O Sr. SANDRO MABEL (PL-GO) pronuncia o. seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e. Senhores Deputados, o mundo assistiu, e vivenciou, nesses

Transcrição

1 O Sr. SANDRO MABEL (PL-GO) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, o mundo assistiu, e vivenciou, nesses últimos dias, duas vias-crúcis: uma, de valor simbólico, e que emocionou um terço da humanidade, ao relembrar para os cristãos o 'caminho da cruz' percorrido por Jesus Cristo; outra, que ocorreu de fato, e atingiu a toda criatura em que palpita um coração de bem, ocasionada pela lenta agonia do Papa João Paulo II. Foram duas semanas de trégua e de corações ao alto. A aceitação plena dos desígnios pessoais em favor da coletividade, comoveram, e continuam comovendo. Guerras são interrompidas, ódios são aplacados, mesquinharias são deixadas de lado diante da lição de grandeza daquele que andou por todos os caminhos, em todos os cantos do mundo, dialogou com todas as religiões, na expectativa de unificar e buscar a paz entre os povos. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores

2 2 Deputados, a opção da Igreja em tornar público o sofrimento do Papa, humanizou a figura por detrás de João Paulo II e o aproximou ainda mais dos milhões de fiéis e não-fiéis de todo o mundo, que viam nele o pastor que, de maneira encantadora, conduzia seus filhos rumo ao Pai. Tal singeleza e desmistificação só encontra paralelo em João XXIII, e talvez, apesar do curtíssimo pontificado, em João Paulo I. O Papa, com a sua permanência obstinada e zelosa no cargo, inspirou não só aos milhares de portadores de doenças crônico-degenerativas (como o mal de Parkinson, de que o Pontífice também padecia), como a todos aqueles que sofriam de males menos graves. Poderiam indagar: se o Papa está conduzindo a Igreja, com a mesma determinação de sempre, por que eu, mais saudável e com menos responsabilidades, não posso guiar igualmente meus destinos? Até o fim, apesar de todas as dificuldades físicas, o Papa João Paulo conquistou a admiração e o respeito

3 3 crescentes de seus semelhantes. Onde quer que pisasse, em países de maioria católica, protestante, ortodoxa ou muçulmana, e até mesmo atéia, o gesto humilde de beijar o solo era uma forma inusitada para um papa de reverenciar o povo e a terra que o hospedava. Nunca um Sumo Pontífice, ou qualquer outro líder da humanidade, visitou tantos países, tocou tantas almas sequiosas de reconhecimento e justiça social. Nunca a ONU, em seus 60 anos de existência, testemunhou recepções tão calorosas quanto às recebidas por João Paulo II; nunca uma voz era tão aguardada para falar em nome da paz mundial em todos os acontecimentos desses últimos 25 anos; nunca a humanidade teve um líder moral com tamanha envergadura, com tanta dignidade, grandeza que se amplia quando lembramos de sua origem humilde. Nobres Pares, o mais alto representante da Igreja Católica, personificando seu exército de mais de um bilhão de seguidores, levou às últimas conseqüências o verdadeiro

4 4 sentido da irmandade cristã. Em nome da Igreja pediu desculpas àqueles que foram maltratados por ela. Retratouse publicamente pelos excessos cometidos contra os negros e o índios da América; pediu perdão pelas campanhas movidas contra os judeus e os muçulmanos; estimulou e conferiu aos leigos de ambos os sexos, nas dioceses e nas paróquias, dezenas de funções que antes eram exclusivas dos sacerdotes e dos diáconos. Que dizer da caridade evangélica deste papa sem igual? Perdoou seu algoz, o turco Mehmet Ali Agca, que o atingiu quase mortalmente. Foi o 1º mandatário da Igreja a visitar uma sinagoga e uma mesquita. Foi pioneiro também em se aproximar dos irmãos ortodoxos. Fez gestos de reaproximação para com os evangélicos ao iniciar conversações sobre a doutrina da justificação, principal estopim do movimento liderado por Lutero. Se já não bastasse, compartilhou ainda impensáveis momentos com reclusos de um presídio romano.

5 5 Senhor Presidente, a importância de João Paulo II para esse quarto de século não deve se restringir ao âmbito da Igreja Católica. Pouco importam alguns rótulos que lhe são atribuídos, tais como a de que era um liberal em matéria econômica, política e social, e um conservador nos campos da Moral e da Teologia. O legado do Bispo de Roma que fica é a de um ser humano generoso, participante -- porque não dizer à frente de seu tempo -- e preocupado com o destino da humanidade. Dele fixaremos, por fim, a imagem do guia espiritual que soube superar suas limitações físicas e conduzir até o fim seu imenso rebanho. A frase atribuída a John Lennon de que os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo, talvez só coubesse antes do papado do notável sacerdote polonês. Este, mais do qualquer outro ocupante da cátedra de São Pedro jamais o fizera, levou o nome de Deus a todos os rincões do Mundo. Assim como o apóstolo Paulo no início do Cristianismo, João Paulo II viveu intensamente o

6 6 ensinamento bíblico de peregrinar pelo mundo e levar a Boa Nova a toda criatura. Suas andanças pastorais à cerca de 130 países impregnaram de fé e esperança a humanidade. Foi o Peregrino da Paz. Em ambos os sentidos: no de viajante apostólico incansável e no de ser único, singular, excepcional, tal como seu inflamado coração, repleto do fogo do Espírito Santo, que só se abrandava ao transmitir a mensagem salvadora a seus irmãos. Senhor Presidente, caríssimos colegas, foi-se Karol Wojtila, o desde já inesquecível Papa João Paulo II, amado por todos, em especial por nós brasileiros. Tivemos o privilégio de vê-lo bem de perto em quatro ocasiões, em 1980, 1982, 1991 e 1997 honraria que poucas nações podem se orgulhar de ostentar. Aqui, neste país-continente mestiço, exemplo vivo da essência cristã, o Sumo Pontífice testemunhou vigorosas e autênticas manifestações da crença de nosso povo como jamais presenciara. Sua presença carismática gerou verdadeiras comoções de fé. A

7 7 mais impressionante, sem dúvida, foi a de sua despedida do solo brasileiro, em 1997, no Rio de Janeiro. Nessa ocasião, mais de 2 milhões de pessoas viram maravilhados o Papa abraçar a freira que burlara a segurança; ouviram embevecidos a Ave Maria do Sertão, cantada por Fafá de Belém; juntaram suas vozes emociadas à de Roberto Carlos e seu Jesus Cristo ; e entoaram em êxtase espiritual a música especialmente composta para o santo visitante. Inesquecível! Se para as demais nações ele será lembrado como o Papa da Paz, o Apóstolo Paulo da Era Moderna, ou ainda como o Viajante da Boa Vontade, para nós brasileiros será sempre o nosso João de Deus. A benção, João de Deus, nosso povo lhe abraça, sentirá saudade, mas não tristeza, pois sua lembrança e sua mensagem permanecerão gravadas em nossas almas. Descanse em paz, amado João de Deus! Muito obrigado.

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