O PRECATÓRIO JUDICIAL E O PEDIDO DE SEQÜESTRO - EC n. 30/2.000

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1 O PRECATÓRIO JUDICIAL E O PEDIDO DE SEQÜESTRO - EC n. 30/2.000 Fabiano Cordeiro Cozzi O precatório judicial nada mais é que o instrumento utilizado para procederse à satisfação dos débitos das fazendas públicas, decorrentes de sentenças judiciais condenatórias, transitadas em julgado. Antes da Constituição Federal de 1934, operava no Brasil uma situação escandalosa de calote generalizado por parte do poder público, além de pagamentos realizados sem obediência a uma ordem preferêncial. A situação atual não é a ideal, mas um grande avanço pôde ser observado, principalmente após a edição da Emenda Constitucional n. 30 de Nosso objetivo aqui não é precisar os trâmites para se alcançar o Precatório em si, pois a trajetória é de conhecimento geral e por demais simples, mas sim o como proceder após o vencimento do mesmo. O que fazer? Quais as soluções legais? Bem, uma vez protocolizado um Precatório Judicial no Tribunal de Justiça Estadual por exemplo, o seu registro é o marco inicial para se obter a ordem de preferência junto à determinado ente público, seja municipal ou estadual, seja o crédito alimentar (CLASSE PREFERÊNCIAL) ou comum. Para tanto, necessário que o Precatório seja registrado até o dia 1º de julho do ano corrente, para que tenha seu vencimento até o final do ano seguinte. Esta é a regra do art. 100 da Constituição Federal de 1988, cujo teor, após a edição da EC n. 30 é a seguinte, de necessária leitura para a conclusão desta despretenciosa orientação: Av. Augusto de Lima n.479, secretaria sala 610-Centro- Belo Horizonte/M.G.-CEP TEL/FAX:

2 Art À exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. 1º É obrigatória a inclusão no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários, apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente. 1º-A Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou invalidez, fundadas na responsabilidade civil, em virtude de sentença transitada em julgado. 2º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda determnar o pagamento segundo as possibilidades do depósito, e autorizar, a requerimento do credor, e exclusivamente para o caso de preterimento de seu direito de precedência, o sequestro da quantia necessária à satisfação do débito. 3º O disposto no caput deste artigo, relativamente à expedição de precatórios, não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em lei como de pequeno valor que a Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal deva fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. 4º São vedados a expedição de precatório complementar ou suplementar de valor pago, bem como fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução, a fim de que seu pagamento não se faça, em parte, na forma estabelecida no 3º deste artigo e, em parte, mediante expedição de precatório. 2

3 5º A lei poderá fixar valores distintos para o fim previsto no 3º deste artigo, segundo as diferentes capacidades das entidades de direito público. 6º O Presidente do Tribunal competente que, por ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatório incorrerá em crime de responsabilidade. Ultrapassado o prazo para o pagamento, que em tese expira no último dia do ano do vencimento, a Fazenda Pública passa estar em mora para com o pretenso credor. O art. 731 do CPC já previa uma solução para a situação do não pagamento, dispondo que: Se o credor for preterido no seu direito de preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem, poderá, depois de ouvido o chefe do Ministério Público, ordenar o sequestro da quantia necessária para satisfazer o débito. Todavia, esta regulamentação para os créditos impagos gerava muita confusão, pois, o sequestro só se fazia se existissem ainda depositos judiciais aos credores beneficiados em detrimento de outros com maior privilégio de ordem cronológica, e ainda, tinha que se aguardar a preterição do credor, ou seja, se algum credor em ordem cronológica posterior, recebesse seu crédito na frente de outros mais antigos. Assim, com o advento da Emenda Constitucional n. 30, fez nascer uma ponta de esperança para aqueles credores preteridos de seus créditos, há muito na fila de espera do calote oficial, sobretudo com a vigência do 4º do art. 78 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Eis o texto legal: 3

4 Art º O Presidente do Tribunal competente deverá, vencido o prazo ou em caso de omissão no orçamento, ou preterição ao direito de precedência, a requerimento do credor, requisitar ou determinar o sequestro de recursos financeiros da entidade executada, suficientes à satisfação da prestação. Assim, o parágrafo supra ensinou o caminho das pedras para a solução dos créditos para com as Fazendas Públicas, vez que o sequestro de valores passou a ser regra para sanar a falta de pagamento dos precatórios, e tem cabimento em 03 hipóteses: 1) quando vencido o prazo do pagamento; 2) em caso de omissão no orçamento do ente público; 3) quando preterido o direito de precedência do crédito. Importante destacar que é necessário o requerimento do credor, pois o Presidente do Tribunal não poderá decidir de ofício neste caso, apesar de que restou delineada na Constituição Federal, a sua parcela de responsabilidade nos casos em que por ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatório. Instar ressaltar e alertar ainda, que não resta prejudicada a responsabilidade que é puramente pessoal, recaída sobre as autoridades e servidores públicos responsáveis pelos abusos e omissões em que incorrerem nos exercícios dos seus respectivos cargos, podendo responder civil, penal e administrativamente pelos danos causados ao Erário em face do ato ilícito, às sanções administrativas pela não observância das normas legais (inciso VIII, art. 132 da Lei n ), e pelo Código Penal (art. 315 dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei ) e também pelo crime de desobediência à ordem judicial. 4

5 Assim, os credores das Fazendas Públicas passaram a ter uma arma poderosa para solucionar os intermináveis precatórios judiciais que abarrotam os escaninhos forenses, e, cabem a nós advogados e aos Presidentes dos Tribunais, aplicarem, sem neofobismos, a regra ora enfocada, de natureza cogente, pois só assim poderá ter fim a inadimplência generalizada do Poder Público. março de Sub Censura. Fabiano Cordeiro Cozzi, adv. RKL ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA SC 5