FUNDOS PATRIMONIAIS VINCULADOS - Proposta de Projeto de Lei -
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- Gabriela Dreer Paranhos
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1 FUNDOS PATRIMONIAIS VINCULADOS - Proposta de Projeto de Lei - Janeiro de 2014 Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social IDIS Rua Paes Leme, 524, cj Pinheiros São Paulo/ SP Fone Fax
2 ÍNDICE SUMÁRIO EXECUTIVO... 3 PROJETO DE LEI BICOLUNADO... 4 FUNDOS PATRIMONIAIS VINCULADOS GRUPO DE ESTUDOS FUNDOS PATRIMONIAIS... 35
3 SUMÁRIO EXECUTIVO Projeto de Lei que autoriza a criação de FUNDOS PATRIMONIAIS VINCULADOS Objetivo do Projeto de Lei Regulamentar a criação de Fundos Patrimoniais Vinculados (chamados de endowments nos EUA e Europa), que são instrumentos criados para viabilizar a existência e prover recursos financeiros para uma instituição sem fins lucrativos com finalidade de benefício público. Pontos de destaque do Projeto de Lei Criação do Fundo Patrimonial Vinculado (FPV) como figura jurídica autônoma (conceito de Trust) alterando o código civil; Criação de incentivo fiscal à doação ao Fundo Patrimonial Vinculado de entidade civil beneficiária que possua título de Utilidade Pública federal ou OSCIP, pois estas prestam contas regularmente ao governo; Definição de normas de transparência, governança e operação, que promovam uma atuação com foco no longo prazo; Obrigatoriedade de definição e publicação de regra de resgate e política de investimentos; Isenção de imposto sobre rendimentos do FPV. Benefícios da Lei O terceiro setor no Brasil precisa de mecanismos que promovam a sustentabilidade de suas instituições no longo prazo. Este projeto de lei fortalece iniciativas de cidadãos, empresas e do próprio governo preocupados com o bem estar social, educacional, cultural e ambiental da comunidade brasileira. Regulamentar a criação de fundos patrimoniais promoverá uma cultura de filantropia sustentável no país, beneficiando o terceiro setor e o governo, que contará com parceiros menos dependentes de doação no futuro e mais estruturados para a promoção do desenvolvimento social e ambiental do Brasil. Legislação em outros países Exemplo recente da França: Em 2008, a Lei de Modernização da Economia reconheceu oficialmente a figura dos endowments como um instituto jurídico autônomo. Essa lei possibilitou a criação de cerca de 230 endowment funds apenas no primeiro ano de sua vigência, fato certamente relacionado aos incentivos fiscais concedidos para os endowment funds e para os doadores. Um dos beneficiados foi o Museu do Louvre. Estados Unidos: Endowments existem há séculos e os que mais se destacam são do meio acadêmico (ex.: Harvard e Yale) e os maiores endowments do mundo de fundações que servem a causas sociais e ambientais (ex.: Bill & Melinda Gates Foundation, Ford Foundation e Kellogg Foundation). Outros países com legislação que prevê benefícios fiscais para doação à endowments: Inglaterra, Rússia, Índia, Republica Tcheca, México e China. Conclusão Os endowments permitiram às entidades filantrópicas e educacionais no mundo edificar uma base financeira sólida, capaz de sustentar ou complementar suas atividades com recursos gerados a partir de seu próprio patrimônio. Essas organizações são menos dependentes de novas doações, gozam de estabilidade financeira e viabilidade operacional, permitindo que ampliem suas atividades em proporções e qualidade antes fora de seu alcance. O Brasil necessita modernizar sua legislação neste tema acompanhando uma tendência que é mundial.
4 PROJETO DE LEI BICOLUNADO FUNDOS PATRIMONIAIS VINCULADOS PROJETO DE LEI Nº, DE,. Autoriza a criação de Fundos Patrimoniais Vinculados e estabelece outras medidas. COMENTÁRIOS AO PROJETO O Congresso Nacional decreta: Art. 1 Serão Fundos Patrimoniais Vinculados, para os fins desta lei, aqueles constituídos com personalidade jurídica de direito privado pelas entidades referidas no artigo 2, especificamente destinados ao propósito exclusivo de possibilitar a realização de atividades de interesse público previstas no seu estatuto social. Parágrafo Único. Os Fundos Patrimoniais Vinculados: (i) serão vinculados às entidades que os constituírem, mantidos seus patrimônios estritamente segregados, contábil, administrativa e financeiramente, para todos os efeitos legais; (ii) serão formados exclusivamente por dotações das próprias entidades que os constituírem e pelas doações de bens, móveis e imóveis, e direitos, de qualquer espécie, feitas por pessoas jurídicas ou físicas, domiciliadas no País ou no exterior; e Os Fundos Patrimoniais Vinculados (FPVs), conhecidos no exterior como endowments são estruturas que recebem e administram bens e diretos, majoritariamente recursos financeiros, para o sustento de uma causa ou uma entidade de interesse público ou coletivo, sem fins lucrativos. A absoluta segregação entre o patrimônio operacional e o patrimônio intergeracional é extremamente importante para possibilitar a verificação do cumprimento da função primordial do FPV e dar maior segurança e transparência aos seus doadores. Geralmente, o patrimônio é formado por doações, sendo permitido à instituição, na ausência de impedimentos legais, transferir parte de seu superávit operacional para o patrimônio intergeracional, como parte do seu planejamento de longo prazo.
5 (iii) constituirão poupança de longo prazo, que deverá ser investida com os objetivos de preservação de valor e de geração de receita para tornar-se uma fonte regular e estável de recursos, preservando e reforçando a capacidade de dar continuidade às suas atividades de interesse público no longo prazo. Art. 2 Poderão constituir um Fundo Patrimonial Vinculado, com os incentivos fiscais previstos nesta lei, as Universidades ou Instituições Públicas de Ensino Superior, Federais, Estaduais, do Distrito Federal ou Municipais, e as Fundações e Associações devidamente constituídas, sem fins lucrativos, que possuam, em pleno vigor, Declaração de Utilidade Pública Federal, instituída pela Lei 91, de , ou outra que venha a substituí-la, ou qualificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, instituída pela Lei 9.790, de ou outra que venha a substituí-la. Parágrafo Único. As Fundações e Associações que não possuam a Declaração de Utilidade Pública Federal ou a qualificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, previstas no caput, poderão constituir um Fundo Patrimonial Vinculado, nos termos desta lei, mas não usufruirão dos incentivos fiscais previstos nos artigos 11, 12 e 13 desta lei. As Universidades ou Instituições Públicas de Ensino Superior foram objeto do PL de Porém, os proponentes do presente PL acreditam que os FPVs não podem ficar restritos a essas instituições. Assim como no resto do mundo, os FPVs devem ser reconhecidos como uma ferramenta útil para a gestão responsável e planejamento de longo prazo das instituições do Terceiro Setor. Porém, como o PL pretende estender aos FPVs alguns incentivos fiscais, foi necessário estabelecer um critério de seleção das instituições que estarão aptas a usufruir do benefício. A solução sugerida é aproveitar duas certificações existentes, evitando-se a criação de novas estruturas e garantindo uma prestação de contas mais qualificada ao Governo. A legislação brasileira hoje não proíbe a instituição de fundos patrimoniais, mas não existe nenhum incentivo ou segurança jurídica específicos para o modelo. O presente PL pretende suprir essa ausência de previsão. Às instituições que não se enquadram nos requisitos ora estabelecidos, porém, ainda será permitido seguir o modelo aqui previsto, como forma de oferecer alguma segurança jurídica, ainda que não lhes traga benefícios fiscais.
6 Art. 3 Os atos constitutivos dos Fundos Patrimoniais Vinculados deverão estabelecer: I - os objetivos a que se destinará o patrimônio do fundo, de forma pormenorizada, entre os objetivos constantes nos estatutos sociais das entidades a que se vinculam; O FPV poderá ser destinado a atender a todos os objetivos da instituição beneficiária, ou apenas um subconjunto deles. II - as regras gerais fundamentais aplicáveis às políticas de investimentos e resgates e de alienação de bens e direitos integrantes do patrimônio; III - as regras de composição, funcionamento e competências dos órgãos de administração; IV - a previsão de, no mínimo, (i) um Conselho de Administração composto por, pelo menos, cinco membros, sendo um deles o Presidente que, no caso de Universidades e Instituições de Ensino Públicas, será o respectivo Reitor ou autoridade equivalente e no caso de Fundações e Associações Civis, o presidente do conselho ou órgão equivalente da organização; e (ii) um Comitê de Investimentos, composto por, pelo menos, três membros, com notórios conhecimentos e experiência nos mercados financeiros e de capitais, indicados pelo Conselho de Administração; A gestão do patrimônio intergeracional, ainda que seja realizada por gestores externos contratados, deve ser supervisionada por indivíduos que possuam experiência e expertise específicas, adequados a essa atribuição. A existência do Comitê de Investimentos permite que um grupo de pessoas com esse expertise e com envolvimento pessoal com a instituição beneficiária possam supervisionar o FPV, focando esforços na preservação do equilíbrio financeiro entre a geração de valor para o futuro e a utilização dos recursos no presente. No Conselho de Administração, fica garantida a representatividade da instituição beneficiária, como forma de assegurar o elo e o alinhamento entre FPV e beneficiária.
7 V - a proibição de uso do patrimônio dos Fundos Patrimoniais Vinculados para qualquer outra finalidade não especificamente prevista, em obediência aos termos desta Lei, e de outorga, direta ou indiretamente, de garantias a terceiros ou às entidades a que se vinculam. Art. 4 Ao Conselho de Administração compete, observando o disposto no inciso III do parágrafo único do Artigo 1, aprovar regimentos internos sobre a política de investimento, as regras de resgate e utilização dos recursos, as quais deverão estar em perfeito alinhamento entre si, e refletir, no que aplicável, as regras dos fundos de investimentos existentes no mercado, quanto à proteção da rentabilidade, segurança e liquidez das aplicações, com vistas a assegurar sua sustentabilidade econômica e financeira ao longo de sua existência, devendo ser dada publicidade a estas regras por qualquer meio eficaz. Art. 5º Ao Comitê de Investimento compete atuar como órgão consultivo na definição de regras sobre o investimento financeiro e sobre a forma de resgate e utilização dos recursos e coordenar e supervisionar os gestores e demais profissionais responsáveis pelos investimentos financeiros dos Fundos Patrimoniais Vinculados, segundo as regras aprovadas pelo Conselho de Administração. Em nenhuma hipótese será permitido aos FPVs destinar recursos para atividades que não estejam alinhadas aos objetivos estabelecidos no estatuto social da instituição beneficiária. A política de investimento e as regras de resgate são o coração do funcionamento do Fundo Patrimonial Vinculado. Esses dois conjuntos de regras são responsáveis por promover o equilíbrio que é a essência do funcionamento dos endowments. Cabe ao Conselho de Administração definir e revisar periodicamente estas regras, ajustando-as à realidade econômica do País. O Comitê de Investimento é um órgão de aconselhamento, cujos membros deverão fazer uso de sua experiência em temas financeiros para orientar o Conselho de Administração. A responsabilidade pela decisão final, no entanto, cabe ao Conselho de Administração.
8 Art. 6º Para atendimento dos objetivos dos Fundos Patrimoniais Vinculados poderão ser utilizados os rendimentos e os ganhos provenientes do patrimônio dos Fundos Patrimoniais Vinculados, auferidos durante o exercício, e, em casos excepcionais, mediante parecer favorável de todos os membros do Conselho de Administração, até 5% (cinco por cento) do patrimônio do início de cada exercício. Parágrafo 1º A utilização de recursos dos Fundos Patrimoniais Vinculados, provenientes de doações recebidas durante o exercício, será admitida se assim dispuserem os doadores e mediante deliberação favorável de todos os membros do Conselho de Administração, respeitando o limite de 20% (vinte por cento) dos respectivos valores. Parágrafo 2º Os atos constitutivos dos Fundos Patrimoniais poderão estabelecer critérios adicionais para apuração do montante a ser resgatado e utilizado a cada exercício, inclusive critérios para elisão dos efeitos inflacionários sobre o patrimônio, respeitados os limites previstos nesta Lei. As regras de resgate determinam o quanto de um FPV pode ser consumido com as necessidades atuais dos beneficiários, ao custo de reduzir sua capacidade de suprir as necessidades futuras. Os fundos criados nos termos desta Lei poderão estabelecer regras mais restritivas, mas já ficam pré-definidos alguns limites legais. No mundo todo, as regras de resgate são geralmente estabelecidas por meio de um valor percentual do patrimônio, definido ou calculável. A proposta é permitir o resgate dos rendimentos, mas é mantida a possibilidade de, mediante discussão e aprovação unânime, resgate de até 5% do patrimônio. Essa flexibilidade é importante, pois no longo prazo é possível que ocorra algum ano com rentabilidade baixa ou negativa. Mesmo nesse cenário, o FPV deve ser capaz de transferir recursos para as atividades operacionais da instituição beneficiária. Essa possibilidade ajudará a alavancar as atividades dos FPVs nos primeiros anos, e também permitirá que os doadores possam ver algum impacto mais imediato de suas doações. A antecipação consistiria em parte (até 20%) da doação não integrar o FPV, e sim ser transferida imediatamente para contas operacionais da instituição beneficiária. Essa decisão precisa ser tomada por acordo unânime entre o doador e os dirigentes do FPV. O PL sugere que as instituições avancem na sofisticação de suas regras de resgate, criando variáveis que possam elidir os efeitos corrosivos da inflação sobre o patrimônio.
9 Parágrafo 3º Constituirão despesas dos Fundos Patrimoniais Vinculados, aquelas consideradas necessárias e usuais para a manutenção das atividades dos Fundos visando à consecução dos objetivos contemplados, inclusive alugueres, custos de aquisição de bens de capital e insumos operacionais, auditoria, salários, taxas e honorários profissionais relativos à gestão. Art. 7 Os Fundos Patrimoniais Vinculados deverão observar o disposto nesta Lei e quaisquer outras leis e normas aplicáveis. Parágrafo 1º Os Fundos Patrimoniais Vinculados deverão: I - manter contabilidade e registros em consonância com os Princípios Gerais da Contabilidade Brasileira, com as adaptações que se façam necessárias, incluindo a elaboração periódica, no mínimo anual, das demonstrações financeiras e as regras aplicáveis emitidas pelas autoridades monetárias; II - elaborar anualmente um relatório circunstanciado da gestão dos recursos e sua aplicação que deverão ser publicadas por qualquer meio eficaz; III- contabilizar sempre os bens e direitos patrimoniais por seus respectivos valores de mercado. Quando o valor de mercado não for facilmente comprovável, os bens e direitos patrimoniais devem ser avaliados na data do recebimento das doações e no fim de cada exercício, por órgão, instituição ou especialista considerado capacitado e idôneo pelo Conselho de Administração. A correção do valor dos bens é importante para aumentar a precisão dos relatórios circunstanciados sobre evolução do patrimônio e dos resgates gerados.
10 Parágrafo 2 As demonstrações financeiras anuais deverão ser auditadas por auditores independentes, sem prejuízo dos controles interno e externo exercidos pelos órgãos competentes das Unidades da Federação, nos casos de Fundos Patrimoniais Vinculados às Universidades ou Instituições Públicas de Ensino Superior, Federais, Estaduais, do Distrito Federal ou Municipais. Art. 8 Em caso de dissolução e liquidação de entidade constituidora de um Fundo Patrimonial Vinculado, por qualquer razão, o Fundo Patrimonial Vinculado respectivo será transferido para Universidade ou Instituição de Ensino Superior ou Associação ou Fundação de objetivos similares que se enquadre nos requisitos desta Lei, a ser determinada pelo Conselho de Administração. Parágrafo Único. A transferência prevista no caput também se aplica em caso de perda das condições previstas nesta Lei para a criação e manutenção de Fundos Patrimoniais Vinculados, não sanada no prazo máximo de dois anos. O patrimônio do FPV não se confunde com o patrimônio operacional. Por isso, não seria dissolvido e liquidado junto com a instituição beneficiária. Nessa hipótese, o FPV não deve existir sem uma causa que pretenda custear. De maneira semelhante ao que ocorre com o patrimônio de uma fundação cujas atividades sociais sejam extintas, o FPV será redirecionado a uma instituição semelhante ou que trabalhe a mesma causa, fortalecendo-a. A perda de certificação pode ocorrer de forma temporária, o que não deve acarretar a perda de um patrimônio destinado ao planejamento de longo prazo. Porém, caso o desenquadramento se mostre permanente, a instituição deverá abrir mão do capital obtido com uso do incentivo fiscal ora previsto. O prazo de dois anos foi considerado razoável para o reenquadramento nos requisitos legais. Art. 9 As doações, de qualquer natureza, mencionadas no Inciso I do Parágrafo Primeiro do artigo 1 acima, recebidas pelos Fundos Patrimoniais Vinculados, serão de natureza perpétua, em caráter irrevogável, não sendo permitidas quaisquer retribuições de natureza financeira ou patrimonial aos doadores.
11 Art. 10 Os Fundos Patrimoniais Vinculados serão isentos de tributos federais, não lhes constituindo rendimentos tributáveis o valor das doações recebidas, as correções dos valores decorrentes das reavaliações previstas nesta lei, os rendimentos e os ganhos auferidos, de qualquer espécie. Parágrafo Único. A isenção de impostos estaduais ou municipais incidentes sobre a transferência da titularidade ou uso dos bens doados aos Fundos Patrimoniais Vinculados, ou, posteriormente, sobre esses bens, dependerá da concessão de isenções específicas pelo poder competente. Art. 11 A União facultará às pessoas físicas e jurídicas, a partir do ano-calendário de 2014, a opção de deduzirem do imposto sobre a renda os valores correspondentes às doações que fizerem aos Fundos Patrimoniais Vinculados de que trata esta Lei, observados as condições e limites estabelecidos nos artigos 12 e 13 desta Lei. Parágrafo 1 Os Fundos Patrimoniais Vinculados recebedores das doações deverão emitir o recibo correspondente em favor do doador, pessoa física ou jurídica, na forma e condições estabelecidas em ato da Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda. Parágrafo 2 Para fins deste artigo, o valor dos bens ou direitos doados por pessoas físicas será o constante da última declaração do imposto sobre a renda, acrescido de eventual ganho isento na alienação, e, por pessoas jurídicas, será valor o contábil dos bens, limitado no máximo, em qualquer hipótese, aos respectivos valores de mercado.
12 Art. 12 Inclua-se o inciso IX no caput do art. 12 da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, nos seguintes termos: Art IX as doações feitas aos Fundos Patrimoniais Vinculados referidos na lei no., que não poderão reduzir o imposto devido em mais de seis por cento. Possibilidade de dedução do valor da doação, do Imposto de Renda das Pessoas Físicas. Discutiu-se como alternativa a possibilidade de dedução da base de cálculo do Imposto de Renda das Pessoas Físicas, optando-se pelo aproveitamento de um procedimento existente.... Art. 13 O inciso II do 2º do art. 13 da Lei n.º 9.249, de 26 de dezembro de 1995, passa a ter a seguinte redação: Art Possibilidade de dedução do valor da doação, para efeito de apuração do lucro real e da base cálculo do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas. 2º... II - as efetuadas aos Fundos Patrimoniais Vinculados referidos na lei no.. e às instituições de ensino e pesquisa cuja criação tenha sido autorizada por lei federal, estadual ou municipal e que preencham os requisitos dos incisos I e II do art. 213 da Constituição Federal, até o limite de um e meio por cento do lucro operacional, antes de computada a sua dedução e a de que trata o inciso seguinte;...
13 Art. 14 Inclua-se um inciso no caput do art. 44 da Lei nº , de 10 de janeiro de 2002, nos seguintes termos: A figura jurídica do FPV é criada como um novo tipo societário de organização sem fins lucrativos.... IV - Os Fundos Patrimoniais Vinculados, aplicando-se a eles, subsidiariamente as disposições aplicáveis às associações. Art. 15 Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICAÇÃO 1) Conceituação de Fundos Patrimoniais (chamados de endowments) e proposta de Projeto de Lei para criação de Fundos Patrimoniais Vinculados Os endowments são estruturas que recebem e administram bens e diretos, majoritariamente recursos financeiros, que são investidos com os objetivos de preservar o valor do capital principal no longo prazo, inclusive contra perdas inflacionárias, e gerar resgates recorrentes e previsíveis para sustentar financeiramente um determinado propósito, uma causa ou uma entidade de interesse público ou coletivo, sem fins lucrativos 1. O presente projeto de lei autoriza a criação de Fundos Patrimoniais Vinculados (FPVs) (endowment funds) pelas entidades que menciona, concedendo inclusive benefícios fiscais para as pessoas físicas e jurídicas que tenham interesse em fazer doações aos referidos fundos. Nas Universidades ou Instituições Públicas de Ensino Superior e nas Fundações e Associações Civis, o patrimônio do FPV deverá destinar-se aos fins previstos nos respectivos documentos de constituição, observados no mínimo o disposto nesta Lei. Os endowments permitiram às entidades filantrópicas e educacionais ao redor do 1 Uma confusão comum é a crença de que os endowments são fundos de investimento. Apesar das estreitas ligações entre os endowments e os fundos de investimento, as expressões não são sinônimas. Fundos de investimento são instrumentos jurídicos por meio do qual diversos investidores se reúnem para aplicar recursos, assumindo um determinado nível de risco, e esperando obter um determinado retorno financeiro. No Brasil, os fundos de investimento são regulados pela Comissão de Valores Mobiliários CVM, que os define da seguinte maneira: fundo de investimento é uma comunhão de recursos, constituída sob a forma de condomínio, destinado à aplicação em ativos financeiros (Artigo 2º da Instrução CVM nº 409, de 18 de agosto de 2004, conforme alterada). Os endowments também são uma comunhão de recursos, de uma ou de várias entidades, que são aplicados em ativos financeiros, mas as semelhanças com os fundos de investimento terminam por aí. A grande diferença entre eles reside na finalidade. Os fundos de investimento, conforme mencionado acima, são instrumentos para investidores que buscam retorno financeiro. Já os endowments são instrumentos criados para perenizar a existência e a viabilidade financeira de uma instituição, atividade ou entidade de interesse coletivo. O patrimônio de um endowment é atrelado à sua causa, ao seu propósito, e é desse vínculo que decorrem todas as suas outras características essenciais.
14 mundo edificar uma base financeira sólida, capaz de sustentar ou complementar suas atividades com recursos gerados a partir de seu próprio patrimônio. Dessa forma, tornaram-nas menos dependentes de novas doações e patrocínios, trouxeram maior estabilidade financeira e asseguraram a sua viabilidade operacional, permitindo que essas instituições se organizassem e crescessem a proporções que antes estavam fora de seu alcance. O preenchimento desta lacuna permitirá o desenvolvimento de um novo mecanismo de fortalecimento do setor, que levará a novas estratégias de mobilização de recursos capazes de influenciar significativamente a cultura de doação no Brasil e, em especial a filantropia familiar e dos indivíduos. Há quem considere que um dos obstáculos para a disseminação do endowment no Brasil, além de nossa pequena tradição em relação ao assunto, é a falta de uma legislação específica que facilite sua criação, e de incentivos fiscais. O aumento do volume de doações é de grande importância para o crescimento do número de fundos patrimoniais no país. Um mecanismo comprovado de fomento à cultura de doações são os incentivos fiscais. Segundo estudos sobre o tema, os incentivos fiscais encorajam doações, pois reduzem o preço do ato de doar. Evidências empíricas comprovam que existe a relação entre o a propensão à doação e os incentivos fiscais disponíveis (exemplos de estudos sobre price elasticity of giving : Randolph, 1995; Auten, Sieg and Clotfelter, 2002; Bakija and Heim, 2008; Karlan and List, 2007; Huck and Rasul, 2009). É urgente a modernização da legislação para fomentar esta prática no país que favorecerá diretamente organizações que exercem atividades em benefício da sociedade e apoiam o desenvolvimento de um Brasil mais justo e igualitário. 2) Endowments no cenário internacional Os endowments mostraram-se particularmente eficientes no meio acadêmico, com destaque para os endowments das grandes universidades norte-americanas e europeias, que possuem legislação e estrutura favoráveis que permitem que a entidade invista em pesquisa, construa melhores instalações e busque excelência nas suas atividades. O volume de recursos financeiros no endowment fund de cada uma dessas instituições muitas vezes supera os bilhões de dólares. Além das universidades, alguns dos maiores endowments do mundo servem a causas sociais, sendo a principal forma de custeio das atividades de diversas fundações e associações sem fins lucrativos. Em países de Common Law, estas estruturas existem há séculos 2, havendo inclusive 2 De acordo com Chris Russell, na obra Trustee Investment Strategy for Endowments and Foundations (West Sussex, Inglaterra: John Wiley & Sons, Ltd., 2006), os exemplos mais antigos registrados são resultado da doação de terras agrícolas à Igreja. Essas doações eram consideradas extremamente generosas, uma vez que a propriedade imobiliária era a grande medida de riqueza na época feudal. E, para perenizar o sustento da instituição religiosa, as doações
15 algumas instituições centenárias ainda em atividade, como é o exemplo da Rockefeller Foundation e da Carnegie Endowment. A Tabela abaixo apresenta os maiores fundos patrimoniais de fundações no mundo, como a Bill & Melinda Gates Foundation, a Ford Foundation e a Kellogg Foundation, que financiam projetos no mundo todo, inclusive no Brasil. FUNDAÇÕES ENDOWMENT FUNDS Ativos em 2012 US$ Bilhões Stichting INGKA Foundation 36,0 Bill & Melinda Gates Foundation 34,6 Wellcome Trust 22,1 Howard Hughes Medical Institute 16,1 Ford Foundation 11,0 J. Paul Getty Trust 10,5 Mohammed bin Rashid Al Maktoum 10,0 Foundation W.K. Kellogg Foundation 7,3 Rockefeller Foundation 3,5 Calouste Gulbenkian Foundation 3,5 Fonte: Na área de educação, os casos mais conhecidos são os endowments de instituições de ensino como Harvard e Yale. Dentre as 10 melhores instituições de ensino do mundo, 6 são dos Estados Unidos e 4 da Inglaterra e todas possuem endowments (Fonte: Dois terços do grupo formado por instituições superiores americanas possuem endowments, o que representou, no ano de 2011, cerca de 19 bilhões de dólares financiando pesquisa, aprimoramento de capacidade técnica e gestão. A Tabela abaixo apresenta uma visão bem objetiva da importância econômica dos endowment funds para as universidades americanas, com destaque para os fundos com ativos superiores a USD 5 bilhões. Destaca-se o fundo da Harvard University cujos resgates anuais, em torno de USD 1,4 bilhão, são aplicados em atividades acadêmicas e de pesquisa. INSTITUIÇÕES UNIVERSITÁRIAS (EEUU) ENDOWMENT FUNDS Ativos em 2011 US$ Bilhões Harvard University 31,728 Yale University 19,374 University of Texas System 17,149 Princeton University 17,110 Stanford University 16,503 eram realizadas com cláusulas de inalienabilidade, que impediam a venda dos imóveis. A restrição, imposta pelos próprios doadores, resultava na criação de uma reserva patrimonial perene, em ativos reais inalienáveis, que gerava renda para a Igreja por meio da cobrança de aluguéis dos terrenos; da cobrança de impostos feudais, como a talha (parte da produção) e a banalidade (taxa pela utilização de benfeitorias como moinhos e fornos); e da participação na venda ou escambo das mercadorias ali produzidas. Exemplos posteriores de aplicação da filosofia dos endowments ocorreram nas guildas de comércio ou corporações de ofício da Idade Média.
16 Massachusetts Institute of 9,713 Technology University of Michigan 7,835 Columbia University 7,790 Northwestern University 7,183 Texas A&M University 7,000 University of Pennsylvania 6,582 University of Chicago 6,575 University of California 6,342 University of Notre Dame 6,260 Duke University 5,747 Emory University 5,400 Washington University in St. 5,280 Louis Cornell University 5,059 Fonte: NACUBO-Commonfund Study of Endowments, realizado pela National Association of College and University Business Officers e pelo Commonfund Institute Nos Estados Unidos, as doações às instituições que se destinam a atividades culturais ou educacionais sem distribuição de resultados fazem parte da cultura local, e no caso das universidades americanas, as doações são angariadas entre alunos, ex-alunos, pais, docentes e empresários. O dinheiro arrecadado é, então, gerido por administradores que o aplicam no mercado financeiro, em renda fixa, renda variável e outros ativos. O sistema submete-se à fiscalização de auditores externos para garantir sua transparência. 3) Legislação internacional Seguem abaixo alguns exemplos de legislação relativas à endowments em várias partes do mundo. Estados Unidos (e Reino Unido): os endowments são beneficiados por incentivos fiscais que criam um ambiente propício para a propagação de uma cultura de doação e instituição de milhares de endowments. O imposto sobre herança não é exigido sobre as doações para fundações e estes recursos tem isenção de imposto de renda dos rendimentos auferidos. Nos Estados Unidos um mínimo de 5% dos recursos recebidos com benefício fiscal pelas fundações deve ser utilizado anualmente. Rússia: uma lei de 2006 regulamentou a criação de endowments por organizações sem fins lucrativos, ressaltando a importância da gestão transparente desses recursos e sua utilização apenas para boas práticas. Um grande número de fundos foi criado após esta lei e tem gerado resultados profícuos no campo da educação, saúde, entre outros. França: aprovada em 2008 a Lei de Modernização da Economia reconheceu oficialmente a figura dos endowments como um instituto jurídico autônomo. O artigo 140 dessa lei define os endowments como entidades jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que podem receber e administrar propriedades e
17 direitos de todos os tipos, utilizando a capitalização de renda para a realização de uma obra ou uma missão de interesse geral ou até mesmo redistribuir recursos para ajudar uma organização sem fins lucrativos na execução de seus trabalhos. Essa lei possibilitou a criação de cerca de 230 endowment funds apenas no primeiro ano de sua vigência, fato certamente relacionado aos incentivos fiscais concedidos para os endowment funds e para os doadores. Um dos beneficiados foi o conhecido Museu do Louvre, cujos gestores criaram em 2009 um endowment fund com o propósito de construir um centro de conservação de obras de arte, ampliar suas galerias abertas ao público e renovar suas coleções. República Tcheca: foi aprovada uma lei sobre Fundações e endowments, permitindo que as Fundações estabeleçam Fundos Patrimoniais, com o valor mínimo de 500 mil coroas tchecas (cerca de US$ 15 mil), que deverá subsistir durante toda a existência da Fundação. As Fundações que não tenham endowments terão toda a renda de suas propriedades sujeita ao pagamento de impostos sem redução de alíquotas. Índia e China: também possuem legislações semelhantes, sendo que no caso da China, se trata de uma legislação relativamente nova que busca fortalecer a filantropia do país como veículo de desenvolvimento da educação, cultura, meio ambiente, entre outras causas relevantes para o desenvolvimento do país. América Latina: relatos na América Latina têm apontado dificuldades para constituição dos endowments. Países como o México que possuem incentivos fiscais à doação apresentam cenário mais propício para a criação de fundos patrimoniais. 4) Fundos Patrimoniais (endowments) no cenário nacional No caso das associações e fundações brasileiras, existem obstáculos que dificultam a disseminação dos fundos patrimoniais. Aquelas que conseguem criá-los buscam enquadrar-se num ambiente legal não favorável e inadequado à sua realidade, como é o caso da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal FMCSV, fundação brasileira dedicada à causa da primeira infância, cuja gestão de seus ativos que compõem o seu fundo patrimonial no valor de R$ 385 milhões segue o modelo dos endowments no exterior e é gerido por um Comitê de Investimentos (fonte: relatório de Atividades 2012). A estabilidade operacional da organização permitiu a inovação e dedicação de recursos a projetos de longo prazo, tornando a organização uma referência na sua área de atuação. No Brasil, outro exemplo de destaque é a experiência lançada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) que colocou em funcionamento um fundo patrimonial com o objetivo de captar doações para a Escola, com destaque para as doações dos ex-alunos com o objetivo de garantir a excelência do ensino e pesquisa, beneficiando todas as gerações de estudantes da instituição. Esta iniciativa enfrentou uma série de entraves para operacionalizar o fundo patrimonial o que afetou significativamente seu desenvolvimento.
18 Mas, apesar dos entraves e falta de segurança jurídica, existem algumas organizações organização sem fins lucrativos brasileiras que possuem um fundo patrimonial que sustenta parte ou integralmente as atividades da entidade: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal; Fundação Bradesco; Instituto Unibanco; Fundação Banco do Brasil; Fundação Itaú Social; Instituto Alana; Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP); Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito da USP; Liga Solidária; Fundação Abrinq; Fundo Baobá; Fundo Elas; Fundo Brasil de Direitos Humanos. Alguns artigos e livros já publicados sobre o assunto: SOTTO-MAIOR, Felipe Linetzky. Endowments no Brasil: a importação de uma estratégia de sustentabilidade. Revista de Direito do Terceiro Setor RDTS, Belo Horizonte, ano 5, nº 10, p , jul/dez KISIL, Marcos. FABIANI, Paula Jancso. ALVAREZ, Rodrigo. Fundos Patrimoniais: criação e gestão no Brasil. 1ªa ed, São Paulo, Zeppelini Editorial, ALMEIDA PRADO E SILVA, Maria Lúcia de. Incentivos às doações a Fundos Patrimoniais. Brasil Econômico, p. 30, 12/08/2013. FABIANI, Paula Jancso. ALVAREZ, Rodrigo. A importância dos Fundos Patrimoniais. Revista Filantropia, nº 62, p , ALMEIDA PRADO E SILVA, Maria Lúcia de. Endowments - Legal Aspects. Artigo publicado no site estrangeiro Mondaq connecting knowledge and people. < /Corporate+Commercial+Law/Endowments+Legal+Aspects> FABIANI, Paula Jancso. Fundos patrimoniais e sua importância para o Brasil. IBEF News 175, p. 66, edição setembro/outubro, ) Legislação nacional e detalhamento de aspectos da proposta de Projeto de Lei Nos últimos anos, países em condições semelhantes ao Brasil reconheceram a importância dos fundos patrimoniais para o desenvolvimento do investimento social privado no país, e criaram legislações específicas para o tema. Alguns casos demonstram o impacto positivo que tal iniciativa pode trazer em prazo relativamente
19 curto. No Brasil, além de nossa pequena tradição em relação ao assunto, precisamos de uma legislação específica que facilite e promova a criação de fundos patrimoniais. Os esforços nesta direção ainda são incipientes, mas já apresentam resultados e aumento de interesse na temática. A cultura de filantropia sustentável ainda tem uma longa jornada até tornar-se geralmente aceita no Brasil, mas já há sinais de que o País está pronto e ávido para este processo. No Rio Grande o Sul a lei de n de agosto de 2007 institui o Programa de Apoio à Inclusão e Promoção Social que prevê a destinação de 5% do valor total de cada projeto aprovado pelo Programa para constituição de fundo financeiro permanente com o objetivo de sustentabilidade das organizações. Entretanto, esta lei restringe ao uso de montantes correspondentes aos resultados financeiros obtidos com aplicação, tornando indisponíveis valores de seu principal e outros recursos que lhe venham a ser destinados. Uma legislação que trate do tema necessita dar flexibilidade à gestão e aplicação dos recursos viabilizando a estrutura e seu potencial. Por definição, o Fundo Patrimonial Vinculado é formado por uma parte do patrimônio de uma organização que é segregada do patrimônio operacional e de suas demais reservas, com o objetivo de ser mantido no longo prazo, de maneira que seu poder aquisitivo seja preservado ou expandido ao longo dos anos. O Fundo Patrimonial Vinculado deve ser mantido investido com o intuito de gerar receita periódica e previsível para custear toda ou parte da missão da organização beneficiária. No presente projeto de lei, optou-se pela segregação do Fundo em uma personalidade jurídica distinta, o que trará maior segurança jurídica aos doadores. O fundo patrimonial pode ser criado pela própria instituição e geralmente é formado a partir de uma ou de várias doações, realizadas por doadores preocupados com a perenidade da entidade beneficiada. Com a repetição da experiência em diversos países, não existe uma única forma jurídica possível para os fundos patrimoniais o que os caracteriza é a sua estratégia de sustentabilidade. Para alcançar o objetivo de proteger e assegurar a viabilidade operacional da entidade beneficiária no longo prazo, a estratégia geral de um fundo patrimonial é que o seu patrimônio deve ser preservado e investido para gerar retorno. Dessa estratégia decorrem as duas características mais marcantes da estrutura de um fundo patrimonial, que são, sem dúvidas, sua regra de resgate e sua política de investimento. As regras de resgate é o dispositivo que estabelece o ritmo de gastos permitido para o fundo patrimonial. Em alguns casos, diversas regras são compiladas em uma Política de Resgates, podendo combinar cálculos objetivos com decisões discricionárias subjetivas, atribuídas a um indivíduo ou a um órgão colegiado. Pesquisas realizadas pela associação norte-americana National Association of College and University Business Officers na década de 1990 revelaram que a maioria dos endowments possuía regras de
20 resgate que permitiam a utilização, anualmente, de aproximadamente 5% do seu patrimônio líquido. Na pesquisa de 2012, com 831 instituições respondentes, a taxa de resgate efetivamente praticada foi de 4,2% do patrimônio em média. O ritmo de gastos estabelecido pela regra de resgate deve levar em consideração a expectativa de retorno de longo prazo dos investimentos, projeções de perda de poder aquisitivo por efeitos inflacionários, ritmo desejado de crescimento do fundo patrimonial, fatores importantes que nãoforam considerados quando da criação da Lei no Rio Grande do Sul. Para o sucesso de um fundo patrimonial em preservar-se e proteger a causa a que se destina, é imprescindível que a Regra de Resgate esteja em perfeita harmonia com a política de investimento. A política de resgates reflete e estabelece o que se costuma chamar de spending rate do Fundo Patrimonial Vinculado, ou seja, a taxa ou o ritmo de gasto do patrimônio. Já a expressão política de investimentos é utilizada para identificar a estratégia de investimento do Fundo Patrimonial ou o documento que declara e estabelece essa estratégia. Por vezes contém os limites de alocação de recursos, exposição a riscos, entre outros detalhes que compõem a estratégia, bem como algumas regras de governança aplicáveis aos processos de decisão. 6) Conclusão Com o objetivo de permitir uma adaptação de normas internacionais ao cenário econômico e financeiro brasileiro, bem como estimular a evolução do pensamento e experiências nacionais no tocante ao equilíbrio entre políticas de investimento e regras de resgate, o presente Projeto de Lei limitou-se a registrar diretrizes gerais, delegando aos instituidores de cada Fundo Patrimonial Vinculado a responsabilidade de criar e dar publicidade às regras de funcionamento de cada instituição. Espera-se que os limites ora fixados sejam capazes de direcionar os Fundos Patrimoniais Vinculados brasileiros no caminho certo, sem contudo limitar-lhes a experimentação e a evolução. Para se tornar uma realidade amplamente difundida, os fundos patrimoniais precisarão principalmente de estímulos do Poder Público e de um esforço conjunto de atores da sociedade civil. Definidas as características essenciais mínimas para que um patrimônio seja reconhecido como FPV, o caminho se abrirá para que a sociedade e o Estado estruturem políticas e ações de incentivo que estimulem o surgimento e o desenvolvimento de fundos patrimoniais que fortaleçam o setor sem fins lucrativos no Brasil e as universidades públicas. Este projeto estende também às iniciativas de cidadãos e empresas brasileiras, preocupadas com o meio ambiente e o bem estar social, educacional e cultural da comunidade brasileira, benefícios para que possam adicionar aos recursos privados que destinam às suas atividades, recursos de outros indivíduos e empresas, que tem preocupação similar, mas que não se propuseram ainda a criar seus próprios veículos para tal fim. É inegável o benefício que resultará da possibilidade de dirigirem tais
21 recursos para os fins sociais, ambientais, culturais e educacionais das referidas associações e fundações. O presente projeto visa disciplinar a matéria por meio de uma norma federal que também concede incentivos fiscais à criação de fundos patrimoniais. Inclui-se, entre as possibilidades de deduções do imposto de renda das pessoas físicas e jurídicas, a alternativa de doações para os Fundos Patrimoniais Vinculados e determina-se que os Fundos Patrimoniais Vinculados sejam isentos de tributos federais. Diante do inegável social alcance da medida, estamos convictos de que contaremos com o apoio de nossos ilustres Pares ao presente projeto de lei ao longo de sua tramitação legislativa. Estamos certos de que a matéria será devidamente examinada e aprimorada com a contribuição de todos nesta Casa, em razão de sua complexidade e de seu ineditismo entre nós. Sala das Sessões, em
22 FUNDOS PATRIMONIAIS VINCULADOS PROJETO DE LEI Nº, DE,. Autoriza a criação de Fundos Patrimoniais Vinculados e estabelece outras medidas. O Congresso Nacional decreta: Art. 1 Serão Fundos Patrimoniais Vinculados, para os fins desta lei, aqueles constituídos com personalidade jurídica de direito privado pelas entidades referidas no artigo 2, especificamente destinados ao propósito exclusivo de possibilitar a realização de atividades de interesse público previstas no seu estatuto social. Parágrafo Único. Os Fundos Patrimoniais Vinculados: (i) serão vinculados às entidades que os constituírem, mantidos seus patrimônios estritamente segregados, contábil, administrativa e financeiramente, para todos os efeitos legais; (ii) serão formados exclusivamente por dotações das próprias entidades que os constituírem e pelas doações de bens, móveis e imóveis, e direitos, de qualquer espécie, feitas por pessoas jurídicas ou físicas, domiciliadas no País ou no exterior; e (iii) constituirão poupança de longo prazo, que deverá ser investida com os objetivos de preservação de valor e de geração de receita para tornar-se uma fonte regular e estável de recursos, preservando e reforçando a capacidade de dar continuidade às suas atividades de interesse público no longo prazo. Art. 2 Poderão constituir um Fundo Patrimonial Vinculado, com os incentivos fiscais previstos nesta lei, as Universidades ou Instituições Públicas de Ensino Superior, Federais, Estaduais, do Distrito Federal ou Municipais, e as Fundações e Associações devidamente constituídas, sem fins lucrativos, que possuam, em pleno vigor, Declaração de Utilidade Pública Federal, instituída pela Lei 91, de , ou outra que venha a substituí-la, ou qualificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, instituída pela Lei 9.790, de ou outra que venha a substituí-la. Parágrafo Único. As Fundações e Associações que não possuam a Declaração de Utilidade Pública Federal ou a qualificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, previstas no caput, poderão constituir um Fundo Patrimonial Vinculado, nos termos desta lei, mas não usufruirão dos incentivos fiscais previstos nos artigos 11, 12 e 13 desta lei.
23 Art. 3 Os atos constitutivos dos Fundos Patrimoniais Vinculados deverão estabelecer: I - os objetivos a que se destinará o patrimônio do fundo, de forma pormenorizada, entre os objetivos constantes nos estatutos sociais das entidades a que se vinculam; II - as regras gerais fundamentais aplicáveis às políticas de investimentos e resgates e de alienação de bens e direitos integrantes do patrimônio; III - as regras de composição, funcionamento e competências dos órgãos de administração; IV - a previsão de, no mínimo, (i) um Conselho de Administração composto por, pelo menos, cinco membros, sendo um deles o Presidente que, no caso de Universidades e Instituições de Ensino Públicas, será o respectivo Reitor ou autoridade equivalente e no caso de Fundações e Associações Civis, o presidente do conselho ou órgão equivalente da organização; e (ii) um Comitê de Investimentos, composto por, pelo menos, três membros, com notórios conhecimentos e experiência nos mercados financeiros e de capitais, indicados pelo Conselho de Administração; V - a proibição de uso do patrimônio dos Fundos Patrimoniais Vinculados para qualquer outra finalidade não especificamente prevista, em obediência aos termos desta Lei, e de outorga, direta ou indiretamente, de garantias a terceiros ou às entidades a que se vinculam. Art. 4 Ao Conselho de Administração compete, observando o disposto no inciso III do parágrafo único do Artigo 1, aprovar regimentos internos sobre a política de investimento, as regras de resgate e utilização dos recursos, as quais deverão estar em perfeito alinhamento entre si, e refletir, no que aplicável, as regras dos fundos de investimentos existentes no mercado, quanto à proteção da rentabilidade, segurança e liquidez das aplicações, com vistas a assegurar sua sustentabilidade econômica e financeira ao longo de sua existência, devendo ser dada publicidade a estas regras por qualquer meio eficaz. Art. 5º Ao Comitê de Investimento compete atuar como órgão consultivo na definição de regras sobre o investimento financeiro e sobre a forma de resgate e utilização dos recursos e coordenar e supervisionar os gestores e demais profissionais responsáveis pelos investimentos financeiros dos Fundos Patrimoniais Vinculados, segundo as regras aprovadas pelo Conselho de Administração. Art. 6º Para atendimento dos objetivos dos Fundos Patrimoniais Vinculados poderão ser utilizados os rendimentos e os ganhos provenientes do patrimônio dos Fundos Patrimoniais Vinculados, auferidos durante o exercício, e, em casos excepcionais, mediante parecer favorável de todos os membros do Conselho de Administração, até
24 5% (cinco por cento) do patrimônio do início de cada exercício. Parágrafo 1º Parágrafo 2º Parágrafo 3º A utilização de recursos dos Fundos Patrimoniais Vinculados, provenientes de doações recebidas durante o exercício, será admitida se assim dispuserem os doadores e mediante deliberação favorável de todos os membros do Conselho de Administração, respeitando o limite de 20% (vinte por cento) dos respectivos valores. Os atos constitutivos dos Fundos Patrimoniais poderão estabelecer critérios adicionais para apuração do montante a ser resgatado e utilizado a cada exercício, inclusive critérios para elisão dos efeitos inflacionários sobre o patrimônio, respeitados os limites previstos nesta Lei. Constituirão despesas dos Fundos Patrimoniais Vinculados, aquelas consideradas necessárias e usuais para a manutenção das atividades dos Fundos visando à consecução dos objetivos contemplados, inclusive alugueres, custos de aquisição de bens de capital e insumos operacionais, auditoria, salários, taxas e honorários profissionais relativos à gestão. Art. 7 Os Fundos Patrimoniais Vinculados deverão observar o disposto nesta Lei e quaisquer outras leis e normas aplicáveis. Parágrafo 1º Os Fundos Patrimoniais Vinculados deverão: I - manter contabilidade e registros em consonância com os Princípios Gerais da Contabilidade Brasileira, com as adaptações que se façam necessárias, incluindo a elaboração periódica, no mínimo anual, das demonstrações financeiras e as regras aplicáveis emitidas pelas autoridades monetárias; II - elaborar anualmente um relatório circunstanciado da gestão dos recursos e sua aplicação que deverão ser publicadas por qualquer meio eficaz; III- contabilizar sempre os bens e direitos patrimoniais por seus respectivos valores de mercado. Quando o valor de mercado não for facilmente comprovável, os bens e direitos patrimoniais devem ser avaliados na data do recebimento das doações e no fim de cada exercício, por órgão, instituição ou especialista considerado capacitado e idôneo pelo Conselho de Administração. Parágrafo 2 As demonstrações financeiras anuais deverão ser auditadas por auditores independentes, sem prejuízo dos controles interno e externo exercidos pelos órgãos competentes das Unidades da Federação, nos casos de Fundos Patrimoniais Vinculados às Universidades ou Instituições Públicas de Ensino Superior, Federais, Estaduais, do Distrito Federal ou Municipais.
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