PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O 3ª Turma GMAAB/rar/lr/iso

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1 A C Ó R D Ã O 3ª Turma GMAAB/rar/lr/iso AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. JUSTA CAUSA. ABANDONO DE EMPREGO. Do quadro fático registrado pelo Tribunal Regional, não se extrai o excesso no poder potestativo do empregador quanto à configuração da justa causa por abandono de emprego. Viabiliza-se, portanto, a admissibilidade do recurso de revista para o melhor exame da violação do art. 186 do Código Civil. Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA. ABANDONO DE EMPREGO. DECISÃO DA JUSTIÇA FEDERAL QUE RESTABELECE O PAGAMENTO DO AUXÍLIO-DOENÇA COM EFEITO RETROATIVO. O Tribunal Regional concluiu pela reversão da justa causa por abandono de emprego alicerçado na decisão proferida pela Justiça Federal, que restabeleceu o direito ao auxílio-doença, com efeito retroativo, alcançando o momento da dispensa do autor. Logo, revela-se nula a dispensa nos termos do art. 476 da CLT. Recurso de revista não conhecido. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. JUSTA CAUSA. ABANDONO DE EMPREGO. AUSÊNCIA DE EXCESSO NO PODER POTESTATIVO DO EMPREGADOR. SÚMULA Nº 32 DO TST. Do quadro fático registrado pelo Tribunal Regional, não se extrai qualquer excesso no exercício do seu poder disciplinar. É certa a presença do elemento objetivo necessário à configuração do abandono de emprego, pois o autor não retornou ao trabalho após a cessação do auxílio-doença. Quanto ao elemento subjetivo, não há dúvidas de que, após 30 (trinta) dias de faltas, a empresa envidou esforços para convocar o retorno do autor ao trabalho por meio de telegramas, antes da

2 fls.2 dispensa por justa causa, o que somente ocorreu depois de cinco meses da cessação do benefício previdenciário. Logo, a presunção é, realmente, de abandono de emprego, conforme entendimento desta Corte consolidado na Súmula nº 32 do TST. A consequência do efeito retroativo da decisão da Justiça Federal quanto ao pedido de nulidade da justa causa (476 da CLT) não justifica, por si só, a responsabilidade da empresa pelo pagamento de indenização por danos morais, porque não restou configurado o excesso no poder potestativo. A conduta da empresa, para esse efeito, deve ser avaliada considerando-se as circunstâncias e as informações existentes à época da aplicação da justa causa por abandono de emprego. A condenação da empresa ao pagamento de indenização por danos morais pelo Tribunal Regional ofende o art. 186 do Código Civil. Recurso de revista conhecido por violação do art. 186 do Código Civil e provido. INTERVALO INTRAJORNADA. MOTORISTA. NORMA COLETIVA. FRACIONAMENTO. Conforme o quadro fático registrado pelo Tribunal Regional, a empresa não comprovou a efetiva concessão dos intervalos fracionados, ao término de cada viagem, na forma prevista nas normas coletivas. A decisão do Tribunal Regional, portanto, que condenou a empresa ao pagamento de uma hora diária a título de intervalo intrajornada, com o adicional de 50%, na forma do art. 71, 4º, da CLT, harmoniza-se com a Súmula nº 437, II, do TST. Recurso não conhecido. JUSTIÇA GRATUITA. REQUISITOS. Conforme registrado pelo Tribunal Regional, há declaração expressa de miserabilidade jurídica na forma do art. 790, 3º, da CLT. Recurso não conhecido.

3 fls.3 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n TST-RR , em que é Recorrente AUTO VIAÇÃO TIJUCA S.A. e Recorrido ELIAS MOTTA FONSECA. Trata-se de agravo de instrumento interposto pela empresa, às fls , contra o r. despacho às fls. 420/422, por meio do qual a Presidência do egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região negou seguimento ao recurso de revista com fulcro nas Súmulas nºs 126, 296, do TST. Contraminuta apresentada às fls Dispensada a remessa dos autos ao douto Ministério Público do Trabalho em face do disposto no art. 83, 2, inciso II, do Regimento Interno. É o relatório. V O T O AGRAVO DE INSTRUMENTO 1 CONHECIMENTO Satisfeitos os requisitos de admissibilidade referentes a tempestividade (fls. 423 E 443), regularidade de representação (fl. 48) e preparo (fls. 293, 330). Conheço. 2 MÉRITO Trata-se de agravo de instrumento interposto pela empresa, às fls , contra o r. despacho às fls. 420/422, por meio do qual a Presidência do egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 1ª

4 fls.4 Região negou seguimento ao recurso de revista com fulcro nas Súmulas nºs 126, 296, do TST. O TRT da 1ª Região, (fls ), negou provimento ao recurso ordinário da empresa quanto à indenização por danos morais decorrentes da aplicação da justa causa por abandono de emprego em um período em que o autor não podia trabalhar por motivo de doença, e deu provimento ao recurso ordinário do autor para fixar a indenização em 10 vezes o seu salário. Nas razões de revista, (fls ), a empresa alega violação do art. 186 do Código Civil, contrariedade à Súmula nº 32 do TST e divergência jurisprudencial. Conforme o quadro fático registrado pelo Tribunal Regional: a) é incontroverso que o autor percebeu o auxílio-doença até 1º/4/2008, quando teve alta médica pelo INSS; b) o INSS indeferiu o pedido de reconsideração da alta médica; c) após o prazo de 30 dias de faltas do autor, a empresa inicia esforços para convocar o retorno ao trabalho (telegramas e anúncios em jornais). Sem alcançar êxito, ela dispensa o autor por justa causa por abandono de emprego em 13/9/2008; d) em 20/5/2009, a Justiça Federal restabelece o auxílio-doença com efeitos retroativos a 1º/4/2008. Primeiramente, embora o acórdão do Tribunal Regional registre a data da dispensa do autor em 13/9/2009, não faz sentido admitir que a empresa tenha demorado tanto tempo aproximadamente um ano e meio aguardando o retorno do autor, considerando-se que o auxílio-doença foi concedido em 1º/4/2008. Logo, verifica-se claramente tratar-se de erro material, pois a data registrada na sentença é 13/9/2008 (fl. 287).

5 fls.5 Assim é que, a partir do quadro fático registrado pelo Tribunal Regional, não extraio da conduta da empresa qualquer excesso no exercício do seu poder disciplinar. É certa a presença do elemento objetivo necessário à configuração do abandono de emprego, pois o autor não retornou ao trabalho após a cessação do auxílio-doença. Quanto ao elemento subjetivo, não há dúvidas de que, após 30 (trinta) dias de faltas, a empresa envidou esforços para convocar o retorno do autor ao trabalho por meio de telegramas, antes da dispensa por justa causa, o que somente ocorreu depois de cinco meses da cessação do benefício previdenciário. Logo, a presunção é, realmente, de abandono de emprego, conforme entendimento desta Corte consolidado na Súmula nº 32 do TST: Presume-se o abandono de emprego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias após a cessação do benefício previdenciário nem justificar o motivo de não o fazer. Ora, se a presunção é pela configuração do abandono de emprego, entendo que o posterior reconhecimento pela Justiça Federal do direito do autor ao auxílio-doença, com efeitos retroativos, não atrai, necessariamente, a conclusão extraída pelo Tribunal de que a empresa se aproveitou da doença para rescindir o contrato de trabalho. Ao contrário, à época da rescisão contratual por justa causa, os únicos fatos existentes eram os de que: o INSS negou o direito a novo auxílio-doença; o autor não retornou ao trabalho após 30 dias da cessação benefício; os meios de comunicação para o retorno ao emprego não obtiverem êxito. Ademais, o empregador ainda aguardou quase cinco meses para proceder ao término da relação contratual. Diante desse contexto, a consequência do efeito retroativo da decisão da Justiça Federal quanto ao pedido de nulidade da justa causa, nos termos do art. 476 da CLT 1, não justifica, por si só, a responsabilidade da empresa pelo pagamento de indenização por danos 1 Art Em caso de seguro-doença ou auxílio-enfermidade, o empregado é considerado em licença não remunerada, durante o prazo desse benefício.

6 fls.6 morais, porque não restou configurado excesso no poder potestativo. A conduta da empresa, para esse efeito, deve ser avaliada considerando-se as circunstâncias e as informações existentes à época da aplicação da justa causa por abandono de emprego. Entendo, portanto, que a condenação da empresa ao pagamento de indenização por danos morais pelo Tribunal Regional viabiliza a admissibilidade do recurso de revista ante a possível ofensa ao art. 186 do Código Civil, indicada nas razões de revista e do agravo de instrumento. Com esses fundamentos, dou provimento ao agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista. RECURSO DE REVISTA Satisfeitos os requisitos de admissibilidade referentes a tempestividade (fls. 399 e 417), regularidade de representação (fl. 48) e preparo (fls. 293, 330). 1 CONHECIMENTO 1.1 JUSTA CAUSA ABANDONO DE EMPREGO O Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário da empresa quanto à desconfiguração da justa causa por abandono de emprego: Da justa causa Não merece prosperar o inconformismo da recorrente, no que tange ao indeferimento do reconhecimento da justa causa, aplicada por abandono de emprego. É incontroverso nos autos que o autor percebeu o benefício auxílio-doença até 10 de abril de 2008, data em que teve alta médica junto ao órgão previdenciário, tendo seu pedido de reconsideração sido indeferido. A ré, em razão do autor não ter retornado ao emprego dentro do prazo de 30 dias após a cessação da percepção do benefício, apesar dos telegramas

7 fls.7 enviados e da veiculação de anúncio em jornal, dispensou o empregado por justa causa. Ocorre que, a Justiça Federal, nos autos da ação n , concedeu tutela antecipada (fls. 58/59) restabelecendo o benefício NB 31/ , cujos efeitos retroativos a 1ª de abril de 2008 foram posteriormente confirmados na sentença definitiva (fls. 294/297), proferida em 20 de maio de Desta forma, resulta inequívoca a nulidade da dispensa ocorrida em 13 de setembro de 2009, em face do afastamento do autor, comprovado pela concessão do auxílio-doença. Note-se que o que importa, no caso, é a eficácia retroativa do benefício, que teve o efeito de suspender o contrato de trabalho, devendo-se reputar não efetivada a dispensa, nos termos do artigo da 476 da CLT. Assim, nego provimento ao recurso. Nas razões de revista, a empresa alega que a suspensão do contrato de trabalho perdura enquanto o empregado estiver em gozo de auxílio-doença, nos termos do art. 63 da Lei nº 8.213/91. Entende que o contrato de trabalho não se encontrava suspenso na data da dispensa, porque o benefício previdenciário havia sido cancelado. Indica violação do art. 5º, XXXVI, da Constituição da República. O Tribunal Regional, entretanto, não examinou a controvérsia à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição da República, pelo que carece do necessário prequestionamento nos termos da Súmula nº 297 do TST. Também não foi demonstrada a violação do art. 63 da Lei nº 8.213/91 2, pois a decisão do Tribunal Regional está alicerçada no efeito retroativo da decisão proferida pela Justiça Federal, que restabeleceu o direito ao auxílio doença, alcançando o momento da dispensa do autor. A nulidade da dispensa, portanto, está amparada pelo art. 476 da CLT. Não conheço. considerado pela empresa como licenciado. 2 Art. 63. O segurado empregado em gozo de auxílio-doença será

8 fls.8 ABANDONO DE EMPREGO INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL JUSTA CAUSA O TRT da 1ª Região negou provimento ao recurso ordinário da empresa quanto à indenização por danos morais decorrentes da aplicação da justa causa por abandono de emprego em um período em que o autor não podia trabalhar por motivo de doença, e deu provimento ao recurso ordinário do autor para fixar a indenização em 10 vezes o seu salário: Do dano moral A responsabilidade civil consiste na obrigação de responder pelas conseqüências jurídicas originadas de um ilícito cometido com a reparação do prejuízo causado, seja de natureza material ou moral. Para que se configure a ofensa moral, pressuposto no pagamento de indenização, exige-se ofensa a um dos direitos da personalidade que, objetivamente, venha experimentar a vítima em sua condição profissional, pessoal ou social. O MM. Juízo de origem deferiu o pedido de indenização por dano moral, por ter a recorrente aplicado a justa causa por abandono de emprego em um período em que o autor não podia trabalhar por motivo de doença. Em que pese o poder potestativo da ré em demitir seus empregados. No caso em apreço, verifica-se que, mesmo sabedora da doença do reclamante, aproveitou-se do fato do mesmo ainda não encontrar-se em benefício previdenciário para demiti-lo por justa causa. Ademais, em nenhum momento restou caracterizado o animus abandonandi, pois o autor encontrava-se enfermo, e a ré tinha ciência desse fato, o que caracteriza a sua má-fé. Nego provimento. Nas razões de revista, (fls ), a empresa alega violação do art. 186 do Código Civil, contrariedade à Súmula nº 32 do TST e divergência jurisprudencial. Regional: Conforme o quadro fático registrado pelo Tribunal

9 fls.9 a) é incontroverso que o autor percebeu o auxílio-doença até 1º/4/2008, quando teve alta médica pelo INSS; b) o INSS indeferiu o pedido de reconsideração da alta médica; c) após o prazo de 30 dias de faltas do autor, a empresa inicia esforços para convocar o retorno ao trabalho (telegramas e anúncios em jornais). Sem alcançar êxito, ela dispensa o autor por justa causa por abandono de emprego em 13/9/2008; d) em 20/5/2009, a Justiça Federal restabelece o auxílio-doença com efeitos retroativos a 1º/4/2008. Primeiramente, embora o acórdão do Tribunal Regional registre a data da dispensa do autor em 13/9/2009, não faz sentido admitir que a empresa tenha demorado tanto tempo aproximadamente um ano e meio aguardando o retorno do autor, considerando-se que o auxílio doença foi concedido em 1º/4/2008. Logo, verifica-se claramente tratar-se de erro material, pois a data registrada na sentença é 13/9/2008 (fl. 287). Assim é que, a partir do quadro fático registrado pelo Tribunal Regional, não extraio da conduta da empresa qualquer excesso no exercício do seu poder disciplinar. É certa a presença do elemento objetivo necessário à configuração do abandono de emprego, pois o autor não retornou ao trabalho após a cessação do auxílio-doença. Quanto ao elemento subjetivo, não há dúvidas de que, após 30 (trinta) dias de faltas, a empresa envidou esforços para convocar o retorno do autor ao trabalho por meio de telegramas, antes da dispensa por justa causa, o que somente ocorreu depois de cinco meses da cessação do benefício previdenciário. Logo, a presunção é, realmente, a de abandono de emprego, conforme entendimento desta Corte consolidado na Súmula nº 32 do TST:

10 fls.10 Presume-se o abandono de emprego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias após a cessação do benefício previdenciário nem justificar o motivo de não o fazer. Ora, se a presunção é pela configuração do abandono de emprego, entendo que o posterior reconhecimento pela Justiça Federal do direito do autor ao auxílio-doença, com efeitos retroativos, não atrai, necessariamente, a conclusão extraída pelo Tribunal de que a empresa se aproveitou da doença para rescindir o contrato de trabalho. Ao contrário, à época da rescisão contratual por justa causa, os únicos fatos existentes eram os de que: o INSS negou o direito a novo auxílio-doença; o autor não retornou ao trabalho após 30 dias da cessação benefício; os meios de comunicação para o retorno ao emprego não obtiverem êxito. Ademais, o empregador ainda aguardou quase cinco meses para proceder ao término da relação contratual. Diante desse contexto, a consequência do efeito retroativo da decisão da Justiça Federal quanto ao pedido de nulidade da justa causa, nos termos do art. 476 da CLT 3, não justifica, por si só, a responsabilidade da empresa pelo pagamento de indenização por danos morais, porque não restou configurado excesso no poder potestativo. A conduta da empresa, para esse efeito, deve ser avaliada considerando-se as circunstâncias e as informações existentes à época da aplicação da justa causa por abandono de emprego. Entendo, portanto, que a condenação da empresa ao pagamento de indenização por danos morais pelo Tribunal Regional ofende o art. 186 do Código Civil. Conheço por violação do art. 186 do Código Civil. 1.3 INTERVALO INTRAJORNADA 3 Art Em caso de seguro-doença ou auxílio-enfermidade, o empregado é considerado em licença não remunerada, durante o prazo desse benefício.

11 fls.11 O Tribunal Regional deu provimento ao recurso ordinário do autor para condenar a empresa ao pagamento como extraordinária da hora relativa à supressão do intervalo intrajornada: Inconformado com a r. decisão a quo, que rejeitou o pedido da percepção do adicional referente a supressão do intervalo intrajornada, recorre o autor, alegando que é nula a cláusula normativa que autorizou a supressão do referido intervalo, ante o pagamento da indenização e fracionamento do período. Em novembro de 2009 o Egrégio TST introduziu alteração na OJ-SDI-1-TST 342, que passou a ter a seguinte redação: INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. NÃO CONCESSÃO OU REDUÇÃO. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA. INVALIDADE. EXCEÇÃO AOS CONDUTORES DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS, EMPREGADOS EM EMPRESAS DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO I - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva. II Ante a natureza do serviço e em virtude das condições especiais de trabalho a que são submetidos estritamente os condutores e cobradores de veículos rodoviários, empregados em empresas de transporte público coletivo urbano, é válida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a redução do intervalo intrajornada, desde que garantida a redução da jornada para, no mínimo, sete horas diárias ou quarenta e duas semanais, não prorrogada, mantida a mesma remuneração e concedidos intervalos para descanso menores e fracionados ao final de cada viagem, não descontados da jornada. Em que pese a força persuasiva do entendimento firmado pela mais alta Corte Trabalhista, penso que a supressão ou o fracionamento da pausa intrajornada viola norma imperativa e, portanto, não pode ser objeto de flexibilização, nem mesmo por instrumento negocial coletivo. Por último, e não menos relevante, tem-se que a empresa também não cuidou de demonstrar a efetiva concessão dos intervalos fracionados, ao

12 fls.12 término de cada viagem, ônus que lhe competia, na medida em que trouxe aos autos fato obstativo ao direito postulado pelo laborista. Isto posto, dou provimento para deferir o pagamento da hora acrescida do adicional referente à supressão do intervalo intrajornada. Nas razões de revista, a empresa alega que os intervalos eram concedidos de forma fracionada, sempre nos intervalos de cada viagem e no respectivo ponto final, conforme expressamente autorizado em norma coletiva. Indica violação dos arts. 7º, XXVI, e 8º, III, da Constituição da República, contrariedade à Orientação Jurisprudencial nº 342 da SBDI-1 e divergência jurisprudencial. É certo que anterior jurisprudência desta e. Corte, consolidada no item II da OJ 342 da SBDI-1/TST, reconhecia a validade da previsão em cláusula coletiva da redução da jornada ou o fracionamento do intervalo intrajornada, desde que garantida a redução da jornada para, no mínimo, sete horas diárias ou quarenta e duas semanais, não prorrogada, para o caso dos motoristas e cobradores de veículos rodoviários empregados de empresas de transporte coletivo urbano. Entretanto, esta e. Corte Superior, revendo o seu posicionamento, cancelou a referida Orientação Jurisprudencial e editou a Súmula 437, publicada no DEJT dos dias 25, 26 e 27/9/2012, prevendo em seu item II ser inválido acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada, não fazendo qualquer exceção à categoria dos condutores e cobradores empregados em empresa de transporte público coletivo ou ao cumprimento de jornada laboral extraordinária de modo habitual. Nesse sentido dispõe o item II da Súmula 437 do TST: INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 307, 342, 354, 380 e 381 da SBDI-1) (...) II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por

13 fls.13 norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva. Nesse contexto, entendo que, cancelada a Orientação Jurisprudencial nº 342 do TST, com a conversão do seu item I no item II da Súmula nº 437 do TST, sem ressalvas quanto à categoria dos condutores de transporte coletivo urbano, se aplica, também a essa categoria, a regra geral da invalidade de cláusula coletiva que dispõe sobre supressão ou redução do intervalo intrajornada, por se tratar de garantia afeta à segurança e medicina do trabalho protegida por norma de ordem pública. Registre-se ademais que, conforme o quadro fático registrado pelo Tribunal Regional, a empresa não comprovou a efetiva concessão dos intervalos fracionados, ao término de cada viagem. A decisão do Tribunal Regional, portanto, que condenou a empresa ao pagamento de uma hora diária a título de intervalo intrajornada, com o adicional de 50%, na forma do art. 71, 4º, da CLT, harmoniza-se com a Súmula nº 437, II, do TST. Não conheço. 1.4 MULTA EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS Alega, a empresa, não ser devida a multa por embargos declaratórios protelatórios. Indica violação do art. 5º, LV, da Constituição da República. Ocorre que sequer houve interposição de embargos declaratórios contra o acórdão proferido pelo Tribunal Regional no recurso ordinário. Inexistente condenação ao pagamento da multa, a empresa carece do interesse de recorrer. Não conheço. 1.5 JUSTIÇA GRATUITA

14 fls.14 O Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário da empresa quanto ao benefício da justiça gratuita: Da gratuidade de justiça Para o deferimento do benefício da gratuidade de justiça, de menor amplitude e que não se confunde com a assistência judiciária de que trata a Lei n /70, é suficiente de miserabilidade jurídica (CLT, art. 790, 3º). Assim, como o laborista firmou declaração de miserabilidade a fls. 14 no sentido jurídico e requereu o benefício da gratuidade de justiça na petição inicial, impõe-se o improvimento do recurso. Entende, a empresa, que não foram observados os requisitos para a concessão do benefício da justiça gratuita...uma vez que em momento algum o recorrido comprovou perceber salário igual ou inferior ao mínimo legal, tampouco sua real necessidade da assistência judiciária, em prejuízo de seu sustento, bem como de sua família... (fl. 414). Indica violação do art. 14, 1º e 2º da Lei nº 5.584/70. Sem razão. Conforme registrado pelo Tribunal Regional, há declaração expressa de miserabilidade jurídica na forma do art. 790, 3º, da CLT. Não conheço. 2 - MÉRITO 2.1 INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL Reconhecida a violação do art. 186 do Código Civil, a consequência é o PROVIMENTO do recurso de revista para excluir da condenação a indenização por danos morais. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros da Terceira Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por maioria, vencido o Exmo. Ministro Mauricio Godinho Delgado, dar provimento ao agravo de instrumento para determinar

15 fls.15 o processamento do recurso de revista; por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso de revista apenas no tocante ao tema indenização por dano moral justa causa abandono de emprego, por violação do art. 186 do Código Civil, e, no mérito, por maioria, vencido o Exmo. Ministro Mauricio Godinho Delgado, dar-lhe provimento para excluir da condenação a indenização por dano moral. Brasília, 5 de Fevereiro de Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº /2006) ALEXANDRE AGRA BELMONTE Ministro Redator Designado