MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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1 Nº 16754/CS RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº CEARÁ RECORRENTE: EDUARDO NAPOLEÃO XIMENES NETO ADVOGADO: FRANCISCO MARCELO BRANDÃO E OUTRO(S) RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RELATORA: MINISTRA CÁRMEN LÚCIA RECURSO EM HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO CRIMNOISA VOLTADA PARA A CLONAGEM DE CARTÕES DE CRÉDITO, EMPRÉSTIMOS FRAUDULENTOS, DESVIO DE EMCOMENDAS BANCÁRIAS E FALSIFICAÇÕES DE CÓDIGO DE BARRA DE BOLETOS. REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, POR EXCESSO DE PRAZO. LIBERDADE PROVISÓRIA CONCEDIDA A OUTROS CORRÉUS. PEDIDO DE EXTENSÃO INDEFERIDO. SITUAÇÃO FÁTICA DISTINTA. RÉU QUE PERMANECE FORAGIDO DESDE O INÍCIO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL, TENDO SIDO SUSPENSO O CURSO DA AÇÃO PENAL, COM BASE NO ART. 366 DO CPP. EXCESSO DE PRAZO NÃO CONFIGURADO. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 312 DO CPP. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. GRAVIDADE DO CRIME, VERIFICADA EM CONCRETO. NECESSIDADE DA PRISÃO. PARECER PELO DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Trata-se de recurso em habeas corpus interposto por EDUARDO NAPOLEÃO XIMENES NETO, contra decisão do Superior Tribunal de Justiça que denegou o HC nº /CE. 2. Consta dos autos que o paciente foi denunciado, com outras 38 pessoas, como incurso no art. art. 288, do Código Penal c/c Lei nº 9.304/95 e art. 155, 4º, também do Código Penal, por suposta participação em uma

2 MPF/PGR Nº 16754/CS 2 grandiosa organização criminosa de clonadores de cartões bancários e de crédito, com atuação em diversas unidades da federação Sua prisão preventiva foi decretada pelo Juízo da 11ª Vara Federal da Seção Judiciária do Ceará para garantia da ordem pública, da ordem econômica e para a aplicação da lei penal. Segue, no que interessa, parte da decisão (fls. 121/198): EDUARDO NAPOLEÃO XIMENES NETO, v. DUDU DELITOS: formação de quadrilha, art. 288 do CP, com aplicação da Lei 9034; furto qualificado, art. 155, parágrafo 4o. do CP; art. 19 da Lei 7492/86; BUSCA E APREENSÁO Rua Monsenhor Bruno, 1907, Aldeota, Fortaleza. Rua Silva Jatahy, 942, apto. 103, Aldeota, Fortaleza, LUZON RESIDENCE HOTEL. OBJETO: Boletos de cobrança bancária, hds, laptops, chupacabras, cartões, máquinas de confecção de cartões, agendas, celulares, armas, correspondências bancárias em nome de terceiros, apetrechos para falsificação de cartões, armas, papéis contendo anotações com códigos. Automóveis. MOTIVO: 1 (...) As investigações em andamento na SR/DPF/CE revelam um quadro preocupante para os órgãos de segurança pública: a composição de uma enorme quadrilha, composta de várias células criminosas, agindo paralelamente com um propósito comum: praticar ilícitos visando à consecução de dinheiro desviado do sistema financeiro, seja através de clonagem de cartões magnéticos e o respectivo uso dos cartões montados ; seja através de transferência de valores de contas bancárias pela Internet, com a utilização indevida de senhas de correntistas; seja por meio de falsificação e uso de documentos falsos para angariar empréstimos junto a bancos, ou contratar financiamento de veículos enviados para outros Estados; seja adulterando códigos de barra de boletos de cobrança bancária para o desvio de pagamento em contas abertas em nomes de laranjas. Isso, sem mencionar os crimes de ameaça, violação de sigilo funcional, subtração e comércio irregular de chipes de aparelhos celulares, e até a adulteração de relógios medidores de energia elétrica - Trecho retirado da decisão que decretou a preventiva (fls. 127/128).

3 MPF/PGR Nº 16754/CS 3 Já foi condenado por tráfico de entorpecentes, em processo iniciado por inquérito tramitado na SR/DPF/CE. Integrante da quadrilha de ALOÍSIO e OSVALDO, com quem mantém contatos diários. Relaciona-se também com ROBSON PESTANA, o bancário BRUNO, MÁRCIO, MARA, OSVALDO e um servidor da Receita Federal. Faz uma espécie de ponte, intermediando contatos entre clonadores e o bancário Bruno e um servidor da Receita Federal, também envolvido no esquema criminoso. Repassa as informações cadastrais, dados bancários e fiscais sigilosos para ALOÍSIO e outros membros da quadrilha. Utiliza-se de cartões desviados dos correios, p.ex. ligação de , ou na ligação de 20/2/06, às 11:27H, onde comenta com Róbson que tentou passar cartões clonados passador por ALOÍSIO, mas na verdade tratavam-se de cartões desviados dos Correios. Mais tarde, DUDU liga para Aloísio para cobrar explicações e a trama é toda elucidada, ligação , às 12:18h. (ff. 55/56) Fortíssimos indícios de que comercializa entorpecentes no segundo endereço descrito acima, p.ex. ligação de 11/02/06, às 20:56h. Falsifica documentos, p.ex. ligação de , às 17:08h. ( ) A prisão, no caso ora examinado, representa medida processual cautelar indispensável para a garantia (1) da ordem pública, (2) da ordem econômica e (3) da aplicação da lei penal. (...) Os elementos até agora colhidos fazem supor que não se está diante apenas de fatos delituosos pretéritos. Ao revés, há claros indicativos de uma harmônica predisposição dos membros da organização de continuar a prática de todos os delitos já verificados, colocando literalmente todos os cidadãos que possuem contas bancárias e cartões de crédito em situações de vulnerabilidade em conjunto com todas a s instituições bancária e empresas já amplamente lesadas. Além da continuidade dos atos delituosos, detectou-se nas conversa interceptadas que a experiência até agora acumulada permitiu a exportação de tecnologia de clonagem de cartões

4 MPF/PGR Nº 16754/CS 4 para outros países como a Bolívia e Peru (v. fls. 227/228). Também se constatou um planejamento, de curto/médio prazo, para a execução de novos delitos, como a aquisição de aparelhos eletrônicos sofisticados, cotados a cem mil reais, que superem as medidas de segurança adotadas por algumas instituições bancárias consistente no acréscimo de letras à senha numérica (v. fls. 231 e 243). Falam ainda na preparação de um equipamento e de um programa que alteram o valor das notas em terminais de auto-atendimento no momento do saque (v. fls. 236, 343, 344). Há, pois, de se mencionar ainda que os indícios demonstram trata-se organização com alcance nacional e com capacidade de expansão sequer ainda não dimensionadas totalmente. A necessidade de garantia da ordem econômica está evidenciada pela considerável quantidade de pessoas já lesadas, incluindo instituições financeiras, e diante dos valores que os delitos envolvem. Assim, em certo trecho das interceptações telefônicas (v. fls. 761), os investigados MARCELO CARDOSO e SÉRGIO RUBENS RIBEIRO, estabelecem conversação em que, depois de planejarem crime através da feitura de boletos bancários falsos, chegam à consenso de que R$ ,00 (cinquenta e cinco mil e duzentos reais) representaria, em suas palavras pouco demais para a utilização de uma conta corrente funcional, pois só compensaria o valor de pelo menos 100 conto (ou seja, cem mil reais). Também consta às fls. 90/92 que os investigados objetivavam apura aproximadamente R$ ,00 (seiscentos e cinquenta e cinco mil reais) através da fraude em códigos de barra de boletos de cobrança. Cabe registrar que as cifras são ainda maiores em conversação de Édson Araújo de Souza, que, em ligação de , articula a falsificação de boletos de cobrança do Unibanco, calculando o golpe em aproximadamente R$ ,00 (um milhão e novecentos mil reais). (...) - Grifou-se. 4. O Tribunal Regional Federal da 5ª Região, ao analisar o HC n , entendeu existir excesso de prazo na instrução e

5 MPF/PGR Nº 16754/CS 5 deferiu a ordem para revogar a prisão preventiva do corréu LUIS MÁRIO ALVES BEZERRA O ora paciente, juntamente com outros três corréus, requereram a extensão dos benefícios concedido à Luis Mário Alves Bezerra. O pedido, a princípio, foi deferido pelo Tribunal a quo (fls. 32, e-stj): EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. DECISÃO FAVORÁVEL. EXTENSÃO. ART. 580 DO CPP. 1. O efeito extensivo do art. 580 do CPP também se aplica a decisões concessivas de habeas corpus, desde que seja idêntica a situação processual dos réus e os motivos invocados não sejam de caráter exclusivamente pessoal. 2. Constatada a identidade de situação de co-réu com o paciente do habeas corpus, ou seja, a prisão além do prazo tido como desejável para o final da instrução criminal, cabe a extensão dos efeitos writ. 3. Pedido de extensão deferido. 6. O Juízo da 11ª Vara Federal da Seção Judiciária do Ceará indagou o cumprimento da decisão que estendeu o benefício ao paciente, uma vez que, não obstante tenha ele contra si mandado de prisão preventiva nos autos da ação penal nº , nunca foi tal ordem cumprida, em face de encontrar-se o apontado réu foragido, citado por edital e não tendo comparecido à audiência designada para o seu interrogatório, estando o processo suspenso em relação a ele, nos termos do art. 366 do Código de Processo Penal (fls. 49). 2 EMENTA: Habeas Corpus. Prolongamento excessivo da instrução criminal. Requerimento de diligência, na fase do art. 499 do Código de Processo Penal. Réu preso há mais de um ano. Insubsistência dos motivos que autorizaram a preventiva. Ordem concedida. (Informação obtida no andamento processual do HC , na página eletrônica do TRF5).

6 MPF/PGR Nº 16754/CS 6 7. Sobreveio, então, questão de ordem suscitada pela defesa do recorrente, tendo o Tribunal Regional Federal da 5ª Região decido que o recorrente não se encontrava em idêntica situação aos demais corréus beneficiados (fls. 57/59, e-stj): Reexaminando, todavia, os autos deste Habeas Corpus, desde a inicial, verifico que a ordem aqui concedida não poderia ter sido estendida ao ao réu EDUARDO NAPOLEÃO XIMENES NETO. É que, nesta ação, o fundamento apresentado pelos impetrantes foi a existência de excesso de prazo para a conclusão da instrução criminal, levando-se em consideração encontrar-se o paciente LUIZ MARIO ALVES BEZERRA preso há mais de um ano, o que não corresponde à situação do ora peticionante. Em verdade, esta egrégia 4ª Turma foi induzida em equívoco quando, ao apreciar o pedido de extensão da decisão a outros réus que também se achavam detidos, o fez, igualmente, em relação a EDUARDO NAPOLEÃO XIMENES NETO, que, diferentemente do acordado por este Órgão Julgador, não se encontrava, e nem se encontra, em idêntica situação do paciente e dos demais co-réus. Entendo, portanto, que os efeitos da decisão concessiva do writ não podem ser estendidos ao referido co-réu. Primeiro, porque não se encontra preso. Segundo, porque contra ele persistem os pressupostos autorizadores de sua custódia preventiva, a teor do que dispõe o art. 312 do CPP. Com estas considerações, verificando a existência de erro na proclamação do referido julgado, ocorrida em 29/5/2007, é de ser ela retificada para DEFERIR, em parte, O PEDIDO DE EXTENSÃO, apenas, com relação aos co-réus ANTÔNIO JOSÉ ABREU DOS SANTOS, RENOIR SOLANO LIMA e MARCELO CARDOSO BARBOSA (grifou-se). 5. A defesa impetrou habeas corpus perante o Superior Tribunal de Justiça, objetivando novamente a extensão dos benefícios concedidos aos demais corréus. A ordem, no entanto, foi denegada em acórdão assim ementado (fls. 395, e-stj):

7 MPF/PGR Nº 16754/CS 7 PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. CLONAGEM DE CARTÕES DE CRÉDITO, EMPRÉSTIMOS FRAUDULENTOS, DESVIO DE ENCOMENDAS BANCÁRIAS E FALSIFICAÇÕES DE CÓDIGOS DE BARRAS DE BOLETOS. EVASÃO DO RÉU DO DISTRITO DA CULPA. SUSPENSÃO DO PROCESSO. ART. 366 DO CPP. EXCESSO DE PRAZO. DESCABIMENTO. 1. As condições pessoais supostamente favoráveis do paciente não se revelam fundamentos suficientes para infirmar a imprescindibilidade de sua custódia cautelar, mesmo porque o transcurso do tempo sem solução definitiva ao processo penal objeto do presente remédio heróico resulta de sua própria insistência em esquivar-se da aplicação da lei. 2. Descabe falar-se em excesso de prazo quando certo que o paciente se evadiu do distrito da culpa há mais de 5 (cinco) anos, permanecendo alheio aos chamados do Poder Judiciário e ensejando a suspensão do processo e do curso do prazo prescricional, em demonstração evidente do intuito pessoal de se furtar à escorreita aplicação da lei (grifou-se). 3.Ordem denegada. 6. Neste recurso, insiste o recorrente no pedido de revogação da prisão preventiva. Sustenta, para tanto, que o desaparecimento do agente do distrito da culpa não leva a presunção de que ele pretenda furtar-se a aplicação da lei penal (fls. 411, e-stj). 7. Subsidiariamente, pede a conversão da prisão preventiva em medida cautelar prevista no art. 282 c/c/ artigo 319, ambos do CPP, com redação dada pela Lei nº / Contrarrazões às fls. 422/ O parecer é pelo desprovimento do recurso.

8 MPF/PGR Nº 16754/CS Com efeito, não há qualquer ilegalidade nas decisões que afirmaram que recorrente não se encontrava na mesma situação fática dos demais corréus. 11. As prisões preventivas naqueles casos foram revogadas pelo excesso de prazo na instrução processual e por não persistirem mais os motivos da segregação cautelar. 12. No entanto, tais circunstâncias não se amoldam à situação do recorrente, que nunca esteve preso, precisou ser citado por edital e, portanto, ocasionou a suspensão da ação penal em relação a ele, nos termos do artigo 366 do CPP. 13. Logo, não há que se falar em extensão de pedido, pois a extensão de julgamento de habeas corpus para corréu somente pode abranger a pessoa que se encontre em situação objetiva e/ou subjetivamente idêntica à do paciente beneficiado pela concessão da ordem (HC nº /MT extensão. Rel. Min. Ellen Gracie. DJ de , p. 716). 14. Vale destacar, inclusive, que já foi prolatada sentença em relação a outros corréus, aos quais não se aplicou a referida suspensão processual, conforme informação prestada pelo Juízo da 11ª Vara Federal da Seção Judiciária do Ceará (fls. 384/385), o que, por si, descaracteriza qualquer alegação de inércia do aparelho judiciário. 15. Neste aspecto, devem prevalecer os fundamentos do Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (Desembargador convocado do TJ/RS) ao denegar o HC n /CE:

9 MPF/PGR Nº 16754/CS 9 (...) o que se colhe dos autos é que o paciente se evadiu do distrito da culpa há mais de 5 (cinco) anos, permanecendo alheio aos chamados do Poder Judiciário e ensejando a suspensão do processo e do curso do prazo prescricional, em demonstração evidente da pretensão de se furtar à escorreita aplicação da lei penal, razão pela qual resta a esta Corte Superior reconhecer que bem procedeu o Tribunal de origem ao negar a liberdade ao acusado. Por fim, impende salientar que as condições pessoais supostamente favoráveis ao paciente não se revelam fundamentos suficientes para infirmar a imprescindibilidade de sua custódia cautelar, mesmo porque o transcurso do tempo sem solução definitiva ao processo penal objeto do presente remédio heróico resulta de sua própria insistência em furtar-se à aplicação da lei, tanto que, até a presente data, permanece foragido (grifou-se). 16. Ressalte-se que não houve qualquer inovação nesse quadro fático, uma vez que, até o presente momento, o recorrente permanece em lugar incerto e não sabido e a Ação Penal nº (desmembramento da principal) ainda encontra-se suspensa nos termos do art. 366 do Código de Processo Penal Daí a necessidade de se manter a prisão preventiva do recorrente, membro de poderosa e articulada organização criminosa voltada para a clonagem de cartões de crédito, empréstimos fraudulentos, desvios de encomendas bancárias e falsificação de código de barra de boletos, cujo papel foi bem delineado pela decisão que decretou a cautelar. 18. Da análise da decisão de primeira instância, é possível perceber que houve menção expressa à necessidade de se garantir a ordem pública, a fim de evitar a reiteração criminosa, e o perigo de não aplicação da lei penal, 3 Informação confirmada na página eletrônica da Justiça Federal do Ceará.

10 MPF/PGR Nº 16754/CS 10 pois as modalidades de crimes capacitam quaisquer de seus integrantes apagar provas e indícios apenas com um clicar de mouse (fls. 132): (...) O caso relatado nos autos revela o grau de sofisticação e de ousadia alcançado pela organização. Apesar da atuação contínua e sem trégua dos órgãos de segurança, os grupos e pessoas que atuam nesse segmento do crime parecem não se incomodar nem se sentirem tolhidos na sua atividade criminosa. Suas ações se sofisticam e seu raio de abrangência é cada vez maior, espalhando-se por vários Estados da Federação. A intensidade das fraudes é cada vez mais sentida e o poder de atração sobre outros indivíduos cresce em progressão geométrica. (...). 19. Em sintonia, destaca-se da jurisprudência STF que a possibilidade de reiteração delituosa e a participação em organização criminosa são motivos idôneos para a decretação da custódia cautelar: É legal, a título de garantia da ordem pública, o decreto de prisão preventiva fundado em indícios de que o acusado integra quadrilha especializada, desde que demonstrada concretamente a elevada probabilidade de reiteração delitiva. (HC nº /CE, rel. Min. Cezar Peluso, DJe de ). 20. Frise-se, ainda, que a jurisprudência dessa Corte tem considerado válida a segregação cautelar decretada com vistas à paralisação ou redução de atividades cometidas por organizações criminosas. Confira-se, nesse sentido, o seguinte julgado: "HABEAS CORPUS. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CAUTELAR IDÔNEA PARA A PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM INDEFERIDA. 1. ( ) 2. A necessidade de se interromper ou diminuir a atuação de integrantes de organização criminosa,

11 MPF/PGR Nº 16754/CS 11 enquadra-se no conceito de garantia da ordem pública, constituindo fundamentação cautelar idônea e suficiente para a prisão preventiva. 3. Ordem denegada." (HC /SP, 1.ª Turma, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJe de 20/02/2009.) 21. Ademais, a alta periculosidade social do paciente, revelada pelo fato de já ter sido condenado por tráfico de entorpecentes, e o elevado grau de sua 0participação no esquema criminoso apontam para a necessidade da segregação cautelar, mostrando-se inadequada e insuficiente a imposição das medidas previstas no art. 319 do Estatuto Processual Penal. 22. Por fim, não é demais repetir que a simples situação de acusado foragido da Justiça torna válido o decreto prisional, com o intuito de se garantir a aplicação da lei penal (art. 312 do CPP), conforme, aliás, tem reiteradamente entendido essa Corte (HC , Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe-162 PUBLIC ). 23. Ressalte-se que, na hipótese, não se trata de fuga para evitar prisão manifestamente ilegal, mas sim de fuga realizada após instaurada a persecução penal e que perdura há mais de cinco anos. Daí, conclui-se que a garantia da aplicação da lei penal e a conveniência da instrução criminal são fundamentos suficientes a justificar a segregação cautelar. 24. Nesse sentido: HABEAS CORPUS. PACIENTE QUE NÃO FOI ENCONTRADA PARA FINS DE INTIMAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE INTERROGATÓRIO. NÃO COMPARECIMENTO. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA. GARANTIA DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. PERMANÊNCIA DO ESTADO DE FORAGIDA. AUSÊNCIA

12 MPF/PGR Nº 16754/CS 12 DE ILEGALIDADE. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. A paciente, acusada de tentativa de homicídio, não foi encontrada para fins de intimação da audiência de interrogatório. Citada por edital, a ré deixou de comparecer em juízo, permanecendo foragida. A situação de foragido é o parâmetro por definição do requisito da garantia da aplicação da lei penal, inscrito no art. 312 do Código de Processo Penal. Assim, é legítimo o decreto prisional nela fundamentado. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Ordem denegada. (STF. HC n.º /SP. Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA. DJ de 25/08/2006). 25. Pelo exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pelo desprovimento do recurso ordinário em habeas corpus. Brasília, 25 de maio de 2012 CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES Subprocuradora-Geral da República