NOTA TÉCNICA DA DEFENSORIA PÚBLICA AO PROJETO DE LEI N. 2248/2016 BILHETE ÚNICO
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- Thomaz Gonçalves Castilho
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1 AOS DEPUTADOS ESTADUAIS DO RIO DE JANEIRO NOTA TÉCNICA DA DEFENSORIA PÚBLICA AO PROJETO DE LEI N. 2248/2016 BILHETE ÚNICO EMENTA: PROJETO DE LEI N. 2248/2016 BILHETE ÚNICO - TARIFA SOCIAL DE TRANSPORTE PÚBLICO - SELETIVIDADE POPULAÇÃO CARENTE DIREITO AO TRANSPORTE I RELATÓRIO Trata-se de Nota Técnica da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, endereçada ao Poder Legislativo Estadual, sobre o Projeto de Lei n. 2248/2016 (PL) enviado pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo com o fim de limitar o benefício da tarifa social do Bilhete Único, previsto na Lei n de O referido PL aborda duas questões: a) Limitação do benefício do Bilhete Único ao valor de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) mensais por beneficiário; b) Vedação do benefício tarifário do Bilhete Único Intermunicipal para integrações entre si do modal previsto no art. 3º, inciso II (vans). 1
2 Com o fim de melhor discutir cada tema, a Defensoria Pública analisará separadamente os dois itens acima explicitados. É a síntese do necessário. II FUNDAMENTAÇÃO II.1 DA LIMITAÇÃO DO BENEFÍCIO DO BILHETE ÚNICO AO VALOR DE R$ 150,00 (CENTO E CINQUENTA REAIS) MENSAIS POR BENEFICIÁRIO O Bilhete Único é um benefício tarifário, instituído com redução das tarifas praticadas nos serviços de transporte intermunicipal, em face da integração entre modais ou em cada um deles entre si, ou, ainda, quando se tratar de linha ou serviço intermunicipal com valor de tarifa superior a R$ 4,40 (quatro reais e quarenta centavos).1 Trata-se de pagamento de tarifa com desconto e prévio cadastramento do usuário no sistema de bilhetagem eletrônica. PÚBLICO DE TRANSPORTE. Em outras palavras, é uma TARIFA SOCIAL DE SERVIÇO Tarifa social tal qual existente em diversas modalidade de serviços públicos, como água 2, luz 3, gás 4 etc. Ressalta-se que todas se destinam à população carente. Contudo, diferentemente do que ocorre na disciplina normativa da tarifa social dos outros serviços públicos, a Tarifa Social do Bilhete Único é ampla e irrestrita. Ou seja, beneficia a todos, quem precisa (população carente, pobre, trabalhadores hipossuficientes etc), e também beneficia a quem não precisa (usuários do transporte público com renda alta...). 1 PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 3º DA LEI ESTADUAL Nº 5628, DE 29 DE DEZEMBRO DE DECRETO ESTADUAL RJ Nº DE 21 DE JULHO DE LEI FEDERAL Nº , DE 20 DE JANEIRO DE DELIBERAÇÃO 688 da AGENERSA (dentre os requisitos, a renda de até três salários mínimos) 2
3 Somente a título de exemplo, citamos a tarifa social de transporte público de Florianópolis, a qual concede tarifa com desconto ao usuário com renda até 3 (três) salários mínimos. 5 Um dos requisitos para o subsídio tarifário (no caso, a tarifa social do bilhete único) imposto pela legislação federal de mobilidade urbana é o critério de especificação do beneficiário: LEI Nº , DE 3 DE JANEIRO DE 2012 (Institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana) Art Parágrafo único. Qualquer subsídio tarifário ao custeio da operação do transporte público coletivo deverá ser definido em contrato, com base em critérios transparentes e objetivos de produtividade e eficiência, especificando, minimamente, o objetivo, a fonte, a periodicidade e o beneficiário, conforme o estabelecido nos arts. 8 o e 9 o desta Lei. A legislação estadual atual disciplina de forma ampla e irrestrita o benefício da Tarifa Social do Bilhete Único, não especificando minimamente o beneficiário. 6 E, consequentemente, o PL em tela limita de forma ampla e irrestrita o valor do benefício a R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) mensais por beneficiário, sem nenhuma especificidade. Para todos os beneficiários... Novamente, não se diferencia o beneficiário carente do beneficiário não carente (que não precisa da tarifa social do bilhete único). 5 Decreto Nº DE 12/06/ Art. 3º DA LEI ESTADUAL Nº 5628, DE 29 DE DEZEMBRO DE O Bilhete Único pode ser utilizado pelos usuários de linhas intermunicipais e intramunicipais da Região Metropolitana 3
4 Trata-se de uma restrição ao direito de transporte da população menos favorecida, de um benefício tarifário que, a princípio, deveria ser destinado a esta população, nos mesmos moldes do que está sendo imposto aos demais usuários não carentes. Ressalta-se que na justificativa do Projeto de Lei que instituiu o Bilhete Único, o Governo do Estado afirma que esta medida "se constitui em um grande instrumento de inclusão social. Ele permite que o trabalhador que reside longe dos postos de trabalho possa concorrer ao emprego em igualdade de condições com o trabalhador que reside em local próximo ao trabalho, assegurando, assim, a empregabilidade em toda a Região Metropolitana. Ao assegurar a plena mobilidade, o Bilhete Único permite também à população o acesso ao Lazer, à Saúde, à Educação e à Cultura." 7 Argumenta-se, portanto, que a tarifa social do Bilhete Único deve ser mantida nos termos atuais, sem limitação de valor, à população carente. Trata-se de uma forma de tratar os desiguais de maneira desigual, na medida de sua desigualdade. Atendendo-se aos princípios constitucionais da igualdade, da seletividade e da capacidade contributiva do usuário do serviço público de transporte e5ce f ?OpenDocument MENSAGEM Nº 63/2009 Rio de Janeiro, 17 de dezembro de
5 II.2 DA VEDAÇÃO DO BENEFÍCIO TARIFÁRIO DO BILHETE ÚNICO INTERMUNICIPAL PARA INTEGRAÇÕES ENTRE SI DO MODAL PREVISTO NO ART. 3º, INCISO II (VANS) Almeja o Poder Executivo excluir as Vans no benefício tarifário do Bilhete Único. O argumento apresentado, a justificativa do PL é que visa o incentivo aos modais de alta capacidade e às integrações de maior eficiência no sistema de transporte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Contudo, nenhum estudo técnico foi apresentado, não há nada que justifique subsidiar a exclusão das vans da política tarifária social do Bilhete Único, o que, consequentemente, estimula o não uso de vans, as quais operam, em especial, em locais não servidos pelo transporte público de ônibus e outros modais (são complementares). Até que se realize um estudo completo, uma medida coordenada de satisfação do transporte público à população hoje dependente das vans para trabalhar, se locomover, revela-se temerário aprovar o PL desta forma. Ressalta-se que somente as Vans legalizadas é que possuem hoje o benefício tarifário do Bilhete Único. Não se verifica nenhum ganho econômico ao Estado em se extinguir o Bilhete Único para as vans. Não se apresentou nenhuma justificativa de racionalização dos recursos públicos ou de melhoria do serviço público com a adoção de tal medida. Por fim, não se consultou a população interessada para a modificação e o planejamento almejado. Vejamos o que dispõe a Lei Federal de Mobilidade Urbana (Lei n , de 3 de janeiro de 2012): 5
6 Art. 14. São direitos dos usuários do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana, sem prejuízo dos previstos nas Leis n os 8.078, de 11 de setembro de 1990, e 8.987, de 13 de fevereiro de 1995: II - participar do planejamento, da fiscalização e da avaliação da política local de mobilidade urbana; III - ser informado nos pontos de embarque e desembarque de passageiros, de forma gratuita e acessível, sobre itinerários, horários, tarifas dos serviços e modos de interação com outros modais; e Art. 15. A participação da sociedade civil no planejamento, fiscalização e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana deverá ser assegurada pelos seguintes instrumentos: I - órgãos colegiados com a participação de representantes do Poder Executivo, da sociedade civil e dos operadores dos serviços; II - ouvidorias nas instituições responsáveis pela gestão do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana ou nos órgãos com atribuições análogas; III - audiências e consultas públicas; e IV - procedimentos sistemáticos de comunicação, de avaliação da satisfação dos cidadãos e dos usuários e de prestação de contas públicas. Isto posto, até que se apresente fundamentos técnicos aptos a embasar a pretensão de extinção do benefício tarifário do Bilhete Único com o consequente desestímulo ao uso das vans, sem que ocorra o prejuízo ao direito de transporte da população afetada, entende-se que não se revela razoável a aprovação do PL nos moldes apresentados. 6
7 II.3 DA FONTE DE RECEITA Dada a situação financeira calamitosa do Estado do Rio de Janeiro, a Defensoria Pública informa que hoje existe um valor milionário, talvez bilionário bloqueado judicialmente por não haver uma destinação específica prevista em lei. Trata-se de uma Ação Civil Pública ajuizada em 3 de fevereiro de 2016 pela Defensoria Pública em conjunto com o Ministério Público, em que se argumenta que a sobra do crédito do cartão de transporte, após o período de um ano, não possui nenhuma destinação específica prevista em lei, não podendo, portanto, ser creditada na conta da Fetranspor, como até então vinha sendo feito. 8 O art. 19, da Lei Estadual n.º 5.628/2009, determina que: Art. 19. O Bilhete Único, o Vale-Transporte e qualquer outro bilhete de passagem, emitidos sob qualquer forma, inclusive cartão eletrônico, utilizados nos serviços de transporte coletivo de passageiros, adquiridos antecipadamente ou não pelos usuários desses serviços de transporte concedido ou permitido, em todo o Estado do Rio de Janeiro, terão prazo de validade, de uso e de restituição dos valores dos bilhetes de passagem de 1 (um) ano, a contar da sua aquisição. creditados pela Fetranspor. 9 A mídia relata valores na cifra de centenas de milhões de reais 8 Processo ACP n
8 Desde 26 de fevereiro de 2016, há decisão judicial (de 1ª e de 2ª instância) bloqueando os valores expirados, ante a indefinição legal e judicial da destinação de tais créditos, vejamos: 10 Trata-se do valor expressivo que poderia (e deveria) ser destinado ao Fundo Estadual de Transporte para o pagamento do subsídio do Bilhete Único em favor da população carente fluminense. Através de mudança legislativa sugerida ao final, resolver-se-ia a definição da destinação dos valores dos créditos expirados e se geraria receita para o subsídio da tarifa social do Bilhete Único em favor da população carente fluminense. 10 Agravo de Instrumento n
9 III CONCLUSÃO Isto posto, conclui a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro pela necessidade de emenda ao Projeto de Lei n. 2248/2016, alterando-se sua redação, com o fim de se resguardar o direito de transporte da população carente fluminense, em atenção ao equilíbrio financeiro das contas públicas. Sugere-se: a) a não aprovação do art. 2º do PL; b) a modificação do PL acrescentando a seguinte redação (em negrito): O art. 1º da Lei nº 5628, de 29 de dezembro de 2009, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo, renumerando-se como 1º o parágrafo único existente: Art. 1 (...) 1 (...) 2 O beneficiário que auferir renda superior a 3 (três) salários mínimos terá o benefício do Bilhete Único limitado ao valor de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) mensais, valor este que poderá ser atualizado por Decreto do Poder Executivo. 9
10 O art. 19 da Lei nº 5628, de 29 de dezembro de 2009, passa a vigorar acrescido de nova redação e do 3º: Art. 19. O Bilhete Único, o Vale-Transporte, qualquer outro bilhete de passagem e os créditos armazenados na forma de valores monetários, emitidos sob qualquer forma, inclusive cartão eletrônico, utilizados nos serviços de transporte coletivo de passageiros, adquiridos antecipadamente ou não pelos usuários desses serviços de transporte concedido ou permitido, em todo o Estado do Rio de Janeiro, terão prazo de validade, de uso e de restituição dos valores de 1 (um) ano, a contar da sua aquisição. 1º (...) 2º (...) 3º. Após o prazo de validade previsto no caput, os valores dos bilhetes de passagem e dos créditos armazenados serão destinados ao Fundo Estadual de Transporte, na forma do art. 12 desta Lei. Rio de Janeiro, 10 de novembro de
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