Introdução. Marcelo Tabarelli Jarcilene S. de Almeida-Cortez Kátia Cavalcanti Pôrto
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1 Introdução Marcelo Tabarelli Jarcilene S. de Almeida-Cortez Kátia Cavalcanti Pôrto
2 17 Introdução O Brasil pode abrigar mais de dois milhões de espécies (Lewinsohn & Prado 2002), ou seja, entre 15 e 20% da biodiversidade que se estima ocorrer no globo (Shepherd 2002). Gerenciar este imenso patrimônio biológico requer o estabelecimento de estratégias, planos e programas que assegurem a utilização sustentável dos recursos naturais (Dias 2001). O Brasil assumiu este compromisso ao tornar-se signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica e assinar a Agenda 21 durante a Conferência (CBD), realizada no Rio de Janeiro, em Um das peças fundamentais de uma estratégia eficiente de conservação da diversidade biológica é a definição de áreas prioritárias para a alocação dos esforços de conservação, com base na distribuição geográfica de espécies, suas populações e na ocorrência de processos ecológicos chave (Margules & Pressey 2000). Este procedimento foi realizado para todos os ecossistemas brasileiros, como parte do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira PROBIO, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. Hoje se sabe que o Brasil abriga 900 áreas prioritárias para conservação, entre as quais 99 consideradas insuficientemente conhecidas pela ciência, mas de provável importância biológica (MMA 2002). Mesmo a Floresta Atlântica, o ecossistema melhor investigado e mais degradado no Brasil (Brasil 1998), possui 22 áreas nesta categoria (Conservation International et al. 2000). Visando atender a esta estratégia, foi lançado pelo Ministério do Meio Ambiente MMA, o edital: PROBIO 02/2001, tendo como principal objetivo permitir a caracterização da diversidade biológica, nas áreas consideradas insuficientemente conhecidas nos ecossistemas brasileiros. Um dos subprojetos selecionados, Composição, Riqueza e Diversidade de Espécies do Centro de Endemismo Pernambuco, foi executado pela Universidade Federal de Pernambuco e gerenciado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvido da Universidade Federal de Pernambuco (FADE). O referido subprojeto teve como objetivo geral ampliar o conhecimento sobre a ocorrência de organismos em duas áreas prioritárias na Floresta Atlântica ao norte do Rio São Francisco: Gurjáu/Camaçari e o Complexo Catende (sensu Conservation International et al. 2000). Mais especificamente, 14 grupos de organismos foram inventariados em 12 fragmentos florestais em três sítios: Usina Serra Grande, RPPN Frei Caneca e Reserva Ecológica de Gurjaú. O estudo compreendeu: mixomicetos, fungos, líquens, briófitas, pteridófitas, bromélias, orquídeas, árvores, fanerógamas em geral, formigas, abelhas Euglossinae, esfingídeos, aves e mamíferos. A fim de alcançar o objetivo proposto, quatro grupos de atividades foram executados: coordenação, inventários biológicos, síntese dos resultados e divulgação (Workshop), e planejamento de ações de conservação (Fig. 1). Estas atividades envolveram 18 pesquisadores, 22 bolsistas e 15 colaboradores.
3 Mamíferos 18 PROBIO SUBPROJETO COMPOSIÇÃO, RIQUEZA E DIVERSIDADE DE ESPÉCIES DO CENTRO DE ENDEMISMO PERNAMBUCO Coordenação Técnica FADE Liquens Briófitas Fungos Pteridófitas Fanerógamas Riqueza, abundância e diversidade dos grupos Formigas Táxons endêmicos, raros, vulneráveis à extinção, bioindicadores e grupos funcionais Distribuição geográfica dos táxons SIG Mapas temáticos por grupo biológico Mixomicetos Aves Esfingídeos Abelhas WORKSHOP PLANEJAMENTO DE AÇÕES E DIRETRIZES PARA A CONSERVAÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA DA FLORESTA ATLÂNTICA NORDESTINA Figura 1. Organograma do subprojeto Composição, Riqueza e Diversidade de Espécies do Centro de Endemismo Pernambuco (PROBIO/UFPE). O subprojeto teve início em setembro de 2002 e está sendo concluído com a publicação dos principais resultados neste livro, contendo 15 capítulos. O primeiro capítulo traz uma descrição da Floresta Atlântica ao norte do Rio São Francisco, no que se refere a sua localização, tipos florestais, relações biogeográficas, riqueza de espécies e endemismos e, por último, aos sítios chave para a conservação da diversidade biológica abrigada nesta unidade biogeográfica. Embora sucinto, este capítulo é a primeira síntese sobre esta floresta. O segundo capítulo trata do status de conservação da floresta ao norte do Rio São Francisco, discute a importância biológica dos sítios estudados e esboça um plano de conservação com base nos conceitos de corredor de biodiversidade (sensu Sanderson et al. 2003), sítios chave e sítios insubstituíveis (sensu Rodrigues et al. 2003). Dos capítulos três ao 15 são apresentadas informações sobre composição de espécies, riqueza, grupos ecológicos e espécies ameaçadas para cada grupo biológico nas escalas regional e local (i.e. sítios inventariados). A maioria destes capítulos analisa possíveis
4 19 correlações entre o tamanho dos fragmentos, a distribuição e a riqueza de organismos, bem como faz considerações sobre aspectos de conservação de táxons específicos. Por fim, nos anexos, estão as identidades de mais de espécies encontradas nos referidos sítios. No conjunto, a obra chama a atenção para o setor mais degradado, menos conhecido e à margem dos principais esforços de conservação efetuados na Floresta Atlântica brasileira (Silva & Tabarelli 2000; Silva & Casteleti 2003). Os dados apresentados neste livro sugerem que muitas das áreas consideradas insuficientemente conhecidas são, na verdade, de extrema importância biológica, dada a riqueza que abrigam. Muitos dos leitores, certamente, ficarão surpresos com a diversidade biológica que ainda persiste nos arquipélagos de fragmentos da Floresta Atlântica ao norte do Rio São Francisco, a qual já foi considerada extinta por muitos acadêmicos, conservacionistas e tomadores de decisão. É o desejo de todos os participantes deste subprojeto que esta obra contribua para reverter o cenário de degradação da floresta do Mutum-do-nordeste (Mitu mitu, já extinto na natureza) e salvar outras dezenas de espécies do risco iminente de extinção global (veja Brooks & Rylands 2003; Roda 2003). O argumento que esta floresta é pouco conhecida não é mais válido e a janela de oportunidade, dada pelo tempo que decorre entre perda maciça de habitat e extinção das populações na natureza, está se fechando. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil Primeiro relatório nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, Brasília. Brooks, T. & Rylands, A.B Species on the brink: critically endangered terrestrial vertebrates. Pp In: C. Galindo-Leal & I.G. Câmara (Eds.). The Atlantic Forest of South America: biodiversity status, threats, and outlook. CABS & Island Press, Washington. Conservation International do Brasil, Fundação SOS Mata Atlântica, Fundação Biodiversitas, Instituto de Pesquisas Ecológicas & Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. Dias, B Demandas governamentais para o monitoramento da diversidade biológica brasileira. Pp In: I. Garay & B. Dias (Orgs.). Conservação da biodiversidade em ecossistemas tropicais: avanços conceituais e revisão de novas metodologias de avaliação e monitoramento. Ed. Vozes, Rio de Janeiro. Lewinsohn, T.M. & Prado, P.I Biodiversidade brasileira: síntese do estado atual do conhecimento. Contexto, São Paulo. Margules, C.R. & Pressey, R.L Systematic conservation planning. Nature 405: MMA Biodiversidade brasileira: avaliação e identificação de áreas e ações prioritárias para conservação, utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Brasília. Roda, S.A Aves do Centro de Endemismo Pernambuco: composição, biogeografia e conservação. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Pará e Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém. Rodrigues, A.S.L.; Andelman, S.J.; Bakarr, M.I.; Boitani, L.; Brooks, T.M.; Cowling, R. M.; Fishpool, L.D.C.; Fonseca, G.A.B.; Gaston, K.J.; Hoffmann, M.; Long, J.S.; Marquet, P.A.; Pilgrim, J.D.;
5 20 Pressey, R.L.; Schipper, J.; Sechrest, W.; Stuart, S.N.; Underhill, L.G.; Walter, R.W.; Watts, M.E.J. & Yan, X Global gap analysis: towards a representative network of protected areas. Advances in Applied Biodiversity Science, number 5. CABS/Conservation International, Washington. Sanderson, J.; Alger, K.; Fonseca, G.A.B.; Galindo-Leal, C.; Inchausty, V.H. & Morrinson, K Biodiversity conservation corridors: planning, implementing, and monitoring sustainable landscapes. CABS/Conservation International, Washington. Shepherd, G.J Conhecimento da diversidade de plantas terrestres no Brasil. Pp In: T.M. Lewinsohn & P.I. Prado (Eds.). Biodiversidade brasileira: síntese do estado atual do conhecimento. Contexto, São Paulo. Silva, J.M.C. & Casteleti, C.H.M Status of the biodiversity of the Atlantic Forest of Brazil. Pp In: C. Galindo-Leal & I.G. Câmara (Eds.). The Atlantic Forest of South America: biodiversity status, threats, and outlook. CABS & Island Press, Washington. Silva, J.M.C. & Tabarelli, M Tree species impoverishment and the future flora of the Atlantic forest of northeast Brazil. Nature 404:
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