Na definição de área de preservação permanente, na mesma lei, colhemos:
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- Luiz Henrique Escobar Balsemão
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1 Restauração ambiental e o sistema jurídico brasileiro Julis Orácio Felipe Advogado em Santa Catarina Segundo Deisy Trés e Ademir Reis, no livro Perspectivas sistêmicas para a conservação e restauração ambiental: do pontual ao contexto ações de recuperação seriam legalmente aceitáveis mas não demonstrariam um compromisso com a conservação dos recursos naturais. Assim, a ética nesses processos estaria relacionada com a restauração ambiental, ao passo que o estritamente legal estaria relacionado com a recuperação. Conforme os autores,...um grande entrave destes modelos está no caráter artificial (visão produtiva) destas técnicas utilizadas, as quais estão baseadas na produtividade de elementos de interesse do homem. Continuam os autores, Modelos baseados numa visão dendrológica, no qual privilegia espécies arbóreas em detrimento das múltiplas formas de vida das comunidades naturais(lianas, ervas, arbustos, epífitas), mostram a importância dada à estrutura da floresta em prejuízo à diversidade funcional que a mesma possui. Nosso código florestal, lei 4.771/65 em seu artigo 18 já dá provas de que nem sempre o florestamento ou o reflorestamento são soluções desejáveis do ponto de vista ambiental, privilegiando sempre um diagnóstico sistêmico. Art. 18. Nas terras de propriedade privada, onde seja necessário o florestamento ou o reflorestamento de preservação permanente, o Poder Público Federal poderá fazê-lo sem desapropriá-las, se não o fizer o proprietário. Inexistindo palavra ou expressão inútil na lei, fica evidenciado que existirão áreas onde o florestamento ou o reflorestamento não serão necessários. Como exemplo citemos as áreas de campos gerais e de altitude. Na definição de área de preservação permanente, na mesma lei, colhemos: área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2 o e 3 o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; Há, portanto, uma função a ser protegida. É o que podemos extrair da lista de atividades consideradas de interesse social, contida também na lei florestal brasileira: 1
2 as atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterizem a cobertura vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área; Os autores apontam também, o que nitidamente ocorre, a duvidosa qualidade genética das espécies introduzidas, que colabora para um risco acentuado na formação das gerações futuras, ou seja, a viabilidade da área estaria comprometida no longo prazo, induzindo a um novo processo de recuperação. Vejamos que a definição de área de preservação permanente, acima citada, evidencia a necessidade de preservar o fluxo gênico e preservação é um termo que também tem definição jurídica na lei do sistema nacional de unidades de conservação na natureza, SNUC, lei 9.985/2.000: V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais; A proposta desse trabalho é demonstrar, não somente para os juristas, mas para outros profissionais, que a restauração ambiental, além de ser a alternativa ética, é compulsória, cabendo à recuperação uma atuação de exceção, marginal, para alguns casos autorizados pelo sistema jurídico. Para os autores, a nucleação promove os gatilhos ecológicos para a formação de comunidades estáveis, sustentáveis, gerando um equilíbrio sistêmico. Trata-se pois de uma técnica que afasta-se do reducionismo e de modelos extremamente produtivistas e quantitativos, que simplificam os sistemas naturais e que no dizer dos autores objetivam a produção de biomassa florestal ou apenas uma diversidade vegetal, em detrimento das funções ecológicas. Recuperar, então, importa em fugir da premissa básica de conhecer profundamente cada elemento físico, biológico, simbólico e mitológico que compõe o ambiente. Fugir dessa premissa é romper com o sistema jurídico vigente. Como já vimos acima, preliminarmente. O sistema jurídico tem seu próprio vocabulário, emprestando muitas vezes palavras do uso comum, cotidiano, mas com significados distintos quando utilizadas no âmbito interno ou quando definições são encontradas nos textos legais. Não é comum o direito trazer conceitos, e até corre-se um risco ao conceituar, pois a conceituação elabora fronteiras não permeáveis, ao passo que no mundo real as fronteiras permitem trocas. Entretanto, em alguns casos, o legislador opta por definir, e nesses casos ao intérprete cabe acatar a vontade emanada do poder legislativo e realizar suas interpretações dentro do estrito limite legal. As palavras restauração e recuperação são definidas também na lei 9.985/2.000, no artigo 2 o, lei conhecida como lei do SNUC, sistema nacional de unidades de conservação. 2
3 Vejamos: XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original; XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original; Fica claro que em casos de recuperação é possível não aproximar-se da condição original, o que é diferente no caso de uma restauração, que busca uma proximidade com o ambiente anteriormente existente. Mas quando usar uma ou outra? O sistema jurídico não deixa livre a escolha. Para realizar essa interpretação buscamos o auxílio da lei de política ambiental brasileira, lei 6.938/81 que também trás vários conceitos. Em seu artigo primeiro cita como princípio a recuperação de áreas degradadas e em um de seus objetivos requisita a recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. Em seu saber, ao buscar a recuperação propícia a vida faz opção clara pela biofuncionalidade e não apenas pela biodiversidade e estética, ou seja, para ser juridicamente correta, uma restauração ou uma recuperação devem buscar o resgate da função ecológica no caso concreto, ou então o método será meramente quantitativo e burocrático. Observemos: Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:... II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral;... 3
4 IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.... VIII - recuperação de áreas degradadas; O artigo 4 o da mesma lei torna evidente que a meta maior, a regra, é a restauração: Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; Assim, se tentamos recuperar mas não restabelecemos a função ecológica, não atendemos à expressão propício à vida, pois a vida que se almeja não surge do artificialismo. Se não é propício à vida está à margem do sistema jurídico vigente. Portanto a escolha do método não é livre. É evidente então que o legislador estabeleceu uma base na recuperação, mas essa como um último recurso, uma exceção ao método da restauração. A expressão propício à vida impõe àquele que exerce a atividade de recomposição zelar para que a mesma atinja níveis de qualidade capazes de propiciar uma sustentabilidade do local trabalhado. Ao invés de impormos ao ecossistema em recomposição um atuar custoso em termos de energia na correção de eventual método meramente quantitativo, devemos buscar o método qualitativo. A mera recuperação quantitativa leva o processo não somente a desenvolver-se incorretamente e num maior prazo como à distorção das características do entorno, o que também afronta a legislação conforme os artigos citados acima. A própria lei 9.985/2.000, ao definir preservação encerra o tema com uma proibição expressa à simplificação dos sistemas naturais. V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais; Ora, fácil concluir que métodos quantitativos são métodos que simplificam o ambiente e, portanto, devem ser utilizados em situações muito específicas, sempre dentro de uma estratégia maior. 4
5 A nosso ver, uma das aplicações são as recuperações em áreas urbanas consolidadas e altamente antropizadas, onde o ambiente já degradado acaba por requisitar uma proteção maior ao solo e às construções do que a biodiversidade. Outra aplicação seria aquela autorizada pelo código florestal nas áreas de preservação permanente de pequenas propriedades rurais, onde o pequeno produtor e o agricultor familiar necessitam do espaço fundiário para sua dignidade de vida, fazendo exploração em algum grau, inclusive com espécies exóticas. Uma terceira possibilidade diz respeito à recomposição das áreas de reserva legal. Vejamos os artigos da lei florestal brasileira: Art. 4 o A supressão de vegetação em área de preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto. Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo: 3 o Para cumprimento da manutenção ou compensação da área de reserva legal em pequena propriedade ou posse rural familiar, podem ser computados os plantios de árvores frutíferas ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas. Art. 44. O proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta nativa, natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetação nativa em extensão inferior ao estabelecido nos incisos I, II, III e IV do art. 16, ressalvado o disposto nos seus 5 o e 6 o, deve adotar as seguintes alternativas, isoladas ou conjuntamente: 2 o A recomposição de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o plantio temporário de espécies exóticas como pioneiras, visando a restauração do ecossistema original, de acordo com critérios técnicos gerais estabelecidos pelo CONAMA Finalizando, no caso de recomposição ambiental, que aqui utilizamos como expressão que abraça os termos restauração e recuperação, não há uma separação, um conflito entre ética e legalidade, uma vez que a lei define os procedimentos, sendo a recuperação algo a ser aplicado em algumas situações pontuais. 5
6 A restauração é a meta tanto do sistema técnico-científico quanto do sistema jurídico, que busca o justo por intermédio da lei. 6
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