MOVIMENTO LGBT NA TERRA DO CACAU: MILITÂNCIA E ESTRATÉGIA A FAVOR DA DIVERSIDADE EM ITABUNA E ILHÉUS



Documentos relacionados
PARECER N.º, DE 2009

11º GV - Vereador Floriano Pesaro PROJETO DE LEI Nº 128/2012

AS INTERFACES ENTRE A PSICOLOGIA E A DIVERSIDADE SEXUAL: UM DESAFIO ATUAL 1

Artigo 1º - Fica autorizado o Poder Executivo a criar o Programa de Acessibilidade e Segurança da População LGBTT no Estado de São Paulo.

Pacto Gaúcho pelo Fim do Racismo Institucional

JOVEM HOMOSSEXUAL substituir por JOVENS GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS E TRANSGÊNEROS (GLBT) ou por JUVENTUDE E DIVERSIDADE SEXUAL

1904 (XVIII). Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial

: : ABGLT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GAYS, LÉSBISCAS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS : SOLICITAÇÃO

PROJETO DE LEI CM Nº 279/2013.

Por que esses números são inaceitáveis?

Direitos LGBT: do casamento ao enfrentamento da discriminação

PLANO DE ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE AIDS E DAS DST ENTRE A POPULAÇÃO DE GAYS, HSH E TRAVESTIS PARÁ

Atividade I Como podemos fortalecer o Núcleo na Região para garantir a continuidade dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - ODMs?

participação do movimento LGBT nas políticas governamentais

POLÍTICAS PÚBLICAS DE CONTROLE DAS DST S ENTRE A POPULAÇÃO LGBT DE ITABUNA (BA) PALAVRAS-CHAVE: SAÚDE; CONSCIENTIZAÇÃO; DIREITOS HUMANOS.

PLANO DE ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE AIDS E DAS DST ENTRE POPULAÇÃO DE GAYS, HSH E TRAVESTIS PERNAMBUCO

Viva Rio lança trabalho socioambiental que contempla Nova Friburgo

Protagonismo Juvenil 120ª Reunião da CNAIDS. Diego Callisto RNAJVHA / Youth Coalition for Post-2015

SEMANA 3 A CONTRIBUIÇAO DOS ESTUDOS DE GÊNERO

Organizações formadas pela sociedade civil, sem fins lucrativos, constituído formal e autonomamente; Caracterizam-se por ações de solidariedade no

Pesquisa. Há 40 anos atrás nos encontrávamos discutindo mecanismos e. A mulher no setor privado de ensino em Caxias do Sul.

Unidade II FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL. Prof. José Junior

SUGESTÕES PARA ARTICULAÇÃO ENTRE O MESTRADO EM DIREITO E A GRADUAÇÃO

OFICINA DE ELABORAÇÃO DO PLANO ESTADUAL DE ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE AIDS E DAS DST ENTRE GAYS, HSH E TRAVESTIS METAS ATIVIDADES RESPONSÁVEIS

coleção Conversas #20 - MARÇO t t o y ç r n s s Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

No entanto, a efetividade desses dispositivos constitucionais está longe de alcançar sua plenitude.

de Gays, HSHe Travestis, criado em março de 2008, pelo Governo Federal. Considerando que o plano traça diretrizes de combate às vulnerabilidades

Universidade Metodista de São Paulo

SEDE NACIONAL DA CAMPANHA

Igualdade de oportunidades e tratamento no emprego e na profissão: Instrumentos normativos da OIT e a sua aplicação no Brasil

Qual o seu posicionamento com relação à criminalização da homofobia? Por quê?

UNIVERSIDADE DE MINAS GERAIS - RS UFMG - EXTENÇÃO JUVIVA 2-CURSO DE ATUALIZAÇÃO EJA E JUVENTUDE VIVA 2-T9

PLANO DE ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE AIDS E DAS DST ENTRE A POPULAÇÃO DE GAYS, HSH E TRAVESTIS RIO DE JANEIRO

Sucinta retrospectiva histórica do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos de Goiás (CEEDH-GO)

Mobilização Social. Núcleo de Mobilização Social da Assessoria de Comunicação Social - SES/MG

A constituição do sujeito em Michel Foucault: práticas de sujeição e práticas de subjetivação

Tema: Você não precisa ser LGBT para lutar contra a LGBTfobia Palestrante: Carlos Tufvesson

Palavras-chave: Implantação da Lei /03, Racismo, Educação.

DIÁLOGOS PARA A SUPERAÇÃO DA POBREZA

OS DIREITOS HUMANOS NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

Balanço SEMESTRAL da Gestão (Fev/Agosto 2012) Secretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas/SPM

NUPE NÚCLEO DE PESQUISA E EXTENSÃO PROJETO DE EXTENÇÃO UNIVERSITÁRIA FEUC SOLIDÁRIA 2008 COMBATE À AIDS: UM DEVER DE TODOS

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006

SAÚDE COMO UM DIREITO DE CIDADANIA

Plano Municipal de Educação

O Sr. CELSO RUSSOMANNO (PP-SP) pronuncia o. seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores

O ENVELHECIMENTO SOB A ÓTICA MASCULINA

ANAIDS Articulação Nacional de Luta Contra a AIDS

PLANO INTEGRADO DE ENFRENTAMENTOÀ FEMINIZAÇÃO DA AIDS NO CEARÁ

DIREITOS HUMANOS, JUVENTUDE E SEGURANÇA HUMANA

Secretaria Municipal de Assistência Social Centro de Referência Especializado de Assistência Social

O Sindicato de trabalhadores rurais de Ubatã e sua contribuição para a defesa dos interesses da classe trabalhadora rural

e construção do conhecimento em educação popular e o processo de participação em ações coletivas, tendo a cidadania como objetivo principal.

país. Ele quer educação, saúde e lazer. Surge então o sindicato cidadão que pensa o trabalhador como um ser integrado à sociedade.

EDUCAÇÃO E PROGRESSO: A EVOLUÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA ESTADUAL ELOY PEREIRA NAS COMEMORAÇÕES DO SEU JUBILEU

II ENCONTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA BAHIA A EDUCAÇÃO COMO MATRIZ DE TODAS AS RELAÇÕES HUMANAS E SOCIAIS SALVADOR, BA 2013

convicções religiosas...

A Deputada GORETE PEREIRA (PR-CE) pronuncia. discurso sobre o Dia Internacional da Mulher: Senhoras e Senhores Deputados,

RESUMO DA REUNIÃO SOBRE O PROJETO DE LEI DE INICIATIVA POPULAR SOBRE OS 10% DAS RECEITAS CORRENTES BRUTAS PARA O SUS.

AGENDA DE ENFRENTAMENTO

Andréa Bolzon Escritório da OIT no Brasil. Salvador, 08 de abril de 2013


ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM RECORTE HORIZONTAL NO ATENDIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Chamada para proposta de cursos de Mestrado Profissional

Como participar pequenos negócios Os parceiros O consumidor

A ATUAÇÃO DA PASTORAL DA AIDS EM DUQUE DE CAXIAS E SÃO JOÃO DE MERITI E O DIÁLOGO DA SEXUALIDADE

Movimentos sociais - tentando uma definição

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

OFICINA DE REESTRUTURACÃO DA REABRI Data: 14 de Maio de 2010 UNIDAVI - Rio do Sul

AIDS E ENVELHECIMENTO: UMA REFLEXÃO ACERCA DOS CASOS DE AIDS NA TERCEIRA IDADE.

Projeto Alvorada: ação onde o Brasil é mais pobre

ENTREVISTA. Clara Araújo

UNIÃO HOMOAFETIVA. Tâmara Barros

TRABALHANDO A CULTURA ALAGOANA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA DO PIBID DE PEDAGOGIA

introdução Trecho final da Carta da Terra 1. O projeto contou com a colaboração da Rede Nossa São Paulo e Instituto de Fomento à Tecnologia do

Diretrizes Consolidadas sobre Prevenção, Diagnóstico, Tratamento e Cuidados em HIV para as Populações-Chave

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES 2004

III PRÊMIO PARAÍBA ABRAÇA ODM

Blumenau, 24 de junho de Ilustríssimo(a) Senhor(a) Vereador(a).

A MULHER E OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

Atividades Acadêmico-Científico- -Culturais: Diversidade Cultural. Contextualização. Gênero. Teleaula 2. Letras. Diversidade de Gênero

REGIMENTO INTERNO DO FÓRUM NACIONAL DE PREVENÇÃO E ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL CAPÍTULO I DA FINALIDADE

Munic 2014: 45% dos municípios tinham política de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica

PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA GABINETE DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA RESOLUÇÃO N 3431

RESPONSABILIDADE SOCIAL NO CENÁRIO EMPRESARIAL ¹ JACKSON SANTOS ²

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

Presidência da República Federativa do Brasil. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

Um país melhor é possível

CARTA DO COMITÊ BRASILEIRO DE DEFENSORAS/ES DOS DIREITOS HUMANOS À MINISTRA DA SECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

ATUAÇÃO DO MACROCAMPO PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL EM SOCIOLOGIA NO SEVERINO CABRAL

Universidade de Brasília

MULHERES IDOSAS E AIDS: UM ESTUDO ACERCA DE SEUS CONHECIMENTOS E SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE

Objetivo 2 Ampliar e qualificar o acesso integral e universal à prevenção das DST/HIV/aids para Gays, outros HSH e Travestis.

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

O que são Direitos Humanos?

MODELO DA FUNDAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE SURDOS

Transcrição:

MOVIMENTO LGBT NA TERRA DO CACAU: MILITÂNCIA E ESTRATÉGIA A FAVOR DA DIVERSIDADE EM ITABUNA E ILHÉUS José Miranda Oliveira Júnior 1 O Sul da Bahia traz impregnado em sua cultura resquícios do patriarcalismo da época de ouro do cacau, que fazia do Coronelismo, a principal representação de uma sociedade patriarcal. E, por conta disso, não é incomum que o preconceito contra os LGBT ecoe com voracidade nesta região. Por outro lado, cidades como Itabuna e Ilhéus, lutam a favor da cidadania gay, promovendo atividades que visam, dentre outros motivos, chamar a atenção da sociedade para a questão da intolerância sexual e atentar para o artigo 3º da constituição Federal de 1988 que estabelece: O Estado tem o dever de erradicar as desigualdades sociais. Sendo assim, a orientação sexual não pode ter tratamento diferenciado do resto da sociedade, pois se a lei demonstra que todos são iguais, não deve haver separação diante da raça, cor, credo e orientação sexual. Devido ao preconceito pautado na suposta superioridade e naturalidade da heterossexualidade, a Homofobia, a Lesbofobia e a Transfobia ainda é algo vivenciado diariamente na vida de gays, lésbicas, travestis e transgêneros. A discriminação embarga questões sociais que visam políticas públicas que tratariam a problemática da violência física e simbólica, fazendo com que, em pleno século XXI, algumas pessoas ainda prefiram se manter em guetos, segregados, relegados à obscuridade de suas práticas sexuais, pois seus atos são considerados como pecado, doença e desvio de conduta. O Grupo Gay da Bahia (GGB) divulga anualmente um relatório minucioso sobre os casos de crimes de ódio acontecidos no Brasil. Em 2011, foram documentados 266 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil, sendo que desse percentual os gays lideram os homocídios : 162, seguidos de 98 travestis e 07 lésbicas. A pesquisa também demonstra que o Estado da Bahia, naquele ano, liderou a lista com 28 homicídios, seguida de Pernambuco (25), São Paulo (24), Paraíba, Alagoas e Minas Gerais com 21 casos cada e Rio de Janeiro, 20. Roraima e Acre não registraram nenhum homocídio, e Distrito Federal e Amapá apenas 1. 1 Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Santa Cruz, bolsista do subprojeto de Sociologia do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à docência (PIBID) da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e membro da Divisão de Estudos Sobre a Política e Seus Espelhos- DESPE/UESC na linha de pesquisa de Gênero e Poder, Sexualidades, Homofobia e Cidadania LGBT. 1

Borrillo (2001) apresenta um panorama de como a discriminação contra os LGBT é exercida na sociedade, ressaltando as formas como ela é praticada. Ele conceituou a homofobia em: homofobia irracional e cognitiva a primeira encontra suas origens em conflitos individuais (crenças, valores, etc) e a outra, na medida em que perpetua a diferença homo/hétero até a homofobia geral e específica nas quais a hostilidade não se restringe só a homossexuais, mas contra todo o conjunto de indivíduos considerados como não conformes à considerada norma sexual pautada nos valores heteronormativos. O autor também relata as origens e elementos precursores, analisando a homossexualidade desde o contexto histórico do mundo greco-romano, nessas sociedades as práticas homoafetivas eram parte de um rito de iniciação. Esse rito fazia parte do treinamento e da disciplina militar. A relação homossexual se dava entre um homem mais velho (erastes) e um mais jovem (eromenos) que não possuía sua masculinidade formada. A partir da tradição judaico-cristã (que reprimia as relações entre pessoas do mesmo sexo) e com a oficialização do cristianismo a Igreja Católica condena o amor entre iguais mediante interpretações bíblicas. Borrilo (2001) ressalta as mudanças no estudo sobre a temática da homossexualidade: em vez de se dedicar ao estudo do comportamento homossexual, a atenção se volta agora para as razões que levaram essa forma de sexualidade a ser considerada, no passado, desviante. Esse deslocamento do objeto de análise sobre a homofobia produz uma mudança tanto epistemológica quanto política. Epistemológica porque não se trata exatamente de conhecer ou compreender a origem e o funcionamento da homossexualidade, mas sim de analisar a hostilidade provocada por essa forma específica de orientação sexual. Política porque não é mais a questão homossexual, mas a homofobia que merece, a partir de agora, uma problematização particular. Mesmo com muitas campanhas lutando contra a Homofobia e a favor da convivência com a diversidade, a Bahia lidera o ranking de Estado brasileiro com maior número de crimes motivados por intolerância à condição sexual, como comprovam os dados do Grupo Gay da Bahia (GGB) descritos anteriormente. Isso pode derivar de valores de construção social, segundo Vidal (2005;20). Uma possível interpretação do número de casos de homofobia pode ser crença do senso comum e das Ciências Biológicas na natureza da sexualidade humana sendo este principio 2

o grande responsável pelos casos de agressão verbal e simbólica do qual LGBT s são acometidos diariamente. Sobre essa questão, Foucault (1985) diz que: o regime proposto para os prazeres sexuais parece estar centrado inteiramente sobre o corpo: seu estado, seus equilíbrios, suas afecções, as disposições gerais ou passageiras em que se encontra aparecem como as variáveis principais que devem determinar as condutas. De certa forma, é o corpo que faz a lei para o corpo. (...) se os humanos têm necessidade de um regime que leve em conta, com tanta meticulosidade, todos os elementos da fisiologia, é porque eles tendem, incessantemente, a dele se afastar pelo efeito de suas imaginações, de suas paixões, de seus amores. A região sul da Bahia traz aparatos de uma constituição patriarcal histórica e, por conseguinte, sexista, daí pode-se deduzir porque a questão homossexual ganhou ares discriminatórios na própria literatura local. Ana Luiza Rodríguez Antunes, em sua dissertação de mestrado intitulada Homossexualidade: a mestiçagem que Jorge amado não viu Um estudo sobre as personagens homossexuais nos romances de Jorge Amado, afirma que nenhuma cena de amor homossexual parece bem-vinda nos romances do autor baiano. A exclusão moral dos homossexuais não é feita pela via de sua simples marginalidade social; outras categorias sociais consideradas marginais, como os bêbados, os vagabundos, os ladrões e as meretrizes são freqüentemente ficcionalizados e, às vezes, idealizados pelo romancista. É importante ressaltar que Jorge Amado é cidadão itabunense, naturalizado em Ilhéus, ou seja, fruto direto do berço sul baiano cacaueiro e escreveu muitas obras conhecidas mundialmente - que se passavam nessas regiões. Bourdieu (1996) fala sobre a situação das mulheres em sua obra A dominação masculina, no entanto, essa discussão é pertinente no contexto porque, assim como as mulheres, os LGBT s possuem identidades sexuais não-heterocentradas e, por conta disso, são vítimas de opressão e a homossexualidade é tratada pelo autor. Para o autor: ao trazer à luz as invariantes trans-históricas da relação entre gêneros, a história se obriga a tomar como objeto o trabalho histórico de dês-historicização que as produziu e reproduziu continuamente, isto é, o trabalho constante de diferenciação a que homens e mulheres não cessam de estar submetidos e que os leva a distinguirse masculinizando-se ou feminilizando-se. Ela deveria empenhar-se particularmente em descrever e analisar a (re)construção social, sempre recomeçada, dos princípios de visão e de divisão geradores dos gêneros e, mais amplamente das categorias de práticas sexuais (sobretudo heterossexuais e homossexuais), sendo a própria heterossexualidade construída socialmente e socialmente constituída como padrão 3

universal de toda prática sexual normal, isto é, distanciada da ignomínia da contranatureza. Ao sair nas ruas, expondo seu orgulho através de símbolos cores, linguagem estariam os LGBT indo contra um processo cultural hegemônico e fazendo valer o direito à liberdade de expressão de todos os gêneros e isso pode gerar coerção (e as estatísticas comprovam que sim). Pois, na visão de Butler (2003): o lócus da intratabilidade, tanto na noção de sexo como na de gênero, bem como no próprio significado da noção de construção, fornece indicações sobre as possibilidades culturais que podem e não podem ser mobilizadas por meio de quaisquer análises posteriores. (...) Tais limites se estabelecem sempre nos termos de um discurso social hegemônico. (...) Assim, a coerção é introduzida naquilo que a linguagem constitui como domínio imaginável do gênero. Pode-se perceber que a análise de uma ação política que visa afirmação da cidadania gay, como a Parada do orgulho LGBT é um centro de discussão que permeia as construções culturais da sociedade, a liberdade de expressão de um movimento social e às reflexões que embasam este ato político. Sair às ruas não significa apenas expor sua subjetividade ou transgressão, mas trazer à luz do dia a cor que está submersa na escuridão do preconceito e da discriminação. A Parada do Orgulho LGBT Nos últimos anos, pode-se ver no Brasil a multiplicação de eventos comemorativos do Dia do Orgulho de Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Bissexuais, tradicionalmente celebrado em diferentes países no dia 28 de junho. Em formato de Paradas, esses eventos acontecem em datas variadas no decorrer do ano, em várias cidades do país, inclusive muitas cidades pequenas também estão organizando as suas Paradas, sendo que a maior do mundo acontece na cidade de São Paulo, com a participação de cerca de 4 milhões de pessoas. Ramos e Carrara (2006) salientam que as Paradas reúnem milhares de pessoas em dezenas de cidades brasileiras. Muitas contam com apoio financeiro do Ministério da Cultura e diversas com apoio de prefeituras e secretarias estaduais. 4

Segundo Luiz Mott 2, fundador do Grupo Gay da Bahia, ainda que o Brasil tenha a maior Parada do mundo, a situação de preconceito e violência contra a população LGBT é grande. Só em janeiro de 2012, o número atingia 36 crimes praticados por homofobia, lesbofobia ou transfobia. Pode-se perceber a partir desse dado, que a repressão, a censura e a violência física e simbólica marcam tragicamente muitos homossexuais dentro da história e se agrava com a ausência de políticas públicas que criminalize e combata a violência contra essa população. Em maio de 2011, a presidenta Dilma Rousseff suspendeu a produção e distribuição do chamando kit "Escola sem homofobia", que estava em andamento no Ministério da Educação e que seria distribuído nas escolas públicas. Após uma barganha política o referido material passou a ser chamar pela bancada religiosa de Kit gay que, na verdade, era um kit anti-homofobia, continha cartilha, cartazes, folders e vídeos educativos e gerou muita polêmica. As Paradas Gays objetivam muito mais que uma celebração da identidade sexual. Elas significam um momento de reivindicação, demonstram um modo de pensar e agir dentro da diversidade, na medida em que lutam por direitos civis, como casamento, adoção e o principal: a possibilidade de viver livremente a sexualidade, respeitando e sendo respeitado. Um passo já foi dado, haja vista que, com a decisão por unanimidade dos ministros do Superior Tribunal Federal (STF), no dia 05 de maio de 2011, foi reconhecida a união homoafetiva entre casais do mesmo sexo. Outra grande conquista na Bahia foi a regulamentação do Casamento Civil Gay (Também conhecido como Casamento Igualitário 3 ), em novembro de 2012. O Provimento Conjunto nº CGJ/CCI 12/2012 foi editado no Diário Oficial da Justiça por determinação da corregedora-geral da Justiça, desembargadora Ivete Caldas, e pelo desembargador Antônio Pessoa Cardoso, corregedor das comarcas do interior da Bahia. Dessa maneira, os cartórios de registro civil baianos são obrigados a realizarem a cerimônia e, com isso, casais homoafetivos já podem trocar sobrenomes, ter direito a herança do cônjuge e adotar o estado civil de casados. Até então, os únicos Estados que permitiam isso eram São Paulo e Alagoas. 2 Em reportagem ao site Terra Magazine: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,oi5569036-ei6578,00- Bahia+comeca+liderando+ranking+de+assassinatos+de+homossexuais.html 3 Casamento igualitário é um projeto de emenda constitucional apresentado pelo deputado federal Jean Wyllys para garantir o direito ao casamento civil aos casais do mesmo sexo. Site: http://casamentociviligualitario.com.br/ 5

Com o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, o Brasil avançou em prol da garantia de direitos fundamentais presentes na Constituição Brasileira, como igualdade de direitos, liberdade e o respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana. O próximo passo visa a aprovação do Projeto de Lei da PLC 122, que tem como objetivo punir a discriminação ou preconceito com pessoas idosas ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero e, principalmente, criminaliza a homofobia equiparando-a ao racismo e à discriminação religiosa. Esse projeto de lei é combatido por líderes religiosos que compõem parte da bancada ultraconservadora no Senado. O relator do referido Projeto de lei na Câmara é o senador Paulo Paim (PT-RS), após a saída de Marta Suplicy (PT-SP), esta última assumiu o Ministério da Cultura em setembro de 2012. MOVIMENTO LGBT EM ILHÉUS E ITABUNA Uma característica marcante dos movimentos sociais e, nesse sentido, o LGBT está inserido é sua crescente organização por meios de grupos, em formato de ONG s (Organizações não-governamentais). Para Gohn (2011): A construção de uma nova concepção de sociedade civil é resultado das lutas sociais empreendidas por movimentos e organizações sociais das décadas anteriores, que reivindicaram direitos e espaços de participação social. Essa nova concepção construiu uma visão ampliada da relação Estado-sociedade, que reconhece como legítima a existência de um espaço ocupado por uma série de instituições situadas entre o Mercado e o Estado, exercendo o papel de mediação entre coletivos de indivíduos organizados e instituições do sistema governamental. A autora salienta também que esta representação sempre envolve um coletivo de pessoas demandando algum bem material ou simbólico. Pode-se reparar modelos de movimentos sociais através dos grupos de militância Gay do sul da Bahia localizados em Ilhéus e Itabuna. São os grupos Eros, Saphos LGBT e Humanus. Essas organizações fomentam ações, lutam por políticas públicas, organizam intervenções, paradas do orgulho gay e campanhas que trazem à tona a luta por uma sociedade 6

igualitária, combatendo o preconceito, em suas mais diferentes formas de manifestação e ação (homofobia, lesbofobia e transfobia) e, assim, evitar que cada vez mais pessoas continuem sendo discriminadas e, em muitos casos, covardemente assassinadas por causa de suas orientações sexuais e/ou identidades de gênero. Além disso, as ONGs fazem a mediação entre aqueles coletivos organizados e o sistema de poder governamental, como também entre grupos privados e instituições governamentais, na concepção de Gohn. Grupo Humanus O Grupo Humanus foi criado em novembro de 2001, na cidade de Itabuna, sendo o primeiro grupo organizado e pensado majoritariamente por LGBT na região. Suas reuniões acontecem todas as quartas-feiras na sede da ONG e esses encontros servem para discutir as questões ocorridas contra ou a favor da população homossexual, bem como criar estratégias para as próximas intervenções. Gohn (2011) salienta que movimentos e ONGs cidadãs têm se revelado estruturas capazes de desempenhar papéis que as estruturas formais, substantivas, não têm conseguido exercer enquanto estruturas estatais, oficiais, criadas com o objetivo e o fim de atender a área social. Dessa maneira, o Grupo Humanus se encaixa nessa definição. A primeira Parada do Orgulho LGBT do sul da Bahia, acontecida em 2002, foi organizada pelo grupo para chamar a atenção da sociedade e dar visibilidade à causa gay, além de possibilitar um alerta contra a homofobia. Durante os anos, a Parada cresceu e se tornou temática. Em 2012, o tema foi País Laico, voto pela diversidade em um mundo de paz. Esses temas funcionam como fio norteador para as adequações e definições estruturais feitas anualmente pelo Grupo. Durante a semana da Parada Gay, o grupo organiza uma série de ações que insere a população na temática homossexual e cria estratégias contra a proliferação do vírus HIV e também contra o preconceito. Dentro do calendário de ações de 2012, aconteceram o Sétimo Seminário de Políticas Públicas para a População LGBT, que ocorreu no auditório da Faculdade de Tecnologias e Ciências (FTC) e contou, em sua abertura, com os candidatos a prefeitos de Itabuna Juçara Feitosa (PT), Zé Roberto (PSTU), Zem Costa (PSOL) e o candidato a vice-prefeito Wenceslau Guimarães (PRB), falando sobre seus projetos a favor dos eleitores LGBT. Além disso, oficinas e palestras foram efetivadas no intuito de trazer a questão da dinâmica da 7

sexualidade de uma forma direta, concisa e atraente para os espectadores. Outra intervenção foi o I Cine Diversidade de Itabuna, que aconteceu no dia 12 de setembro no Centro de Cultura Adonias Filho. Foram exibidos curtas e longas metragens com a temática de múltiplas sexualidades. Uma preocupação do grupo também é com a saúde pública. Por conta disso, a ONG conta com o apoio do Gapa Grupo de Apoio e Prevenção a AIDS. Com este apoio, todos os anos, é realizada uma feira de saúde no centro da cidade, na qual além da distribuição de folders educativos e preservativos, também são feitos exames para detecção de diversas Doenças Sexualmente Transmissíveis. O grupo também conta com Assessoria Jurídica que participa de todas as ações, dando suporte gratuitamente àqueles que necessitam de assistência, mas sofrem da insuficiência de recursos para tal. Os membros do Grupo Humanos questionam e discutem muito essas estratégias de saúde pública para a população LGBT sempre inserindo a questão do HIV, o que se justifica principalmente, pelo fato de, nos anos 80, a doença ter ficado conhecida como peste gay. A respeito disso, Miskolci (2011) diz: A epidemia inicial de HIV/Aids teve o efeito de repatologizar a homossexualidade em novos termos, contribuindo para que certas identidades, vistas como perigo para a saúde pública, passassem por um processo de politização controlada. Esse processo, que Larissa Pelúcio (2009) denomina apropriadamente de sidadanização, ou seja, a construção da cidadania a partir de interesses estatais epidemiológicos, terminou por criar a bioidentidade estigmatizada do aidético reconfigurando nossa pirâmide da respeitabilidade sexual (e social). Assim, a epidemia de HIV/Aids foi um divisor de águas na história contemporânea modificando a sociedade como um todo, mas com efeitos normalizadores ainda maiores no campo das homossexualidades. O próprio movimento social tornou-se o que é por causa de alianças, diálogos e relações com o Estado e a academia, a maioria deles estabelecidos durante o auge de enfrentamento da epidemia. (...) Devido ao relativo sucesso das políticas públicas voltadas para as DST/Aids, as demandas sociais, felizmente, não se voltam mais apenas para a área de saúde e ganham cada vez mais espaço em políticas na área de educação, cultura e, por fim, mas não por menos, nas demandas de reconhecimento de direitos. Duas outras atividades relevantes para a ONG são o Troféu Humanus e a eleição da Miss Gay Grapiúna. O primeiro evento citado está na sexta edição e promove uma homenagem 8

àqueles que durante o ano se destacam na defesa da liberdade de expressão, de orientação sexual e de gênero e lutam contra a opressão nas suas mais variadas manifestações dentro da sociedade. O segundo evento configura-se num concurso de beleza (Estilo Miss Brasil) e premia a mais bela candidata. Grupo Eros O Grupo Eros surgiu na cidade de Ilhéus em 2002 inserido como modelo de ONG, baseado suas atividades no que se refere à proteção à vida e nos Direitos Humanos da população LGBT. O nome da Instituição faz referência ao Deus grego do amor, também conhecido como Cupido, pois uma das ideologias do grupo é Toda forma de amar vale a pena. A ONG foi a primeira a trazer a Parada do Orgulho LGBT para a conhecida Terra da Gabriela. Em 2012, na oitava edição, o título foi Se o seu amor pode... o meu também pode e foi promovida por meio de uma parceria entre Ministério da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, através do Núcleo de Educação e Promoção a Saúde de Ilhéus (Nepsi) e do Centro de Testagem e Amostragem/DST- Aids e o Grupo Saphos, entre outros órgãos e entidades. Antes da realização da tradicional Parada Gay, aconteceu o Dia Municipal de Conscientização e Combate a Aids, Lesbofobia e Homofobia de Ilhéus. Na ocasião, os grupos Eros e Saphos e a coordenação do DST-Aids montaram um estande na Praça J. J. Seabra no mesmo local onde fica localizada a estátua da figura mitológica Saphos -, no centro da cidade de Ilhéus, para oferecer à população palestras, distribuição de panfletos, além do teste rápido para diagnóstico para HIV. Durante todo o ano, o grupo, através do projeto Cidadania e Direito LGBT Assessoria jurídica social, atende às minorias sexuais e pessoas vivendo com HIV/AIDS dos Municípios de Ilhéus, Itororó e Canavieiras, além de prestar gratuitamente assessoria jurídica a essas pessoas. Outras ações da ONG são visitas periódicas em escolas, bares e outros estabelecimentos a fim de distribuir panfletos educativos e ilustrativos, além de oficinas cujos temas permeiam o sexo seguro, no qual objetiva-se o controle do vírus HIV na região cacaueira. 9

Grupo Saphos LGBT O Grupos Saphos LGBT de Ilhéus foi fundado em 2008 e seu nome faz referência direta à poetisa grega que, segundo a mitologia, viveu na Ilha de Lesbos e era autora de poesias de cunho erótico, voltadas para mulheres. A figura mítica da deusa engloba todo um panorama de imponência feminina e é considerada como umas das primeiras que se tem conhecimento a dar um grito feminista na história. A expressão lésbica para se referir às mulheres que tem atração afetiva e sexual por outras mulheres vem da região em que Saphos nasceu, pois existia uma lenda que em tal ilha havia relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. É importante ressaltar que a cidade de Ilhéus possui uma estátua em estilo neoclássico da poetisa Saphos de Lesbos. O monumento fica localizado no Centro da cidade, mais especificamente na praça J.J. Seabra, em frente à Câmara municipal esculpida em mármore Carrara e chama a atenção. Segundo Mott (2010): Símbolo de uma era de maior tolerância, livre pensamento e pluralismo, o século XX há de ficar na história da antiga Capitania de São Jorge como um marco indelével na conquista dos direitos humanos: em plena Praça Municipal de Ilhéus encontra-se belíssima estátua de mármore, em tamanho natural, da oitava musa da Antiguidade, a poetisa Safo, considerada a mais famosa lésbica de toda a história da humanidade. Não há notícia, em todo o mundo, de outra Praça Municipal que tenha como protetora a divina Safo de Lésbos. Há diversas lendas sobre a chegada da peça na cidade, uma delas, inclusive, contada por populares, é que a estátua foi importada e serviu de presente do então prefeito, o médico Mario Pessoa da Costa e Silva à sua filha. No entanto, outra versão relata que, na verdade, um navio cargueiro contendo algumas estátuas e de bandeira grega encalhou nas proximidades do Porto de Ilhéus. Ao desencalhar, não teve dinheiro para seguir a viagem e resolveu leiloar algumas peças da carga e uma dessas era a estátua da poetisa. Histórias à parte, a lenda serviu para dar nome ao grupo de militância lésbica no sul da Bahia que visa, dentre outras coisas, à visibilidade da figura feminina no movimento LGBT. Em 2012, a ONG supracitada realizou diversas ações de combate ao vírus HIV em parceria com a Associação dos Pacientes Renais Crônicos e Transplantados do Sul da Bahia (ARCROETSULBA), grupo que também atua na promoção da Cidadania Plena e Prevenção das 10

DST/AIDS na cidade de Ilhéus. As duas entidades, filiadas ao Fórum Baiano LGBT 4 também participaram do III Encontro de Travestis e Transexuais do Estado da Bahia ocorrido entre os dias 13 e 15 de novembro de 2012, em Vitória da Conquista (BA) e conseguiram a sede do evento para 2013 em Ilhéus. Outra ação do Grupo Saphos foi a realização do VI Seminário de Fortalecimento da População LGBT do Estado da Bahia, sendo Ilhéus, a primeira cidade do interior baiano a sediar tal evento. Ocorrido de 05 a 08 de dezembro de 2012 com a temática Fortalecendo os grupos LGBT da Bahia, para enfrentarmos a pandemia e a propagação das DST/AIDS e hepatites virais, o Seminário foi realizado no Hotel Aldeia da Praia e recebeu cerca de 170 participantes distribuídos entre Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Ficou definido na plenária final que a próxima cidade a sediar o Seminário será Mata de São João. Em 2013, além do IV Encontro de Travestis e Transexuais do Estado da Bahia, o grupo Saphos promoverá o I Encontro Baiano de Lésbicas, trazendo visibilidade, ações de saúde pública e defensiva das mulheres. Dessa forma, demonstra-se as principais estratégias políticas que o movimento LGBT desenvolveu para efetivar a cidadania homossexual nas cidades de Ilhéus e Itabuna. Acreditamos que esse trabalho possibilitará criar um dialogo entre o movimento LGBT e a Universidade Estadual de Santa Cruz para elaborar estratégias e aprofundamento teórico na árdua luta contra a homofobia. Considerações finais O ano de 2011 foi um ano de conquista para o grupo LGBTT, especialmente os homossexuais da Bahia que a partir do dia 26 de novembro, puderam se encaminhar para o cartório mais próximo e oficializar seu casamento. A decisão foi tomada com base na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, e a Bahia foi o terceiro Estado a instituir o Casamento igualitário. Vitória para os LGBTs e Vitória para os Movimentos Sociais que visam a igualdade de gênero. No entanto, nas proximidades das festas natalinas, o então Papa Bento XVI convocou a 4 O Fórum Baiano LGBT é uma entidade que reúne 54 afiliadas por toda a Bahia e tem como principal atividade organizar e articular esses grupos que lutam contra a homofobia em todo o Estado. 11

união entre o catolicismo e outras religiões de matriz cristã contra o casamento Gay. Para o religioso, o casamento homossexual ameaça o futuro da humanidade. Esse pensamento típico do fanatismo religioso é o mesmo que não permite que a lei contra a Homofobia no Brasil seja instituída e, assim, continue incitando o ódio, diariamente, às pessoas que só querem ter o direito de viverem as suas respectivas vidas de acordo com o seu jeito de ser, sua identidade de gênero, sua orientação sexual, etc. O Movimento LGBT tem que estar atento e ancorado em estudos sobre a temática da homossexualidade, a cada dia, para avançar na luta contra a homofobia e na defesa da livre orientação sexual. Buscou-se demonstrar com esse trabalho as formas de luta política desenvolvidas pelos grupos LGBT para afirmar sua cidadania no mundo ocidental e no Brasil. As cidades de Ilhéus e Itabuna, atualmente acomodam três grandes grupos que buscam combater a homofobia e as Doenças Sexualmente Transmissíveis. Embora se verifique que os referidos grupos desenvolvam ações contra a homofobia, os dados demonstram que o Estado da Bahia, em 2011, foi um dos Estados que liderou a lista dos crimes do ódio homofóbico. Acredita-se que mesmo com todo o empenho do movimento LGBT não é suficiente para o enfrentamento da homofobia. Principalmente com os desafios que a temática da homossexualidade enfrenta em nosso país. Por isso, o combate contra a homofobia deve ser diário e é necessário que o Estado busque criar políticas públicas que visem mitigar a violência homofóbica e assuma o compromisso efetivo de lutar contra essa forma de preconceito que como demonstramos coloca em risco à vida daqueles que amam pessoas do mesmo sexo ou ousam transgredir as normas de gênero. A existência de grupos que lutam pela defesa dos direitos homossexuais nas cidades de Ilhéus e Itabuna nos parecem demonstrar um avanço na luta da cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. A existência dos mesmos, nas referidas cidades que são permeadas de relações conservadoras, estas resquícios da monocultura cacaueira, não seria um inicio de alguma mudança? Referências ANTUNES, A. L. R. Homossexualidade: a mestiçagem que Jorge Amado não viu um estudo sobre as personagens homossexuais nos romances de Jorge Amado. Disponível em: 12

http://tede.pucrs.br/tde_arquivos/16/tde-2009-09-10t083555z-2119/publico/416434.pdf em: 02/11/2011. Acesso BOURDIEU, Pierre. A Dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand, 1999. BUTLER, Judith. Problemas de gênero Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 3 O cuidado de si. Rio de Janeiro; Graal, 1985. FRY, Peter; MACRAE, Edward. O que é homossexualidade. São Paulo: Brasiliense, 1983. GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e contemporâneos. 9. ed. São Paulo: Loyola, 2011. MOTT, Luiz. Bahia: inquisição e sociedade. Salvador: EDUFBA, 2010. 294p. Disponível em < http://homolog.books.scielo.org/id/yn/pdf/mott-9788523205805-09.pdf> Acesso em 10/12/2012 MISKOLCI, Richard. Não Somos, Queremos - Reflexões queer sobre a Política Sexual Brasileira Contemporânea. In: Leandro Colling. (Org.). Stonewall 40 + o que no Brasil?. 1ed.Salvador: EDUFBA, 2011, v. 1, p. 37-56. RAMOS, Sílvia; CARRARA, Sérgio. A constituição da problemática da violência contra homossexuais: a articulação entre ativismo e academia na elaboração de políticas públicas. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-73312006000200004&script=sci_arttext> Acesso em: 26/05/2012 VIDAL, Marciano. Feminismo e ética: como feminizar a moral. São Paulo: Edições Loyola, 2005. 13