Supremo Tribunal Federal

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1 Ementa e Acórdão DJe 08/08/2012 Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 14 05/06/2012 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS ESPÍRITO SANTO RELATOR PACTE.(S) IMPTE.(S) PROC.(A/S)(ES) COATOR(A/S)(ES) : MIN. DIAS TOFFOLI :SOLIMAR BARBOSA DE OLIVEIRA :DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EMENTA Habeas corpus. Roubo majorado pelo concurso de agentes. Artigo 157, 2º, inciso II, do Código Penal. Delito cometido em concurso com menor inimputável. Pretendida exclusão de causa de aumento de pena. Irrelevância. Incidência da majorante. Ordem denegada. 1. O fato de o crime ter sido cometido por duas pessoas, sendo uma delas menor inimputável, não tem o condão de descaracterizar o concurso de agentes, de modo a excluir a causa de aumento prevista no inciso II do 2º do art. 157 do Código Penal. 2. Ordem denegada. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do, sob a Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em denegar a ordem de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Brasília, 5 de junho de MINISTRO DIAS TOFFOLI Relator documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

2 Relatório Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 14 05/06/2012 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS ESPÍRITO SANTO RELATOR PACTE.(S) IMPTE.(S) PROC.(A/S)(ES) COATOR(A/S)(ES) : MIN. DIAS TOFFOLI :SOLIMAR BARBOSA DE OLIVEIRA :DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RELATÓRIO O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI ( Habeas corpus, sem pedido de liminar, impetrado pela Defensoria Pública da União em favor de Solimar Barbosa de Oliveira, apontando como autoridade coatora a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem no HC nº /ES impetrado àquela Corte, Relator o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Sustenta a impetrante a impossibilidade de caracterização do concurso de pessoas, quando o agente em concurso é inimputável (fl. 3 da inicial grifos conforme o original). Argumenta, para tanto, que: A Exposição de Motivos do Código Penal de 1940 estabelece que a responsabilidade pressupõe, no autor do crime, contemporaneamente à ação ou omissão, a capacidade de entendimento e a liberdade de vontade. E mais: Não cuida o projeto dos imaturos (menores de 18 anos), senão para declará-los inteira e irrestritamente fora do direito penal (...). Na Exposição de Motivos do projeto que veio a ser convertido na Lei nº 7.209, de 1984, ficou estabelecido o seguinte: Manteve o Projeto a inimputabilidade penal ao menor de 18 (dezoito) anos. Trata-se de opção apoiada em critérios de Política Criminal (...). Dessa forma, o nosso Código Penal, quando tem como referencial a reunião de pessoas para o fim de cometer crimes, só pode tê-lo, de acordo com a sua filosofia, quanto a pessoas imputáveis. documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

3 Relatório Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 14 HC / ES Logo, seguindo essa linha de pensamento, podemos extrair que, nos crimes de furto e roubo qualificados (Cód. Penal, art. 155, 4º, IV, e 157, 2º, II), o concurso de duas ou mais pessoas presume pessoas imputáveis; consequentemente, no concurso de duas pessoas, se uma é inimputável, concurso não haverá, não podendo nesse caso reputar-se qualificados tal furto e tal roubo. ( ) Acrescente-se que o vínculo subjetivo entre agentes e partícipes para a consecução do resultado criminoso constitui um dos requisitos essenciais para a caracterização do concurso de pessoas. Tal vínculo nada mais é do que a consciência entre os vários integrantes de que cooperam numa ação criminosa para a consecução de um resultado delituoso. Ora, a exigência de tal consciência afasta a possibilidade de o inimputável contribuir para a caracterização do concurso. Afinal, o inimputável não ostenta consciência relevante para quaisquer fins penais. Sob outro viés, não é admissível que, como pretende a autoridade coatora, caracterize-se o concurso com inimputável sob o argumento de que a norma incriminadora teria natureza objetiva e dispensaria que todos os agentes fossem capazes. Na prática, tal argumento conduz à caracterização do concurso apenas a partir da contribuição material para o delito, descurando do requisito essencial de existência de vínculos de consciência entre os agentes e partícipes. Assim, não há dúvidas de que o agente inimputável não pode ser contado para a caracterização do concurso de pessoas (fls. 3/4 da inicial). Por essas razões, entende que deve ser rechaçado o entendimento esposado pela autoridade coatora, que reputou suficiente, para a caracterização da causa de aumento do concurso de pessoas, o fato de o delito ter sido cometido na companhia de um adolescente (fl. 4 da inicial). Requer a concessão da ordem a fim de que seja decotada a causa de aumento decorrente do concurso de pessoas, reduzindo-se a pena definitiva 2 documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

4 Relatório Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 14 HC / ES aplicada (fl. 5 da inicial). Por não haver pedido de liminar a ser apreciado e estando os autos devidamente instruídos com as peças necessárias à perfeita compreensão da controvérsia, dispensei as informações da autoridade coatora. O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. Edson Oliveira de Almeida, opinou pela denegação da ordem. É o relatório. 3 documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

5 Voto - MIN. DIAS TOFFOLI Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 14 05/06/2012 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS ESPÍRITO SANTO VOTO O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI ( Conforme relatado, volta-se esta impetração contra ato da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem no HC nº /ES impetrado àquela Corte, Relator o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Narra a impetrante, na inicial, que: O paciente, nascido em 18/01/1988, foi denunciado, porque, no dia 18/10/2008, teria praticado os delitos previstos no art. 157, 2º, inciso II, do Código Penal, e no art. 1º da Lei 2.252/54. A denúncia foi recebida em 06/11/2008. Em 28/04/2009, prolatou-se sentença. O paciente foi absolvido da prática do delito previsto no art. 1º da Lei 2.252/54 e veio a ser condenado pela prática do delito previsto no art. 157, 2º, inciso II, do Código Penal, à pena de 6 anos de reclusão, para cumprimento em regime inicial semiaberto. Analisadas as circunstâncias judiciais, fixou-se a penabase em 4 (quatro) anos e 6 (meses) de reclusão. Consignou-se, dentre outros aspectos, que as circunstâncias do crime seriam prejudiciais, porque praticado na presença de um menor de idade. Em virtude da causa de aumento decorrente do concurso de agentes, a sanção foi aumentada em 1/3, sendo definitivamente fixada em 6 (seis) anos de reclusão. Acusação e defesa interpuseram apelação. O TJES negou provimento ao recurso da acusação, mantendo a absolvição da prática do delito previsto no art. 1º da Lei 2.252/54. De outro lado, negou provimento ao recurso da defesa, mantendo a condenação pela prática do delito previsto no art. 157, 2º, inciso II, do Código Penal, e a pena fixada. documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

6 Voto - MIN. DIAS TOFFOLI Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 14 HC / ES A defesa impetrou o HC /ES no STJ, postulando a absolvição do paciente, por ausência de provas produzidas em Juízo que apontassem para a condenação, e, alternativamente, o afastamento da causa de aumento referente ao concurso de pessoas, pelo fato de o delito ter sido praticado juntamente com inimputável. Sobreveio acórdão que denegou a ordem (fl. 2 da inicial). Eis a ementa do julgado proferido pelo Superior Tribunal Justiça: HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. PENA: 6 ANOS DE RECLUSÃO EM REGIME SEMIABERTO. NEGATIVA DE AUTORIA. REVOLVIMENTO FÁTICO- PROBATÓRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA DO HABEAS CORPUS. DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS EM CONSONÂNCIA COM AQUELES PRODUZIDOS NA FASE INQUISITORIAL. INCIDÊNCIA DA MAJORANTE RELATIVA AO CONCURSO DE PESSOAS. DELITO COMETIDO EM CONCURSO COM MENOR INIMPUTÁVEL. IRRELEVÂNCIA. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA. 1. É inviável, na via estreita do Habeas Corpus, revisar matéria fático-probatória com a finalidade de obter pronunciamento judicial que implique a absolvição do paciente, sobretudo se a instância ordinária, soberana na análise fática dos autos, frisou que a autoria restou evidenciada, bem como a materialidade do crime. 2. Além disso, infere-se da sentença e do acórdão que a condenação não foi fundamentada em provas produzidas exclusivamente na fase policial. 3. O fato de o delito ter sido cometido na companhia de um adolescente não impede a incidência da majorante relativa ao concurso de pessoas, pois a norma incriminadora tem natureza objetiva, não havendo a necessidade de que todos sejam capazes, nem da identificação dos demais co-autores. 4. Ordem denegada, em conformidade com o parecer 2 documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

7 Voto - MIN. DIAS TOFFOLI Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 14 HC / ES ministerial (fls. 10 do anexo 8). Essa é a razão pela qual se insurge a impetrante neste writ. De início, ressalto que a impetração restringe-se a atacar, tão somente, a manutenção da causa de aumento decorrente do concurso de pessoas. Feito este registro, anoto que a decisão proferida pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça não evidencia nenhuma ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia que justifique a concessão da ordem. Com efeito, o julgado proferido por aquela Corte encontra-se suficientemente motivado, restando justificado o convencimento formado. Ademais, conforme bem acentuou o Ministro Napoleão em seu voto, o fato de o delito ter sido cometido na companhia de um adolescente não impede a incidência da majorante relativa ao concurso de pessoas, pois a norma incriminadora tem natureza objetiva, não havendo a necessidade de que todos sejam capazes, nem da identificação dos demais co-autores (fl. 7 do anexo 8). Ao discorrer sobre o concurso de pessoas no delito de roubo, Cezar Roberto Bitencourt afirma que, como no furto, é a concorrência de duas ou mais pessoas na prática do crime, ainda que qualquer delas seja inimputável que pode tipificar esta majorante de roubo (Código Penal Comentado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, p. 671). No mesmo sentido é o magistério de Rogério Greco. Diz o autor, em obra de grande prestígio, que, para caracterizar o concurso de agentes, basta que duas ou mais pessoas concorram para a prática delituosa (...), mesmo nas hipóteses em que o crime tenha sido supostamente cometido na companhia de inimputável (Código Penal Comentado. 6 ed. Rio de Janeiro: Impetus, p. 461). 3 documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

8 Voto - MIN. DIAS TOFFOLI Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 14 HC / ES De outra parte, da redação do inciso II, 2º, do art. 157 do Código Penal, não se extrai nenhum elemento específico em relação à condição pessoal dos agentes para fazer incidir a causa de aumento de pena referente ao concurso de pessoas. O legislador ordinário exigiu, tão somente, o concurso de duas ou mais pessoas. Nesse contexto, comungando dos ensinamentos doutrinários elencados, entendo que não tem o condão de descaracterizar o concurso de agentes, de modo a excluir a causa de aumento prevista no inciso II do 2º do art. 157 do Código Penal, o fato de o crime ter sido cometido por duas pessoas, sendo uma delas menor inimputável. Com essas considerações, voto pela denegação da ordem. É como voto. 4 documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

9 Debate Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 14 05/06/2012 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS ESPÍRITO SANTO DEBATE O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO É um tema novo. Eu estou denegando a ordem, porque eu entendo que a questão relativa a ser inimputável ou não, não retira a natureza fática de ter tido coautoria. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO Em nota do nosso Delmanto não há precedente. É um tema novo. Eu não localizei precedente. O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Da tese, não é? O fato de o crime ter sido cometido por duas pessoas, sendo uma delas menor inimputável, não tem o condão de descaracterizar que ele foi cometido por duas pessoas. O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - É, mutatis mutandis, a mesma coisa de dizer que não há crime de corrupção de menor, porque o menor já é corrompido. documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

10 Debate Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 14 HC / ES No que diz respeito à quadrilha, por exemplo, o menor é contado como partícipe. 2 documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

11 Voto - MIN. LUIZ FUX Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 14 05/06/2012 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS ESPÍRITO SANTO VOTO O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Presidente, acho que o raciocínio é esse. O inimputável é contado para fins numéricos. O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Se Vossa Excelência entender interessante acrescentar alguma coisa, eu estou de acordo com a sua posição. documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

12 Voto - MIN. MARCO AURÉLIO Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 14 05/06/2012 PRIMEIRA TURMA HABEAS CORPUS ESPÍRITO SANTO O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO Do Tribunal de Alçada Criminal, do extinto Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo. Do qual fez parte o nosso colega Ricardo Lewandowski. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO Incide a qualificadora, ainda que o segundo coautor seja menor inimputável. Observa-se a norma, ainda que o coautor não tenha sido identificado, desde que certa a sua existência. O princípio básico é único: onde a lei não distingue, não cabe ao intérprete distinguir. A majorante apenas requer a participação de mais de uma pessoa no crime. A participação, portanto, conjunta. Se há o concurso de duas ou mais pessoas, cabe acioná-la. Exatamente. É nessa linha que eu estou indo. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO Há quem diga que, às vezes, os menores são mais açodados do que o dito criminoso profissional. Não tem compromisso. O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Então, por exemplo, isso é documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

13 Voto - MIN. MARCO AURÉLIO Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 14 HC / ES uma realidade. Vossa Excelência acompanha. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO Acompanho. O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Em delitos, por exemplo, de subtração com violência, o menor, por temor, mata. O profissional, não. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO Não tinha enfrentado, ainda, a matéria. Mas, em quadrilha, há o posicionamento da possibilidade. O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Há uma estatística, aqui, nos delitos de subtração com violência. O menor, por temor, mata. E o profissional não mata, só subtrai. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO É torcer para ser roubado por um profissional. 2 documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número

14 Decisão de Julgamento Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 14 PRIMEIRA TURMA EXTRATO DE ATA HABEAS CORPUS PROCED. : ESPÍRITO SANTO RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI PACTE.(S) : SOLIMAR BARBOSA DE OLIVEIRA IMPTE.(S) : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Decisão: A Turma denegou a ordem de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Unânime. Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. 1ª Turma, Presidência do Senhor Ministro Dias Toffoli. Presentes à Sessão os Senhores Ministros Marco Aurélio, Luiz Fux e Rosa Weber. Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas. Carmen Lilian Oliveira de Souza Secretária da Primeira Turma Documento assinado digitalmente conforme MP n /2001 de 24/08/2001, que institui a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico sob o número