Humanização da assistência ao parto natural: uma revisão integrativa
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- Rebeca Godoi Fagundes
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1 Humanização da assistência ao parto natural: uma revisão integrativa Humanization nursing care to natural childbirth PORTO, Any Alice Silva¹; COSTA, Lucília Pereira da²; VELLOSO Nádia Aléssio³ ¹Graduada em, Montes Claros, MG; ²Graduada em, Montes Claros, MG; ³Doutora em Bioquímica Toxicológica, Graduada em Farmácia e Bioquímica, docente na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus universitário de Sinop, MT. Resumo A humanização hoje é um termo bastante discutido, pois perpassa por valores e práticas que envolvem as relações entre seres humanos. O cuidado humanizado deve ser centrado nas necessidades do cliente, não apenas em procedimentos e normas técnicas. O objetivo desse trabalho é analisar e refletir sobre a assistência dos profissionais da enfermagem à mulher em parto natural no contexto da humanização. Para tanto, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, que tem como característica o rigor metodológico, no qual todas as etapas da pesquisa são minuciosamente descritas. Os artigos foram obtidos através de bases de dados eletrônicas como Lilacs e SciELO, no período compreendido entre 2005 e 2011, sendo utilizados os descritores parto humanizado, humanização da assistência e parto natural. A partir dos critérios de inclusão e exclusão, doze publicações foram relacionadas no estudo. A partir destes artigos, foram identificadas e discutidas quatro categorias: conceitos de parto natural, normal e humanizado; o conhecimento, a compreensão ou a reflexão sobre a humanização da assistência na perspectiva dos enfermeiros e equipes de saúde; as dificuldades de se implantar um modelo de assistência ao parto de forma humanizada; e a percepção dos profissionais acerca dos cuidados oferecidos durante o processo de nascimento e avaliação se os procedimentos adotados ocorrem de forma humanizada. A partir desta revisão integrativa da literatura será possível propiciar aos profissionais da saúde uma melhor compreensão a respeito das práticas de humanização da assistência ao parto natural Palavras-chave: Parto Humanizado. Humanização da Assistência. Parto Natural. Abstract Humanization is a term widely discussed nowadays, since permeates the values and practices that involve the relationship between people. The humanized care should be focused on customer needs, not only in procedures and standards technical. The objective of this study is to analyze and reflect about the care of nursing professionals to women in natural childbirth in context of humanization. Therefore, an integrative literature review was conducted, which is characterized by methodological rigor, in which all stages of the research are described in detail. The articles were obtained from indexed databases Lilacs and SciELO, in the period between 2005 and 2011, using humanized childbirth, humanize and natural childbirth as descriptors. From inclusion and exclusion criteria, twelve publications were listed in the study. From these articles four categories were identified and discussed: concepts of natural, normal and humanized childbirth; knowledge, understanding or reflection on the quality care from the perspective of nurses and health workers; the difficulties of care model implementation based on humanization; and the professionals perception about the care offered during the birth process and evaluation whether the procedures adopted occurs in a humanized way. From this integrative review will be possible to provide a better understanding to health professionals about the practices regarding humanization of natural childbirth. Key Words: Labor Humanized. Humanized Health Care. Natural Childbirth. Introdução Correspondência para: Profª Drª Nádia Aléssio Velloso na.velloso@gmail.com Telefones: +55(66) Avenida Alexandre Ferronato, nº 1200, Setor Industrial Sinop, MT CEP O parto é o conjunto dos fenômenos mecânicos ou fisiológicos que culminam na saída do feto e de seus anexos do organismo materno. Neste contexto e, no que se refere à assistência à mulher neste momento importante, o parto, entende-se que esta assistência deve ser humanizada, designando assim uma forma de cuidar mais atenta, com vistas a melhorias no atendimento (Dias, 2006). De acordo com Marque, Dias e Azevedo (2006): A assistência Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.1, p 12-19,2015
2 humanizada envolve um conjunto de práticas e atitudes com o objetivo de favorecer o parto e o nascimento saudável, bem como a prevenção da morbi-mortalidade materna e perinatal. Nas políticas públicas na área de Saúde da Mulher, considera-se que humanização da assistência, defendendo uma nova perspectiva em que os cuidados prestados devem ser efetivamente benéficos, as intervenções desnecessárias devem ser evitadas e a privacidade bem como a autonomia materna devem ser preservadas. A assistência hospitalar ao parto deve ser segura, garantindo para cada mulher os benefícios dos avanços científicos, mas fundamentalmente, deve permitir e estimular o exercício da cidadania feminina, resgatando a autonomia da mulher no parto (Brasil, 2001). Ressalta-se ainda que, segundo a Organização Mundial de Saúde (1996), algumas pesquisas relacionadas ao parto natural preconizam que o objetivo da assistência humanizada é promover o mínimo de intervenções durante o parto, mas garantir segurança, com a finalidade de obter-se tanto mães quanto crianças saudáveis, ou seja, deve haver uma razão significativa para que haja uma intervenção sobre o processo fisiológico. Diante do exposto, a humanização da assistência, nas suas muitas versões, expressa uma mudança na compreensão do parto como experiência humana e, para quem o assiste, uma mudança no que fazer diante do sofrimento do outro humano (Diniz, 2005). Logo, a pergunta norteadora desta revisão de literatura é: como deve ser feita a assistência da enfermagem à mulher para que o parto ocorra de forma humanizada? O profissional de enfermagem deve se conscientizar da sua importância na assistência à parturiente e ao neonato durante todo o processo gravídico puerperal, educando, promovendo a saúde, prevenindo e diagnosticando intercorrências na gravidez durante o pré-natal. A equipe de enfermagem deve ser parte integrante da equipe de saúde na assistência integral prestada à mulher, usando o seu conhecimento técnico científico em conjunto com seus preceitos éticos de compromisso com a profissão e com a vida humana, proporcionando uma assistência digna e com qualidade (Marque; Dias; Azevedo, 2006). Sabe-se que a humanização do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde é uma das metas do Ministério da Saúde. O programa de Humanização do Pré-Natal e do Nascimento estabeleceu os princípios da atenção a ser prestada nos diferentes níveis de atenção à saúde pública e garantiu à mulher o direito de dar à luz recebendo uma assistência humanizada e de boa qualidade (Brasil, 2001). Assim, a presente pesquisa tem como objetivo avaliar o conhecimento e a percepção da equipe de saúde acerca da humanização da assistência à parturiente e analisar se os cuidados prestados estão de acordo com o que é preconizado na atualidade. Com estes preceitos em mente, esta pesquisa bibliográfica tem como finalidade fornecer subsídios aos profissionais da acerca do ideal de práticas humanizadoras, ressaltando a importância deste profissional para a implementação destas práticas. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, baseando-se em Mendes, Silveira e Galvão (2008), a qual consiste na construção de uma análise ampla da literatura, contribuindo para discussões sobre métodos e resultados de pesquisas, assim como reflexões sobre a realização de futuros estudos. Ainda segundo os autores acima este método tem a finalidade de reunir e sistematizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado. Portanto, para a elaboração desta revisão integrativa, foram percorridas seis etapas distintas, que devem ser claramente descritas, a saber: 1) identificação do tema e da questão de pesquisa, 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/amostragem, 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos, 4) avaliação dos estudos incluídos na revisão, 5) interpretação dos resultados e 6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento. A etapa de identificação do tema e da questão de pesquisa deve ser definida a partir de um problema de relevância e embasada nas questões vivenciadas na prática clínica. Desta forma, o tema escolhido foi a humanização e a qualidade das orientações e informações sobre o parto humanizado prestados pelos enfermeiros durante o puerpério. Muito se tem discutido sobre humanização do parto e nascimento, mas
3 pouco se tem feito para sua real implementação. Pode ser notado que, em alguns casos é o despreparo dos profissionais da enfermagem e certa resistência para a mudança no prestar assistência à parturiente que faz com que o serviço seja feita de forma incorreta. Visando essa humanização, algumas condutas devem ser estimuladas durante o parto. Entretanto, o que se observa, na maioria dos casos, é que estas medidas não vêm sendo respeitadas nos hospitais e maternidades. A partir do exposto, surgiu assim a seguinte questão norteadora: Como deve ser feita a assistência da enfermagem à mulher para que o parto ocorra de forma humanizada? Para o desenvolvimento da revisão da literatura foram utilizadas bases de dados como Scientific Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs). A definição dos descritores utilizados para realizar a pesquisa, segundo os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), foram: humanização da assistência, parto natural e parto humanizado. Como critérios de inclusão, foram utilizados artigos disponíveis nos idiomas português e inglês, além de monografias, dissertações e teses, publicados entre 2005 e Textos incompletos e que não atendiam aos critérios inclusivos, que desviavam do tema proposto e que não estivessem disponíveis na integra on-line foram utilizados como critérios de exclusão. A busca bibliográfica a partir dos descritores resultou em 32 artigos e 01 tese de doutorado que atendiam ao tema da pesquisa. Destes, foram excluídos 21 artigos, pois não se enquadravam aos critérios de inclusão préestabelecidos, restando, portanto, 11 artigos e 01 tese de doutorado. Na tabela 1 encontram-se relacionados os trabalhos utilizados para esta revisão. Os 11 artigos científicos foram distribuídos entre seguintes periódicos: (1) Revista Latino Americana de, (1) Revista de UNISA, (1) Escola Anna Nery Revista de, (1) Revista de UERJ, (2) Ciência & Saúde Coletiva, (2) Revista Gaúcha de, (3) Revista Brasileira de. A tese de doutorado foi apresentada ao Departamento de Ensino e Pós-Graduação em Saúde da Mulher e da Criança ao Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz. Nos trabalhos que constituíram esse estudo, constatou-se que todos apresentavam seus objetivos e problemáticas de estudo de forma clara e bem delineada, o que qualificou o estudo e facilitou seu entendimento. Ao se fazer uma análise de acordo com os objetivos dos referidos trabalhos, identificou-se que um estudo (Dutra; Meyer, 2007) objetivou discutir os conceitos de parto natural, normal e humanizado, mostrando a importância de se entender corretamente esses conceitos para que seja prestada a assistência necessária. Foi observado que seis estudos (Arone; Cunha, 2007; Dias, 2006; Diniz, 2005; Lima; Pasquini, 2006; Moura et al., 2007; Velho; Oliveira; Santos, 2010) buscaram conhecer, compreender ou refletir acerca da humanização da assistência na perspectiva dos enfermeiros ou equipes de saúde. Encontrou-se também um estudo (Dias; Domingues, 2005) que propôs uma discussão a respeito das dificuldades de se implantar um modelo de assistência ao parto de forma humanizada e quatro estudos (Marque; Dias; Azevedo, 2006; Castro; Clapis, 2005; Souza; Gaiva; Modes, 2011; Oliveira; Rodrigues; Guedes, 2011) descrevem as percepções dos profissionais de saúde, como os enfermeiros, acerca dos cuidados oferecidos pelos mesmos durante o processo de nascimento e se estes são feitos de forma humanizada. Assim, para melhor síntese e compreensão, a temática foi delimitada e discutida a partir destas quatro categorias. Conceitos de parto natural, normal e humanizado Em nossa perspectiva, a atenção dispensada às mulheres durante o processo gestacional, trabalho de parto e puerpério reflete as formas de pensar e de agir, delineadas nos diferentes modelos de formação e legitimados nas diferentes culturas (Dutra; Meyer, 2007). Cada sociedade e, dentro dela, cada grupo cultural, constrói e modifica suas próprias formas de viver e de organizar a vida, levando em conta seus saberes, suas crenças, seus legados confessos e não confessos. Com essa abordagem indica-se, pois, que a incursão por alguns dos significados comumente atribuídos a esses termos não remete ao objetivo de chegar a um único sentido ou, ainda, ao sentido verdadeiro e mais correto de cada um deles. Essa articulação
4 conceitual permitiu pensar que determinados significados de parto são pensados e verbalizados por determinados sujeitos, num determinado contexto, e que esse processo de significação, sempre aberto e inacabado, explica as convergências e, sobretudo, as divergências, as sobreposições e as ambigüidades (Dutra; Meyer, 2007). Entretanto, o que se observa é uma sobreposição dos significados de normal e natural, ambos significando a não intervenção. Essa compreensão também é abordada em estudos de importantes autores que discutem o parto e o nascimento, definindo-os como processos inerentes à existência e à vida humana no qual, apenas em alguns casos, há necessidade de intervir. Entende-se o parto humanizado como um parto respeitoso, em que o médico reconhece o valor daquele momento para a mãe, o pai e o filho e se dispõe a ajudar, efetuando somente os procedimentos necessários, num ambiente agradável, onde a mulher esteja cercada de profissionais simpáticos e de uma pessoa de confiança (Dutra; Meyer, 2007). O conhecimento, a compreensão ou a reflexão sobre a humanização da assistência na perspectiva dos enfermeiros e equipes de saúde Para Arone e Cunha (2007) a temática humanização em saúde mostra-se relevante no contexto atual, uma vez que a constituição de um atendimento calcado em princípios como a integralidade da assistência, a equidade, a participação social do usuário, dentre outros, demanda a revisão das práticas cotidianas. O conceito de humanização do parto é bastante diversificado, há movimentos defendendo como um processo que respeita a individualidade das mulheres, colocando-as como protagonistas e buscando uma adequação da assistência à cultura, crenças, valores e diversidades de opiniões dessas pessoas (Moura et al., 2007). Segundo Diniz (2005), a humanização é também um termo estratégico, menos acusatório, para dialogar com os profissionais de saúde sobre a violência institucional. O enfermeiro tem sido reconhecido pelo Ministério da Saúde e outros órgãos não governamentais como o profissional que possui formação holística e procura atuar de forma humanizada no cuidado à parturiente, tanto nas casas de parto como nas maternidades. Para tanto, é necessária a aquisição de profissionais qualificados e comprometidos de forma pessoal e profissional, que recebam a mulher com respeito, ética e dignidade, além de serem incentivadas a exercerem a sua autonomia no resgate do papel ativo da mulher no processo parturitivo, como também serem protagonistas de suas vidas e repudiarem qualquer tipo de discriminação e violência que possam comprometer seus direitos de mulher e cidadã (Moura et al., 2007). De acordo com Dias (2006), dentre os diferentes sentidos de humanização atribuídos pelos profissionais ressalta-se o respeito, apoio e acolhimento para diminuir o sofrimento, estabelecer uma boa relação profissional de saúde-cliente e olhar a mulher como um todo. Para alcançarmos a humanização no parto devemos estar dispostos a livrar a mulher de riscos desnecessários, e como profissionais da saúde zelar pela promoção, proteção e recuperação da saúde, e não somente ser gentil e carinhoso, que sem dúvida são atitudes indispensáveis em qualquer cuidado de enfermagem (Lima; Pasquini, 2006). Para Velho, Oliveira e Santos (2010) entende-se que, embora a atuação da enfermeira obstétrica seja reconhecida como importante e configure-se como uma mudança paradigmática no cuidado às mulheres, recém-nascidos e famílias, ainda existem lacunas de conhecimentos acerca desta temática, exigindo novas discussões, reflexões e publicações que venham respaldar e dar maior visibilidade ao trabalho desenvolvido por estas profissionais. As dificuldades de se implantar um modelo de assistência ao parto de forma humanizada Algumas dificuldades estão relacionadas a uma mudança na cultura hospitalar, com a organização de uma assistência realmente voltada para as necessidades das mulheres e suas famílias. Modificações na estrutura física também são importantes, transformando o espaço hospitalar num ambiente mais acolhedor e favorável à implantação de práticas humanizadoras da assistência (Dias, 2006).
5 Contudo, a humanização da assistência ao parto implica também e, principalmente, que a atuação do profissional respeite os aspectos de sua fisiologia, não intervenha desnecessariamente, reconheça os aspectos sociais e culturais do parto e nascimento, e ofereça o necessário suporte emocional à mulher e sua família. Ainda de acordo com Dias (2006) embora não seja uma garantia de mudança do modelo de assistência ao parto, a inclusão de enfermeiros obstetra na assistência ao parto tem mostrado que esta medida é capaz de reduzir as intervenções médicas desnecessárias e de oferecer um cuidado mais integral, dando o necessário suporte emocional à mulher e sua família. A proposta de humanização da assistência ao parto sofre influência direta do modelo organizacional, dos desenhos da missão institucional, do envolvimento e aderência dos gerentes à proposta, da capacitação e sensibilidade dos profissionais, mas a sua efetiva implantação estará sempre atrelada à insubstituível relação entre a mulher e o profissional de saúde. Percepção dos profissionais de saúde acerca dos cuidados oferecidos durante o processo de nascimento e avaliação se os procedimentos adotados ocorrem de forma humanizada Em relação à equipe de e sua assistência à mulher em trabalho de parto, Marque, Dias e Azevedo (2006) afirmam que o enfermeiro deve atuar durante o período prénatal, por meio de consultas de enfermagem e de atividades em grupo, com o objetivo de garantir o bom desenvolvimento das gestações, prevenir riscos e identificar as pacientes com maior probabilidade de apresentar intercorrências durante a gestação, promovendo a saúde da parturiente e do neonato através do diagnóstico e cuidados de enfermagem. Entre as ações de enfermagem estão incluídas solicitações de exames, orientações e aplicação de vacinas. As orientações devem abordar o desconforto próprio do período gestacional e maneiras de aliviá-lo, aspectos emocionais, exercícios de relaxamento, nutrição adequada, ganho ponderal, sexualidade, entre outros. Destaca-se também que a equipe de enfermagem deva prestar assistência qualificada e humanizada à gestante e ao recém nascido, procurando o bem estar da mãe-filho. Os profissionais da equipe de enfermagem devem realizar suas atividades com vontade, carinho e atenção, aliando esses sentimentos aos procedimentos técnicos e lembrando-se sempre que, se não houver humanização, não haverá qualidade no atendimento. Embora a gravidez seja normal, é um acontecimento especial na vida de uma mulher e, como tal, exige algumas adaptações especiais para a promoção da saúde dela e do feto. No estudo de Oliveira, Rodrigues e Guedes (2011) observou-se que o cuidado oferecido pelas enfermeiras foi percebido pelas pacientes através de orientações, apoio emocional, contato direto (toque) e realização de procedimentos da rotina obstétrica, além da visibilidade da satisfação quanto à profissão. Sendo assim, propõe-se uma reflexão quanto aos aspectos que precisam ser melhorados, para que possam contribuir com a construção de um cuidado humanizado que considera a parturiente como protagonista. Refletir sobre a percepção de cada mulher quanto à vivência do parto auxilia na escolha de estratégias de cuidado que possam atender às suas necessidades individuais. A enfermeira deve procurar compreender o significado daquele momento para a parturiente, a fim de direcionar sua tomada de decisão quanto às atitudes necessárias ao cuidado. De acordo com Castro e Clapis (2005) as enfermeiras relatam muitas barreiras, mas que acreditam fazer o que podem, ou seja, oferecem apoio e orientam, e quando percebem que pode ajudar, permitem a presença do acompanhante. Quanto à oferta de medidas de conforto, referida pelas enfermeiras, como o banho e o ambiente calmo, muito se tem discutido sobre suas vantagens no trabalho de parto e sua influência na humanização do parto. Muitas são as estratégias que podem ser utilizadas para
6 01 TÍTULO AUTORES PERIÓDICO ANO OBJETIVOS Tecnologia e humanização: desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistência. Arone, E.M.; Cunha, I.C.K.O. Revista Brasileira de 2007 Refletir e adotar uma abordagem integradora entre tecnologia e humanização, uma vez que a convivência com ambos é inevitável. 02 Desafios na implantação de uma política de humanização da assistência hospitalar ao parto. Dias, M.A.B.; Domingues, R.M.S.M. Ciência & Saúde Coletiva 2005 Discutir as dificuldades de implantação de um novo modelo de assistência ao parto de baixo risco na estrutura hospitalar. 03 Humanização da assistência ao parto: conceitos, lógicas e práticas no cotidiano de uma maternidade pública. Dias, M.A.B. Tese apresentada ao Instituto Fernandes Figueira / FIOCRUZ 2006 Problematizar o conceito de humanização da assistência à saúde e conhecer as representações de humanização e assistência. 04 Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Diniz, C.S.G. Ciência & Saúde Coletiva 2005 Recuperar as origens do termo humanização do parto e o reconhecimento da assistência ao parto. 05 A percepção da equipe de enfermagem sobre humanização do parto e nascimento. Marque, F.C.; Dias, I.M.V.; Azevedo,.L. Escola Anna Nery Revista de 2006 Discutir a percepção da equipe de enfermagem sobre a humanização do parto e nascimento. 06 Assistência humanizada ao parto: reflexões sobre a atuação da enfermagem obstétrica. Lima, E.N.; Pasquini, V.Z. Revista de UNISA 2006 Identificar as recomendações das políticas públicas ao parto humanizado, a fim de destacar os cuidados de enfermagem prestados. 07 Parto humanizado na percepção das enfermeiras obstétricas envolvidas com a assistência ao parto. Castro, J.C.; Clapis, M.J. Revista Latino- Americana de 2005 Identificar a percepção das enfermeiras obstétricas sobre humanização da assistência ao parto. 08 Parto natural, normal e humanizado: termos polissêmicos. Dutra, I.L.; Meyer, D.E. Revista Gaúcha de 2007 Discutir a polissemia dos termos parto natural, normal e humanizado. 09 A humanização do nascimento: percepção dos profissionais de saúde que atuam na atenção ao parto. Souza, T.G.; Gaiva, M.A.M.; Modes, P.S.S.A. Revista Gaúcha de 2011 Conhecer a percepção dos profissionais de saúde que atuam na assistência ao parto e a humanização do processo de nascimento. 10 A humanização e a assistência de enfermagem ao parto normal. Moura, F.M.J.S.P.; Crizostomo, C.D.; Nery, I.S.; Mendonça, R.C.M.; Araújo, O.D.; Rocha, S.S. Revista Brasileira de 2007 Pesquisar a produção científica sobre humanização e assistência de enfermagem ao parto normal. 11 Percepção de puérperas acerca do cuidado de enfermagem durante o trabalho de parto e parto. Oliveira, A.; Rodrigues, D.; Guedes, M.V. Revista de UERJ 2011 Conhecer a percepção das puérperas a respeito do cuidado oferecido pela enfermeira durante o trabalho de parto e o parto. 12 Reflexões sobre a assistência de enfermagem prestada à parturiente. Velho, M.B.; Oliveira, M.E.; Santos, E.K.A. Revista Brasileira de 2010 Identificar o estado da arte da produção sobre a atuação da enfermeira obstétrica no processo do nascimento. favorecer o momento do parto tais como: ambiente aconchegante, massagens, oferta de líquidos durante o trabalho de parto, deambulação, alívio da dor e presença do
7 acompanhante, as quais facilmente podem ser desenvolvidas pela enfermagem. Souza, Gaiva e Modes (2011) afirmam que já desenvolvem algumas ações que podem favorecer uma assistência humanizada, tais como: permitir a presença de algum membro da família durante o processo de nascimento, oferecer informações à parturiente/família sobre o parto e possibilitar maior contato mãe-filho após o nascimento. A partir do exposto, foi possível analisar o conhecimento e a percepção da equipe de saúde acerca da humanização da assistência à parturiente e se os cuidados prestados pelos mesmos estão de acordo com o que é preconizado nos dias atuais. No que se refere à assistência de enfermagem à parturiente em parto natural, é preconizado que a equipe de enfermagem proporcione uma assistência integral, digna e com qualidade, culminando assim em conforto e segurança à parturiente. O parto humanizado deve ser percebido pela equipe assistencial como um parto respeitoso, onde há o reconhecimento do valor daquele momento para a mãe, para o pai e para o filho, e ainda a efetivação somente daqueles procedimentos necessários, imprescindíveis. Portanto, para se alcançar a humanização faz-se necessário além do carinho e atenção dispensados às necessidades da mulher, o mínimo de intervenções e o zelo pela saúde da parturiente, eliminando assim os riscos desnecessários. Para tanto, o enfermeiro deve tornar-se consciente para prestar os cuidados recomendados, tendo em vista que este profissional tem sido reconhecido pelo Ministério da Saúde e outros órgãos não governamentais como aquele que possui uma formação holística e que, portanto, deverá atuar de forma humanizada no cuidado à parturiente. Por conseguinte, é de fundamental importância a aquisição de profissionais qualificados e comprometidos de forma pessoal e profissional, que incentivem, respeitem e tratem a parturiente com ética e dignidade, uma vez que a humanização implica no apoio e acolhimento, minimizando assim o sofrimento. Quanto às dificuldades de implementação desta assistência da enfermagem, verificou-se que estas estão relacionadas a uma mudança na cultura hospitalar, bem como a modificações físicas que ensejarão uma assistência humanizada. Observou-se também que a inclusão de enfermeiros obstetra na assistência ao parto tem evidenciado a redução das intervenções médicas desnecessárias, propiciando um cuidado integral e dando o necessário suporte emocional à mulher e sua família. Nesse sentido, entende-se que a equipe de enfermagem deve atuar durante o período prénatal, através de consultas de enfermagem com vistas à promoção da saúde da parturiente e do neonato. Nestas consultas, o enfermeiro poderá atuar através de diagnóstico e cuidados de enfermagem, com o intuito de garantir o bom desenvolvimento das gestações, prevenir os riscos e identificar as pacientes com maior probabilidade de apresentar intercorrências durante a gestação. Dentre as atividades que poderão ser exercidas nas consultas de enfermagem, destacam-se as solicitações de exames, orientações e abordagem do desconforto próprio do período gestacional e as maneiras de aliviá-lo, aspectos emocionais, exercícios de relaxamento, nutrição adequada, ganho ponderal, sexualidade, entre outros, bem como a aplicação de vacinas. Assim, pode-se vislumbrar a grande importância da equipe de enfermagem e de sua qualificação no que tange a assistência humanizada à gestante e ao recém nascido, procurando o bem estar da mãe-filho. Referências ARONE, E.M.; CUNHA, I.C.K.O. Tecnologia e humanização: desafios gerenciados pelo enfermeiro em prol da integralidade da assistência. Revista Brasileira de, v. 60, n. 6, p. 1-8, BRASIL. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília, DF, CASTRO, J.C.; CLAPIS, M.J. Parto humanizado na percepção das enfermeiras obstétricas envolvidas com a assistência ao parto. Rev Latino-Americana de, v.13, n.6, p , DIAS, M.A.B.; DOMINGUES, R.M.S.M. Desafios na implantação de uma política de humanização da assistência hospitalar ao parto. Ciência & Saúde Coletiva, v. 10, n. 3, p , DIAS, Marcos Augusto Bastos. Humanização da assistência ao parto: conceitos, lógicas e práticas no cotidiano de uma maternidade pública Tese
8 (Doutorado) Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ, DINIZ, C.S.G. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Ciência e Saúde Coletiva, v. 10, n. 3, p , DUTRA, I.L.; MEYER, D.E. Parto natural, normal e humanizado: termos polissêmicos. Revista Gaúcha de, v.28, n.2, p , MARQUE, F.C.; DIAS, I.M.V.; AZEVEDO, L. A percepção da equipe de enfermagem sobre humanização do parto e nascimento. Escola Anna Nery Revista de, v. 10, n. 3, p , LIMA, E.N.; PASQUINI, V.Z. Assistência humanizada ao parto: reflexões sobre a atuação da enfermagem obstétrica. Revista de UNISA, v.7, p.5-8, MENDES, K.D.S.; SILVEIRA, R.C.C.P.; GALVÃO, C.M. Revisão Integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto, v. 17, n. 4, p , MOURA, F.M.J.S.P.; CRIZOSTOMO, C.D.; NERY, I.S.; MENDONÇA, R.C.M.; ARAÚJO, O.D.; ROCHA, S.S. Revista Brasileira de, v.60, n.4, p , OLIVEIRA, A.S.S.; RODRIGUES, D.P.; GUEDES, M.V.C. Percepção de puérperas acerca do cuidado de enfermagem durante o trabalho de parto e parto. Revista de UERJ, v.19, n.2, p , Organização Mundial da Saúde. Maternidade segura. Assistência ao parto normal: Um guia prático. Genebra, Suíça: Saúde Materna e Neonatal, SOUZA, T.G.; GAIVA, M.A.M.; MODES, P.S.S.A. A humanização do nascimento: percepção dos profissionais de saúde que atuam na atenção ao parto. Revista Gaúcha de, v.32, n.3, , VELHO, M.B.; OLIVEIRA, M.E.; SANTOS, E.K.A. Reflexões sobre a assistência de enfermagem prestada à parturiente. Revista Brasileira de, v.63, n.4, p , 2010.
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