Os Anjos. Tartaruga-verde FOTOS: ACERVO CECLIMAR

Tamanho: px

Começar a partir da página:

Download "Os Anjos. Tartaruga-verde FOTOS: ACERVO CECLIMAR"

Carla Paranhos Ferretti
7 Há anos
Visualizações:

1 Os Anjos Você sabe o que fazer quando encontrar um pinguim, um lobo marinho ou uma tartaruga na beira da praia? Não pense duas vezes, ligue para o CECLIMAR, o Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Imbé. Eles fazem um trabalho muito legal, que você conhece aqui, através de conversa que tivemos com o biólogo e pesquisador Maurício Tavares. FOTOS: ACERVO CECLIMAR Tartaruga-verde

2 da Guarda O litoral do Rio Grande do Sul é uma das regiões de maior riqueza de fauna marinha do Brasil, incluindo diversas espécies ameaçadas de extinção, tais como a baleia-franca-austral, aves marinhas e todas as espécies de tartarugas marinhas ocorrentes no litoral brasileiro. Esses animais estão sujeitos a diferentes ameaças, que incluem interações com a pesca, degradação ambiental das regiões costeiras, problemas de convivência com a população local e veranistas ao longo do ano. Além das espécies que aqui residem o ano inteiro, anualmente o litoral gaúcho recebe inúmeros visitantes da fauna marinha que frequentam a costa em busca de alimento ou descanso, principalmente nos meses de outono, inverno e primavera. Dentre os visitantes sazonais, destacam-se os pinípedes, grupo que engloba os lobos e leões-marinhos, focas e elefantesmarinhos. Esses animais aparecem muito nos meses de inverno e sua presença na beira da praia normalmente causa reações que variam do espanto e compaixão até alguns raros casos de brutalidade. As situações de estresse geradas tanto para os animais quanto para os órgãos ambientais são muitas. O biólogo Maurício Tavares, do CECLIMAR, diz que não cabe aos seres humanos interferir neste ciclo natural. Trabalhamos diretamente com reabilitação de espécimes de fauna marinha, incluindo pinípedes, aves marinhas, golfinhos e uma ampla gama de animais nativos e ficamos perplexos com a falta de entendimento de muitas pessoas. Para Maurício, o homem tem responsabilidade em auxiliar espécimes que sofrem alguma ação antrópica (que resulta de ação humana), como, por exemplo, pinguins contaminados por óleo: No intuito de ajudar, muitas pessoas já separaram filhotes de seus pais, mataram pinguins de frio, colocando-os em um freezer ou tanque com gelo, machucaram um lobomarinho que estava descansando tentando capturálo, etc. Muitos lobos-marinhos estão na praia apenas descansando para seguir sua jornada, outros continuam no mar caçando e outros tantos talvez estejam vitimados por uma doença respiratória, como tuberculose ou pneumonia. Isto é seleção natural e não devemos interferir, explica. Seleção natural: mecanismo pelo qual todas as espécies existentes no planeta evoluem através do tempo, ou seja, os indivíduos mais adaptados de cada espécie sobrevivem às intempéries e dificuldades encontradas na natureza e deixam seus descendentes, perpetuando assim seus genes. É importante ressaltar que a população ajuda muito mais a fauna marinha e o meio ambiente separando o lixo doméstico, incentivando a coleta seletiva em seus municípios de origem e cobrando das prefeituras que a mesma seja realizada. Muitos animais marinhos ingerem sacolas plásticas e acabam ficando muito doentes. Portanto, não deixe lixo na praia! Outras atitudes eficientes são: diminuir a geração de resíduos sólidos e utilização de plásticos, utilizar sacola retornável, não utilizar canudo em restaurantes e evitar o uso excessivo de materiais descartáveis. FreeWay - Fevereiro

3 Faça sua parte e compreenda que operações de resgate de fauna são complexas. Cada espécie animal aparece na orla devido a uma causa distinta: uns aparecem apenas para descansar, outros, acometidos por causas naturais e alguns podem ter sido impactados pelo homem. Nesse último caso é necessário intervir, mas somente pessoas treinadas em resgate de fauna devem agir. O QUE FAZER AO ENCONTRAR UM ANIMAL MARINHO NA PRAIA Manter distância mínima de cinco metros e evitar aglomerações em volta do animal, pois isto causa grande estresse Nunca alimentá-los Jamais tentar recolocar um animal de volta ao mar, principalmente tartarugas marinhas e cetáceos (botos, baleias e golfinhos) Nunca tentar retirá-los da praia ou transportálos sem avaliação de profissionais qualificados (biólogos e veterinários) em fauna marinha Respeitar a rotina de vida das espécies que utilizam a praia para descanso, como é o caso dos lobos-marinhos Avisar as autoridades* e, sempre que possível, realizar registro fotográfico para facilitar a avaliação dos biólogos e veterinários quanto a real necessidade de resgate *CECLIMAR, Comando Ambiental da Brigada Militar e as Secretarias de Meio Ambiente das Prefeituras. CECLIMAR: , fauna_marinha@ufrgs.br Pinguins-de-magalhães adultos sendo reintroduzidos ao mar, após período de reabilitação Lobo-marinho-sul-americano marcado com brincos plásticos numerados no CERAM para reintrodução ao ambiente marinho Albatroz-de-sobrancelha adulto em tratamento Tartaruga-verde sendo marcada, visando reintrodução ao mar

4 (51)

5 UM CASO REAL: ÓLEO NA PRAIA... No dia 26 de janeiro, um dos maiores vazamentos de óleo do Estado surpreendeu os veranistas. O veraneio foi comprometido entre a plataforma de Tramandaí e a barra do Rio Tramandaí, em Imbé. Mas não podemos esquecer que, além das pessoas, a fauna e a flora também são afetadas pela ação do homem. Perguntamos a Maurício Tavares o que aconteceria se os animais fossem afetados. Confira a resposta: Os animais e as plantas são indicadores da boa qualidade do ar, da água e do ecossistema como um todo, por isso é muito importante o monitoramento do impacto sobre a fauna a flora marinha em um caso como este. Embora praticamente não tenhamos registrado grande impacto sobre a fauna marinha em um primeiro momento, é preciso estar atento aos danos crônicos ao ambiente marinho que este tipo de poluição pode causar. É necessário manter um monitoramento sistemático de vários parâmetros ambientais para que possamos realmente entender se a médio e longo prazo algumas espécies não terão suas populações prejudicadas como, por exemplo, os botos da barra do rio Tramandaí, que já sofrem com a poluição do próprio rio. Atobá-marrom Petrel-gigante-do-norte CONHEÇA O CECLIMAR O CECLIMAR foi fundado em 1978 e está localizado na Avenida Tramandaí, 976, no município de Imbé. Além do setor de Reabilitação de animais marinhos, conta com o Museu de Ciências Naturais e o setor de Educação Ambiental, que oferecem à comunidade um programa anual, com cursos e atividades. O museu conta com acervo em zoologia, animais taximermizados e aquários de água doce e salgada. O acervo paleontológico é composto por peças fósseis e painéis explicativos. Todas as espécies foram encontradas no litoral norte gaúcho. Pode ser visitado durante os meses de janeiro e fevereiro, de terças a domingos, das 15 às 19 horas. O ingresso custa R$ 3,00, mas menores de seis e maiores de 65 anos não pagam.

Documentos relacionados

LIXO NO MEIO AMBIENTE MARINHO 1

LIXO NO MEIO AMBIENTE MARINHO 1 Inajara Marcela Grenzel Dal Molin 2, William Albrecht Fruet 3, Carmem Konarzewski 4 1 Trabalho de pesquisa apresentado à disciplina de Projeto, Colégio Tiradentes da Brigada