INDICADORES DE INOVAÇÃO EM CULTIVARES DE CANA-DE-AÇÚCAR INDICATORS OF INNOVATION IN SUGARCANE CULTIVARS

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1 INDICADORES DE INOVAÇÃO EM CULTIVARES DE CANA-DE-AÇÚCAR INDICATORS OF INNOVATION IN SUGARCANE CULTIVARS Márcia Brito Nery Alves Program of Postgraduate in Intellectual Property Science Federal University of Sergipe Ana Eleonora Almeida Paixão Program of Postgraduate in Intellectual Property Science Federal University of Sergipe Resumo Este trabalho teve como objetivo analisar os indicadores de inovação em cultivares de cana-de-açúcar no Brasil, por meio de dois índices estatísticos: o Índice de Atualização Varietal (IAV) e o Índice de Concentração Varietal (ICV). Para tanto, realiza análises estatísticas dos dados de produção, área plantada e produtividade da cana-de-açúcar no Brasil, entre os anos de 2005 a 2015, realizando testes em séries históricas da Companhia Nacional de Abastecimento CONAB. Os resultados demonstram que as variações na produtividade da cana-de-açúcar no período estiveram mais relacionadas as flutuações da área plantada do que a introdução de novas variedades no mercado nacional. Palavras-chave Cana-de-açúcar. Cultivares. Índice de Atualização Varietal (IAV). Índice de Concentração Varietal (ICV). Abstract This paper aims to analyze the innovation indicators in sugarcane cultivars in Brazil through two statistical indices: the Varietal Update Index (IAV) and the Varietal Concentration Index (ICV). The study presents statistical analysis of production data, acreage and productivity of sugarcane in Brazil, between , performing tests on historical data from the Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB. The results show that changes in the productivity of sugarcane in the period were more related area planted fluctuations than the introduction of new varieties in the domestic market. Keywords Sugarcane. Cultivars. Varietal Update Index (IAV). Varietal Concentration Index (ICV). Proceeding of ISTI/SIMTEC ISSN: Aracaju/SE 21 a 23/09/ Vol. 3/n.1/ p

2 Produtividade em kg/ha I. INTRODUÇÃO Na última década, o setor sucroalcooleiro apresentou resultados negativos em termos de produtividade em praticamente todo o território nacional, como consequência de um ampla crise do setor. Apesar da ligeira recuperação sentida a partir de 2011, as estatísticas ainda são desfavoráveis no que se refere à tendência de recuperação da produtividade conforme a Figura 01. PRODUTIVIDADE DA CANA-DE-AÇÚCAR NO BRASIL (em kg/ha) y = 142.6x x x R² = Ano Sabe-se que a produtividade representa a relação entre a produção e a área plantada em um dado período. Na figura 01 pode-se observar as variações da produtividade de cana-de-açúcar na última década, bem como, a curva de tendência polinomial de 3ª ordem com previsão de queda para os próximos dois períodos: 2016 e Na área plotada, também é possível observar a equação obtida: y = 142,6x3-2587x x bem como valor de R 2 =69,8%. No quadro 01, observa-se as séries históricas de produção e área plantada de cana de açúcar no Brasil, entre os anos de 2005 e Quadro 01 Séries históricas de produção e área plantada de cana de açúcar no Brasil, ANO PRODUÇÃO (em 1000 ton) ÁREA PLANTADA (em 1000 ha) , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,24 A partir de análises estatísticas, esta pesquisa procurou determinar até que ponto as variações na produtividade da cana-de-açúcar estiveram relacionadas as variações da área plantada, e qual a importância da introdução de novas variedades no mercado brasileiro nestas variações de produtividade. Os resultados demonstraram que as variações na produtividade da cana-de-açúcar no período analisada estiveram mais relacionadas as flutuações da área plantada do que em termos de plantio de novos cultivares. Também foram analisados importantes índices estatísticos relacionados à inovação no setor, tais como o Índice de Atualização Varietal (IAV) e o Índice de Concentração Varietal (ICV). Proceeding of ISTI/SIMTEC ISSN: Aracaju/SE 21 a 23/09/ Vol. 3/n.1/ p

3 II. METODOLOGIA A metodologia utilizada nesta pesquisa, fundamentada no método estatístico, pautou-se inicialmente por correlacionar os dados de produção de cana-de-açúcar e de área plantada, visando compreender indiretamente até que ponto as mudanças de produtividade no setor associam-se ao lançamento de novos cultivares no mercado. A função abaixo, descreve a correlação entre duas matrizes X, Y, como resultado da associação linear entre os dois conjuntos de dados, ou seja, a covariância de x, y, pelo desvio padrão de x, y. O coeficiente de correlação foi um importante teste estatístico para se analisar até que ponto as variações de produção da cana-de-açúcar na última década estiveram relacionadas ou não as variações na área plantada. No quadro 01, as séries históricas de produção e área plantada correspondem as matrizes X, Y, tomadas enquanto 10 pares de amostras para as quais se mediu a dispersão. Os dados obtidos com a análise estatística das séries históricas, posteriormente, foram confrontados com as observações dos Índices de Concentração Varietal (ICV) e de Atualização Varietal (IAV), com o objetivo de avaliar se a produtividade da cana-de-açúcar correlacionava-se mais diretamente as variações da área plantada ou se resultavam da introdução de novos cultivares. III. RESULTADOS E DISCUSSÃO A correlação entre os dados das séries históricas de produção e área plantada de cana-de-açúcar (quadro 01) foi calculada em 0,99. Este resultado confirma a correlação positiva entre dos dois conjuntos de dados, ou seja, a variação na produção de cana-de-açúcar na última década, esteve diretamente relacionada com a variação da área plantada. A partir dos dados, observou-se também que a produtividade média da cana-de-açúcar, na última década, girou em torno de kg/ha e que somente entre os anos de 2006 e 2010 este valor esteve acima da média, vindo a apresentar uma recuperação em A tendência esboçada na figura 01 comprova o decréscimo histórico da taxa de crescimento na década, como um todo, chamando a atenção para os resultados esperados e obtidos com a inovação tecnológica no setor agrícola, sobretudo no caso dos cultivares liberados e comercializados de cana-de-açúcar. No que diz respeito à produtividade e sua relação com o lançamento de novos cultivares, bem como o desempenho das inovações tecnológicas no setor sucroalcooleiro, foram considerados dois importantes indicadores estatísticos, bastante relevantes à análise e discussão dos resultados quantitativos, a saber: o Índice de Atualização Varietal (IAV) e o Índice de Concentração Varietal (ICV). Do ponto de vista conceitual, o Índice de Concentração Varietal (ICV) é: [...] obtido com base na participação percentual das três principais variedades na região estudada. São considerados altos e não recomendados os valores de ICV superiores a 50%. Valores entre 40 e 50% são considerados intermediários e valores menores que 40% são considerados baixos e ideais. (CTC, 2016, p. 3) Associado ao Índice de Concentração Varietal, o Índice de Atualização Varietal, é o indicador que mede a difusão tecnológica dos novos cultivares, portanto de suma importância, avaliando o ritmo com que as novas variedades de cultivares são lançadas e comercializadas. De acordo com o Centro de Tecnologia Canavieira, o índice de atualização varietal (IAV) é: [...] obtido pela diferença entre o ano atual e o ano de cruzamento da variedade, ponderado pela porcentagem de utilização de cada variedade na região estudada. Do valor obtido são subtraídos 20 anos, que corresponde ao número médio de anos que uma variedade tarda para atingir o seu ápice. Para esse índice, são considerados altos e não recomendáveis os valores acima de 7 anos, intermediários os valores entre 5 e 7 anos e baixos e adequados os valores abaixo de 5 anos (CTC, 2016, p.3). A figura 02, permite observar o comportamento de ambos os índices. O emprego de linhas de tendência polinomial de 2ª ordem revela uma situação alarmante, quando se observa o distanciamento progressivo entre o Proceeding of ISTI/SIMTEC ISSN: Aracaju/SE 21 a 23/09/ Vol. 3/n.1/ p

4 Percentual Plantado/Cultivado Valores normalizados dos índices Índice de Atualização Varietal (IAV) e o Índice de Concentração Varietal (ICV), numa projeção até o ano de Figura 02 - Tendência de Atualização (IAV) / Concentração (ICV) Varietal y = 0.118x x R² = y = x x R² = Ano IAV ICV Polinômio (IAV) Polinômio (ICV) Se por um lado, a reversão quadro atual do setor sucroalcooleiro depende de uma reação do setor em face do cenário atual da economia em escala global, por outro, a pesquisa sobre os impactos reais do melhoramento genético, desde lançamento ao plantio das novas variedades de cana-de-açúcar, sobretudo em termos de ganhos em produtividade, poderá revelar tanto as perspectivas, quanto os limites de inovação no setor. A figura 03 reforça os argumentos sustentados, apresentando as 10 variedades de cana-de-açúcar mais plantadas e cultivadas no Brasil, em valores percentuais. Pode-se observar que o cultivar RB867515, lançado em 2001 pela Universidade Federal de Viçosa, no âmbito da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (RIDESA), destaca-se tanto na condição de cultivar mais plantada, quanto cultivada, no ano de 2012, ocupando 40% da área total abarcada pelas 10 variedades. Figura Variedade de Cana-de-Açúcar mais Plantadas/Cultivadas - Brasil/ Variedades de Cana-de-Açúcar % da área plantada % da área cultivada Os cultivares SP , RB855453, SP e RB apresentaram uma porcentagem de área plantada relativamente inferior à área cultivada, o que indica, por um lado a substituição da variedade atualmente cultivada, por outra, ou, ainda, a diminuição absoluta da área plantada. Já em relação aos cultivares RB867515, RB92579, RB966928, RB855156, ocorreu o inverso, ao se observar que a porcentagem de área cultivada foi inferior à área plantada, o que indica que as referidas variedades ainda continuam presentes no campo. Com relação aos cultivares CTC-15 e CTC-9 pode-se observar que foram introduzidos pela primeira vez no ano de 2012, substituindo dois cultivares RBs anteriores, impactando diretamente o índice de atualização varietal (IAV), no contexto das 10 variedades mais plantadas/cultivadas de cana-de-açúcar no Brasil. Proceeding of ISTI/SIMTEC ISSN: Aracaju/SE 21 a 23/09/ Vol. 3/n.1/ p

5 IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se concluir, preliminarmente, que a despeito da defasagem entre o desenvolvimento de novas tecnologias no setor agrícola e a sua comercialização ou implementação, por meio da observação das séries históricas de dados brutos de área plantada e produção disponíveis, que as taxas de produtividade, especialmente no caso da cana-de-açúcar tem se estabelecido abaixo do esperado e apresenta um elevado índice de correlação com a área plantada, o que também se pode observar por meio das tendências reveladas pelo Índice de Concentração Varietal (ICV). V. PERSPECTIVAS Os resultados obtidos sugerem a necessidade de se aprofundar os estudos sobre a temática e sobre o papel de redes colaborativas, como é o caso da RIDESA, enquanto rede de instituições públicas, detentora dos direitos de propriedade intelectual de mais de 60% de todas as variedades de cana-de-açúcar atualmente plantadas no país. Neste caso, abre-se uma perspectiva crítica que enseja análises mais aprofundadas dos impactos reais da inovação no setor sobre a produtividade da cana-de-açúcar, sobretudo, relacionados ora ao lançamento e plantio de novos cultivares, ora as variações na área plantada. REFERÊNCIAS CARVALHO, Sergio Medeiros Paulino de; SALLES-FILHO, Sergio Luiz Monteiro; PAULINO, Sonia Regina. Propriedade Intelectual e Dinâmica de Inovação na Agricultura. Revista Brasileira de Inovação. Volume 5. Número 2. Julho / Dezembro de Disponível em: Acesso em 17 de março de CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Cana-de-açúcar - Brasil. Série Histórica de Área Plantada. Safras 2005/06 a 2015/16. Brasília: CONAB, Disponível em: 16_04_18_14_58_56_canaseriehist.xls. Acesso em: 17 de maio de CTC. Centro de Tecnologia Canavieira. Censo varietal e de produtividade em Disponível em: Acesso em: 07 de junho de FREITAS, André Santos de. O papel das instituições públicas no desenvolvimento de novas variedades de plantas cultivadas. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Agronegócios. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Disponível em: Acesso em 12 de dezembro de VIEIRA FILHO, José Eustáquio Ribeiro; VIEIRA. Adriana Carvalho Pinto. A inovação na agricultura brasileira: uma reflexão a partir da análise dos certificados de proteção de cultivares. Texto para discussão / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.- Brasília : Rio de Janeiro : Ipea, agosto de Disponível em: Acesso em 02 de março de VIEIRA, Adriana Carvalho Pinto; BUAINAIN, Antônio Márcio; DAL POZ, Maria Estér; VIEIRA JUNIOR, Pedro Abel. Patenteamento da biotecnologia no setor agrícola no Brasil: uma análise crítica. Revista Brasileira de Inovação. Rio de Janeiro (RJ), 9 (2), p Julho/Dezembro de Disponível em: Acesso em 03 de abril de YAMAMURA, Simone. Plantas transgênicas e propriedade intelectual: ciência, tecnologia e inovação no Brasil frente aos marcos regulatórios. Dissertação de Mestrado. Política Científica e Tecnológica. Instituto de Geociências. Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP : [s.n.], Disponível em: Acesso em 14 de fevereiro de Proceeding of ISTI/SIMTEC ISSN: Aracaju/SE 21 a 23/09/ Vol. 3/n.1/ p