O balé por trás das cortinas 1. Fernanda CALDO 2 Alexandre GUIMARÃES 3 Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP

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1 O balé por trás das cortinas 1 Fernanda CALDO 2 Alexandre GUIMARÃES 3 Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP RESUMO Resultado de um processo de criação, de construção técnica, cultural, estética elaborado pelo fotógrafo que dá margem a um processo de construção da realidade para cada receptor, a fotografia gera sentimentos que podem ser diferentes de um receptor para outro. O olhar do fotógrafo pode ser um, mas não necessariamente todos terão a mesma visão e sensação ao defrontar-se com aquele registro. A partir da seguinte premissa, o presente trabalho buscou apresentar os bastidores do ballet clássico, pouco conhecido do grande público, por meio da linguagem fotodocumental em que se apresenta outro olhar sobre o mundo do ballet clássico, estabelecendo uma relação entre a dualidade existente no palco e nos bastidores. Na captura fotográfica, pretendeu-se o diálogo metalinguístico entre as linguagem fotográfica e a linguagem da pintura. PALAVRAS-CHAVE: ballet; fotodocumentarismo; diálogo; metalinguagem. 1 INTRODUÇÃO O presente projeto nasceu de uma pesquisa fotodocumental sobre o cotidiano dos bastidores de bailarinas da Escola de Dança Rita Camilo, em Guarulhos, uma vez que, para o grande público, poucos são os conhecimentos sobre o ballet clássico e menores ainda são os conhecimentos sobre a vida das bailarinas e bailarinos por trás dos palcos e das glamourosas cortinas. Muitos já assistiram ou pelo menos viram fotos e vídeos de belas apresentações de ballet, mas, e o que ninguém vê? E o que as salas de aula, camarins e coxias escondem do público? O ballet não é somente brilho e perfeição sobre os palcos. Antes de todo o espetáculo existem muitas situações ocultas ao público: ensaios, erros, preparação, choros, risadas, tombos, contusões, aplausos e outras muitas situações que somente quem vive e respira ballet conhece. Por isso, a decisão foi trazer um pouco desse mundo pouco conhecido aos olhos dos leitores sintetizado em um imagem singular, de caráter fotodocumental, que represente um pouco mais das emoções dos bastidores da dança. 1 Trabalho submetido ao XXIII Prêmio Expocom 2016, na Categoria Jornalismo, modalidade Fotografia Artística. 2 Recém-graduada do Curso de Jornalismo, fernanda.gc23@hotmail.com. 3 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo, alexandre.guimaraes@mackenzie.br. 1

2 A escolha da Escola de Dança fotografada deu-se pelo conhecimento do trabalho ali realizado e pela convivência pessoal existente durante alguns anos. A academia Rita Camilo, em Guarulhos, é a maior escola da cidade e não tem menor importância comparada a outras grandes e renomadas escolas, visto que muitas bailarinas profissionais iniciam suas aulas em pequenas escolas próximas às suas casas. Há poucas obras publicadas sobre o assunto, dificultando pesquisas e até mesmo impossibilitando a expansão do assunto no mundo das artes. Para Siqueira (2006, p. 05), [...] além da expressão da sociedade e da cultura, a dança cênica, é arte, portanto simbólica, e porta significações que transcendem o valor estético espetacular. O tema escolhido, fotodocumentalmente, é importante, uma vez que é interessante mostrar os bastidores de um universo inicialmente pouco conhecido e possibilitar que os leitores não iniciados compreendam mais sobre um outro lado do ballet, já que poucos conhecem essa dança e não possuem contato com ela, justamente por ser um assunto pouco explorado, embora a área de jornalismo cultural possa divulgá-la, mas não conceda, costumeiramente, espaço para essa modalidade de dança. É facilmente perceptível, principalmente no Brasil, que a dança tem pouco reconhecimento no ponto de vista jornalístico. Poucas são as notícias em jornais, propagandas de apresentações e até mesmo referências bibliográficas sobre o assunto. Falta interesse por parte das mídias para melhor apresentar a dança aos amantes da cultura e arte. Em jornais, por exemplo, dificilmente se vê uma notícia de dança tendo destaque ou até mesmo sendo capa. Uma pesquisa nas edições de 2008 do Segundo Caderno do jornal O Globo, um dos principais do país, comprova cientificamente o que o leitor mais atento, especificamente o que acompanha o noticiário de dança, pode intuir empiricamente: a seção de cultura e arte dedicou pouquíssimas capas e matérias relacionadas à dança. Foram quarto apenas, contra 64 capas de música, 76 de cinema e 34 de teatro. Menos até que artes plásticas e música clássica, contempladas com muito mais espaço; 39 capas para a primeira e 14 para a segunda, ao longo do mesmo ano. Nas páginas internas do jornal, a proporção se repete, revelando que a dança foi a prima pobre da área artística (NORA, 2010, p. 41). Pode-se entender que a dança tem uma desvantagem em relação a outros assuntos no ramo cultural. De todos, está entre os menos comentados e noticiados. A dança passou a ser acompanhada de perto, com uma desvantagem em relação ao cinema, à música ou às artes plásticas e à literatura: 2

3 diferentemente dessas outras áreas, havia pouco registro do que se fazia até então. O produto artístico não estava perpetuado em mídias como discos, livros ou película. Um jornalista que começasse a se interessar pelo tema já iniciava o trabalho tendo que correr atrás do prejuízo: críticos de cinema tinham praticamente tudo o que se fez desde a sua invenção à mão; os de música dispunham de diversas gravações; os de literatura, de um passado imenso e livros a seres descobertos. Já os de dança, sem nenhum arquivo no Brasil onde pesquisar, saíram em cena ávidos por tudo a que pudessem assistir, ler, aprender (NORA, 2010, p. 47). Poucos são os livros e pesquisas publicados no Brasil sobre o ballet e sua história. Em livrarias, sites, sebos e bibliotecas é muito difícil encontrar o tema, dificultando ainda mais o conhecimento de outras pessoas sobre o assunto. 2 OBJETIVO O presente trabalho buscou apresentar os bastidores do ballet clássico, pouco conhecido do grande público, por meio da linguagem fotodocumental em que se apresenta outro olhar sobre o mundo do ballet clássico, estabelecendo uma relação entre a dualidade existente no palco e nos bastidores, comum para quem vive no mundo da dança. Na captura fotográfica, pretendeu-se o diálogo metalinguístico entre as linguagens, não obstante ao fato de que O processo de construção da recepção é a produção da foto propriamente dita por parte do fotógrafo. Já o processo de construção da interpretação é a recepção da foto por parte de diferentes receptores (KOSSOY, 2002, p. 02). 3 JUSTIFICATIVA A fotografia é resultado de um processo de criação, de construção técnica, cultural, estética elaborado pelo fotógrafo e sempre dá margem a um processo de construção da realidade. Para Boris Kossoy (2002, p. 20), A fotografia é uma representação a partir do real, é um documento do real. Cada receptor pode ver e interpretar a fotografia de uma forma, assim como os sentimentos podem ser diferentes de um para o outro. O olhar do fotógrafo pode ser um, mas não necessariamente todos terão a mesma visão e sensação ao defrontar-se com aquele registro. É uma história de tensões e rupturas, uma história do aparecimento, superação e rompimento de rotinas e convenções profissionais, uma história de oposições entre a busca da objetividade e a ascensão da 3

4 subjetividade e do ponto de vista, entre o realismo e outras formas de expressão, entre o matizado e o contrastante (SOUSA, 2004, p. 27). Fotografias podem registar uma infinidade de temas, basta o fotógrafo ter um sentimento, um objetivo sobre determinado momento e o desejo de eternizá-lo. Dentre esse rol temático, as fotografias podem gerar uma gama de sentimentos no receptor, tendo levando em consideração, de acordo com Manguel, que: Não sei se é possível algo como um sistema coerente para ler as imagens, similar àquele que criamos para ler a escrita (um sistema implícito no próprio código que estamos decifrando). Talvez, em contraste com um texto escrito no qual o significado dos signos deve ser estabelecido antes que eles possam ser gravados na argila, ou no papel, ou atrás de uma tela eletrônica, o código que nos habilita a ler uma imagem, conquanto impregnado por nossos conhecimentos anteriores, é criado após a imagem se constituir de um modo muito semelhante àquele com que criamos ou imaginamos significados para o mundo à nossa volta, construindo com audácia, a partir desses significados, um senso moral e ético, para vivermos (2001, p. 33). Tendo em vista que uma enunciação advém de outra enunciação, sabe-se que não há a possibilidade de uma cultura pura e, dessa forma, de um texto puro. Portanto, de acordo com Bakthin, percebe-se que nesse alargamento textual concede-se o diálogo como vinculado à multiplicidade de culturas, assim: O encontro dialógico entre duas culturas não lhe acarreta a fusão, a confusão; cada uma delas conserva sua própria unidade e sua totalidade, mas se enriquecem mutuamente (1992, p. 368). A anunciação visual, no caso pela linguagem fotográfica, flagrou o instante de uma bailarina estabelecendo um dialogo com a linguagem visual pictórica, que também registrou, não com a luz, mas com tintas e pincel, um instante de outra bailarina estabelecendo, consequente, um diálogo entre linguagens visuais, entre culturas, por meio de um discurso metalinguístico. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS Para o projeto foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema, pesquisa sobre todo o processo da construção da informação e da documentação fotográfica na visão de diferentes autores sob o ponto de vista de diferentes linguagens. Firmado o contato com a responsável pela Escola de Dança, obteve-se livre aceso às aulas para o desenvolvimento do trabalho fotográfico realizado em preto e branco com 4

5 câmera fotográfica Nikon D3100 com lente 65mm, material do laboratório de fotografia da Universidade. Essa lente foi escolhida com orientação de profissionais, pois com ela eu tive a oportunidade de fazer fotos de grandes e pequenos planos, sem ter que ficar trocando de lentes de acordo com o objetivo da foto. 5 DESCRIÇÃO DO PROCESSO Um processo fotográfico sempre se inicia a partir de uma motivação externa ou interna, essa mesma motivação acaba por ser impressa junto com as imagens registradas. A produção do projeto início em abril de dois mil e quinze, quando do primeiro contato com a proprietária da Escola de Dança. Em seguida houve todo o processo de embasamento acadêmico e cultural para a captura de imagens. No segundo semestre de dois mil e quinze, as sessões de captação semanal de imagem de turmas iniciantes e avançadas iniciaram e percorreram, além dos ensaios, os camarins e coxias. Após algumas sessões e com grande número de fotografias, iniciou-se o processo de pré-seleção e pré-edição, catalogando, primeiramente, as imagens em pastas nomeadas como: pés; mãos; retratos; movimentos; padedês; fotos em grupo e detalhes. A próxima etapa foi destinada a selecionar as fotografias mais significativas, aquelas que realmente apresentassem um discurso dialógico metalinguístico. Nesse processo, todas as fotografias foram impressas para que pudessem ser analisadas lado a lado. Após a seleção da fotografia definitiva, esta foi retrabalhada no Adobe Photoshop CS6 para equilibrar as questões relativas à tonalidade e ao contraste. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, KOSSOY, B. Realidade e Ficções na Trama Fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, MANGUEL, A. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo: Companhia das Letras, NORA, S. (org). Temas para a dança brasileira. São Paulo: Edição Sesc SP, SIQUEIRA, D. C. O Corpo, Comunicação e Cultura: a dança contemporânea em cena. Campinas, SP: Autores Associados, (Coleção Educação Física e Esportes) SOUSA, J. P. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Chapecó: Argos; Florianópolis: Letras Contemporâneas,