A EDUCAÇÃO E A ESCOLA NUMA PERSPECTIVA GRAMSCIANA CARDOSO NETO, Odorico Ferreira i ; CAMPOS, Cleanil Fátima Araújo Bastos ii ; FREITAS, Cleyson Santana de iii ; CABRAL, Cristiano Apolucena iv ; ADAMS, Francisco Silvério v ; ADAMS, Marli Terezinha Wagner vi ; LIMA, Mylena Francyelle Medrado vii O projeto de extensão 'A Educação e a Escola numa Perspectiva Gramsciana', desenvolvido no INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (ICHS) DO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA (CUA), com duração prevista para 60 horas foi realizado com o total de 75 horas. O desenvolvimento do projeto levou em consideração uma reflexão sobre a educação e a escola compreendidas a partir dos pressupostos teóricos do pensamento de Gramsci, tendo em vista que o conhecimento construído por meio da educação é uma forma de emancipação humana e estratégia para a constituição de uma nova ordem, social, econômica e política. A educação e a escola como projetos de autonomia numa perspectiva Gramsciana, vinculam os fenômenos educativos à realidade na qual estamos inseridos e nos permitem uma reflexão para que compreendamos o conhecimento. Não é por acaso a escolha, tendo em vista que Gramsci talvez seja o marxista clássico que mais longe levou a reflexão sobre a escola. Nas milhares de páginas dos Cadernos do Cárcere repousa uma vigorosa reflexão sobre a escola, a educação e a natureza política da cultura. Gramsci percebia a inconsistência de concepções que, como dizia, confundiam as palavras com a ação. As questões educacionais e as reflexões sobre o papel da escola são freqüentes nos Cadernos, mas Gramsci consagrou para esse tema os Cadernos de n.11, que se completa com a leitura do Caderno n.22 (Americanismo e Fordismo) e do n.12 que contribuem para melhor fundamentar sua conceituação da Escola Unitária.
2 A importância do pensamento de Gramsci se apresenta para nossos dias sob os eflúvios das suas reflexões sobre a educação, a escola e a cultura. Gramsci pensou a cultura a partir da dimensão da luta pela hegemonia, a fim de explicitar os novos desafios da luta de classes. Assim posto, os pressupostos que nortearam as discussões foram os ligados à compreensão do conceito de hegemonia a fim de esclarecer como a escola se apresenta, tendo em vista ser um dos aparatos de formação cultural para a consolidação da hegemonia e também se apresenta com pretensões ligadas à formação de consciência crítica. Para Gramsci (2006), a hegemonia viii é o exercício das funções de direção intelectual e moral unida àquela do domínio do poder político. Em que sentido, os educadores podem ser transformados em classe hegemônica, classe dirigente? Os educadores, na perspectiva de construírem uma educação emancipatória, deixarão a condição de classe social subalterna imposta ou aceita passivamente, se conseguirem indicar soluções concretas aos problemas deixados sem solução, expandindo sua própria cosmovisão a outros entes sociais, criando um novo bloco social, tornando-se hegemônico. O projeto de extensão atingiu sua meta ao constituir bases para uma ação articulada, aprofundando as possibilidades da educação como um dos principais meios de realização de mudança social. A proposta e o desenvolvimento do projeto foram importantes para a realização de um estudo profundo das ideias educacionais que podem transformar a educação, a escola, tendo em vista o diálogo com o pensamento de Gramsci. O objetivo geral foi analisar a importância da educação, da escola na perspectiva do pensamento gramsciano. Por sua vez, os objetivos específicos apontavam para compreender a formação da escola a partir da educação como ação política; analisar o pensamento de Gramsci a partir do viés políticohistórico-educacional da realidade brasileira; estudar o pensamento educacional brasileiro a partir de categorias do pensamento gramsciano, tais como: hegemonia, educação, escola e participação. Os conteúdos foram desenvolvidos, tendo em vista os seguintes pressupostos: as questões educacionais e as reflexões sobre o papel da escola
3 em Gramsci; a avaliação do pensamento de Gramsci a partir do viés políticohistórico-educacional da realidade brasileira; o estudo do pensamento educacional brasileiro a partir de categorias do pensamento gramsciano, tais como: hegemonia, educação, escola e participação. A metodologia foi desenvolvida tendo em vista o referencial teórico do pensamento de Gramsci, principalmente os Cadernos do Cárcere que destacam o tema educação (Cadernos 11, 12 e 22). Os debates foram desenvolvidos, levando em consideração a problematização do pensamento gramsciano em relação à educação; a produção de texto, envolvendo a contribuição dos acadêmicos para a construção de uma práxis educacional libertadora e atividades de leitura de autores que escrevem sobre o pensamento de Gramsci. Os textos produzidos ao final das 75 horas de trabalho foram os seguintes: Pensando Gramsci, a educação e a escola Odorico Ferreira Cardoso Neto; Gramsci, a diversidade cultural e as ciências humanas Cleanil Fátima Araújo Bastos Campos; Gramsci na educação: a filosofia da práxis numa abordagem histórica, política e educacional Cleyson Santana de Freitas; Gramsci: uma educação da práxis - Cristiano Apolucena Cabral; Os desafios do professor na educação e sua ação educativa a partir do pensamento de Gramsci Francisco Silvério Adams; Impressões do Cárcere na educação a partir de Gramsci Marli Terezinha Wagner Adams; Gramsci e a educação do campo - Mylena Francyelle Medrado Lima. O trabalho realizado foi muito bom, mas não foi suficiente. Por isso, ofereceremos mais 60 horas de extensão para estudar os cadernos 12 e 22 da obra Cadernos do Cárcere no ano de 2011, posto que as atividades apresentadas são relativas aos trabalhos desenvolvidos no ano de 2010 que visavam o aprofundamento da discussão em torno dos pressupostos da escola unitária gramsciana. Depois de ter trabalhado com dois projetos de extensão; um sobre a educação e a escola a partir do pensamento de Paulo Freire e o outro sobre a educação e a escola a partir do pensamento de Gramsci, compreendo que nos próximos semestre deveremos aprofundar as reflexões e acrescer outros autores que podem contribuir com uma discussão tão rica e interminável.
4 A educação é universalmente complexa e repleta de possibilidades das mais racionais àquelas mais mirabolantes. Nosso esforço de reflexão buscou compreender as variáveis que o pensamento de Gramsci nos oferece e as ponderações elencadas por meio dos textos produzidos partiram de algumas categorias de seu pensamento como hegemonia, bloco histórico, intelectuais orgânicos e a filosofia da práxis. As categorias gramscianas serviram para esboçar um esforço de produção textual a demonstrar algumas coisas fundamentais: 1. A escola deve interpretar a realidade, construir novos conhecimentos concernentes às relações de trabalho e a vida para sociedade; 2. A promoção de maior interação entre professores para ampliar o espaço de discussão coletiva possibilita uma educação diferente, que propicia compreender a prática pedagógica, significando o fazer pedagógico, nossos desejos, esperanças, expectativas, emoções, sentimentos, angústias e temores; 3. A educação que propugnamos não pode e não deve ser desvinculada da realidade, não deve funcionar como lastro da superestrutura, por isso, a necessidade de apreender a sua vocação revolucionária, transformadora e do povo. 4. O que pode trazer os homens ao pensamento crítico é a utilização de uma linguagem que o torne um ser social para questionar a própria concepção do mundo, criticando a própria filosofia e ao mesmo tempo conhecendo a si mesmo como produto do processo histórico desenvolvido; 5. O professor tem um compromisso político com a educação e em sua ação educativa. O balanço em relação ao desenvolvimento do projeto de extensão é bastante satisfatório, prazeroso e demonstra um esforço de formulação que deve perseguir os educadores, acadêmicos e curiosos, intelectuais orgânicos, na acepção gramsciana. As principais referências bibliográficas, balizadoras dos debates, reflexões e dos textos produzidos como atividade final do projeto foram as seguintes:
5 GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere: introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce. v. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, 6 vols. Edição de Carlos Nelson Coutinho, com a colaboração de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999-2006. -------- Concepção dialética da história. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984. -------- Os Intelectuais e a organização da cultura. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. -------- Maquiavel, a política e o estado moderno. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. i Resumo estendido do texto *A escola numa perspectiva gramsciana, cujo projeto está registrado no SIGProj N : 21204.73817.351.22516.16122011, revisado por Odorico Ferreira Cardoso Neto coordenador do projeto, lotado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT/CUA/ICHS) e-mail: kikoptbg@gmail.com. ii Professora lotada na Secretaria de Estado de Educação (SEDUC/MT) na Escola Estadual Antonio Cristino Côrtes em Barra do Garças (cleanil@gmail.com). iii Acadêmico do Curso de Letras da UFMT/CUA/ICHS que concluiu o curso em 2011 (bgsantana@hotmail.com). iv Professor lotado como interino na Secretaria de Estado de Educação (SEDUC/MT) na Escola Estadual Antonio Cristino Côrtes em Barra do Garças, que tomou como professor efetivo no município de Várzea Grande em agosto de 2011 (crisprelazia@yahoo.com.br>). v Professor lotado na Secretaria de Estado de Educação (SEDUC/MT) na Escola Estadual Antonio Cristino Côrtes em Barra do Garças (franciscossadams@gmail.com). vi Professora lotada na Secretaria de Estado de Educação (SEDUC/MT) na Escola Estadual Antonio Cristino Côrtes em Barra do Garças (marliadams@ibest.com.br). vii Professora lotada como interina na Secretaria de Estado de Educação (SEDUC/MT) em Barra do Garças (milenafrancyelle@hotmail.com). viii Para Gramsci, a hegemonia de uma classe significa sua capacidade de subordinar intelectualmente as demais classes, através da persuasão e da educação, sendo esta entendida em seu sentido amplo. Para conquistar a hegemonia é necessário que a classe fundamental se apresente às demais como aquela que representa e atende aos interesses e valores de toda sociedade, obtendo o consentimento voluntário e a anuência espontânea garantindo, assim, a unidade do bloco social que, embora não seja homogêneo, se mantém, predominantemente, articulado e coeso.