TERRORISMO E O SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO



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Transcrição:

TERRORISMO E O SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO 1 INTRODUÇÃO O terrorismo destaca-se como fenômeno internacional recorrente na história, em inúmeros contextos. Nesse mister, trata-se de um crime em torno do qual circundam muitas controvérsias, e entre as principais questões sobre o tema, encontra-se a obscuridade do seu tratamento penal, até mesmo numa abordagem internacional. O termo já foi, e ainda é empregado, com os mais variados significados, dificultando a elaboração de uma definição legal definitiva. Nesse aspecto, não é possível nem mesmo eleger um conceito doutrinário absolutamente correto e precisamente adequado para ele. Com tantas formas por meio das quais o terror pode se expressar, não haveria um único tipo de terrorismo, mas espécies desse gênero, para as quais caberiam maneiras distintas de defini-lo e, provavelmente, maneiras legais particulares de tratá-los. Embora o terrorismo seja fenômeno tão antigo quanto à civilização humana, seu estudo pela doutrina jurídica tem menos de um século e a sua discussão só aparece com mais força quando atentados ocorrem. Sendo assim, percebe-se que as providências contra o terror são imediatistas, olvidando-se reais ações preventivas, em detrimento de medidas paliativas pós-ataque. Na realidade, o incremento constante do terror revela a necessidade de uma abordagem que vá além da discussão meramente superficial. No plano internacional, vários são os tratados que versam genericamente sobre o terrorismo, visando à proteção dos direitos e liberdades fundamentais, notadamente a garantia do direito à vida, em virtude da compreensão da

gravidade dos atos de terror e suas conseqüências para a paz e para o desenvolvimento dos povos. Em virtude das determinações convencionais, verifica-se que alguns Estados instrumentalizaram o combate ao terrorismo através do Direito Penal, recrudescendo penas e privando terroristas dos benefícios da extradição por crimes políticos. Já no Brasil, a falsa sensação de que o país é livre de atentados diminui a atenção que a matéria merece, escapando à margem das discussões doutrinárias a problemática do terror crime que detém caráter transnacional e pode ser fatalmente difundido em qualquer país. 2 ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO PENAL BRASILEIRA 2.1 O terrorismo na Constituição Federal de 1988 Tratando ainda do bem jurídico a ser tutelado, com a tipificação do terrorismo, convém destacar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 alocou no caput do artigo 5º, os direitos e garantias fundamentais, deixando clara a determinação de garantia de vários bens jurídicos, especificando garantir aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à privacidade. Tais garantias Constitucionais tornam-se mais vulneráveis perante os terroristas, e, por este motivo, são bens que merecem a tutela da ordem jurídica. A noção de bem jurídico e a necessidade de sua proteção, assim como o fundamento para a eleição do que vem a ser tutelado pelas normas mais graves do ordenamento jurídico as normas penais, é que vêm esclarecer o motivo pelo qual o legislador constitucional pátrio empregou importância ao repúdio ao terrorismo o que se verá detalhadamente adiante.

O fundamento para a apreciação e a constatação da relevância de um bem jurídico deve ser buscado no âmago da Constituição Federal, uma vez que a hierarquia dos bens jurídicos a tem como matriz. A Constituição, por sua vez, expressa, a partir de princípios e direitos fundamentais, a vontade do Poder Constituinte, que nas democracias é ou pelo menos expressa e representa a vontade popular. A inclusão de uma conduta criminosa na Carta Magna demonstra o grau de atenção que constituinte originário atribui ao assunto ao estabelecer a nova Ordem Política. Neste mister, o repúdio ao terrorismo foi expressamente inserido na Carta Política de 1988, dando fundamento constitucional para o seu combate, até porque o Direito Penal tem por escopo a proteção dos bens jurídicos mais fundamentais para a vida em sociedade, no âmbito interno. Ainda que não tivesse o terrorismo um sentido constitucional preciso, a sua prática colide com os bens jurídicos protegidos pela Lei Maior do ordenamento jurídico brasileiro e em tratados internacionais recepcionados pela Constituição, sejam eles princípios, sejam direitos e garantias fundamentais. No entanto, nem sempre na história constitucional do país foi assim. A inovação surgiu em 1988, juntamente com a promulgação da Constituição da República (CF/88), que se referiu expressamente ao terrorismo, enquadrando-o no âmbito das relações internacionais que o país deve manter com outros países. Foi a redemocratização que trouxe a abertura política do país e mudou o conceito de segurança nacional. O texto constitucional de 05 de outubro de 1988, além de referir-se indiretamente ao terrorismo por duas vezes, refere-se diretamente ao assunto, tratando deste inclusive com destaque, inserindo disposições acerca do tema entre as cláusulas pétreas.

Na análise do tratamento constitucional do terrorismo na CF/88, convém ressaltar, a princípio, que o cometimento de atos terroristas mitiga princípios como o da dignidade da pessoa humana, o da prevalência dos direitos humanos e da solução pacífica dos conflitos, a saber: Art.1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III a dignidade da pessoa humana. Art.4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] II prevalência dos direitos humanos. Inserido entre os princípios fundamentais da CF/88, a primeira referência direta ao terrorismo consta no art. 4º, que aborda os princípios relativos à comunidade internacional, isto é, que regem o Brasil em suas relações internacionais, determinando o comportamento do país como pessoa jurídica de Direito Internacional: Art.4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] VIII repúdio ao terrorismo e ao racismo. gn A segunda referência direta consta no art. 5º, que trata dos direitos e das garantias fundamentais, determinando que o terrorismo seja equiparado a crime hediondo, e que por isso, seja inafiançável e insuscetível de graça ou anistia: Art.5º. [...]: XLIII a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. gn

Além dos mencionados artigos, claros e objetivos, a Magna Carta estatui ainda tratar-se de crime inafiançável e também imprescritível, a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (CF/88, art. 5º, XLIV). A negação ao terrorismo indiretamente no texto constitucional de 1988 também se apresenta na vedação de associação de caráter paramilitar (art. 5º, XVII é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar), ou ainda, de sua utilização por partidos políticos (art. 17, 4º - é vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar). Como se pode perceber, a Constituição da República Federativa do Brasil tratou especificamente do assunto terrorismo, mesmo que de maneira sucinta, empregando, porém, o termo terrorismo expressamente, instruindo como a legislação infraconstitucional deve tratar da matéria. Mais que uma simples citação, viu-se que o constituinte alocou-o em posição destacada, notadamente nos alicerces fundamentais de nosso Estado. Ao elencar o tema no titulo dos direitos e garantias fundamentais, vislumbra-se uma expressa recomendação para que a lei considere o terrorismo como um dos delitos mais graves, devendo ser tratado com mais rigor. Com isto, Assembléia Constituinte de 1988 teve a preocupação de salvaguardar com evidente zelo certos bens jurídicos, tais como a vida, a saúde pública, a dignidade humana, dentre outros, constituindo, a agressão a esses valores, os piores delitos do ordenamento jurídico interno, sendo igualmente repudiada sua prática no exterior. Logo, deve-se supor que as leis que tratam dos delitos hediondos, da tortura, do tráfico ilícito de entorpecentes e do terrorismo devem ser mais rígidas, em comparação às outras espécies de crime, podendo até trazer outras vedações, desde que compatíveis com o espírito constitucional. Porém, ocorre que, a legislação extravagante cuida de maneira superficial do terrorismo, que doravante passará a ser analisado sob o prisma do Direito Penal.

As conseqüências dos muitos atos terroristas ocorridos no decorrer da história fizeram com que tais atos fossem logo compreendidos como infrações penais graves, que deveriam ser debatidas não somente pela sociologia ou mesmo pelo direito internacional, mas, sobretudo, pelo direito penal, nele inserindo-se fórmulas que buscassem reprimir, de qualquer forma, as condutas dessa natureza, efetivando-se seu combate. Desta maneira, as primeiras legislações penais sobre o tema começaram a surgir após o regime de terror e intimidação instituído na Revolução Francesa, depois da queda de Robespierre, em razão dos abusos cometidos pelo governo, não aceitos e suportados por muitos dos próprios revolucionários. No Brasil, seguindo a legislação européia, o primeiro ato normativo acerca do tema foi o decreto 4.269, de 1921, seguido da lei 38, de 1935, os quais previam punição aos autores de crimes contra a ordem política e social. A definição de terrorismo extrapola os aspectos conceituais das Ciências Humanas e Criminais, e reitera-se historicamente, ele já foi identificado como crime organizado, máfia, subversão, bandidagem, quadrilha. Hoje, com dimensões bem mais complexas do que outrora, o fenômeno caminha a passos firmes e largos, mas continua sem apreciação legal exata, específica; aliás, grande parte da doutrina afirma que não existe na legislação penal brasileira, o delito de terrorismo. No Brasil ninguém pode inclusive ser preso, processado e julgado pela prática de crime de terrorismo, pois, no ordenamento jurídico pátrio, nenhuma lei penal incriminadora define o tipo penal em comento. De fato, diante do repúdio mencionado expressamente e com destaque na Constituição Federal, até mesmo com atributo de cláusulas pétreas, o terrorismo em si nunca ostentou tipo penal próprio na legislação penal

brasileira. Assim ocorreu nas Ordenações Filipinas, no Código Criminal do Império e nos Códigos Penais da República. Dessa forma, passou-se a indagar se já existia delito de terrorismo definido na legislação em vigor, ou se havia necessidade da aprovação de lei que o definisse. Em face dessa lacuna, atualmente, na legislação ordinária em vigor, o terrorismo é mencionado apenas na Lei dos Crimes Hediondos e na Lei de Segurança Nacional. 2.2 O terrorismo na lei nº 7.170/83 Lei de Segurança Nacional (LSN)...Não há dúvida de que, do ponto de vista da tipicidade objetiva, esta forma de ação delituosa pode ser vista como uma espécie de terrorismo..., porém, no Direto Penal prevalece a regra da interpretação restritiva, ou seja, se a Lei se refere ao ato de sabotagem, torna-se inadmissível atribuir-lhe a marca jurídica do crime de terrorismo... João José Leal Quando se fala em crime contra a segurança do Estado, pretende-se punir as ações que se dirigem contra os interesses do Estado. Por este motivo, uma lei de segurança nacional visa proteger a segurança do Estado. No caso da Le Lei de Segurança Nacional, lei nº 7.170/83, seu Art. 1º arrola os bens jurídicos a que visa proteger: I a integridade territorial e a soberania nacional; II o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito; III a pessoa dos chefes dos Poderes da União. A Lei de Segurança Nacional brasileira surgiu em momento de crise institucional, como expressão de um suposto direito penal revolucionário, inspirada por militares, que pretenderam incorporar na lei uma doutrina profundamente antidemocrática e totalitária. De fato, a Lei 7.170/83 não

participa do espírito ideológico que informa a atual previsão constitucional da figura, mesmo porque antecede a CF/88 e a própria fundação nova Ordem Democrática. No entanto, a lei nº 7.170/83 vem sendo aplicada, através de uma exegese que só faz destacar o seu caráter nitidamente antidemocrático e totalitário, quando se deveria dar à lei uma interpretação que se ajustasse às exigências de um sistema democrático de defesa da segurança do Estado. Enquanto uma nova legislação para a segurança nacional não é elaborada, é a lei nº 7.170/83 que define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social no Brasil. Dentre esses crimes, encontra-se o tipo penal do artigo 20, utilizando a expressão atos de terrorismo e é o único dispositivo do ordenamento jurídico brasileiro que trata diretamente do assunto, e ainda, desprovido de clareza objetiva: Art.20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. gn A despeito de muitos doutrinadores afirmarem a inconstitucionalidade desse dispositivo, a opinião se divide. Alguns se posicionam pela constitucionalidade do referido artigo e asseveram que o mesmo contém um tipo misto alternativo, em que as várias condutas típicas se equivalem pela mesma finalidade, ou seja, o inconformismo político ou a obtenção de fundos para manter organização política clandestina ou subversiva. Posicionam-se a favor de que todas as condutas do art. 20, pressupondo emprego de violência, constituem atitudes terroristas, não se devendo exigir que a lei defina expressamente a palavra terrorismo. Outros, contudo, defendem que tal conclusão não parece ser a melhor, pois o tipo penal não indica o significado da expressão atos de terrorismo e em que consiste

claramente as condutas que o termo encerra. Desta forma, o problema não estaria no constar ou não constar, no tipo penal, a palavra-título de uma infração penal, mas na necessidade de que, em decorrência desse título, haja descrição clara e delimitadora de conduta que deve por ele ser encerrada. O que sem essa fórmula, a norma penal viola o princípio da legalidade. Defende a inconstitucionalidade desse dispositivo, no que tange ao terrorismo, FRANCO (1994), dizendo que o tipo penal, ao referir-se, de forma genérica, a atos de terrorismo, sem defini-los e sem apresentar seu significado, fere o princípio constitucional da reserva legal (CP, art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina; não há pena sem prévia cominação legal), já que não há delimitação de sua incidência. Diz o autor: Embora a figura criminosa em questão corresponda a um tipo misto alternativo, ao encerrar a descrição de várias condutas que equivalem à concretização de um mesmo delito, força é convir que a prática de atos de terrorismo não se traduz numa norma de encerramento idônea a resumir as condutas anteriormente especificadas. Também defende que inexiste tipo penal de terrorismo no Brasil, seja como crime comum, seja como crime contra a segurança nacional, já que o legislador brasileiro não o definiu, e as figuras típicas que lhe são afins, explica que, a despeito do verbo praticar e do objeto direto atos de terrorismo estarem no mesmo pé de igualdade dos demais comportamentos alternativamente referidos na norma, tal verbo não apresenta qualquer carga de ilicitude, ao contrário dos demais verbos constantes do tipo. Assim, ter-se-ia uma cláusula geral, de elasticidade extrema, permitindo ao julgador enquadrar indevidamente no tipo, qualquer modalidade de conduta humana, justamente pela ausência de uma adequada descrição do conteúdo fático desses atos. Concorda com essa opinião, MONTEIRO (1996), dizendo que a noção de terrorismo continua sob incertezas doutrinárias e sem definição legislativa

no Brasil, lembrando que o art. 20 da lei nº 7.170/83, utiliza discutido nomen iuris como definição legal do tipo, não sendo possível sua punição justamente pela ausência de tipo autônomo definido como crime. De fato, a legislação penal deve evitar definições vagas e outras de conceituação e abrangência ampla, como essa expressão atos de terrorismo, a fim de que não sejam criados tipos penais abertos, cuja amplitude possa abarcar um número de condutas indefinidas, ferindo assim, o princípio da reserva legal, bem delimitado no CP (art. 1º) e até mesmo na própria CF/88 (art. 5º, XXXIX: não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal ). Não pode haver tipo penal que apenas lembre a idéia do que pode vir a ser considerado terrorismo. É imprescindível, para o ordenamento jurídico brasileiro e o sistema Roman Law adotado no país, que haja um tipo penal definidor e delimitador da conduta terrorista. Seria conveniente, portanto, que, para o crime de terrorismo, houvesse disposição própria, com tipo ou tipos penais específicos, uma vez que os atos de terrorismo não são definidos a contento, não obedecendo ao princípio da tipicidade. Para GUIMARÃES (2007), as condutas expressas no art. 20 da lei de segurança nacional podem ser consideradas, no máximo, correlatas, paralelas ou similares ao que se deve ou se pode compreender como terrorismo, mas não se encontra efetiva ou obrigatoriamente contidas nessa compreensão. De qualquer forma, mesmo havendo quem considere o art. 20 eivado de inconstitucionalidade (registre-se não declarada pelo Supremo Tribunal Federal), o que há na legislação penal brasileira sobre a tipificação do terrorismo é este dispositivo (além de seu enquadramento como delito assemelhado a crime hediondo), que, inclusive dispõe de uma forma qualificada em seu parágrafo único: Art. 20. [...] Parágrafo único se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro, se resulta morte, aumenta-se o triplo.

Para GONÇALVES (2002), essas qualificadoras são exclusivamente preterdolosas, sendo aplicadas somente quando o resultado agravador for culposo. Se houver dolo, os crimes que decorrem da prática de terrorismo deverão ser punidos autonomamente, utilizando-se a regra do concurso material de crimes. GUIMARÃES (2007) cita que: desejando o autor da ação terrorista a morte de uma ou determinadas pessoas, deveria responder pelo crime de terrorismo (como a explosão de um artefato com a destruição de prédio e lesões corporais em algumas pessoas), assim, como, autonomamente pelos homicídios por ele desejados. Ensina, ainda Guimarães que, se não houver o dolo específico, eventual morte resultante da ação terrorista deve ser tida como crime qualificado pelo resultado, e não como crime preterdoloso. A morte deve decorrer da ação terrorista, transparecendo que o resultado pode decorrer de dolo (o agente sabe que pode haver morte ou assume esse risco) ou de culpa. Na égide do pensamento contido no parágrafo anterior, se o agente ao menos culposamente contribuiu para o resultado mais grave, responderá como incurso nas penas trazidas pela qualificadora. Diz ainda o mesmo autor que, havendo, na ação terrorista, lesões corporais graves ou morte de mais de uma pessoa, poderia, usando-se a regra e as penas do crime qualificado pelo resultado, lançar-se mão do concurso formal de crimes, exasperando-se a sanção, já que com uma ação provocou o agente vários resultados graves,. Se os crimes resultarem de desígnios autônomos, as penas devem ser cumuladas. O art. 31 da lei de segurança nacional determina, no caput, a instauração do inquérito policial pela Polícia Federal, de ofício; mediante requisição do Ministério Público; mediante requisição da autoridade militar responsável pela segurança interna; mediante requisição do Ministro da Justiça. O parágrafo único do mesmo artigo prevê a possibilidade da delegação

de atribuição da União para os estados-membros, Distrito Federal e territórios, mediante convênio. Haverá instauração de inquérito policial militar se o agente é militar ou assemelhado; ou o crime lesar patrimônio sob administração militar; se for praticado em lugar diretamente sujeito à administração militar ou contra militar ou assemelhado em serviço; se for praticado nas regiões alcançadas pela decretação do estado de emergência ou estado de sítio. A ação penal é pública incondicionada, sendo promovida pelo Ministério Público. Conforme o art. 30, caput, a competência para processar e julgar os crimes previstos na lei de segurança nacional é da Justiça Militar, com observância das normas estabelecidas no Código de Processo Penal Militar, ressalvada a competência originária do Supremo Tribunal Federal. Tal dispositivo, porém, não foi recepcionado pela CF/88, que, através do artigo 109, inciso IV, alterou a competência para processo e julgamento dos crimes contra a segurança nacional para a Justiça Federal: Art.109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...] IV os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral. Por sua vez, o art. 33 da Lei de Segurança Nacional prevê a possibilidade da autoridade que presidir o inquérito de manter o indiciado preso pelo prazo de 15 (quinze) dias, devendo o juízo competente ser imediatamente comunicado, podendo esse prazo ser dilatado por mais 15 dias por decisão do juiz, a pedido do encarregado, ouvido o Ministério Público. Este dispositivo também não foi recepcionado pela CF/88, cujo artigo 5º, inciso LXI, determinou que ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo

nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. A questão da não possibilidade de prisão decretada pela autoridade presidente do inquérito policial antes da instauração da ação penal, que em alguns casos poderia prejudicar a investigação do crime foi contornada pela lei nº 7.960/89, que dispõe sobre prisão temporária, e pela lei nº 8.072/90, que dispõe sobre os crimes hediondos. A lei que instituiu a prisão temporária permitiu a custódia do investigado, decretada pela autoridade, em face da representação da autoridade policial ou do requerimento do representante do Ministério Público, pelo prazo de cinco dias, prorrogável por igual período. Por sua vez, a lei dos crimes hediondos permitiu que a prisão temporária, para os crimes hediondos e assemelhados, dentre eles o terrorismo, tivesse prazo mais dilatado, podendo a prisão ser decretada pela autoridade judiciária pelo prazo de trinta dias, prorrogável por igual período, uma única vez, em caso de extrema e comprovada necessidade.

Há ainda, na própria lei de segurança nacional, outros tipos penais que, mesmo não utilizando expressamente o termo terrorismo, lembram-no como é o caso dos artigos 15, 16 e 18: Art.15. Praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicação, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. 1º - Se do fato resulta: a) lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; b) dano, destruição ou neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial, de atividade ou serviços públicos essenciais para a defesa, a segurança ou a economia do País, a pena aumenta-se até o dobro; c) morte, a pena aumenta-se até o triplo. 2º - Punemse os atos preparatórios de sabotagem com a pena deste artigo reduzida de dois terços, se o fato não constitui crime mais grave. Art.16. Integrar ou manter associação, partido, comitê, entidade de classe ou agrupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave ameaça. Pena: reclusão, de 1 a 5 anos. Art.18. Tentar impedir, com emprego de violência ou grave ameaça, o livre exercício de qualquer os Poderes da União ou dos Estados. Pena: reclusão, de 2 a 6 anos. Para GUIMARÃES (2007), falta nos tipos, para aproximá-los mais de sua aceitação como crime de terrorismo, o elemento subjetivo, que geralmente utiliza expressões tais como com o fim de... ou em razão de..., que adequa a finalidade ou a causa da conduta ao que internacionalmente se tem aceitado como definição deste delito.

2.3 O terrorismo e a Lei nº 8.072/90 Lei dos Crimes Hediondos (LCH) A legislação penal brasileira extravagante reconheceu a natureza de hediondo àqueles crimes considerados de extrema gravidade, ou seja, aqueles que atingem os bens jurídicos mais valiosos, assim considerados pelo ordenamento jurídico pátrio. Desta forma, a Lei 8.072 de 25 de julho de 1990 teria nascido com o objetivo de elevar penas, impedir benefícios e impor maior aspereza no trato com determinadas espécies de delitos. Neste mister, o terrorismo, seguindo a disposição advinda da CF/88 (art. 5º, XLIII, já citado e comentado), não é fixado, segundo a própria denominação legal, como delito propriamente hediondo, uma vez que não figura no rol dos crimes que a lei nº 8.072/90 que assim os reconhece. Desta maneira, dispõe o art. 1º da Lei 8072/90: Art.1º. São considerados crimes hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Dec.-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Código Penal, consumados ou tentados: I homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, 2º, I, II, III, IV e V); II latrocínio (art. 157, 3º, in fine); III extorsão qualificada pela morte (art. 158, 2º); III estupro (art. 213, caput, 1º e 2º); VI estupro de vulnerável (art.217-a, caput, 1º, 2º, 3º e 4º); VII epidemia com resultado morte (art. 267, 1º); VII-A (vetado); VII-B falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e 1º, 1º-B, com redação dada pela Lei 9.677, de 2 de julho de 1998). Parágrafo único. Considerase também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei 2.889, de 1º de outubro de 1956, tentado ou consumado. Na verdade, o terrorismo se encontra ao lado do rol em questão, e, por isso, é tido apenas como um crime equiparado a crime hediondo. Mesmo assim, o terrorismo recebe, para os fins das normas processuais e de execução penal, o mesmo tratamento dos crimes inseridos na denominação de hediondos. Desta forma, a lei ordinária seguiu a idéia da própria CF/88, que determinou que, ao lado das infrações que assim fossem consideradas, estaria

o terrorismo, além do tráfico ilícito de entorpecentes e a tortura. Assim, versa o art. 2º: Art. 2º. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I anistia, graça e indulto; II fiança. 1º. A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. 2º. A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. 3º. Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. 4º. A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. gn. Por ser equiparado a crime hediondo, o terrorismo detém o mesmo rigor penal e processual penal que os crimes hediondos propriamente ditos, assim como idênticas regras na fase de execução da pena reservadas a esses crimes, conforme foram impostas às figuras penais citadas, o que confirma a relevância do bem jurídico que se visou resguardar com a tipificação desse delito. A despeito de não ser nominalmente um crime hediondo, o terrorismo na prática o é, e com isso corrobora NUCCI (2008), ao enfatizar: A tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e o terrorismo somente não são considerados hediondos embora sejam igualmente graves e repugnantes porque o constituinte, ao elaborar o art. 5º, XLIII, CF, optou por mencioná-los expressamente como delitos insuscetíveis de fiança, graça e anistia, abrindo ao legislador ordinário a possibilidade de fixar uma lista de crimes hediondos, que teriam o mesmo tratamento. Assim, essas três modalidades de infrações são, na essência, tão ou mais hediondas que os crimes descritos Np rol do art. 1º da Lei 8.072/90. Ao ser equiparado a crime hediondo, o terrorismo é insuscetível de anistia, graça e indulto, e também de liberdade provisória e fiança.

Anistia é a declaração pelo Poder Público de que determinados fatos se tornam impuníveis por razões de utilidade social. A anistia é o perdão estatal concedido pelo Poder Legislativo, através da edição de lei federal ; Graça é o perdão estatal concedido pelo Presidente da República, por decreto, a determinado condenado, em tese, respeitadas razões de utilidade social ; Indulto é a clemência estatal, concedida pelo Presidente da República, por decreto, a um número indeterminado de condenados, levando-se em conta requisitos objetivos e subjetivos, conforme o caso (De Plácido e Silva, 2006). A vedação ao indulto e à concessão de liberdade provisória foi uma ampliação da lei nº 8.072/90, já que a CF/88 apenas citou a proibição à anistia, à graça e à fiança. No que se refere a essa questão, há quem entenda que tal ampliação é inconstitucional, porém, a maior parte da doutrina defende a sua constitucionalidade. Nos últimos anos, observa-se na prática que todos os decretos presidenciais concessivos de indulto coletivo prevêem a exclusão dos crimes hediondos e equiparados, e por este motivo, a discussão não chegou à jurisprudência. Em nossa proposta encaminhada ao Senado Federal, fizemos a previsão legal da impossibilidade de concessão de anistia, graça ou indulto ao sujeito ativo do crime de terrorismo. No que se refere à liberdade provisória, pode ela ser concedida com ou sem fiança, onde fiança é uma garantia real, consistente no pagamento em dinheiro ou na entrega de valores ao Estado, para assegurar o direito de permanecer em liberdade, durante a tramitação do processo criminal (NUCCI, 2008), e, complementa, que perdeu o sentido no Brasil, exatamente porque, além dos valores serem ínfimos, muitos delitos inafiançáveis comportam liberdade provisória, sem fixação de fiança. Com a edição da lei nº 11.464/2007, suprimiu-se a proibição à concessão de liberdade provisória sem fiança, passando a ser autorizado o seu deferimento pelo magistrado, se não estiverem presentes os requisitos para a prisão preventiva. O resultado desta inovação é que delitos mais leves passaram a ser afiançáveis, e os mais graves não, podendo o juiz colocar o acusado em liberdade sem o pagamento de quantia alguma.

Para os crimes hediondos e equiparados, o cumprimento da pena se dá, inicialmente, em regime fechado, havendo assim, a possibilidade da progressão de regime para essas espécies delitivas o que antes da edição da lei nº 11.464/2007 não era possível. Defende-se que o novo preceito se coaduna com o princípio constitucional da individualização da pena, onde o artigo 5º, inciso XLVI, primeira parte, assim reza: a lei regulará a individualização da pena embora os prazos para a progressão sejam diferenciados, mais extensos (2/5 para primários; 3/5 para reincidentes), mas isto se deve ao fato da gravidade dos crimes hediondos e seus assemelhados. No que se refere à possibilidade do réu apelar em liberdade, em função da gravidade objetiva da infração penal, conforme indicação constitucional de tratamento mais rigoroso é preciso que o juiz, querendo manter o acusado em liberdade, se assim aguardou toda a instrução fundamente a decisão. Desta forma, não é vedada a possibilidade de permanecer em liberdade o condenado por terrorismo, embora o magistrado deva esclarecer os motivos que o levam a tomar tal medida. A prisão temporária, regulamentada pela lei nº 7.960/89 com propósito de decretar prisões cautelares para auxiliar o trabalho policial, evitando a prisão para averiguação, também tem prazo diferenciado: ao invés de cinco dias prorrogáveis por mais cinco, é de trinta dias, prorrogáveis por mais trinta no caso dos crimes hediondos e equiparados. Alguns autores, como NUCCI (2008), defendem que esse prazo não é absoluto, mas um limite para a imposição da prisão. Assim, não seria de trinta dias, mas de até trinta dias. Ainda, em relação lei nº 8.072/90, dos crimes hediondos, além de trazido outras alterações para o Código Penal (como, por exemplo, a elevação de penas abstratas a alguns tipos penais nos Arts. 6º e 9º), a norma dispõe também sobre estabelecimentos penais de segurança máxima (art. 3º),

livramento condicional (art. 5º), delação premiada (art. 8º) dispositivos esses que merecem ser conferidos aqui porque são aplicáveis ao terrorismo. A norma do artigo 3º impõe à União o dever de construir e sustentar estabelecimentos de segurança máxima para abrigar criminosos condenados, de alta periculosidade, sob sua responsabilidade, distante de centros urbanos e da responsabilidade dos Estados: Art. 3º. A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou a incolumidade pública. O artigo 5º fixou um prazo maior para o recebimento de livramento condicional, onde os condenados por crimes hediondos e equiparados devem cumprir dois terços da pena para obter o benefício, se primários; se reincidentes específicos, não podem nem mesmo obter o livramento condicional: Ao art. 83 do CP é acrescido o seguinte inciso: Art. 83. [...] V cumprido mais de 2/3 de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. Ao invés de criar um novo tipo incriminador, definindo associação criminosa para o fim de cometimento de delitos hediondos e equiparados, a lei 8.072/90 alterou a pena do crime previsto no art. 288 do CP ( associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes), passando de um a três anos de reclusão, para três a seis anos: Art.8º. Será de 3 (três) a 6 (seis) anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).

Quando a quadrilha ou bando voltarem a praticar crimes hediondos ou equiparados (exceto quanto ao delito previsto no artigo 159 extorsão mediante seqüestro que possui forma específica prevista no artigo 7º da lei 8.072/90), pode haver a redução de pena, de um a dois terços, quando o concorrente (co-autor ou partícipe) denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando o seu desmantelamento. Desta forma, os gravames previstos na Lei de Crimes Hediondos são inócuos no que se refere ao crime de terrorismo, pois nos oferece uma incriminação vaga e indeterminada. Na mesma linha, Franco (apud Leal), afirma que a falta de um tipo penal que atenda, num momento presente, a denominação especial de terrorismo e que, ao invés de uma pura cláusula geral, exponha os elementos definidores que se abrigam neste conceito, torna inócua, sob o enfoque de tal crime, a regra do art. 2 da Lei 8.072/90. Assim, verificamos que inexiste tipo penal para o crime de terrorismo no Direito Penal Brasileiro. Nos dois dispositivos legais existentes sobre o tema, ou seja, as Leis retrocitadas e objeto de análise, não há a descrição da conduta típica punível, porquanto não há crime sem lei anterior que o defina, motivo pelo qual, conforme dito alhures, apresentamos uma proposta de Lei ao Senador Demóstenes Torres, com fim de ser analisada e apresentada à respectiva Casa Legislativa, por meio da Comissão de Constituiçao e Justiça e Cidadania iniciando o Processo Legislativo devido, nos termos do Art. 59 da CF/88. ( Só o tempo dirá se a nossa proposta foi aceita e em quais termos).

3 HISTÓRICO DO TERRORISMO NO BRASIL E NO MUNDO Pesquisando como o terrorismo se manifestou na história do Brasil, verifica-se que a raiz do terror no país é freqüentemente relacionada ao Regime Militar inaugurado com o Golpe de 1964, quando, em 31 de março, setores militares apoiados pelos EUA e por segmentos da sociedade civil brasileira depuseram o então presidente João Goulart, dando início ao período que marcou para sempre a história do país. Com o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968 (AI-5), o regime militar endureceu-se ainda mais, desenvolvendo uma fase de intensa repressão e de caça aos brasileiros considerados subversivos pela nova regra. De acordo com SUTTI (2003), pela ideologia militar, qualquer um podia ser considerado suspeito de ser subversivo, podendo, assim, ser preso, e muitas vezes, torturado, e até morto. Os autores relembram que, para agir dessa forma, o governo alegava que o Brasil estava vivendo um período de guerra revolucionária, não havendo necessidade de formalismos jurídicos, e nem mesmo qualquer prestação de contas às autoridades judiciárias ou à opinião pública. Diante desse quadro, o descontentamento popular crescia, se expressando por meio de guerrilhas e, para impedir sua manifestação, a ditadura desencadeava uma repressão brutal. No complexo momento nacional, os militantes oponentes ao regime ditatorial é que foram considerados terroristas, em virtude das lutas armadas e dos atos de terrorismo que teriam provocado; enquanto isso, os defensores do governo foram chamados de radicais do regime em vigor, mesmo com tantas torturas, assassinatos e desaparecimentos sem explicação. De acordo com GUIMARÃES (2007), o Brasil não tem sofrido efetivos atentados terroristas no período mais recente. Segundo o autor, dos tipos de terrorismo, entretanto, o baseado em organizações criminosas é o que se afigura mais presente no país.

Assim é que, se ora não há no país problemas de ordem religiosa e política que levem a atentados terroristas, há, por outro lado, o fortalecimento do crime organizado, que por vezes se incrusta no poder público de tal forma, que passa a atingir altas autoridades e a cúpula de certos setores da administração. O autor anota que o crime organizado daqui não se utiliza, ao menos ainda, do terrorismo, embora algumas condutas dele se aproximem. Lembra, ainda, que existe outra forma de organização criminosa, bastante à brasileira, que se mostra bem menos organizada e parece não contar com a direta participação de agentes da cúpula do poder público, consubstanciada em comandos criminosos nos quais delinqüentes comuns se reúnem para preparar grandes motins em penitenciárias, comandar o tráfico de entorpecentes a partir das unidades prisionais, elaborar fantásticas fugas e grandiosos resgates de presos, tais grupos criminosos. Embora não sejam estruturados como organizações criminosas notórias, referidas por denominação específica, não têm um nome determinado, mas não deixam de ter certa organização e de espalhar o terror pelos mais variados setores da sociedade e do poder público, se utilizando, vez por outra, de práticas bastante semelhantes a atentados terroristas. As referidas práticas, em razão da frágil organização, são felizmente inconstantes, e de pequena monta, porém, não deixam de aterrorizar, ao menos logo após os atentados. São os casos, dentre outros, de atuações do Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, e do Primeiro Comando da Capital, em São Paulo. De acordo com MORAIS (2002), é a falta de descrição legal de terrorismo no Brasil que contribui para que ações desse tipo sejam anotadas como outras espécies de crime. O autor recorda que, do final do processo de abertura política em 1985 até os dias atuais, registraram-se vários incidentes

com nítida conotação terrorista, citando o seqüestro do Boeing 737-300 da Vasp, durante o vôo VP-375, no dia 29 de setembro de 1988. O referido autor diz que, hodiernamente, o terrorismo pode se manifestar no Brasil através de grupos organizados que praticam uma série de atos criminosos, coagindo autoridades governamentais e semeando o medo na população com a finalidade de conseguir mudanças políticas (especialmente agrária), e de demarcação de terras pretendidas por comunidades indígenas, em todo o país. No nosso entendimento jurídico as práticas das mencionadas organizações criminosas que, por meio de atentados com artefatos explosivos contra postos, delegacias e viaturas policiais deveriam ser consideradas terroristas, motivo pelo qual, urge a necessidade de uma legislação específica para tratar sobre o assunto. O que ocorre é que, o forte conteúdo político do termo terrorismo ainda prevalece sobre o seu significado jurídico, sendo certo que o significado político é mutante, ao passo que a tipificação legal do terrorismo inexiste no Brasil. Quando o legislador elege uma conduta como crime, está declarando que ela é nociva à sociedade, de maneira que quem a praticar, deverá receber a devida sanção penal, cujo grau varia de acordo com a relevância do bem jurídico que se pretendeu resguardar. Embora não haja, no âmbito interno, um tipo penal bem delimitado para o crime de terrorismo, o bem jurídico que se visa tutelar com esse tipo penal, não é único, tal a diversidade e a complexidade do fenômeno. De acordo com GUIMARÃES (2007), são tidos como bem jurídicos tutelados, no crime de terrorismo: a segurança, a incolumidade e a paz públicas, ou em outras palavras, a ordem pública e a paz social. Conforme o autor, o dispositivo também tutela, no aspecto do poder público constituído e da

ordem constitucional vigente, a estabilidade social e, mais concretamente, a estabilidade política. 3.1 CRIMES CONEXOS Ainda sob o enfoque jurídico, o terrorismo não se constitui em um fenômeno criminal isolado e disto resulta sua complexidade. Existem algumas práticas delituosas relacionadas a ele, os chamados de crimes transnacionais como a falsificação de documentos, notadamente passaporte, o tráfico de drogas, contrabando e descaminho, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e contrabando de armas. Os objetivos são diversos, desde o encobrimento da identidade de membros de uma organização terrorista, para dificultar sua localização ou mesmo, levantamento de recursos financeiros destinados a subsidiar a permanência ou o deslocamento de grupos ao país alvo para a prática de ações e atentados. Poderão ocorrer outros delitos, conforme o grau de dificuldade encontrada por integrantes destas organizações já instaladas no país alvo. Entre estes estão a corrupção de agentes públicos, falsidade material e ideológica na apresentação de dados ou documentos falsos, a montagem de centrais telefônicas clandestinas, o seqüestro, roubo de armas e explosivos, etc.

Em 1988 Boeing foi perseguido por Mirage 12 de março de 2009, em Reportagem, por Guilherme Intenção do sequestrador era jogar o 737 contra o Palácio do Planalto O caso do seqüestro e posterior queda de um monomotor na cidade de Goiânia relembra uma das mais trágicas passagens da aviação civil do pais. Em 29 de setembro de 1988, um Boeing 737-300 decolou de Belo Horizonte. Era o vôo VP-375 da VASP com destino ao Rio de Janeiro. Pouco depois da decolagem, o tratorista desempregado Raimundo Nonato começou a disparar contra a porta da cabine dos pilotos com um revólver calibre 32. Nonato culpava o presidente José Sarney pela penúria em que estavam ele próprio e o Brasil e decidira atirar-se com um jato repleto de passageiros sobre o Palácio do Planalto. Os tiros feriram um tripulante e um passageiro, e o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva rendeu-se ao seqüestrador. Uma vez na cabine, Nonato mandou que se tomasse o rumo de Brasília. O co-piloto tentou pegar o rádio de comunicação, tomou um tiro na cabeça e morreu instantaneamente. Por mais de três horas, o comandante Murilo negociou com o seqüestrador, voando sobre Brasília, Goiânia e Anápolis. Diante da intransigência de Nonato e da possibilidade de ficar sem combustível, chegou a fazer duas manobras quase suicidas tentando desequilibrar e desarmar o seqüestrador. Na primeira, fez um tunneau. Depois, um parafuso, deixando-o cair com o nariz para baixo enquanto girava. Essa manobra foi tão brusca que parte do estabilizador do Boeing se desprendeu e caiu sobre um conjunto de casas em Goiânia. Engenheiros da fábrica afirmam que é o único registro de manobra desse tipo com um Boeing 737. As manobras foram testemunhadas por um Mirage III da FAB que acompanhava o vôo (observar o Mirage no vídeo abaixo perseguindo o 737 no início do parafuso) e contadas pelo comandante Murilo, que, na confusão, acabaria pousando na capital goiana. Em terra, Nonato exigiu um avião menor para fugir, acabou levando três tiros numa cilada e morreu alguns dias depois, internado no Hospital Santa Genoveva, em Goiânia. Como vinha se recuperando bem dos ferimentos, a morte se tornou um mistério que só viria a ser desvendado pelo legista Fortunato Badan Palhares, da Universidade Estadual de Campinas, que autopsiou o corpo e atestou que ele morreu de infecção por anemia falciforme, uma doença congênita. Comandante da VASP foi homenageado em 2001 Com 13 anos de atraso, o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva, de 53 anos, foi homenageado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas. Murilo, que evitou a tragédia, recebeu o troféu Destaque Aeronauta hoje, no Dia do Aviador. Antes tarde do que nunca, disse o piloto, que na época foi condecorado pelo Ministério da Aeronáutica e pelo governo de Minas. Acho que essa homenagem demorou para sair. Apesar da medalha da Aeronáutica, a aviação civil deveria ter feito isso há muito tempo, afirmou Alberto Antunes, integrante da nova diretoria do sindicato, que tomou posse na cerimônia. Antunes foi colega do homenageado na Vasp, e fazia parte da tripulação que entregou o avião aos cuidados de Murilo, em Cuiabá, no dia do seqüestro. Oito anos depois do seqüestro, quando pilotava aviões DC-10 em vôos internacionais, o comandante se aposentou. O (Wagner) Canhedo me obrigou. Queria enxugar o quadro de vôo. Fiquei um tempo parado, fui tentar fazer outras coisas fora da aviação, explica. No dia 11 de setembro de 2001, mês do seqüestro e do seu aniversário, viu uma história parecida se desenrolar nos EUA, com final trágico. O que aconteceu em Nova York e Washington foi meio parecido. Os seqüestradores tinham a mesma intenção. Só que lá eram vários. Leia mais (Read More): Em 1988 Boeing foi perseguido por Mirage Poder Aéreo - Informação e Discussão sobre Aviação Militar e Civil

3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TERRORISMO NO MUNDO ATÉ OS DIAS ATUAIS E OS PRINCIPAIS ORGANISMOS TERRORISTAS INTERNACIONAIS (HEZBOLLAH, ETA, IRA, AL- QAEDA, FARC). 3.2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TERRORISMO O terrorismo não é um fenômeno recente. A palavra nos faz lembrar dos radicais jacobinos e a institucionalização do terror de Estado praticado durante a Revolução Francesa, por meio do Tribunal Revolucionário de Paris. Mas antes deles, diversos déspotas já haviam recorrido a esse método. O czar Ivan IV, por exemplo, recebera o terror como alcunha, e séculos mais tarde esse ainda seria o principal recurso empregado por Stalin para dirigir a União Soviética. A partir do final do século XIX, o terrorismo vem adquirindo uma importância crescente. Mikhail Bakunin, fundador do anarquismo russo, preconizava o uso do terror como ferramenta revolucionária. Em fevereiro de 1880, um atentado a bomba perpetrado pela organização Vontade do Povo vitimou o czar Alexandre II. Lenin e os bolcheviques, naturalmente, incorporaram o terrorismo a seu repertório sedicioso e, anos mais tarde, exportaram-no para todo o planeta, por intermédio dos agentes do Kominter. Outro atentado precipitou o início da Primeira Guerra Mundial, quando Mão Negra (organização nacionalista bósnia patrocinada pela Sérvia) assassinou o arquiduque Ferdinando da Áustria durante uma visita a Sarajevo.

No início dos anos 1920, Michael Collins não hesitou em empregar métodos semelhantes em prol da causa nacionalista irlandesa e militantes dos grupos Irgun e Lehi fizeram o mesmo durante o mandato britânico na Palestina. Entretanto, assim como as demais formas de guerra irregular o terrorismo sofreu notável expansão após o término da Segunda Guerra Mundial, com enorme incidência no Terceiro Mundo, abarcando as guerras de libertação nacional, as revoluções marxistas e as práticas de grupos reacionários de extrema direita. Em algumas lutas de independência, como no Quênia e na Argélia, o terrorismo desempenhou um papel realmente significativo. Os irlandeses tornaram-se responsáveis por atentados a bomba bem elaborados, que vitimaram propositadamente um número considerável de civis inocentes. Os palestinos internacionalizaram o terror, atacando alvos israelenses fora do Oriente Médio e estabelecendo estreitos vínculos com organizações de outros países. O Exército Vermelho japonês, a Fração do Exército Vermelho alemã, as Brigadas Vermelhas italianas, o basco Euskadi Ta Askatasuna (ETA), entre tantos outros grupos, sofreram enorme influência de irlandeses e palestinos, sem nunca se igualarem a eles. No final dos anos 1970, a Revolução Iraniana marcou o surgimento do terrorismo religioso. Desde então, organizações como o Hezbollah, o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina têm alcançado notável projeção e obtido êxito significativos, recorrendo às operações de martírio. O vulto e as conseqüências dos atentados perpetrados pela Al-Qaeda em Washington, Nova Iorque, Madri e Londres; a guerra global contra o terror proclamada pelos Estados Unidos e a violência sectária no Iraque denotam o