RESPONSABILIDADE TÉCNICA DO NUTRICIONISTA: QUESTÃO ÉTICA, LEGAL E CIVIL
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- Mirella Sandra Fragoso Cavalheiro
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1 RESPONSABILIDADE TÉCNICA DO NUTRICIONISTA: QUESTÃO ÉTICA, LEGAL E CIVIL
2 LEGISLAÇÃO PERTINENTE AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL; RESPONSABILIDADE ÉTICA; RESPONSABILIDADE TÉCNICA; REPONSABILIDADE CIVIL; RESPONSABILIDADE PENAL; E SANÇÕES DISCIPLINARES.
3 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS Assim como para viver em sociedade importa necessariamente observar e cumprir determinadas normas de conduta individual, exercer uma profissão implica duplamente a obediência às normas, pois o profissional, além do dever de observância as regras gerais aplicadas a todos os cidadãos, deve atuar conforme as orientações normativas específicas inerentes ao exercício da atividade profissional. Esses mandamentos, quer emanados por normas gerais ou específicas imposta pelo Estado, quer estabelecida por atos normativos dos Órgãos de Fiscalização Profissional, são normas de cumprimento obrigatório, significando que o seu descumprimento pode acarretar sanções de natureza jurídica e ético-disciplinar.
4 RESPONSABILIDADES Quando a ação do agente fere a lei penal, diz-se responsabilidade criminal; Quando transgride a lei civil,diz-se responsabilidade civil; Quando há infração as normas definidas nos Códigos de ética, diz-se de responsabilidade ética, e Quando implicam em desobediências aos demais atos normativos dos Órgãos disciplinadores do exercício das profissões, diz-se de responsabilidade disciplinar.
5 A Constituição Federal em seu Art. 5º, inciso XIII diz que: "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissões que a lei estabelece". Desta forma, a lei maior consagrou o direito ao livre exercício de profissão, pois previu a possibilidade da edição de leis específicas relativas as qualificações do exercício das profissões, isto é, a formação acadêmica e registro do título no Conselho de Fiscalização Profissional respectivo. Os Órgãos de Fiscalização Profissional, cumprindo o encargo constitucional de fiscalizar o exercício das profissões (arts. 21, inciso XXIV e art. 22, inciso XVI), detêm inegável autoridade na área ética, para executar a inspeção e estabelecer as condições necessárias ao exercício da profissão em sua área específica. A Lei n.º 8.234/91- Regulamenta a profissão de nutricionista e determina outras providências.). A Lei n.º 6583/ Cria os Conselhos Federal e Regionais de nutricionistas, regula o seu funcionamento, e dá outras providências.
6 RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL A responsabilidade profissional de um modo geral reflete um sentido jurídico, moral e ético. A responsabilidade ética na verdade é subjacente está sempre presente nas infrações penais e civis. Ou seja, não pode haver uma infração penal ou ressarcimento de um dano a vítima sem haver também a falta ética. A responsabilidade profissional significa o encargo de assumir o ônus decorrente da violação do dever ético de prudência e diligência na prestação da assistência à saúde.
7 RESPONSABILIDADE ÉTICA É desta relação, isto é, da violação dos mínimos preceitos éticos que nasce a noção de responsabilidade ética. No plano ético responde pela transgressão dos preceitos estabelecidos no Código de Ética e no plano normativo legal pelo prejuízo causado ao cliente. Isto significa que o dever ético de prudência e diligência na prestação da assistência à saúde poderá ter conseqüências também no âmbito normativo legal, independente ou não de absolvição do respectivo Órgão de Fiscalização Profissional.
8 CÓDIGO DE ÉTICA DO NUTRICIONISTA (RESOLUÇÃO CFN N 334/2004) Art. 7. No contexto das responsabilidades profissionais do nutricionista são-lhe vedadas as seguintes condutas: I - utilizar-se da profissão para promover convicções políticas, filosóficas, morais ou religiosas; II - divulgar, ensinar, dar, emprestar ou transmitir a leigos, gratuitamente ou não, instrumentos e técnicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da profissão; III - tornar-se agente ou cúmplice, ainda que por conivência ou omissão, com crime, contravenção penal e ato que infrinjam postulado técnico e ético profissional; IV - praticar atos danosos aos indivíduos e à coletividade sob sua responsabilidade profissional, que possam ser caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência; V - solicitar, permitir, delegar ou tolerar a interferência de outros profissionais não nutricionistas ou leigos em suas atividades e decisões profissionais; VI - afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem garantir estrutura adequada e/ou nutricionista substituto para dar continuidade ao atendimento aos indivíduos ou coletividade sob sua responsabilidade profissional; VII - adulterar resultados, fazer declarações falsas e dar atestados sem a devida fundamentação técnicocientífica; VIII - vincular sua atividade profissional ao recebimento de vantagens pessoais oferecidas por agentes econômicos interessados na produção ou comercialização de produtos alimentares ou farmacêuticos ou outros produtos, materiais, equipamentos e/ou serviços; IX - divulgar, dar, fornecer ou indicar produtos de fornecedores que não atendam às exigências técnicas e sanitárias cabíveis;
9 X - divulgar, fornecer, anunciar ou indicar produtos, marcas de produtos e/ou subprodutos, alimentares ou não, de empresas ou instituições, atribuindo aos mesmos benefícios para a saúde, sem os devidos fundamentos científicos e de eficácia não comprovada, ainda que atendam à legislação de alimentos e sanitária vigentes; XI - utilizar-se de instituições públicas para executar serviços provenientes de consultório ou instituição privada, como forma de obter vantagens pessoais; XII - produzir material técnico-científico que contenha voz e imagens de indivíduos sob sua responsabilidade profissional, ou que contenham indicações físicas capazes de associar a pessoa a que se refiram, sem que para tanto obtenha autorização escrita do indivíduo ou de seu responsável legal; XIII - divulgar os materiais técnico-científicos referidos no item XII ou qualquer outra informação, acerca de indivíduos que estejam ou tenham estado sob sua responsabilidade profissional, sem que para tanto obtenha autorização escrita do indivíduo ou de seu responsável legal; XIV - deixar de desenvolver suas atividades privativas, salvo quando não houver condições de fazê-lo, caso em que deverá dar ciência ao superior imediato; XV - aproveitar-se de situações decorrentes da relação entre nutricionista e cliente para obter qualquer tipo de vantagem; XVI - desviar para atendimento particular próprio, com finalidade lucrativa, pessoa em atendimento ou atendida em instituição com a qual mantenha qualquer tipo de vínculo; XVII - realizar consultas e diagnósticos nutricionais, bem como prescrição dietética, através da Internet ou qualquer outro meio de comunicação que configure atendimento não presencial. Parágrafo único. Para os fins do inciso XVII deste artigo, compreende-se: a) por consulta, a assistência em ambulatório, consultório e em domicílio; b) por diagnóstico nutricional, o diagnóstico elaborado a partir de dados clínicos, bioquímicos, antropométricos e dietéticos; e c) prescrição dietética, a prescrição elaborada com base nas diretrizes estabelecidas no diagnóstico nutricional.
10 SANÇÕES DISCIPLINARES NO CÓDIGO DE ÉTICA CAPÍTULO XIII - DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES Art. 23. Constitui infração ético-disciplinar a ação ou omissão, ainda que sob a forma de participação ou conivência, que implique em desobediência ou inobservância de qualquer modo às disposições deste Código. Art. 24. A caracterização das infrações ético-disciplinares e a aplicação das respectivas penalidades regem-se por este Código e pelas demais normas legais e regulamentares específicas aplicáveis. Parágrafo único. A instância ético-disciplinar é autônoma e independente em relação às instâncias administrativas e judiciais competentes, salvo se nestas ficar provado que o fato não existiu ou que o profissional não foi o responsável pelo fato. Art. 25. Responde pela infração quem a cometer ou concorrer para a sua prática, ou dela obtiver benefício, quando cometida por outrem. Art. 26. A ocorrência da infração, a sua autoria e responsabilidade e as circunstâncias com ela relacionadas serão apuradas em processo instaurado e conduzido em conformidade com as normas legais e regulamentares próprias e com aquelas editadas pelos Conselhos
11 Art. 27. Àqueles que infringirem as disposições e preceitos deste Código serão aplicadas, em conformidade com as disposições da Lei n 6.583, de 20 de outubro de 1978 e do Decreto n , de 30 de janeiro de 1980, as seguintes penalidades: I - advertência; II - repreensão; III - multa; IV - suspensão do exercício profissional; V - cancelamento da inscrição e proibição do exercício profissional. 1º. Salvo os casos de gravidade manifesta ou reincidência, a imposição de penalidades obedecerá à gradação fixada neste artigo, observadas as normas baixadas pelo Conselho Federal de Nutricionistas. 2º. Na fixação de penalidades serão considerados os antecedentes do profissional infrator, o seu grau de culpa, as circunstâncias atenuantes e agravantes e as conseqüências da infração.
12 RESPONSABILIDADE X DIREITO RESPONSABILIDADE: exprime a obrigação de responder sobre alguma coisa, de satisfazer ou executar o ato jurídico que tenha se convencionado, ou a obrigação de cumprir o fato atribuído ou imputado à pessoa, por determinação legal. RESPONSABILIDADE - DEVER - COMPROMISSO - OBRIGAÇÃO DIREITO: Conjunto de regras, aceitas e observadas por todos os membros do corpo social, que impõe regras de conduta obrigatórias, as quais quando desobedecidas são passíveis de sanções.
13 Ao contrário dos efeitos da condenação criminal pela Justiça comum, a condenação do nutricionista por seu respectivo Órgão de Fiscalização, não significa que estará isento da responsabilidade civil ou penal. E nem a absolvição impedirá a ação de reparação civil e responsabilidade penal. Em geral as penas são de advertência verbal, multa, censura, suspensão temporária do exercício profissional e a mais grave cassação do direito ao exercício profissional, ressalvando que neste caso a instância competente é o Conselho Federal de Fiscalização da Profissão.
14 RESPONSABILIDADE CIVIL Decorre a obrigação de reparar o dano causado a outrem. Há 3 condições: a) Dano (pessoa, bens, etc) implica sempre em prejuízos econômicos e indenização ao paciente ou a sua família; b) Culpa subjetiva do autor do dano (fundamento normal da responsabilidade) deve estar configurada imprudência, imperícia e/ou negligência, sendo o nutricionista obrigado a reparar o dano. Exemplo: nutricionista prescreva algum medicamento/suplemento que provoque danos à saúde do paciente. c) Relação de casualidade entre o fato culposo e o mesmo dano. Código Civil Art Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
15 Art Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Art São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia Art Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932.
16 RESPONSABILIDADE PENAL O Código Penal é o conjunto de normas jurídicas que regula a atuação estatal no combate ao crime contra a pessoa humana, sua saúde, sua honra, seu patrimônio, a paz pública, a segurança da família etc. O Código Penal aplica-se ao Nutricionista sempre que seus atos resultarem em algum dano a outrem. Direito Penal: conjunto de normas jurídicas que regulam a atuação estatal no combate ao crime contra a pessoa humana, sua saúde, sua honra, seu patrimônio, a paz pública, segurança da família etc. Crime doloso: quando entra a vontade do autor Crime culposo: não ocorre a vontade do autor A possibilidade de responsabilizar criminalmente o profissional existe, mas é mínima, porque a prática do ilícito deve ser direta e pessoal. A não ser naquelas situações em que haja dolo por parte do profissional, ou seja, intenção de praticar o ato, conhecendo seus resultados. Pode ocorrer, isto sim, culpa concorrente, na forma do art. 29 do Código Penal, especialmente nos casos de omissão do profissional (Art Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade).
17 Pode ser por: a) IMPRUDÊNCIA: É o ato de agir perigosamente, com falta de moderação ou precaução, consiste na violação da regras ou leis, um comportamento de precipitação; b) NEGLIGÊNCIA: É o termo que designa falta de cuidado ou de aplicação numa determinada situação, tarefa ou ocorrência, falta de atenção, não tomando as devidas precauções, ausência de reflexão necessária, inação, indolência, inércia e passividade; e c) IMPERÍCIA: Constata em agir com inaptidão, falta qualificação técnica, teórica ou prática, ou ausência de conhecimentos elementares e básicos da profissão, a incapacidade, a falta de habilidade específica para a realização de uma atividade técnica ou científica, não levando o agente em consideração o que sabe ou deveria saber, falta de habilidade ou conhecimento para realizar a contento determinado ato. Se nos exemplos acima o profissional causou a morte da vítima a pena é detenção por 1-3 anos, aumentada de um terço por ser um profissional liberal que tinha a obrigação de prever o resultado.
18 IMPLICAÇÕES JURÍDICAS RESPONSABILIDADE PENAL Ocorre por prática de crime previsto normalmente no Código Penal, Lei de Tóxicos ou Crimes Hediondos, respondendo eventualmente em conjunto com o proprietário ou outros funcionários envolvidos. Sua conseqüência é a possível condenação a uma pena privativa de liberdade. Ex.: homicídio, lesão corporal (invalidez ou agravamento de doença), falsificação de substância com finalidade terapêutica, fornecimento de substância medicinal em desacordo com receita médica ou tráfico de entorpecentes.
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21 DANIELA ALVES DA COSTA OAB/RS GILBERTO CUNHA ADVOGADOS End. Rua Dr. Florêncio Ygartua, 270/1302, Bairro Moinhos de Vento, POA/RS Tel.: (51) /
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