# 156 ano XXXVIII SETEMBRO/OUTUBRO 2011 COMUNIDADES Cenários de transformação e de celebração da vida I
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Odebrecht Informa em mídias digitais Você pode ler a revista Odebrecht Informa também em suas versões digitais: > na internet, acessando o site www.odebrechtonline.com.br > pelo ipad, através do aplicativo Revista Odebrecht, que pode ser baixado gratuitamente na App Store > em seu smartphone, acessando www.odebrecht.com.br veja em www.odebrechtonline.com.br Edição 156 Acervo online Novidades Videorreportagem Blog > Você pode acessar o conteúdo completo desta edição em HTML ou em PDF > A transformação social do Complexo do Alemão, um conjunto de 12 comunidades no Rio de Janeiro > Na região da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia, festejos tradicionais celebram a cultura e a vida > Genésio Couto, Responsável por Pessoas, Sustentabilidade e Relações Institucionais na ETH, é o entrevistado do Projeto Saberes > Acesse as edições anteriores de Odebrecht Informa desde a nº 1 e faça o download do PDF completo da revista > Relatórios Anuais da Odebrecht desde 2002 > Publicações especiais (Edição Especial sobre Ações Sociais, 60 anos da Organização Odebrecht, 40 anos da Fundação Odebrecht e 10 anos da Odeprev ÁGUAS LIMPAS Um projeto para transformar Vitória na capital mais saneada do país > Novas plataformas digitais aliam ção e interatividade na leitura de Odebrecht Informa > Em Salvador, construção da Arena Fonte Nova dá oportunidade de trabalho a ex-moradores de rua > Prêmio Odebrecht Angola incentiva o desenvolvimento sustentável entre estudantes angolanos > Veja todas as fotos selecionadas pelo concurso Fotografe sua Comunidade > Veja todas as fotos selecionadas para o concurso Fotografe sua Comunidade no hotsite publicado na Odebrecht Informa Online > Siga Odebrecht Informa pelo twitter e saiba das novidades imediatamente @odb > Comente os textos do blog e participe enviando sugestões para a redação > Leia no blog de Odebrecht Informa os posts escritos pelos repórteres e pelos editores da revista. Textos de Cláudio Lovato Filho, Fabiana Cabral, José Enrique Barreiro, Karolina Gutiez, Renata Meyer, Rodrigo Vilar, Thereza Martins, Zaccaria Júnior e colaboradores.
#156 COMUNIDADES Carlos Júnior Capa: foto vencedora do concurso Fotografe sua Comunidade, feita por Ana Roque de Oliveira, em Moçambique 6 10 14 18 24 28 32 36 40 44 48 54 58 60 63 64 O Complexo do Alemão, no RIO DE JANEIRO, dá a seus moradores novos motivos de orgulho Em RONDÔNIA, festejos tradicionais são instrumentos para o cultivo de valores e da identidade MIAMI: a metrópole que simboliza como poucas o melting pot dos Estados Unidos No traçado de um etenoduto e de uma dutovia no NORDESTE BRASILEIRO, o Brasil mostra uma de suas faces mais verdadeiras Delcy Machado: a missão de um apaixonado pelas iniciativas de responsabilidade socioempresariais As inspiradoras histórias de superação que vêm das ruas de Curundú, na CIDADE DO PANAMÁ As manifestações culturais que celebram a tradição e a vida na rota da Estrada de Ferro CARAJÁS Em SAN AGUSTÍN, a música tradicional venezuelana e a alegria abrem portas para a inclusão social Veja o que ocorre quando unidades industriais e jovens municípios firmam parceira pela construção do futuro AREQUIPA, no Peru: uma cidade cercada de vulcões que tem lugar especial no coração dos integrantes da Odebrecht O cotidiano em Chicala, em Mártires do Kifangondo e no Zango, comunidades de LUANDA O samba de roda é uma das muitas manifestações que fazem da região de MARAGOJIPE, na Bahia, um lugar de fascínio Em SALVADOR, obras da Arena Fonte Nova ambientam um amplo programa de comunicação com a comunidade No BAIXO SUL DA BAHIA, transformação socioeconômica e preservação da cultura caminham juntas As experiências de Lilian Campana, Francisco Sawaguthi e Clarisse Rodrigues no BRASIL, em ANGOLA e na COREIA DO SUL Concurso Fotografe sua Comunidade tem a participação de 245 integrantes de 17 países & NOTÍCIAS PESSOAS CAPA Ilustração de Rico Lins 72 74 76 78 ÓLEO & GÁS TEO TECNOLOGIA EMPRESARIAL ODEBRECHT ARGUMENTO SABERES 3
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EDITORIAL Notícias da vida Nossos repórteres e fotógrafos viram a arte produzida nas comunidades, conversaram com as pessoas, entraram em suas casas, provaram sua comida, andaram pelas ruas de sua vizinhança, subiram morros e montanhas, enfrentaram engarrafamentos em metrópoles que não podem parar, mergulharam em imensidões rurais onde a vida parece que passa mais devagar Para produzirem as reportagens que estão nesta edição de Odebrecht Informa, nossas equipes ficaram pouco tempo nos canteiros e nas unidades industriais da Organização espalhados pelo Brasil e o mundo. Desta vez, os repórteres e os fotógrafos concentraram-se em buscar boas histórias no coração das comunidades em que as obras, as fábricas e os escritórios estão inseridos. Encontraram excelentes histórias protagonizadas por grandes personagens. Com isso, tornaram possível a elaboração de um expressivo painel que descreve realidades vivenciadas pelas equipes da Odebrecht em seu dia a dia de trabalho nos diversos ambientes em que se encontram. Nossos repórteres e fotógrafos viram a arte produzida nessas comunidades e testemunharam iniciativas voltadas para o cultivo de tradições culturais e religiosas. Conversaram com as pessoas, entraram em suas casas, provaram sua comida, andaram pelas ruas de sua vizinhança, subiram morros e montanhas, locomoveram- -se usando trens e teleféricos, enfrentaram engarrafamentos em metrópoles que não podem parar, mergulharam em imensidões rurais onde a presença humana por vezes é rara e a vida parece que passa mais devagar. De Maragojipe, na Bahia, a San Agustín, em Caracas, de Arequipa, no Peru, a Miami, nos Estados Unidos, de Curundú, na Cidade do Panamá, ao Mártires do Kifangondo, em Luanda, passando pelo Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e várias outras comunidades, os repórteres e os fotógrafos de Odebrecht Informa nos trazem ções e impressões da vida que pulsa em lugares que possuem, como principal ponto em comum, a esperança e a capacidade realizadora e transformadora de sua gente. Os integrantes da Odebrecht entendem que chegar a uma cidade ou a um país é apenas o primeiro passo de uma relação de longo prazo. Eles têm sempre em mente o princípio da permanência, ou seja, chegam para ficar. Essa permanência, porém, nos termos que a Odebrecht se propõe a vivê-la, com base no espírito de servir e no desejo de proporcionar contribuição qualificada, só é possível quando se conhece a história, as expectativas e a identidade dessas comunidades, em um esforço constante, que exige tempo e energia, mas que também é prazeroso e realizador. Uma demonstração desse envolvimento das equipes da Odebrecht nos lugares onde vivem e desenvolvem suas atividades profissionais é o volume de fotos produzidas e enviadas pelos integrantes das empresas para o concurso Fotografe sua Comunidade, promovido pela revista. Os trabalhos vencedores estão publicados nesta edição. Desfrute dessas belas imagens e das histórias que estão nas páginas a seguir. Elas falam de lugares e pessoas especiais, como são os lugares e as pessoas que, de uma forma ou de outra, trazem mais felicidade a este mundo. Boa leitura. 5
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Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, vive novos tempos, em que a paz e o desenvolvimento fortalecem a identidade e a cidadania de toda a comunidade texto Fabiana Cabral fotos Carlos Júnior Renato, Renê e Gabriela: representantes da nova geração do Alemão, criaram um jornal SOU DO morro
V ai barracão, pendurado no morro e pedindo socorro à cidade a teus pés.... O samba Barracão, de Luiz Antônio e Oldemar Magalhães, foi lançado em 1953, um ano antes da chegada de José Augusto Francisco, 75 anos, ao Complexo do Alemão. Quando cheguei só havia 70 moradores. Não tinha água e luz, e a vida era muito sofrida, relembra ele, olhando para o céu azul de uma manhã de quinta-feira de agosto. Aos 16 anos, José Augusto deixou a cidade de Sapé, na Paraíba, para trabalhar na capital do samba. Comprei um terreno por 450 merréis e construí minha casa. Tudo foi feito com material carregado pelos moradores, relata, batendo em um dos braços para mostrar a força de quem batalhou no passado. Foi no alto do Morro do Alemão que ele e sua esposa criaram os cinco filhos. Um dos habitantes mais antigos, José Augusto é Presidente da Associação dos Moradores do Alemão desde 1963. Sinto orgulho da minha comunidade, pois trabalhamos e lutamos muito. Temos ruas asfaltadas, casas, escolas, comércio, mas ainda há muito o que fazer. Localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, próximo aos bairros da Penha, Olaria, Ramos, Inhaúma e Bonsucesso, o Alemão, formado por 12 comunidades espalhadas sobre a Serra da Misericórdia, era considerado um dos pontos mais violentos da cidade. Entre os cinco morros (Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Fazendinha) e vales, os mais de 120 mil moradores (segundo o Censo de 2010) estão distribuídos em uma área de 3 km 2. O polonês alemão Na década de 1920, o imigrante polonês Leonard Kaczmarkiewicz adquiriu terras na região rural da Zona da Leopoldina. Na época, ele ficou conhecido como Alemão, e a área passou a ser chamada de Morro do Alemão, o núcleo do complexo. O local começou a ser ocupado na década de 1950, após a abertura da Avenida Brasil, em 1946, e quando Leonard dividiu seus lotes para vendê-los. Famílias de operários de diversos estados brasileiros instalaram-se ali, e o território foi se tornando, aos poucos, um dos principais polos industriais do Rio. Em contrapartida, a ocupação desordenada deu origem às favelas. As empresas começaram a deixar o Alemão por conta da violência, conta a professora Lúcia Cabral, 46 anos. Paraibana, Lúcia chegou ao Morro do Adeus de onde é possível observar quase toda a cidade com apenas 6 meses e criou os três filhos na casa onde cresceu. Ela diz que o José Francisco: Sinto orgulho da minha comunidade desenvolvimento estimulou a educação e o trabalho, mas a ausência de políticas públicas e a chegada das drogas trouxeram violência. As drogas começaram a chegar no fim dos anos 1980. De 2005 a 2008, vivemos a pior guerra do tráfico. Passei por tiroteios e vi gente morrer, relata, com lágrimas nos olhos, ao lembrar os períodos mais difíceis. As tristes lembranças dão lugar à alegria quando a educadora fala da comunidade. Aqui tem respeito, solidariedade e potencial de crescimento, afirma. Atualmente, ela lidera a ONG Educape. Os jovens estão buscando educação, cultura, lazer e estão trabalhando nas obras que recebemos. O início da transformação Em 2008, o PAC Favelas, iniciativa dos governos Federal e Estadual, chegou ao Complexo do Alemão. O Consórcio Rio Melhor (formado por Odebrecht Infraestrutura, OAS e Delta Construções) construiu unidades habitacionais, escola, unidade de pronto atendimento e um teleférico para facilitar o transporte dos moradores. Endereço, experiência profissional e registro na carteira de trabalho são os maiores legados deixados à população, assim como a crença de querer e poder mais, afirma Adilson Moura, Gerente Administrativo e Financeiro da Odebrecht. Eduardo Poley, Responsável por Engenharia, assegura que o ambiente influenciou alguns jovens a retomarem os estudos. Mário Sérgio Fonseca de Souza, 28 anos, é um deles. Ele parou de estudar quando concluiu o Ensino Médio e, após passar a integrar a área Social do consórcio, voltou às salas de aula. Estou fazendo cursos técnicos, explica. Morador da Grota, um dos locais mais violentos do complexo, Mário comenta que a comunidade está vivendo uma nova realidade. Nas entrevistas de emprego, éramos reprovados quando informávamos nosso endereço. Agora, a comunidade tornou-se ponto turístico, diz, com orgulho. O novo ponto turístico é o teleférico do Alemão, inaugurado em julho de 2011. As seis estações recebem, por dia, 8
Anita: tenda de doces e salgados na Estação Palmeiras 20 mil pessoas. O meio de transporte integra a comunidade com a cidade, aumenta a autoestima dos moradores e estimula o turismo, observa Luiz de Souza, Diretor do Teleférico na SuperVia, um ativo da Odebrecht Transport e empresa responsável pela operação. Na Estação Palmeiras, a última do percurso, moradores e turistas podem apreciar a bonita vista do alto do Morro da Fazendinha. Foi ali que Anita Maria da Silva e Fabiano Farias da Silva instalaram uma tenda de doces e salgados. O casal, recém-chegado de João Pessoa, também escolheu o local para criar os três filhos. Fomos bem recebidos pelos nossos vizinhos e, com o teleférico, temos trabalho e renda, diz Anita, enquanto atende um grupo da Zona Sul carioca. Nossa esperança está nos jovens, que nos veem como espelho. Por isso, precisamos refletir coisas boas, pondera Mário Sérgio, ao falar sobre o futuro do Alemão. Gabriela Santos, 14 anos, Renato Moura, 15, e Renê Silva, 17, são exemplos da nova geração. Juntos, criaram o Jornal Voz das Comunidades, que aborda os principais problemas dos moradores. Chegamos à tiragem de 5 mil exemplares, divulgamos notícias no site e no Twitter, conta Renê, que ficou conhecido ao postar mensagens, em tempo real, pelo microblog, sobre a operação das polícias Militar e Federal e das Forças Armadas para a retomada do complexo, no fim de novembro de 2010. Segundo Renê, as transformações começaram com as obras do PAC e continuam com a presença das forças militares no local. Os jovens não estavam integrados à comunidade e isso mudou. Estamos fazendo acontecer, preparando um futuro melhor para todos, com mais segurança, assegura o futuro jornalista. Futebol, funk e amigos No fim da tarde de sexta-feira, o ritmo no Complexo do Alemão é frenético. Pessoas e mototáxis misturam-se e circulam apressados. Nas ruas, é possível ouvir as batidas do funk e o gingado do samba em carros e casas, e o som das bolas chutadas e dos gritos de gol nos campinhos de futebol. Os jovens começam a se preparar para sair. Vamos a aniversários de amigos ou ficamos nas praças conversando, jogando bola e brincando, conta Renê. Mário Sérgio e o amigo Leandro Pereira Ribeiro, 27 anos, estão ansiosos. Hoje é dia de conhecer uma garota, de dançar e de rever os amigos. É a nossa diversão, diz Mário, seguindo o compasso de um funk carioca. Quando perguntados sobre suas preferências musicais, os dois amigos são categóricos: O funk faz parte da nossa cultura, está no nosso sangue. O teleférico do Alemão: símbolo de novos tempos na comunidade 9
Na foto maior, barcos típicos da região. Nas fotos menores, a partir do alto, ribeirinhos usam a voadeira, o meio de transporte mais comum em seu cotidiano; as meninas Ingrydh (à esquerda) e Nicoly, candidatas à Rainha da Festa; Antônio Moisés, administrador da igreja de Santo Antônio; e a farinheira Neuraci: tradições preservadas 10 AS FACES E AS 10
texto João Marcondes fotos Ricardo de Sagebin Na região da Usina Santo Antônio, em Rondônia, as águas do Rio Madeira carregam expectativas de desenvolvimento e as lembranças de tradições que se eternizam CORES DE UMA história texto João Marcondes fotos Ricardo de Sagebin Repartir um sonho com outras pessoas pode ser a melhor maneira de realizá-lo. Em Sauípe, na Bahia, isso está acontecendo 11
A igreja de Santo Antônio e, na página ao lado, uma casa típica da região: imagens de um Brasil real e encantador Rondônia antes de ser Rondônia. Década de 1970. Uma família de seringueiros foge da falta de perspectivas no Acre. Vai parar em terras também brutas: mata fechada, escorpiões, malária. As crianças caem doentes. Recuperados, fazem o primeiro passeio. Pegam o trem na estação Madeira-Mamoré, em Porto Velho, e desembarcam perto da igrejinha de Santo Antônio, no vilarejo ao lado, de mesmo nome. Para Moisés, uma das crianças, a vista é de um rio corpulento, verdadeiro mar de água doce. Vi aquilo e fiquei emocionado. Para mim era a visão do infinito! Aos poucos, o menino Moisés domava o infinito Rio Madeira. Brincava por aquelas bandas. Havia um navio naufragado. Ele mergulhava nas águas escuras do rio, à caça de tesouros no barco: louças inglesas, mobiliário antigo, coisas esquecidas por todos. Não por ele, sempre à cata de troféus imaginários. Ao atravessar o rio a nado, chegava ao presídio desativado da ilha. Antiga casa de horrores, torturas e fantasmas: prato cheio para um menino curioso. Gostava de ler as frases nas paredes, escritas quando os presos estavam ali: Este é o lugar onde o filho chora e a mãe não vê. O homem que aqui entra, desaparece para sempre da civilização. Sabedoria de presos. Todas essas recordações hoje viraram nostalgia pura: a ilha onde outrora existiu o presídio atualmente é ocupada por uma parte da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, em construção pela Santo Antônio Energia, empresa formada por Odebrecht, Furnas, Andrade Gutierrez, Banif, Cemig e FI-FGTS. A usina terá capacidade para produzir 3.150 megawatts, suficientes para abastecer 40 milhões de pessoas. O início de sua operação está previsto para dezembro de 2011. O garoto Moisés é hoje Antônio Moisés Cavalcanti, 50 anos. Carpinteiro de ofício, há anos ele cuida da igreja de Santo Antônio. A construção da usina, que ocupou alguns sítios da memória afetiva dos rondonienses (como o presídio), foi acompanhada de um delicado esforço de preservação. Monumentos históricos ganharam posição de destaque ao lado da obra. A procissão de São Pedro, realizada pela colônia de pescadores desde os anos 1930, conta com apoio logístico da Santo Antônio. O porto onde a imagem do santo desembarcava foi tomado pela usina, mas outro caminho será construído. Algumas coisas mudam de lugar, mas não podemos ignorar os benefícios econômicos de uma usina de energia limpa, comenta Moisés. Ele próprio foi valorizado: com a obra, ganhou oficialmente o posto de administrador da igrejinha e recebe salário para isso. Novo ciclo de desenvolvimento A construção da hidrelétrica representa um segundo ciclo de desenvolvimento econômico para a região. O primeiro aconteceu há 100 anos, com o erguimento da estrada de ferro Madeira-Mamoré por uma companhia inglesa. O objetivo: escoar a produção nacional de borracha. Verdadeiro marco histórico e cultural, não apenas de Rondônia (território transformado em estado em 1982), mas também do Brasil, a antiga estação de trem estava em ruínas até a chegada da Santo Antônio Energia, que se responsabilizou pela reforma. Mas, ao contrário da época da construção da Mad Maria (como era conhecida a estrada de ferro), hoje a obra segue os mais altos padrões de sustentabilidade. Porto Velho e região vivem uma escalada de prosperidade. Entre 2003 e 2007, a cidade ganhou apenas 1.800 novas vagas de emprego. De- 12
pois do início da construção da usina, o número saltou para 20 mil vagas. Aproveitar as oportunidades sem perder a cultura. É o caso da mais famosa farinheira da região, Neuraci Monteiro do Nascimento, 52 anos, Dona Neura. Ela morava à beira do rio, com os seis filhos. Com a chegada da hidrelétrica, mudou-se para um dos reassentamentos construídos pela Odebrecht, o Riacho Azul. Sua vida melhorou, com uma casa nova ao lado de uma estação de tratamento de água. Minha alegria é estar perto da família e exercer minha profissão, que é fazer farinha. Ela é a produtora mais famosa da região. O pai, já falecido, é José de Oliveira, conhecido por muitos como o maior farinheiro de Rondônia. Ela se diverte e dá o segredo (pede para não espalhar) de sua farinha: a mandioca é processada no mesmo dia da colheita, e a secagem é um procedimento longo (e paciente). A tradição vai continuar, mas a nova geração terá o que escolher, ao contrário de Neuraci. Os olhos do sobrinho Raildo Oliveira, 17 anos, brilham com a movimentação em torno da usina. Ali perto de onde mora, não param de passar os carros de resgate de fauna de uma área que será inundada. Meu sonho é ser veterinário, quem sabe ganhar um dinheiro a mais. Em uma obra desse porte, onde trabalham cerca de 18 mil profissionais e que influencia diretamente a vida de mais de 4 mil famílias, certas pessoas têm papel especial por sua atuação na comunidade. Uma delas é Flávio Luiz Gonçalves dos Santos, 62 anos, e uma vida e tanto para contar. Se fosse escrever um livro, se chamaria Meu Currículo, brinca o maranhense, dono de uma risada cativante. Flávio é um dos analistas socioambientais da Santo Antônio Energia. Trabalhando diretamente com as comunidades, ele é o elo entre a obra e o ser humano. Filho de um açougueiro e de uma dona de casa semianalfabeta, conseguiu se formar em Relações Internacionais. Sua lida começou muito cedo. Aos 7 anos, o primeiro emprego: carregador de marmitas. Depois disso, os mais variados trabalhos: limpador de máquinas de costura, anotador de aposta do jogo do bicho (com 10 anos de idade), organizador de biblioteca, caixa de banco, vendedor de madeira, professor de História e Geografia, entre vários outros ofícios. Flávio é abraçado e beijado onde quer que vá em Porto Velho e redondezas. Ouve e entende os problemas da comunidade. É uma espécie de ombudsman, um ouvidor. Ele já ganhou dezenas de causas para a comunidade. É essa a missão que recebeu na Santo Antônio Energia, além de organizar cursos de capacitação, como o de piloto de voadeira, as pequenas embarcações que levam as pessoas de uma margem à outra do Madeira. Alguns colegas têm até ciúme pelo carinho e respeito que tenho das pessoas aqui, diz ele. Foi Flávio, por exemplo, que conseguiu que o precário posto de saúde da comunidade ribeirinha de Cujubin Grande, a 50 km de Porto José Eduardo: Velho, fosse inteiramente reformado. É convidado de honra do Festejo da Padroeira Imaculada Conceição precisam de se Maria, aprendizados converter em em agosto. Misto de festa cristã e pagã, traz um rol de eventos capaz de atingir todos os gostos: novenas, bingo, forró, leilão de frango assado, dança do ventre. A grande expectativa gira em torno da escolha da Rainha da Festa. As duas candidatas já têm nomes de princesas: Ingrydh Nunes Nascimento, 11 anos, e Nicoly Yolanda Almeida, 17. A primeira quer ser pedagoga, pois ama estudar, e a segunda deseja se tornar engenheira florestal, pois ama o Rio Madeira. Amigas, bem amigas, negócios à parte. Estou com a fúria para vencer, pois perdi por pouco no ano passado, diz Nicoly, olhando com graça para Ingrydh, que encerra o papo com um sorriso maroto. 13
o coraçã texto Thaís Reis fotos Lia Lubango 14 Internacional, diversificada, dinâmica e inovadora. Essas são algumas características atribuídas a Miami pelos integrantes da Odebrecht Estados Unidos, empresa sediada nessa cidade que exala aromas e cores de países do mundo todo. Os sinais da sua diversidade cultural estão em toda parte, desde placas e outdoors no idioma patois, nas ruas do bairro Little Haiti, até os escritórios de empresas multinacionais no distrito financeiro na área da Brickell Avenue. Miami é a porta de entrada aos Estados Unidos para quem vem do Caribe e das Américas do Sul e Central. Situada no sul do Estado da Flórida, uma região de clima quente e de belas praias, Miami tornou-se famosa e procurada por pessoas dos mais diversos pontos do planeta. Há uma certa liberalidade no ar, costumes diferentes daqueles que predominam no resto do país, ritmos variados nas rádios e diversas línguas onde quer que se vá. Cerca de metade dos quase 2,5 milhões de habitantes da área metropolitana de Miami nasceu fora dos Estados Unidos, e 70% da população comunica- Ampla diversidade cultural entre seus moradores dá a Miami características que a tornam uma das cidades mais cosmopolitas do planeta -se, dentro de casa, usando um idioma que não o inglês. Minha esposa nasceu em Miami, mas seus pais são colombianos, assim como eu. Ela gosta de ensinar aos nossos filhos a nossa língua, de transmitir seus conhecimentos sobre a nossa culinária e de lembrá-los todos os dias de onde eles vêm, diz Jorge Mendoza, 35 anos, Diretor de Contrato responsável pelo projeto de extensão do sistema de transporte metroviário da cidade, o Metrorail AirportLink. 14
o Quando DA METRÓPOLE Acervo Odebrecht Jorge se mudou de Cartagena, na Colômbia, para Miami, em 2000, para cursar mestrado, logo se identificou com o clima, as praias e as pessoas que encontrou. Para ele, são muitas as vantagens do convívio em um ambiente tão diversificado. Durante seu primeiro projeto na Odebrecht, a construção do Adrienne Arsht Center for the Performing Arts, ele dividiu o espaço de trabalho com o indiano Kanwar Lobana, hoje na Libéria, e Gaybei Zreibi, um sírio-antiguano casado com uma venezuelana, atualmente trabalhando em Portugal. Juntos, aprenderam sobre suas respectivas culturas, músicas e religiões e, acima de tudo, a respeitar as diferenças. O desejo de superar distinções étnicas, com o intuito de lutar por um objetivo único e construir algo juntos, também é salientado por Juan Zheng, 33 anos, como um elemento marcante em sua vivência em Miami. Nascida na Província de Hunan, na China, Juan é engenheira de custos no projeto MIA Mover. Ao se mudar para Miami, em 2004, para cursar mestrado, ela gostou imediatamente da mescla cultural da cidade, sobretudo da afetividade e da receptividade da população. Obras na estação de bombeamento e, acima, o Coronel Jeff Bedey: Ainda não chegamos ao fim do percurso, mas estamos perto O centro de Miami e Jorge Mendoza: cerca de metade dos 2,5 milhões de habitantes de área metropolitana da cidade nasceu fora dos Estados Unidos 15
Alf Neumann, com a camisa da seleção alemã de futebol, e Umut Artuk: mescla de culturas faz com que se sintam em casa Juan identifica-se com os valores familiares em sua comunidade e com a honestidade e integridade das pessoas com as quais convive. Ela diz ainda que o Espírito de Servir também é encontrado além da Odebrecht em Miami, algo especial por se tratar de um conceito profundamente enraizado na sua cultura. Na China, acreditamos no princípio de servir ao próximo. Assim como na TEO, devemos ser sempre humildes diz ela, que faz questão de manter tradições chinesas, inclusive a comemoração de datas especiais, para permanecer conectada com suas origens. Manter-se ligado às raízes é uma atitude que também pode ser facilmente percebida em Umut Artuk, 32 anos, Responsável por Planejamento no projeto de expansão do Terminal Norte do Aeroporto Internacional de Miami. Umut mudou-se para Miami, da sua cidade natal, Ancara, na Turquia, em 2004, para finalizar seu doutorado, e, em alguns meses, já havia se adaptado. Acredito que dois fatores principais me ajudaram: afinidades entre as culturas latina e turca e similaridades entre o estilo de vida americano e o meu estilo de vida em Ancara. Ele enfatiza que Miami tem boas opções de restaurantes das cozinhas mediterrânea e do Oriente Médio, parecidas com a culinária turca incluindo os tradicionais chá preto e café turco. A mescla de culturas em Miami fez Alf Neumann, 40 anos, Responsável por Administração Contratual do projeto MIA Mover, sentir-se em casa e jamais como um estrangeiro ou alguém que não fosse bem- -vindo. Alemão da ilha de Ruegen, Alf mudou-se para Miami em 1998, com duas malas na mão e uma carta-convite para estagiar na Odebrecht por seis meses. Eu estava buscando um desafio. Queria ganhar experiência internacional e provar a mim mesmo que poderia sobreviver e crescer fora da minha zona de conforto. Alf, que não deixa de vestir com orgulho a camisa da seleção alemã durante a Copa do Mundo, realça o impacto positivo e gratificante que a vivência em Miami causa em sua vida e na de sua esposa, Ran- 16
di. A comunidade na qual vivemos é extremamente rica, sempre à procura de novos desafios e se reinventando. É um lugar animado, aberto e convidativo. Essa fusão vibrante que Miami oferece aos seus residentes e visitantes é um espelho do chamado melting pot americano, um termo utilizado para descrever o multiculturalismo do país. Os Estados Unidos são, às vezes, chamados de Terra das Oportunidades e, para mim, isso engloba qualquer objetivo que se tenha em mente, diz Marjorie Mckenzie, 34 anos, Administradora de Contratos do projeto de expansão do Terminal Norte do Aeroporto Internacional de Miami. Temos a facilidade de alcançá-los por causa da variedade de instituições acadêmicas, indústrias, empresas e demais organizações aqui presentes. Sempre me admiro com as diversas opções disponíveis para nos destacarmos em qualquer área. Marjorie é filha de imigrantes haitianos que se mudaram para os Estados Unidos na década de 1970. Nasceu em Waukegan, no Estado de Illinois, e, aos 10 anos, foi para Miami com a família, que buscava um clima tropical para viver. Ela diz que, para contribuir de maneira positiva, tenta aprender palavras nas línguas nativas dos seus colegas de trabalho e amigos, causando sorrisos de espanto. Sorrisos são contagiantes! As pessoas se sentem envoltas por uma energia afável e motivadas a causar um impacto similar em suas comunidades. Apesar do multiculturalismo dos integrantes da Odebrecht EUA são pessoas de 28 nacionalidades Juan Zheng e Marjorie Mckenzie: símbolos do melting pot americano trabalhando juntas no dia a dia, é fácil encontrar similaridades no meio de tantas diferenças. É surpreendente descobrir como culturas de distintas partes do mundo podem ter tanto em comum. Alf Neumann afirma: Como seres humanos, todos compartilhamos os mesmos sonhos e desejos, independentemente da nossa origem. Mais surpreendente ainda, e gratificante, é comprovar no cotidiano que grande parte dessas semelhanças é sintetizada e praticada na Tecnologia Empresarial Odebrecht. 17
brasile texto Eliana Simonetti fotos Holanda Cavalcanti 18
iros hegar Maria Bernardete Moreira, em Pitanga (BA): Eu me sinto responsável Em Alagoas, na Bahia e em Sergipe, comunidades vizinhas do etenoduto e da dutovia da Braskem formam um fascinante mosaico de religiosiade, cultura e atividades econômicas DE LUTA E DE FÉ C à comunidade de Abobreira, no município de Teotônio Vilela (AL), é uma aventura. São apenas 12 km a partir da cidade, mas os caminhos tortuosos cortam imensas plantações de cana-de-açúcar, e o trajeto muda a cada colheita. No passado, Abobreira ficava em meio à floresta: foi um quilombo resguardado dos colonizadores. No entanto, muitos quilombolas venderam suas terras a fazendeiros. Hoje a paisagem é outra. O acesso, entretanto, continua difícil para os visitantes e também para os moradores, 37 famílias praticamente isoladas. Como vivem? Primeiramente, da agricultura de subsistência. Alguns criam galinhas e cabras. Na época da colheita da cana, os adultos buscam oportunidades como trabalhadores temporários. Fora da safra, ficam em suas terras. E se encontram para conversar debaixo de uma mangueira na praça da comunidade. As casas de Abobreira têm televisão, rádio, geladeira, telefone celular; em algumas há motocicletas, em outras, carroças. Velhos, moços, crianças, não pensam em sair dali. A não ser para buscar assistência médica, vender e comprar produtos, ou ir a uma festa. Sim, porque em Abobreira não há festas. Praticamente não se notam resquícios da cultura do tempo dos quilombos. Nessa comunidade está em andamento uma experiência. O Instituto Lagoa Viva, apoiado pela Braskem, levou três colmeias de abelhas uruçu, que não picam seus tratadores, para que sejam multiplicadas e tornem-se mais uma fonte de alimento e renda. Ademar Ribeiro, 49 anos, natural de Abobreira, motorista de caminhão e casado com Gislene, ficou com uma dessas colmeias. Hoje possui três. Dividiu a primeira colmeia e comprou uma terceira. Cria codornas, perus, galinhas e tem um moinho de farinha. Até preserva um tantinho de mata natural em seu terreno. A gente tem de saber viver, ensina. 19