para Bom Jesus e Lagoa Vermelha, representaram apenas 34% e 43% dos valores observados para Caxias do Sul, respectivamente. Em 2017, para todos os municípios avaliados, observou-se baixo acúmulo hídrico no período de janeiro a abril, cujos valores acumulados mensalmente não ultrapassaram o volume de 30 mm. Ainda em 2017, verificaram-se déficits hídricos nos meses de julho e dezembro, condição bem distinta das observadas no ano de 2016, onde foram observados excedentes hídricos nestes mesmos meses.

6 Figura 3. Extratos dos balanços hídricos climatológicos estimados pelo método de Thornthwaite e Mather (1955) no ano de 2017, nos municípios de Bom Jesus, Vacaria, Lagoa Vermelha e Caxias do Sul, RS. Fonte dos dados meteorológicos: Bom Jesus - Estação Meteorológica da BASF (2409); Caxias do Sul - Estação Meteorológica da BASF (2417); Lagoa Vermelha - Estação Meteorológica da BASF (2416) e Vacaria - Estação Meteorológica do INMET (A880). Embora as informações referentes ao volume de precipitação e de balanços hídricos climatológicos no mês de dezembro de 2017 não indiquem restrições na disponibilidade de água no solo para a macieira, verificaram-se déficits hídricos, nas diferentes camadas do solo, a partir do início do mês de dezembro de 2017, na medição através de tensiometria (Figura 4). Na camada de 0 a 20 cm, onde a disponibilidade de água tem grande variabilidade devido à precipitação pluviométrica e a evapotranspiração, foram totalizados 25 dias déficit hídrico no mês de dezembro. Na profundidade de 20 a 40 cm (mais representativa para o sistema radicular da macieira), foram totalizado 26 dias de déficit hídrico no mês de dezembro. Já na camada de 40 a 60 cm, os períodos de déficit hídrico ocorreram os dois períodos, totalizando 28 dias de déficit hídrico no mês de dezembro. Destaca-se que na profundidade de 20 a 60 cm as leituras dos tensiômetros mostraram tensões de água no solo superiores a 70 kpa, indicando alta necessidade da aplicação de água.

7 Figura 4. Distribuição sazonal da tensão de água no solo, na profundidade de 0 a 20cm, 20 a 40cm e 40 a 60cm, em cultivo de macieira sem irrigação e da precipitação pluviométrica entre os dias 11 de setembro e 31 de dezembro de Vacaria-RS. (---- tensão de água no solo na Capacidade de Campo).

8 Fotos: Gilmar R. Considerando a maior frutificação de macieiras Gala no ciclo , observada nos pomares da região dos Campos de Cima da Serra, tem-se como expectativa a obtenção de maiores produtividades, desde que regularizado o regime hídrico nos 40 dias que antecedem a colheita de maçãs. Diante do aumento da proporção de frutos por planta, é esperado menor calibre de frutos quando comparado aos ciclos anteriores. Outro ponto a destacar é o crescimento/desenvolvimento vegetativo das macieiras que se mostra relativamente controlado na maioria dos pomares. Esta condição é resultado do manejo com o emprego de reguladores de crescimento, aliado a grande contribuição do aumento da frutificação e do estresse hídrico evidenciado no período, que limitaram o crescimento de ramos. A qualidade da fruta na safra 2017/18 poderá ser marcada por um percentual mais elevando de frutos com russeting. Esse distúrbio caracteriza-se por uma camada de cortiça formada entre as células da epiderme e que dá um aspecto de rugosidade, ferruginoso e sem brilho à superfície do fruto (Figura 5), cujas causas da ocorrência podem estar relacionadas à susceptibilidade varietal, aos fatores climáticos ou, então, do próprio manejo do pomar, envolvendo aplicações de agroquímicos, fatores de atuam de forma isolada ou em conjunto. Considerando o padrão de ocorrência de russeting no ciclo atual, não é possível atribuir apenas aos fatores climáticos a ocorrência do distúrbio, mas sim a interação de condições climáticas com tratamentos fitossanitários. Outra provável causa do aumento do distúrbio pode estar relacionada às condições climáticas na floração terem sido muito distintas em relação aos últimos três ciclos, em que foi evidenciada rápida evolução fenológica. (A) (A) (A) (B) Figura 5. Frutos de macieira das cultivares Maxi Gala (A) e Fuji Suprema (B) com sintomas de russeting na epiderme. Vacaria, RS, 2017.