UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE
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1 <> quantidade de enter <> <> <> UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE <> <> <> <> <> O BRASIL E A ALCA <> <> <> Por: Heloisa Yukie Sasaki <> <> <> Orientadora Profª. Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2003
2 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE <> <> <> <> <> O BRASIL E A ALCA <> <> <> <> <> Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Finanças e Gestão Corporativa. Por: Heloisa Yukie Sasaki.
3 3 AGRADECIMENTOS A todo corpo docente e aos colegas do curso de Finanças e Gestão Corporativa, em especial à Profª Mary Sue.
4 4 DEDICATÓRIA Ao meu irmão Luiz Fernando e aos meus pais por todo apoio dispensado nos momentos mais difíceis.
5 5 RESUMO A Área de Livre Comércio das Américas - ALCA, ainda é um tema muito polêmico, que divide opiniões. Existe uma corrente muito forte contra a criação da ALCA, que vai além de um simples acordo de livre comércio tradicional, envolve assuntos tais como patentes, compras governamentais, investimentos, entre outros temas vitais para os países em desenvolvimento e, apesar de se encontrar na fase conclusiva, pouco se conhece a respeito. Este trabalho visa dar um conhecimento geral, esclarecendo os principais pontos desse Acordo: sua história, as reuniões realizadas, sua estrutura e organização além dos principais pontos controversos. Esclarece, ainda, que apesar de toda a polêmica causada em torno deste tema, ainda há tempo para fortalecermos nossas posições e negociarmos em prol do nosso país e, em último caso, solicitarmos a prorrogação do prazo para sua constituição, que está previsto para janeiro de 2005, ou até mesmo não aderir a este Acordo. O Brasil poderá ter grandes oportunidades, assim como poderá assumir grandes riscos, não apenas econômicos como também sociais. Mas existe um risco ainda maior em não fazer parte desse bloco que, caso venha a ser constituído, será o mais importante do planeta.
6 6 METODOLOGIA O presente trabalho foi elaborado com base em pesquisas bibliográficas e documentais, de doutores, pesquisadores e políticos envolvidos direta ou indiretamente nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas - ALCA. Posteriormente, foram pesquisados e analisados artigos publicados na mídia com o intuito de se verificar os principais problemas detectados nas negociações do Acordo e suas implicações, aprofundados com leitura de livros, seminários e páginas eletrônicas que tratam do assunto em específico.
7 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - A História 11 CAPÍTULO II - A Estrutura e A Organização 20 CAPÍTULO III Os Pontos Críticos 45 CONCLUSÃO 47 BIBLIOGRAFIA 52 ÍNDICE 59 FOLHA DE AVALIAÇÃO 63
8 8 INTRODUÇÃO A Área de Livre Comércio das Américas ALCA foi proposta em 1994, por iniciativa dos Estados Unidos, na primeira Cúpula de Chefes de Estado e Governo das Américas, realizada em Miami. Trata-se de um projeto ambicioso que, caso venha a ser constituído, terá a condição de bloco comercial mais importante do mundo, formado por trinta e quatro países, com exceção de Cuba, oitocentos milhões de habitantes e um produto interno bruto PIB de doze trilhões de dólares. Hoje, a menos de dois anos da data prevista para o início da ALCA, ainda há muito a ser analisado, discutido e negociado, sob pena de comprometer o desenvolvimento econômico e social do Brasil, o qual possui papel fundamental nesse acordo, visto que é a maior economia da América do Sul. É necessário criar um modelo de integração democrático, regras ou disciplinas comerciais que levem em conta as imensas disparidades existentes entre os países do continente, assumindo o compromisso de superá-las, criando mecanismos concretos de promoção do desenvolvimento e afastando uma possível ameaça à soberania nacional.
9 9 CAPÍTULO I A HISTÓRIA
10 10 A idéia de se estabelecer acordos de livre-comércio com os países da América foi lançada por George Bush, eleito sucessor de Ronald Reagan, em junho de 1990, quando anunciou a Iniciativa para as Américas, a qual propunha realizar inicialmente acordos bilaterais com os países da região, centrados no comércio e nos investimentos. A criação da Área de Livre Comércio das Américas - ALCA foi formalizada pelo então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, na Primeira Cúpula das Américas, realizada em Miami, Estados Unidos, em dezembro de O Brasil foi representado pelo Presidente Itamar Franco, acompanhado pelo seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso, que acabara de ser eleito. A delegação brasileira não exerceu nenhum papel de destaque nessa conferência e não apresentou nenhuma proposta alternativa, no intuito de evitar um maior envolvimento do Brasil nas pré-negociações da ALCA. Acreditava-se que o encontro tinha caráter muito genérico e unilateral e que não levava à discussão de mecanismos concretos de promoção do desenvolvimento, o que poderia apresentar uma ameaça à soberania nacional. Apesar disso, o Brasil optou por acompanhar os trabalhos ao invés de assumir uma posição formal de recusa, a qual poderia acarretar um risco de isolamento, vez que os demais países da América Latina mostravam-se bem mais interessados na proposta Norte-Americana. Os negociadores brasileiros acreditavam que, enquanto o Congresso Norte-Americano não aprovasse o fast track, não seria possível avançar muito nas negociações, o qual veio a ser obtido apenas em julho de 2002.
11 11 O fast track significa tramitação rápida, atualmente denominado Trade Promotion Authority TPA (Autoridade para Promoção de Comércio), é um mecanismo legislativo pelo qual o Congresso Norte- Americano concede ao Executivo autorização para negociar acordos comerciais com outros países. As autorizações sempre vêm acompanhadas de limitações e condicionantes, como por exemplo, a condição de excluir determinados produtos das negociações ou a de incluir outros. Garantem, entretanto, que os acordos, uma vez concluídos, serão examinados em sua integridade, cabendo ao Congresso Nacional aprová-lo ou rejeitá-lo, sem emendas nem alterações. Possuem validade de três anos, podendo ser renovado, no máximo, por mais dois anos. As decisões tomadas nesta Primeira Cúpula foram formalizadas através da Declaração de Princípios e do Plano de Ação. Nesta Declaração de Princípios, documento que contém os pontos básicos que devem nortear a pauta das negociações, os Chefes de Estado e de Governo assumiram, entre outros, o compromisso de fazer avançar a prosperidade, os valores e as instituições democráticas e a segurança do hemisfério e entenderam as Américas como uma comunidade de sociedades democráticas que, embora enfrentem diferentes desafios de desenvolvimento, estão unidas na busca da prosperidade por meio de mercados abertos, da integração hemisférica e do desenvolvimento sustentável. Levaram em conta a democracia representativa como o único sistema político a garantir o respeito aos direitos humanos, o estado de direito além de salvaguardar a diversidade cultural, o pluralismo, o respeito pelos direitos das minorias e a paz nas nações e entre elas, além de reconhecerem o fortalecimento da democracia através da modernização do Estado e de um poder judiciário independente.
12 12 Tal declaração teve como ponto relevante a afirmação de que a integração econômica e o livre comércio são necessários à prosperidade dos povos e, quando progressivos, tornam-se fatores essenciais para elevar os padrões de vida, melhorar as condições de trabalho além de proteger melhor o meio ambiente. Afirmaram, ainda, que a eliminação de obstáculos de acesso ao mercado de bens e serviços, tais como, barreiras, subsídios e práticas desleais; aliada ao fluxo crescente de investimentos produtivos, promoveria o crescimento econômico; e que a integração econômica seria possível por meio da colaboração e do financiamento do setor privado e de instituições financeiras internacionais. Temas sobre corrupção, crime organizado, entorpecentes ilícitos, terrorismo, pobreza, meio ambiente, entre outros, também foram abordados nessa conferência. No Plano de Ação, os Chefes de Estado e de Governo afirmaram seu compromisso no sentido de fomentar os amplos objetivos estabelecidos na Declaração de Princípios, conscientes da necessidade de progresso prático nas tarefas essenciais de promover a democracia, promover o desenvolvimento, alcançar a integração econômica e o livre comércio, melhorar a vida de seus povos e proteger o meio natural para as futuras gerações. Na Cúpula de Miami foi consolidado o Comitê Tripartite, formado pela Organização dos Estados Unidos OEA, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento BID e pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe CEPAL, com a finalidade de fornecer assistência às negociações, realizando estudos além de manter a página eletrônica da ALCA com todas as informações oficiais.
13 13 Após a Primeira Cúpula das Américas, foram realizadas, ainda, a Segunda e a Terceira Cúpula, além de sete Reuniões Ministeriais. A Primeira Reunião Ministerial aconteceu em Denver, Estados Unidos, onde foram constituídos sete grupos de trabalho com a finalidade de definir os pontos principais para garantir a continuidade e o progresso das negociações, divididos em: acesso aos mercados; procedimentos alfandegários e regras de origem; investimentos; padrões e barreiras técnicas ao comércio; medidas sanitárias e fitossanitárias; subsídios; antidumping e direitos compensatórios; e economias menores. Os ministros definiram para esses grupos de trabalho, o estabelecimento de um plano de ação para cada um deles, com o objetivo de garantir avanços reais nas negociações, no intervalo entre essa Primeira Reunião Ministerial e a seguinte, que ocorreria em março de A Segunda Reunião Ministerial ocorreu em Cartagena, Colômbia, onde foi reafirmado o compromisso de se concretizar as negociações até Ficou decidido que os acordos sub-regionais e bilaterais de comércio em operação nas Américas deveriam ser adequados ao artigo XXIV do GATT de 1994 e seu Entendimento na Rodada do Uruguai, assim como o artigo I do Acordo Geral sobre Comércio e Serviços AGCS, da Organização Mundial do Comércio OMC. Foram criados mais quatro grupos de trabalho, a saber: compras governamentais; direitos de propriedade intelectual; serviços; e política de concorrência, totalizando, assim, onze grupos. Outro ponto importante dessa Reunião foi o reconhecimento do Foro Empresarial das Américas, instância não-governamental, resultante da
14 14 iniciativa do empresariado, que acompanha as negociações da ALCA desde seu início, promovendo reuniões paralelas às reuniões ministeriais, o qual teve sua agenda formalmente incorporada à dos encontros governamentais. A Terceira Reunião Ministerial teve sede em Belo Horizonte, Brasil, onde ficou acertado que o lançamento das negociações da ALCA dar-se-ia em abril de 1998, e deveria ser anunciada na Segunda Cúpula das Américas. Os ministros tomaram decisões sobre os princípios que deveriam nortear o processo de negociação da ALCA, a seguir descritos: a) deve ser um empreendimento baseado no consenso, como princípio de tomada de decisão, entre os trinta e quatro países envolvidos, garantindo assim o interesses de todos. b) O single undertaking é um princípio que estabelece que o resultado das negociações da ALCA constituirá num bloco único de medidas, o que pressupõe que somente serão assinados acordos quando todos os temas em pauta tiverem sido acordados. c) A ALCA deve ser compatível com os acordos da OMC, sendo aceitável a coexistência da ALCA com outros acordos bilaterais e sub-regionais, desde que não conflitem com os direitos e deveres estabelecidos e estejam de acordo com o sistema multilateral de comércio. d) Os países poderão negociar a ALCA e aderir à mesma individualmente ou como membros de um grupo de integração sub-regional que negocie em bloco.
15 15 e) O reconhecimento das fragilidades das economias menores e a necessidade de fornecer condições econômicas e oportunidades que possibilitem sua participação na ALCA.
16 16 Na ocasião foi levantada, ainda, a necessidade de uma secretaria administrativa, vista como essencial para operacionalizar as negociações. Foi estabelecido um Comitê Preparatório constituído pelos viceministros responsáveis pelo comércio, formalizando e ampliando o papel que estes já vinham desempenhando no processo negociador. Também foi criado o 12º grupo de trabalho: soluções de controvérsias. Determinou-se que os vice-ministros deveriam sugerir, na Reunião Ministerial seguinte, modificações na estrutura dos grupos de trabalho, que poderiam ser reconfigurados em grupos de negociação. Paralelamente à Reunião Ministerial, as centrais sindicais e as organizações não-governamentais também realizaram um encontro, constituindo-se, então, a Aliança Social Continental ASC, que conta com a participação de entidades continentais, regionais, nacionais e específicas, a exemplo da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores ORIT (continental) e da Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul CCSCS (regional). Também integram a Aliança, a maior parte das centrais sindicais dos países americanos e redes de organizações nãogovernamentais. Em março de 1998, ocorreu a Quarta Reunião Ministerial, em São José, Costa Rica, em que ficou acordada a estrutura inicial das negociações, a qual poderia ser modificada no futuro, segundo as necessidades das negociações. Na nova Estrutura Institucional, os ministros responsáveis pelo comércio passaram a exercer a função de supervisão e direção superior das negociações.
17 17 Logo abaixo desse nível estariam os vice-ministros, que compõem o Comitê de Negociações Comerciais CNC, que orientam os trabalhos dos grupos de negociação, decide sobre arquitetura geral dos acordos e sobre os aspectos institucionais, e zela pela participação efetiva de todos os países na ALCA, devendo manter especial atenção para as economias menores e os diferentes níveis de desenvolvimento. Foram estabelecidos nove grupos de negociação: acesso aos mercados; investimentos; serviços; compras governamentais; soluções de controvérsias; agricultura; direitos de propriedade intelectual; subsídios, antidumping e direitos compensatórios; e política de concorrência. Foram criados: o Comitê Conjunto de Especialistas Governamentais e do Setor Privado em Comércio Eletrônico; o Comitê de Representantes Governamentais sobre a Participação da Sociedade Civil, a Secretaria Administrativa de Negociações e o Grupo Consultivo sobre Economias Menores. A presidência das negociações para a criação da ALCA foi também atribuída de acordo com o princípio de rodízio. O país que detém a presidência sediaria as reuniões ministeriais e presidiria o CNC e foi estabelecido o seguinte cronograma: Canadá e Argentina, presidência e vice-presidência, respectivamente, no período de maio de 1998 a outubro de 1999; Argentina e Equador, de novembro de 1999 a abril de 2001; Equador e Chile, de maio de 2001 a outubro de 2002; e co-presidência do Brasil e Estados Unidos, de novembro de 2002 a dezembro de 2004, ou até as negociações serem finalizadas. A Segunda Cúpula das Américas aconteceu em Santiago, Chile, em abril de 1998, onde novamente os 34 Chefes de Estado e de Governo reuniram-se e reafirmaram o compromisso com a constituição da ALCA e
18 18 reiterando que a conclusão das negociações dar-se-á em janeiro de 2005, com a entrada em vigor da área de livre comércio em dezembro desse ano. A Declaração de Princípios, além de reafirmar os pontos centrais já discutidos e negociados, colocou a educação como tema central e de particular importância nas deliberações, tendo em vista que constitui fator determinante para o desenvolvimento político, social, cultural e econômico dos povos. Comprometeram-se a facilitar o acesso de todos os habitantes das Américas à educação pré-escolar, primária, secundária e superior, e fazer da aprendizagem um processo permanente, além de colocar a ciência e a tecnologia a serviço da educação, a fim de assegurar graus crescentes de conhecimento e para que os educadores alcancem os mais altos níveis de aperfeiçoamento. Em novembro de 1999, aconteceu a Quinta Reunião Ministerial, em Toronto, Canadá. A declaração resultante dessa reunião reconheceu que o trabalho dos Grupos de Negociação estava produzindo resultados tangíveis, principalmente resumos ou esboços do que seriam os capítulos de um acordo para a criação da ALCA. Tal declaração determinava que os textos fossem aprimorados, para conter as propostas e conclusões às quais se chegou por consenso, com as divergências apresentadas em colchetes, visando dessa forma preparar a Reunião Ministerial seguinte, onde as divergências seriam analisadas em nível político pelos ministros. Na declaração, instruiu-se os vice-ministros a compilarem o trabalho realizado pelos Grupos de Negociação e para iniciarem as discussões sobre a arquitetura geral de um acordo para a criação da ALCA e sobre os aspectos institucionais.
19 19 A declaração tornou mais visível o apoio institucional que o BID e o FMI dão ao processo de negociações. O primeiro destinando recursos para a assistência técnica e o segundo dispondo-se a considerar a possibilidade de suporte financeiro para implementar medidas que ajudem na facilitação de negócios. A Sexta Reunião Ministerial aconteceu em Buenos Aires, Argentina, em abril de Ressalta-se, entre outros, a elaboração de uma primeira minuta de um Acordo ALCA, decorrente da compilação das minutas de texto elaboradas pelos Grupos de Negociação; o início das discussões sobre a estrutura geral do Acordo ALCA (aspectos gerais e institucionais); os avanços nos relatórios sobre a inter-relação entre comércio e política de concorrência, incluindo medidas anti-dumping e sobre a interação entre os Grupos de Acesso a Mercados e Agricultura; sobre o tratamento das diferenças nos níveis de desenvolvimento e tamanho das economias nos acordos de comércio e de integração. Ressalta-se, ainda, a existência do Comitê Técnico de Assuntos Institucionais, criado recentemente, além do Grupo Ad Hoc de Peritos Aduaneiros. Aprovou-se o projeto de cooperação técnica do Fundo Multilateral de Investimentos FOMIN, subordinado ao BID, que contribuiria para facilitar a implementação das medidas aduaneiras, levando em consideração as diferenças nos níveis de desenvolvimento e tamanho das economias. Os Ministros instruíram os Grupos de Negociação a intensificar os esforços para resolver as divergências existentes e alcançar um consenso, com vista a eliminar os colchetes das minutas de texto, na maior medida possível, e trabalhar na consolidação de textos com base nas instruções específicas.
20 20 Com o intuito de assegurar que o processo de negociação fosse transparente e de realizar as negociações de forma a gerar amplo respaldo e compreensão pública a respeito da ALCA, foi decidido tornar pública a minuta do Acordo ALCA, com os colchetes, nas quatro línguas oficiais, depois da Terceira Cúpula das Américas. A Terceira Cúpula das Américas foi realizada em abril de 2001, na cidade de Quebec, Canadá, com a participação dos 34 Chefes de Estado e Governo envolvidos nas negociações da ALCA, onde renovaram o compromisso em favor da integração hemisférica e reiteraram a responsabilidade, coletiva e nacional, de aprimorar o bem-estar econômico e a segurança dos povos. Adotaram um Plano de Ação com o objetivo de fortalecer a democracia representativa, promover a boa governança e, ainda, proteger os direitos humanos e as liberdades fundamentais. A questão da democracia teve destaque, sendo reafirmada como um elemento essencial para o aprofundamento do processo e que a manutenção e o fortalecimento do estado de direito além do irrestrito respeito ao sistema democrático seria uma condição essencial que garantiria a presença dos países nesta e em futuras Cúpulas. Conseqüentemente, qualquer mudança inconstitucional ou interrupção da ordem democrática em um Estado do Hemisfério constituiria um obstáculo insuperável à participação do Governo daquele Estado no processo de Cúpula das Américas. Foram abordados temas com a AIDS, os desastres naturais, os direitos dos povos indígenas, a saúde e a pobreza, esta última com a meta de redução em 50%, até 2015, da proporção de pessoas que vivem em situação de pobreza extrema.
21 21 Ressalta-se, ainda, que os Ministros das Relações Exteriores foram instados a preparar uma Carta Democrática Interamericana, que reforçaria os instrumentos da OEA destinados à ativa defesa da democracia representativa. Em novembro de 2002 aconteceu a última Reunião Ministerial realizada até o momento, a qual foi sediada em Quito, Equador, tendo sido a primeira após o atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, quando algumas das prioridades Norte-Americanas foram alteraradas e o combate ao terrorismo passou a figurar no topo de sua agenda internacional. A reunião ocorreu nos dias que se seguiram às eleições presidenciais brasileiras, em que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião a presidência das negociações passou do Equador para os Estados Unidos e o Brasil, marcando o início da fase decisiva, em que caberá o estabelecimento de regras de funcionamento da ALCA, tendo em vista o seu objetivo para janeiro de Fica evidenciada nesta Reunião Ministerial, a elaboração de uma segunda minuta dos capítulos consolidados, redigidos pelos Grupos de Negociação; o início das negociações de acesso a mercados de bens agrícolas e não agrícolas assim como o estabelecimento do cronograma para o intercâmbio de ofertas de acesso a mercados, começando as ofertas iniciais a partir de 15 de dezembro de Foram reiterados, ainda, temas sobre transparência e participação da sociedade civil. Faltam apenas duas Reuniões Ministeriais, previstas para o final de 2003 e para 2004, em Miami e no Brasil, respectivamente.
22 22 CAPÍTULO II A ESTRUTURA E A ORGANIZAÇÃO
23 23 A Presidência da ALCA será exercida por meio de rodízio entre os países participantes. O país que estiver exercendo a Presidência sediará as Reuniões Ministeriais e presidirá o Comitê de Negociações Comerciais. A Cúpula reúne os Chefes de Estado e de Governo dos 34 países participantes é o principal momento de afirmação e renovação da vontade política necessária para impulsionar ou não a integração continental. Abaixo da cúpula vem a Reunião de Ministros do Comércio (no caso do Brasil, o Ministro das Relações Exteriores) e deve ocorrer, no mínimo, a cada 18 meses. São responsáveis pela supervisão geral das negociações. Logo abaixo da Reunião de Ministros, está o Comitê de Negociações Comerciais CNC, integrado pelos Vice-Ministros de Comércio de cada país (no caso do Brasil é o Subsecretário-Geral de Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior), que é o órgão executivo do processo de negociação e tem como função, entre outras, decidir a estrutura geral do Acordo ALCA, referentes aos aspectos gerais e institucionais, assegurar a transparência do processo negociador, supervisionar o trabalho da Secretaria Administrativa e do Subcomitê de Orçamento e Finanças, assim como as solicitações dirigidas ao Comitê Tripartite e analisar o tratamento das diferenças no nível de desenvolvimento e tamanho das economias do Hemisfério. O CNC terá um Presidente e um Vice-Presidente, e caberá ao mesmo a responsabilidade de assegurar a participação de todos os países no processo da ALCA e de orientar o trabalho dos Grupos de Negociação, do Comitê de Representantes Governamentais sobre a Participação da Sociedade Civil, do Grupo Consultivo sobre Economias Menores e do Comitê de Especialistas do Governo e do Setor Privado sobre Comércio Eletrônico. Deverá se reunir pelo menos duas vezes ao ano.
24 24 O Subcomitê do CNC sobre Orçamento e Administração foi criado visando ao fortalecimento da gestão financeira nas negociações. Abaixo do CNC está o Grupo de Negociação, divididos em nove áreas: acesso a mercados; investimentos; serviços; compras governamentais; solução de controvérsias; agricultura; direitos de propriedade intelectual; subsídios, anti-dumping e medidas compensatórias; e políticas de concorrência. O Grupo de Acesso a Mercados tem como objetivo eliminar progressivamente as tarifas e as barreiras não-tarifárias assim como outras medidas de efeito equivalente que restringem o comércio entre os países participantes, além de facilitar a integração das economias menores, garantindo sua participação nas negociações da ALCA, de acordo com a Organização Mundial de Comércio OMC. Podem negociar diferentes cronogramas de liberalização comercial. Compete ao Grupo de Negociação sobre Agricultura, assegurar que as medidas sanitárias e fitossanitárias não sejam aplicadas de modo protecionista, eliminar os subsídios às exportações agrícolas que afetem o comércio no hemisfério, além de identificar e submeter a maior disciplina outras práticas que distorçam o comércio de produtos agrícolas, inclusive aquelas que tenham efeito equivalente ao dos subsídios às exportações agrícolas. Os temas de regras de origem, procedimentos aduaneiros e barreiras técnicas ao comércio serão tratados no Grupo sobre Acesso a Mercados. O objetivo do Grupo sobre Investimentos é estabelecer um marco jurídico justo e transparente que promova os investimentos mediante a criação de um ambiente estável e previsível que proteja os investidores, seu capital e os fluxos a eles relacionados, sem criar obstáculos aos investimentos de fora do hemisfério.
25 25 O Grupo sobre subsídios, anti-dumping e direitos compensatórios, examina maneiras de aprofundar, caso seja apropriado, as disciplinas que figuram no Acordo da OMC sobre Subsídios e Medidas Compensatórias e lograr um maior cumprimento das disposições do mencionado acordo além de buscar um entendimento comum com vistas a melhorar, onde possível, as regras e procedimentos relativos à operação e aplicação das legislações sobre dumping e subsídios, evitando barreiras injustificadas ao comércio no hemisfério. Com relação ao Grupo de Compras Governamentais, buscam alcançar a abertura e a transparência nos procedimentos de compras governamentais, sem que isso implique necessariamente no estabelecimento de sistemas idênticos de compras governamentais em todos os países; assegurar a não-discriminação nas compras governamentais dentro de um alcance a ser negociado, além de assegurar um exame imparcial e justo para a solução das reclamações e recursos de fornecedores sobre as compras governamentais, e a implementação efetiva de tais soluções. O Grupo de Propriedade Intelectual tem como objetivo reduzir as distorções no comércio do hemisfério, assim como promover e assegurar uma adequada e efetiva proteção dos direitos de propriedade intelectual, levando-se em conta as mudanças tecnológicas. O Grupo sobre Serviços, por sua vez, objetiva estabelecer disciplinas tendo em vista a liberalização progressiva do comércio de serviços, permitindo alcançar uma área hemisférica de livre comércio, em condições de previsibilidade e transparência, além de assegurar a integração das economias menores no processo da ALCA.
26 26 Em relação ao Grupo de Políticas de Concorrência, tem como meta: garantir que os benefícios do processo de liberalização da ALCA não sejam prejudicados por práticas empresariais anticompetitivas e avançar no estabelecimento de uma cobertura jurídica e institucional de âmbito nacional, sub-regional ou regional que proscreva o exercício dessas práticas. Finalmente, o Grupo sobre Solução de Controvérsias buscam estabelecer um mecanismo justo, transparente e eficaz para a solução de controvérsias entre os países da ALCA, tomando em conta, entre outros, o Entendimento sobre as Regras e Procedimentos que Regem a Solução de Controvérsias, da OMC. Buscam, ainda, identificar meios para facilitar e fomentar o uso da arbitragem e outros mecanismos alternativos de solução de controvérsias para resolver disputas comerciais privadas no âmbito da ALCA. O trabalho dos grupos acima listados pode estar interrelacionado, a exemplo do Grupo sobre Agricultura e Acesso a Mercados. Podem ser estabelecidos, ainda, grupos de negociação ad hoc, conforme a necessidade dos Grupos de Negociação, a exemplo do grupo ad hoc de especialistas criado para informar ao CNC sobre a implementação das medidas de facilitação de negócios relacionados a assuntos alfandegários. Essas medidas não requerem aprovação legislativa, mas podem se implementadas administrativamente, são designadas a facilitar o intercâmbio comercial dentro das Américas e a beneficiar todas as partes. O Presidente e o Vice-Presidente de cada Grupo de Negociação serão selecionados pelo CNC, levando em consideração a necessidade de se preservar o equilíbrio geográfico entre os países, e exercerão suas funções por um período de 18 meses ou até a Reunião Ministerial subseqüente.
27 27 A Secretaria Administrativa possui caráter provisório e é subordinada ao CNC, tendo sido criada com o objetivo de proporcionar apoio logístico e administrativo às negociações; proporcionar serviços de tradução de documentos e interpretação durante as deliberações; manter a documentação oficial relativa às negociações; além de publicar e distribuir documentos. Esta Secretaria estará localizada na mesma sede das reuniões dos Grupos de Negociação, e é financiada com recursos locais e recursos das instituições do Comitê Tripartite. Caberá ao CNC determinar a dimensão e a composição do pessoal, além de nomear o seu Diretor. O Comitê Tripartite, formado pela Organização dos Estados Americanos OEA, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento BID e pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e Caribe CEPAL, foi responsável em assessorar as etapas preparatórias das negociações da ALCA com apoio técnico assim como tem a finalidade de fornecer assistências às negociações, realizando estudos, além de manter a página eletrônica da ALCA com todas as informações oficiais. Sua coordenação está situada em Washington. A Presidência tem característica rotativa, entre as três instituições, mudando a cada seis meses. Existem, ainda, os comitês não-negociadores, subordinados ao CNC, que são formados pelo Grupo Consultivo sobre Economias Menores, pelo Comitê de Representantes Governamentais sobre a Participação da Sociedade Civil, pelo Comitê Conjunto de Especialistas do Governo e do Setor Privado sobre Comércio Eletrônico e pelo Comitê Técnico de Assuntos Institucionais. Todos os grupos contam com o apoio técnico e logístico de instituições regionais que forma a Comissão Tripartite de Apoio Técnico.
28 28 O Grupo Consultivo sobre Economias Menores, possui as funções de acompanhar o processo da ALCA, com foco nas economias menores, de forma a manter sob exame suas preocupações, fazer recomendações e, ainda, trazer a atenção do CNC para os temas de interesse dessas economias. Com relação ao Comitê de Representantes Governamentais sobre a Participação da Sociedade Civil, deve possibilitar um processo de comunicação crescente e sustentado com a sociedade civil, no intuito de conseguir que esta tenha uma percepção clara do desenvolvimento do processo de negociações da ALCA e promover a apresentação de pontos de vista dos diferentes setores sociais a respeito dos temas em negociação. Foi criado para facilitar a participação dos representantes da comunidade empresarial e de grupos trabalhadores, de ativistas do meioambiente, de grupos acadêmicos, bem como de outros grupos que tenham por finalidade apresentar, de maneira construtiva, seus pontos de vista sobre questões a serem negociadas e outras questões comerciais. O Comitê Conjunto de Especialistas do Governo e do Setor Privado sobre Comércio Eletrônico, por sua vez, deve estudar uma forma de ampliar os benefícios a serem derivados do mercado de comércio eletrônico no Hemisfério e como lidar como as questões inter-relacionadas dentro das negociações. O Comitê Técnico de Assuntos Institucionais é integrado por representantes dos 34 países do hemisfério, sendo que a Presidência do CNC exercerá a Vice Presidência deste Comitê. Tem como objetivo elaborar uma proposta de estrutura geral de Acordo ALCA, aspectos gerais e institucionais, devendo apresentar informes
29 29 periódicos ao CNC antes de cada reunião vice-ministerial. Deve priorizar o tratamento das questões cuja resolução seja necessária para o trabalho dos Grupos de Negociação.
30 30 CAPÍTULO III OS PONTOS CRÍTICOS
31 31 O Acordo da Área de Livre Comércio das Américas ALCA que pretende abolir as barreiras comercias entre as economias dos 34 países do continente, com exceção de Cuba, já se encontra em fase decisiva, tendo o Brasil e os Estados Unidos na co-presidência das negociações. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu e concordou com a criação da ALCA até janeiro de 2005, em reunião realizada em junho de 2003 com o Presidente dos Estados Unidos George W. Bush. Tal decisão ocorreu de forma precipitada, tendo em vista a necessidade de ouvir a sociedade civil, debater no Congresso, estudar as implicações em fazer parte desse acordo, entre outros, o qual estabelecerá disciplinas comerciais e de concorrência com a maior economia do planeta. O Acordo ALCA tem como característica marcante, as diferenças econômicas dos países que a compõem. Os Estados Unidos detém 76,2% do Produto Interno Bruto PIB da área, o Brasil 7,4% e, outras economias como a Jamaica, Costa Rica, Honduras, El Salvador, Paraguai, Panamá, Guatemala, Equador, Haiti e Nicarágua respondem conjuntamente por menos de 1%. As diferenças existem, conseqüentemente, nos níveis educacionais, técnicos, científicos, renda, etc. Ainda não existe uma proposta definitiva de constituição da ALCA, porém a falta de transparência e a ausência de participação da sociedade civil nessas discussões geram dúvidas e inseguranças quanto ao futuro do Brasil, criando polêmica e dividindo opiniões. O fato é que existem vários pontos que deverão ser amplamente discutidos sob pena de trazer sérias conseqüências econômicas e sociais no Brasil.
32 32 Um dos problemas apresentados é o fato do Brasil ser forte em setores pouco competitivos da economia norte-americana, onde as empresas nacionais buscam ter mais acesso, mas que os Estados Unidos só pensam em proteger; e estes, por sua vez, querem abertura onde o Brasil vê a necessidade de proteção. Um exemplo típico é a siderurgia brasileira, que exporta metade de sua produção anual e que se depara com a sobretaxa do aço em que os compradores têm que pagar até 30% a mais. O governo brasileiro já cobrou dos Estados Unidos redução das tarifas que dificultam as exportações brasileiras de aço, têxteis e produtos agrícolas, entre outros - é necessário que os Estados Unidos suspendam os obstáculos aos itens considerados prioritários na pauta das exportações brasileiras. Em contrapartida a área de papel e celulose, embora modernizada, se sente ameaçada com a escala produzida pelas concorrentes norteamericanas. Outras áreas também seriam ameaçadas, tais como: máquinas e equipamentos, eletro-eletrônicos, químicos e móveis. Existe uma sobretaxa no suco de laranja de 400 dólares por tonelada. A elevada proteção dos Estados Unidos levou os produtores brasileiros de suco de laranja a investirem nos Estados Unidos, porque eles não podiam exportar. Além disso o fato do México ter concluído o North American Free Trade Agreement NAFTA, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, com os Estados Unidos faz com que eles não sofram as mesmas restrições que nós e estejam aumentando suas exportações de suco de laranja para os americanos enquanto nossa participação cai. O etanol brasileiro tem a melhor qualidade do mundo e paga taxa de 2,5% mais uma sobretaxa de 54 centavos de dólar por galão (3,8 litros) para entrar no mercado americano, o que inviabiliza a importação.
33 33 Ressalta-se que os Estados Unidos são o mercado mais aberto do mundo, 67% do comércio do Brasil com os Estados Unidos, em termos de valor, entra lá com tarifa zero ou praticamente zero. Os outros 33% das exportações é que são afetados por barreiras tarifárias. O problema está nos produtos agrícolas são 57 itens com tarifa acima de 50%. Entra tabaco, açúcar, leite, suco de laranja. Não se exporta mais por causa da tarifa elevada. Os dez primeiros produtos brasileiros mais exportados para os EUA, com tarifa baixa, são industrializados. Portanto, um dos principais pontos controversos na negociação da ALCA é a agricultura, ou melhor, os interesses da agricultura americana, sua representação política no Congresso, as difíceis relações comerciais agrícolas dos Estados Unidos com a União Européia e as recentes leis americanas que mantiveram e ampliaram os subsídios à agricultura em mais de dois terços em relação à lei anterior. Ressalta-se que, embora o prazo de duração dessa lei termine em 2006, os subsídios estão previstos para durar vários anos além dessa data, ultrapassando o final das negociações e a entrada em vigor do Acordo ALCA. O aumento nos subsídios poderá provocar o agravamento da superprodução e a queda de preços em inúmeros produtos, a exemplo do algodão, uma vez que os agricultores americanos, protegidos por esses subsídios, continuarão a produzir, sem se importar com a queda das cotações internacionais, afetando não só o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, como também criar um ambiente de competitividade desigual em terceiros mercados. Ressalta-se que o agro-negócio é o maior superávit da balança comercial brasileira. O setor agrícola, apesar de responder por 40% das exportações e por 37% dos empregos, tem menos de 4% do mercado mundial de produtos agrícolas.
34 34 Não obstante, o Congresso americano incluiu na TPA um processo de autorização a ser exigido para qualquer negociação que pretenda reduzir a proteção de uma lista de produtos agrícolas qualificados como sensíveis à concorrência, sendo quase todos de prioritário interesse brasileiro. Nesse processo, notadamente protecionista, caso o governo dos Estados Unidos queira fazer uma oferta para reduzir a proteção terá que o United States Trade Representative USTR, equivalente ao Ministro das Relações Exteriores, deverá enviar uma notificação especial a cinco órgãos do Congresso, que terão de ser ouvidos: as duas Comissões de Agricultura da Câmara e do Senado; a Comissão de Ways and Means da Câmara; a Comissão de Finanças do Senado, além de um órgão misto incumbido de supervisionar as negociações. Além disso, a USTR estará obrigada a solicitar à U.S. International Trade Comission (Comissão de Comércio Internacional dos EUA) que conduza consultas junto aos setores interessados e realize estudos acerca do impacto provável das cogitadas concessões sobre os setores afetados e a economia do país como um todo. Se, depois disso, o USTR persistir no propósito, terá de voltar a contatar os cinco órgãos citados. Num universo de posições tarifárias, os Estados Unidos possuem diversos produtos na faixa dos 3% e apresentam pouco mais de cem na faixa de 35% e 350%, que elevam a média para 5.4% e protegem produtos como fumo, laticínios, açúcar, suco de laranja, álcool, chocolates, amendoim e calçados, considerados sensíveis naquele mercado e de importância estratégica para o Brasil. Ressalta-se que a maior tarifa aplicada pelo Brasil é de 35%. Para Marcos Sawaya Jank, considerado um dos maiores especialistas em economia agrícola do País: O problema dos Estados Unidos não são as alíquotas de importação, já que esse país usa leis antidumping, barreiras
35 35 não-tarifárias para impedir a entrada de produtos competitivos de outras nações. Washington apresentou suas ofertas pouco antes do prazo de 15 de fevereiro de 2003, que no caso da agricultura, não constavam todas as concessões de subsídios de ajuda direta à agricultura ou mecanismos que distorcem as exportações agrícolas, a exemplo dos créditos à exportação. Os americanos alegaram que esses temas eram de natureza sistêmica e só poderiam ser resolvidos em negociações de que participem parceiros não envolvidos na ALCA. Por outro lado, as autoridades americanas não excluíram, em princípio, nenhum produto, nem aqueles considerados sensíveis, da negociação e da desgravação progressiva. Em relação às negociações de Acesso aos Mercados, que tratam de produtos industriais - área em que os países avançados mais reduziram as tarifas e os países em desenvolvimento conservaram tarifas mais elevadas no intuito de proteger suas indústrias - o principal problema decorre das dificuldades encontradas em negociar nos moldes da ALCA um acordo entre os Estados Unidos e o Canadá e os 32 países subdesenvolvidos. A diminuição de tarifas e outras barreiras não é feita de uma só vez ao entrar em vigor o acordo, mas de maneira gradual, em etapas escalonadas, conforme o grau de dificuldade e resistência dos setores envolvidos. Para os Estados Unidos e Canadá, custa pouco remover ou reduzir tarifas que já estão próximas do zero. Porém, nos setores que desejam continuar a proteger, esses países seguem praticando tarifas extremamente elevadas e reservam sua redução para a última fase do processo, às vezes uma década após o seu início.
36 36 Para os países subdesenvolvidos, a redução ou eliminação dessas tarifas mais elevadas expõe indústrias nacionais frágeis à concorrência das poderosas indústrias americanas e apresentam um risco de fechamento de fábricas, aumento do desemprego e outras conseqüências. Cabe ressaltar que muitas vezes, a proteção mais efetiva é obtida não pelas tarifas, mas pelas chamadas barreiras não tarifárias, como as salvaguardas, o antidumping, os direitos compensatórios, etc., que os americanos recusam a pôr em discussão na ALCA. Outra questão de relevo para as negociações tarifárias, resolvida na ALCA, é o nível de tarifa a partir do qual devem ser efetuadas as reduções a aplicada ou a consolidada. A maioria dos países possui esses dois tipos de tarifas: a consolidada na OMC e a efetivamente aplicada. A primeira não pode ser aumentada sem oferecer compensações aos parceiros afetados, porém na prática muitos governos aplicam tarifas mais baixas, a exemplo do Brasil, onde o teto máximo das tarifas consolidadas na OMC é de 35%, mas em anos recentes, a média da tarifa efetivamente cobrada tem sido inferior a 10%. Conserva-se a tarifa consolidada em nível mais elevado como margem de segurança, caso o país tenha necessidade de elevar a tarifa. Os americanos propuseram que se partisse do nível aplicado, alegando que, no caso de constituição de área de livre comércio, seria interesse de todos chegar o mais rápido possível à eliminação de tarifas. Os negociadores brasileiros estiveram divididos nessa matéria, que acabou resolvida em favor da aceitação da proposta, a qual contava também com forte apoio dos outros países do Mercosul.
37 37 Em relação a esse assunto, o Ministério das Relações Exteriores esclareceu que as posições defendidas pelo Brasil, no tocante à tarifa-base nas negociações da ALCA, foram submetidas à apreciação da Câmara de Comércio Exterior - CAMEX, na qual as decisões são tomadas de forma colegiada e, ao avaliar a conveniência de que as preferências tarifárias na ALCA incidissem sobre as tarifas consolidadas na OMC - em sua maioria, de 35% - ou sobre as tarifas aplicadas, foi considerado que em um processo de conformação de uma área de livre comércio, que tende a zerar as tarifas entre os países membros, a única diferença entre a utilização da tarifa consolidada e da tarifa aplicada consiste no tempo para chegar à eliminação completa das tarifas. Além disso, os produtos em que a tarifa aplicada corresponde à tarifa consolidada são aqueles menos competitivos e que mais necessitam de proteção e, portanto, ao iniciar o processo de desgravação a partir da tarifa consolidada, o impacto inicial recairia justamente sobre esses produtos que mais necessitam de proteção, em contraste, os produtos mais competitivos, que contam hoje com tarifas aplicadas reduzidas, ganhariam uma proteção adicional às custas dos produtos mais sensíveis, e que a alternativa mais racional consistiria em buscar prazos mais longos de desgravação para os produtos mais sensíveis, ou seja, para aqueles que têm as tarifas aplicadas mais próximas da consolidada e a forma de obter isso seria através da negociação de prazos de carência mais longos, e não da utilização da tarifa consolidada como tarifa base. Outro ponto divergente nas negociações da ALCA é o direito de propriedade intelectual, de onde o governo norte-americano vem tentando restringir a possibilidade de suspensão das patentes e de concessão de licença para a fabricação de produtos em circunstâncias especiais. As regras da Organização Mundial do Comércio OMC sobre as patentes foram incluídas no Acordo sobre aspectos do direito de propriedade
38 38 intelectual relacionados ao comércio, cuja sigla em inglês é TRIPS, ou seja, Trade Related Intelectual Property Rights. O TRIPS universaliza um conjunto de regras existentes em acordos anteriores, tais como: Convenção sobre Proteção à Propriedade Intelectual, Convenção sobre Proteção a Trabalhos Literários e Artísticos e Tratado sobre Propriedade Intelectual de Circuitos Integrados, e estabelece normas mínimas de proteção da propriedade intelectual, as quais abrangem diversos temas como direito do autor, marcas, desenho industrial e patente propriamente dita e que devem ser aplicadas por todos os países da OMC. Ou seja, o TRIPS obriga todos os membros da OMC a conceder aos detentores de patentes - que são na sua maioria grandes corporações do hemisfério norte - monopólios temporários por suas "invenções". Este sistema é visto como capaz de estimular a inovação, uma vez que permite que os detentores de patentes evitem a competição, aumentem os preços e, assim, recuperem os custos de seu investimento. Apesar de abrangente, o TRIPS permite a suspensão do direito de patente de invenções cuja aplicação seja necessária para a proteção da saúde pública ou para evitar prejuízos ao meio ambiente e, ainda, garante por meio de legislação nacional, que um governo ou uma empresa autorizada pelo governo, quebre a patente de um produto sem a autorização do detentor da mesma. A Lei de Propriedade Intelectual brasileira LPI, passou a sujeitar o titular da patente a uma licença compulsória, caso o exercício dos direitos de propriedade intelectual seja praticado de forma abusiva, através da cobrança de preços extorsivos ou restringindo o abastecimento do mercado ou no caso em que o produto patenteado não venha a ser fabricado no país num prazo de três anos após a concessão da patente. As multinacionais podem, entretanto, substituir a produção local pela importação do produto.
39 39 Os Estados Unidos combatem a legislação brasileira. No caso da indústria farmacêutica, os riscos dessa disputa são imensos e ameaçam o programa brasileiro de combate a AIDS, cuja realização reduziu pela metade o número de mortes pela doença. A possibilidade do Ministério da Saúde recorrer a tais mecanismos permitiu, no Brasil, que os laboratórios reduzissem em até 70% o preço dos remédios do coquetel anti-aids. Se o Acordo ALCA estivesse em vigor, o governo brasileiro não teria obtido tal vitória. A fabricação de remédios genéricos, que são cópias mais baratas dos remédios de marca, é o que tem garantido a continuidade do programa de combate a AIDS. Durante um seminário sobre a ALCA, o então Ministro da Saúde, José Serra alegava que, enquanto os Estados Unidos faziam restrições à inclusão de emendas no TRIPS, a posição do Brasil é que as normas internacionais de propriedade intelectual não deveriam se limitar a aspectos jurídicos, mas precisariam levar em conta os problemas sociais e econômicos das nações. Já no caso dos serviços, cujo grupo tem como objetivo liberalizar o comércio em serviços, o que pode abranger cadeias de restaurantes fast food de propriedade estrangeira até serviços financeiros, seguros, telecomunicações, consultoria, contabilidade, publicidade, advocacia, entre outros, as negociações na ALCA tratam, genericamente, da escala de serviço, mas já há uma tendência a focar, particularmente, em dois setores: telecomunicações e serviços financeiros. Os americanos insistem no formato das listas negativas, onde todos os setores seriam, em princípio, liberalizados salvo nos casos de exceção inscritos nas listas, e os brasileiros defendem as listas positivas, onde cada país se inscreveria nos setores que estaria disposto a abrir aos demais, só estando obrigado à liberalização nos voluntariamente inscritos.
40 40 Tal como nas tarifas, o problema da arquitetura básica do acordo de serviços foi outras das questões fundamentais que o Comitê de Negociações Comerciais - CNC da ALCA não conseguiu resolver, adiando a decisão para permitir que se cumprisse o prazo de apresentação das ofertas. Com relação aos investimentos, existem alguns pontos difíceis, dentre os quais, a definição dos investimentos cobertos investimentos diretos estrangeiros (IDE); aplicações financeiras de curto ou longo prazo, inclusive de natureza especulativa; aplicações em bolsas de valores ou de mercadorias. Questão relevante, uma vez que a aceitação do conceito lato obrigaria os governos a garantir a mais ampla liberdade possível de movimentação de capital, tornando mais limitada, a capacidade de evitar ou minorar as crises financeiras. Outro ponto seria se o acordo deveria garantir o acesso de estrangeiros a investimentos nos mais diversos setores, ou seria um acordo clássico e restrito visando à proteção dos investimentos existentes, sendo o acesso regulamento pelas leis nacionais ou se deveria ser aceito o mecanismo proposto pelos Estados Unidos, com vistas a possibilitar a investidores privados processarem judicialmente um governo, não nos tribunais locais, mas em cortes de arbitragem especiais. A minuta do texto atual trata desse mecanismo, ampliando o direito de compensação em caso de expropriação direta propriamente dita e em caso de expropriação indireta, ou seja, em medidas supostamente equivalentes, na prática, à expropriação. Isso permitiria ao investidor estrangeiro processar o governo por qualquer ação ou medida que diminua o valor do seu investimento. Em relação às compras governamentais, os Estados Unidos propuseram na ALCA regras restritas, que não permitam mais aos governos
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