ABORDANDO O CONTEÚDO FRAÇÃO A PARTIR DA LEITURA E MANIPULAÇÃO DE MATERIAIS
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1 XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática A sala de aula de Matemática e suas vertentes UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019 ABORDANDO O CONTEÚDO FRAÇÃO A PARTIR DA LEITURA E MANIPULAÇÃO DE MATERIAIS Laíse Pedreira Souza Universidade do Estado da Bahia lays_souza10@hotmail.com Elaine Silva dos Reis Universidade do Estado da Bahia lai_reis97@hotmail.com Viviane Mendonça dos Santos Universidade do Estado da Bahia vimss2004@yahoo.com.br Resumo: O presente trabalho objetiva relatar uma experiência desenvolvida no Estágio I, realizada numa escola pública do Município de Alagoinhas-BA. A disciplina tem como principal finalidade possibilitar oportunidades de vivenciar na prática conteúdos acadêmicos, impulsionando a formação de professores e promovendo melhorias na Educação Básica. Para isso, são desenvolvidas várias ações, dentre elas destacamos a elaboração e execução de oficinas. Iniciamos as atividades com observações da classe, para posteriormente aplicarmos a oficina, em uma turma do 6º ano do ensino fundamental II, na qual foi utilizado uma abordagem lúdica, com o uso de materiais concretos e leitura, ambos contemplando o conteúdo matemático fração. Percebemos que investir em atividades diferenciadas em sala de aula tem bastante influência no processo de ensino e aprendizagem de matemática, pois com a utilização de tais, os alunos aprenderam e/ou revisaram de forma lúdica o conceito de fração resultando numa fixação melhor do conteúdo. Palavras-chave: Fração. Leitura. Lúdico. INTRODUÇÃO A oficina que iremos relatar foi solicitada como requisito de avaliação do componente Curricular Estágio I do curso de Licenciatura em Matemática da UNEB- Campus II e realizada no Colégio Municipal Oscar Cordeiro, localizado na cidade de Alagoinhas-BA. O referido trabalho nos trouxe uma grande experiência enquanto discentes e futuros professores pois nos proporcionou a possibilidade de entender cada aluno bem como suas dificuldades em aprender o conteúdo fração. Com a intenção de ajudá-los a enxergar a matemática como uma disciplina prazerosa,
2 acreditamos que é necessário criar alternativas didáticas que possibilitem mostrar a importância dessa área do conhecimento no cotidiano dos alunos, para que assim não ocorra somente uma aprendizagem tradicional, e sim uma reflexão sobre o que se está aprendendo e uma aproximação entre o conhecimento matemático escolar com o seu cotidiano. Por muito tempo o ensino de matemática esteve vinculado a memorização e repetição de exercícios. Nesse trabalho propomos a utilização de material concreto e leitura como estratégias de ensino de matemática, pois acreditamos que através destes recursos é possível aprender conceitos matemáticos de forma significativa. O uso de material concreto propicia aulas mais dinâmicas e amplia o pensamento abstrato por um processo de retificações sucessivas que possibilita a construção de diferentes níveis de elaboração do conceito (PAIS, 2006). Nesse ínterim, a oficina desempenhará uma dupla função: lúdica e educativa, além de também implicar no desenvolvimento afetivo, cognitivo, físico, social e moral, manifestadas em um grande número de competências. Tais competências não são especificamente vinculadas à matemática, mas, certamente, se manifestam na aprendizagem dos conteúdos dessa área. Para que ocorra uma aprendizagem significativa, os professores devem buscar os conhecimentos necessários que complementem a sua formação para atuação na prática. Visando esse fim, é necessário encontrar metodologias de forma a alcançar melhores resultados em sala de aula. As atividades aqui socializadas foram realizadas com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II, a escolha por esse ano e conteúdo foi fundamentada na constatação das dificuldades comuns na aprendizagem do conteúdo fração e suas operações. Inicialmente fomos orientados pela docente do componente curricular Estágio I quanto à elaboração do trabalho e, em seguida a proposta foi apresentada à professora regente da turma. De modo geral, os objetivos dessa oficina foram desenvolver e introduzir o conceito de fração de forma diferente do tradicional, através da manipulação de material concreto, construir a ideia de frações equivalentes, utilizar leitura e interpretação de texto relacionados ao tema. A ATIVIDADE A atividade iniciou-se com a leitura coletiva do texto A divisão da melancia de autoria de Monteiro Lobato e retirado do livro Aritmética da Emília. Neste livro o autor demonstra uma maneira prática de ensinar e aprender Matemática usando a criatividade e a peripécia das personagens do Sítio. Ele aborda a ideia de ensinar Matemática formulando assim uma viagem ao País da Matemática, isto é, a viagem seria diferente: o país que viria até o Sítio, por meio dessas ações foram abordados diversos conteúdos de forma prazerosa. Portanto, com a vivência na sala de aula percebemos as dificuldades enfrentadas pelos
3 alunos, principalmente em leitura e interpretação de situações problemas. Desse modo, decidimos fazer uma abordagem diferente na aula de Matemática com a leitura desse texto, no intuito de levar os alunos a compreender a noção intuitiva de fração a partir da divisão de uma melancia. O texto objetiva trabalhar com a leitura e a interpretação dos alunos sobre o tema, para isso, auxiliamos os alunos na compressão dos parágrafos, ajudando-os a entender o que estava sendo lido e associando o conteúdo com o dia a dia dos mesmos.posteriormente, a sala foi dividida em grupos com quatro componentes e, para cada grupo foi entregue uma xerox da régua da fração e os cortes em E.V.A, com objetivo de fazer a sobreposição na régua da fração A utilização desse material tem por finalidade introduzir o conceito de fração de forma significativa, fazendo a relação entre parte e todo e a localização de cada fração na régua. Foi solicitado aos alunos que fizessem a sobreposição das peças de EVA na régua da fração, evidenciando a existência das frações equivalentes. Por exemplo: foi pedido que o retângulo que representa um meio fosse sobreposto na fileira de um quarto e eles puderam perceber que um meio é igual a duas partes de um quarto ou, ½ é equivalente a 2/4. Nesse momento também aproveitamos para frisar a nomenclatura de cada fração contida na régua e o porquê de serem chamadas assim. Finalizamos a atividade orientando os alunos a comparar as frações cujos denominadores são diferentes, descobrindo qual delas é maior a partir da sobreposição na régua. RESULTADOS E DISCUSSÃO A criança de modo geral leva o material concreto à sério e é possível perceber a dedicação e concentração que a mesma tem no ato de manipular. Tomando conhecimento disso o professor, quando toma a decisão de levar uma atividade lúdica para a sala de aula, pode usar essa informação a seu favor para atingir o objetivo específico já pré-estabelecido ao pensar nessa aula diferenciada. Assim, Oliveira (1992) afirma ser importante que o professor interaja nos jogos e não somente as observe todo o tempo pois, é a participação do professor nas brincadeiras que garante à discussão, o aprimoramento das ideias, a sugestão de pesquisas, a busca de respostas decorridas em uma situação lúdica. A forma como é pensada e executada as práticas de ensino da matemática podem ser vistas como um ponto de partida na construção do conhecimento, uma vez que toda e qualquer atitude tomada pelo educador faz a diferença nesse processo de ensino. Fiorentini (1992) defende que antes de optar por um material ou um jogo, devemos refletir sobre a nossa proposta político-pedagógica; sobre o papel histórico da escola, sobre o tipo de aluno que queremos formar, sobre qual Matemática acreditamos ser importante para esse aluno
4 pois o professor não pode subjugar sua metodologia de ensino a algum tipo de material porque ele é atraente ou lúdico. Nenhum material é válido por si só. Com isso, a busca por atividades diferenciadas, a preocupação em trazer o conteúdo para o cotidiano do aluno, e o esforço em sempre melhorar os métodos de ensino vão transformando o olhar do educando e concebendo ao mesmo ideias, questionamentos e dúvidas por fim resultando no aprendizado. Com a experiência vivida em sala de aula percebemos as dificuldades enfrentadas pelos discentes, principalmente em leitura e interpretação de situações problemas e também com os conceitos básicos de fração. Ao apresentamos o texto de Monteiro Lobato, percebemos que existe uma carência muito grande em associar a matemática com leitura, o que é ratificado por Diniz e Smole (2001) quando retratam a respeito da importância da leitura para a aprendizagem Matemática e que essa responsabilidade não pode se restringir somente ao professor de Português, mas deve-se trabalhar com leitura nas aulas de Matemática pois, ambas se completam e são necessárias e juntas promovem a interdisciplinaridade, a contextualização dos conteúdos e a participação motivada dos alunos de modo efetivo e coletivo. O aluno que possui o hábito de uma leitura diária, tem como consequência um pensamento e um raciocínio lógico, para resolver, solucionar e traçar estratégias para resolução de problemas no dia-a-dia. Assim, a Matemática, como qualquer outro conteúdo, necessita do ato da leitura e segundo Diniz e Smole (2001) integrar literatura nas aulas de matemática representa uma substancial mudança no ensino tradicional da matemática, pois, em atividades deste tipo, os alunos não aprendem primeiro a Matemática para depois aplicar na história, mas exploram a Matemática e a história ao mesmo tempo. Iniciar a atividade com a leitura do texto foi uma estratégia interessante, apesar da resistência inicial de alguns por não entenderem a relação entre leitura e matemática, ao final do estudo geral, os alunos gostaram e afirmaram que esse momento foi oportuno e de aprendizagem de novos fatos, conforme mostra a figura 1.
5 Mesmo com algumas dificuldades, podemos notar nos comentários deles a satisfação de aprendizado: Gostei muito do texto e aprendi algumas coisas que eu não entendia direito. Amei! Vocês merecem cinco estrelas pela criatividade do texto. Gostei, achei muito interessante a ideia de colocar matemática em texto. Ao introduzir a régua da fração, os alunos inicialmente apresentaram bastante dificuldade e foi necessário, algumas vezes, repetir cada passo que seria feito por eles. Foi preciso também questionamentos adicionais para fazê-los refletir e assimilar o conteúdo proposto. Podemos inferir que as atividades desenvolvidas foram muito proveitosas e significativas, pois houve envolvimento e empenho dos alunos nas mesmas. A oficina teve duração um pouco maior que o previsto devido á quantidade de questionamentos que surgiram, mas encerramos satisfeitas em ter alcançado nossos objetivos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Mostrar aos alunos que à aprendizagem da Matemática pode ser interessante, tem sido um desafio para os professores. O ensino dos conceitos Matemáticos é muitas vezes passado por meio da apresentação de definições, regras, fórmulas desvinculadas de outras e às vezes sem relação com o cotidiano dos alunos. Nesse contexto, o uso de materiais concretos, textos e
6 situações problemas podem ser utilizados para introduzir, construir e compreender os conteúdos. Para Thompson (1992) quanto mais é aprendido sobre as concepções da Matemática e do ensino de Matemática do professor, mais se torna importante entender como estas concepções são formadas e modificadas, pois, segundo ele qualquer esforço para melhorar a qualidade do ensino de Matemática deve começar por uma compreensão das concepções sustentadas pelos professores e pelo modo como estas estão relacionadas com sua prática pedagógica. A utilização de atividades diferenciadas não é tão fácil quanto parece, exige uma autorreflexão do ensino e é preciso ter um objetivo específico ao decidir trabalhar dessa maneira na sala de aula. A oficina também nos possibilitou perceber que a dificuldade na interpretação de texto é um fator marcante e que acarreta no baixo rendimento de outras disciplinas, inclusive a Matemática pois, como define Brasil (2000, p. 19), [ ] a comunicação tem grande importância e deve ser estimulada, levando-se o aluno a falar e a escrever sobre Matemática, a trabalhar com representações gráficas, desenhos, construções, a aprender como organizar e tratar dados. Desse modo, o aluno terá a autonomia para Matemática. Sobre isso, Diniz e Smole (2001, p.151) dizem que quando o aluno cria seus próprios problemas, ele expressa o que entendeu do conteúdo visto durante as aulas, criando nele a capacidade necessária para resolver problemas Matemáticos com mais segurança e ter um pensamento Matemático desenvolvido. De qualquer forma e apesar desses impasses, é possível ter resultados positivos com uso de materias concretos ou similares no ensino de conteúdos, mesmo que sejam conteúdos Matemáticos, pois acreditamos que a Matemática pode ser bem melhor explorada através de contextos significativos, jogos e brincadeiras, uma vez que trazer o conteúdo que era meramente decorado, explicado e treinado, como algo que faz sentido e pode ser utilizado na vida prática, faz do aluno um ser pensante e atuante nos mais diferentes contextos.
7 REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais Matemática. v. 3, 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, FIORENTINI, Dario. Uma reflexão sobre o uso de materiais concretos e jogos no Ensino da Matemática. Boletim SBEM-SP. Ano 4. nº 7 OLIVEIRA, Z. M. de. et al. Creches: crianças, faz-de-conta & Cia. 2. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro, RJ: Vozes, PAIS, Luis Carlos. Ensinar e aprender matemática. São Paulo: Autêntica, SMOLE, K. C. S. & DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender Matemática. Porto Alegre: Artmed, THOMPSON, A. Teacher s beliefs and conceptions: a synthesis of the research. In GROWS, D. A. Handbook of research on mathematics teaching and learning. National Council of Teachers of Mathematics. New York: MacMillan, 1992, p LOBATO, M. As Frações.In: Aritméica da Emília.p ed. Ilustr.Manoel, V.Filho. São Paulo:Brasiliense,1994.
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