DINÂMICAS TERRITORIAIS RELIGIOSAS TENDO COMO BASE AS IGREJAS FILHOS DA PROMESSA E SÃO PEDRO E SÃO PAULO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA 1



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EDITAL 2014/01. Página 1 de 5. EDITAL 2014/1: Escolha do hino tema por ocasião do Ano Jubilar em comemoração aos cinquenta anos de evangelização.

Transcrição:

DINÂMICAS TERRITORIAIS RELIGIOSAS TENDO COMO BASE AS IGREJAS FILHOS DA PROMESSA E SÃO PEDRO E SÃO PAULO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA 1 Alan Pereira Dias UEPA (PIBID) 2 alan-lp@hotmail.com Erick Afonso Santiago Ramos UEPA (Voluntário PIBID) erickafonso@outlook.com Paulo Afonso Dias de Lima UEPA (PIBID) paulo-dias1995@hotmail.com 1.INTRODUÇÃO Os estudos envolvendo geografia e religião tem se tornado mais frequente nos últimos anos. No Brasil, com o aumento de adeptos das religiões protestantes e a consequente "perda de território" da Igreja Católica que por muito tempo influenciou na modelagem do espaço, têm criado grande interesse nessa área de estudo a Geografia da Religião (ROSENDAHL, 2005). Nosso artigo analisará a busca por território das igrejas, tendo por base a Igreja Filhos da Promessa (Protestanteou Evangélica) localizada na Rodovia Mário Covas, bairro do Coqueiro e a Paróquia São Pedro e São Paulo localizada no Bairro do Guamá, ambas pertencentes à região metropolitana de Belém, Estado do Pará. Analisaremos como os símbolos religiosos servem como expressão de territorialidade, pois os grupos sociais forjam territórios em que a dimensão simbólica se sobrepõe à dimensão concreta (HAESBAERT, 2006 apud TONACO, 2008). 1 Artigo orientadopeloprof. Dr.Clay Chagas e Profª. Msc. Léa Costa, docentes do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade do Estado do Pará - UEPA. 2 Graduandos do Curso de Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade do Estado do Pará. 1

Serão analisadas as relações de poder e os agentes desse poder, pois como ressalta Raffestin (1993) "a geografia das religiões, ao mesmo tempo que forneceu pontos úteis de referências, em geral deixou de lado as relações de poder para se concentrar, talvez excessivamente, nas expressões espaciais do fenômeno religioso" (RAFFESTIN, 1993 p. 117). Por fim explicamos as semelhanças e diferenças da gestão e manutenção desse território religioso e práticas para atração de fiéis, pois observamos essa luta pelo domínio do território religioso entre a Igreja Católica e as Igrejas Evangélicas no cotidiano por meio de suas práticas, como também por meio dos símbolos presentes no espaço. (TONACO, 2008) 2.TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE RELIGIOSA Segundo Souza (2001), o território é um espaço definido e delimitado por, e a partir de relações de poder. Para este autor o poder não se restringe ao Estado e não se confunde com violência e dominação. Assim, o conceito de território deve abarcar mais que o território do Estado-Nação. Portanto, pode ser entendido como uma área específica controlada e gerida por uma pessoa ou por um grupo de pessoas criado, como citado acima, por e a partir de relações de poder. É importante ressaltar que o território pode ser criado nas mais diversas escalas temporais e espaciais, da menor a maior, podem levar anos, séculos ou dias para serem construídos ou desconstruídos e podem ter como área de influência uma rua, um bairro, um país, um conjunto de países. Territórios existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais diversas escalas, da mais acanhada (p. ex., uma rua) à internacional (p. ex. área formada pelo conjunto dos territórios dos países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN) [...] são construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias. [...] (SOUZA, 2001, p.81) Salienta Haesbaert (2007) assim devemos primeiramente distinguir os territórios de acordo com aqueles que o constroem, sejam ele indivíduos, grupos 2

sociais/culturais, o Estado, empresas, instituições como a Igreja etc. Cada grupo ou pessoa que possui e controla um território mantendo relações de poder no mesmo, tem maneiras, ou melhor estratégias, para gerir, manter e formar os territórios, e isso nós chamamos de territorialidades que segundo Sack citado por Haesbaert (HAESBAERT 2002apud HAESBAERT 2007, p. 119) consiste na: tentativa por uma única pessoa ou por um grupo de pessoas de atingir, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relacionamentos, através da delimitação e afirmação do controle sobre uma área geográfica. Quando falamos de território religioso devemos levar em consideração as práticas de instituições religiosas e como estas se organizam no espaço, produzem seu território e de certa forma o controlam, e que quem detém esse poder do sagrado são seus administradores como diz Raffestincitado por Rosendahl(2012, p. 86) ao descrever o poder dos especialistas do sagrado que fazem e desfazem o território religioso, portanto, o poder está na mão dos clérigos, pastores, bispos formadores de opinião e transmissores do saber sagrado, mas não que só eles possam formar o território religioso, pois esse território está ligado ao íntimo de cada indivíduo e se forma por experiências sobrenaturais vividas em dado espaço, por exemplo, território e identidade religiosa estão intimamente ligados. (ROSENDAHL, 2012) Estratégias, para gerir, manter e formar os territórios na religião estão ligadas ao controle de pessoas e objetos, e as experiências sobrenaturais no determinado espaço, tornando um lugar sagrado fortalecendo as territorialidades religiosas. Para Rosendahl (2005) apudrosendahl (2012, p. 88) Territorialidade religiosa significa o conjunto de práticas desenvolvidas por instituições ou grupos religiosos a fim de controlar pessoas e objetos. É uma ação estratégica para manter a existência e legitimar a fé e sua reprodução ao longo da história. É fortalecida pelas experiências religiosas coletivas e individuais que a comunidade religiosa mantém no lugar sagrado e nos itinerários que constituem seu território. 3

3.CARACTERIZAÇÃO DAS IGREJAS ANALISADAS:SÃO PEDRO E SÃO PAULO E FILHOS DA PROMESSA Figura 1 e 2: Fachadas da Paróquia São Pedro e São Paulo no Guamá e da Igreja Evangélica Filhos da Promessa no Coqueiro. Fonte: Grupo de pesquisa, 2014. Serão analisadas as dinâmicas de duas Igrejas com organizações distintas: uma é Igreja Católica, no caso a Paróquia São Pedro e São Paulo, localizada na Rua Barão de Igarapé Mirim, uma das principais vias do bairro do Guamá, área periférica do centro consolidado, que abarca a maior população entre os bairros de Belém, capital do Estado do Pará. A outra análise se dá a partirde uma Igreja Protestante para mostrar que há diferenças na territorialização e estrutura organizacional. A igreja escolhida foi a Filhos da Promessa, tendo como base a filial no bairro do Coqueiro em Ananindeua (conhecida como filial da rodovia Mário Covas), por estar localizada, diferentemente da Católica em questão, em uma zona de expansão da cidade englobando os bairros do Coqueiro, Cabanagem, Mangueirão, e o distrito de Icoaraci. A matriz daigreja Evangélica Filhos da Promessa (IEFP), localiza-se no bairro do Mangueirão em Belém e possui quatro filiais, foi fundada em 2007 pelo Bispo Olivar Castro e um grupo de pastores. A IEFP é uma denominação pertencente à visão celular, prática que será melhor discutida no decorrer do trabalho. 4

3.1 DINÂMICAS TERRITORIAIS DA IGREJA SÃO PEDRO E SÃO PAULO E A IGREJA FILHOS DA PROMESSA As entrevistas realizadas com opadre responsável pela Paróquia, denominado de Pároco, que vai discorrer sobre a estrutura organizacional da Paróquia e o Pastor que administra a filial trabalhada e irá explanar sobre a sua Congregação, são de fundamental importância para se entender cada uma das dinâmicas e organizações propostas pelos seguimentos religiosos. A Paróquia é formada por comunidades. A partir de um processo intenso de evangelização e manifestações religiosas variadas se cria a necessidade de uma nova Paróquia, esta criação é apoiada por comunidades no entorno ou por uma Paróquia propriamente dita. A participação dos devotos é fundamental para a criação de uma paróquia. O pároco exerce as funções associadas ao sagrado e os fiéis podem participar de forma plena dos sacramentos. Sendo assim, a criação e a consequente ampliação do número de paróquias, e mesmo a reestruturação de igrejas antigas, podem renascer porque "o devoto reconhece a igreja como lugar e de sua permanência. (ROSENDAHL, 2003, p.196). Os símbolos são importantes laços religiosos do catolicismo apostólico romano, assim como as festividades, como evidenciado em Rosendahl (2003, p.189-90): No catolicismo popular brasileiro há um conjunto de bens simbólicos - imagens, velas, ex-votos, terços, medalhas, santinhos e outros objetos (...). A produção desses artigos religiosos é fortemente suscetível de variação intra-anual e interanual, a partir de especificidades da demanda vinculada ao sagrado, como as diversas festas e cerimônias definidoras de tempos sagrados específicos, e também eventos externos ao sagrado. Quanto à igreja IEFP,o pastor relata que para a abertura de uma nova Congregação ou filial (como ele fala na entrevista), é necessário inicialmente que ele receba um chamado, uma sensação a partir do espiritual. Após isso, se vê o contexto da área (se é um local carente) necessitada desse trabalho espiritual e social. Segundo 5

ele, a igreja não possui concorrente, entende-se então que a presença de outras instituições religiosas no local, não interfere em sua instalação. 3.2 ORGANIZAÇAO ADIMINISTRATIVA A fim de entender a organização catolicista, a obra de Roque Hammes (2003), que trabalha com a Igreja Católica, Sindicatos e Movimentos Sociais, descreve de forma breve e objetiva como se dá a hierarquia da Igreja. Em última instância, é o papa quem nomeia o Bispo para a Diocese e é o Bispo quem nomeia os padres para as paróquias e as funções diocesanas. Nas paróquias por sua vez, cabe aos padres, em sintonia com o Bispo e o Papa, legitimar o trabalho das lideranças, apoiando-as em seu trabalho ou substituindo-as por supostamente "mais fiéis" (...) A vantagem dessa organização é o senso de estabilidade que cria nas lideranças e no povo. (Hammes, 2003, p. 48). A Arquidiocese de Belém é composta por inúmeras Paróquias, dentro destas, o Pároco tem a incumbência de gerir as variadas tarefas que surgem, tanto na Paróquia, como nas Pastorais.No caso específico da Paróquia analisada, essa hierarquia se dá na seguinte forma, o então, na época, Papa Bento XVI nomeou em 2009 o atual arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, e este designou em 2012 ao Pe. Antônio de Pádua Rodrigues da Silva a responsabilidade de administrar a Paróquia. Quanto à hierarquia da IEFP, o pastor nos diz que se constitui de Bispo (posto mais elevado), responsável pela sede e as congregações; os pastores, responsáveis pelas filiais e o obreiro, responsável por diversas funções auxiliares. Dentro das filiais há organizações e funções, como nos disse o pastor: mesmo sendo um órgão espiritual (igreja), na parte organizacional tem que funcionar como uma empresa. Dentro disso, as filiais possuem presidente (pastor), auxiliares e o secretário financeiro e um contador responsável pelo patrimônio da igreja. 4.ÁREA DE ABRANGÊNCIA DAS IGREJAS 6

O território que a Paróquia de São Pedro e São Paulo se constitui em torno do bairro do Guamá, Pároco responsável: Antônio de Pádua Rodrigues da Silva. Figura 3(Área de Abrangência da Paróquia) Fonte: Site da Paróquia São Pedro e São Paulo Ele descreve que o território da Igreja se desenvolve ao longo das vias principais do bairro, como a Bernardo Sayão, Augusto Corrêa, e a própria Barão de Igarapé Mirim, e que a crescente evangelização da comunidade próxima ao Tucunduba (importante área que envolve o bairro do Guamá e da Terra Firme) criou mais uma entidade religiosa (Santo Antônio de Tucunduba) para auxiliar nesse controle sobre a expansão e manutenção de fiéis. 7

Figura 4: 4 Área de Abrangência da Congregação Fonte: Imagens Google Earth, 2014. Elaboração: Grupo de pesquisa, 2014. O pastor da IEFP nos diz que a área de abrangência vai da Av. Independência até passagem Santa Maria, englobando o Jardim América, o Jardim Itália e o Jardim Europa. Já um membro entrevistado nos indica onde são realizadas as células, sendo realizada uma na Rua São Paulo, outra na Passagem Santa Paz, uma na própria sede do Coqueiro e uma próxima a filial. 5. AS FORMAS DE GARANTIR AS TERRITORIALIDADES As Pastorais são estratégias que a Igreja encontra para manter laços de afetividade, sem desviar o foco que é a religiosidade, as pastorais são ações de cunho social que trazem a comunidade um bem estar e um apoio a diversas causas, a pastoral da juventude, por exemplo, que possibilita ao jovem uma formação profissional, além do foco principal que é a evangelização. O Pároco forma o conselho de pastorais para administrar as ações evangelizadoras/sociais, e justamente o ato de evangelizar é praticado pelos discípulos que se engajam para desenvolver tal evangelização. A IEFPdesenvolve a dinâmica das células, que são pequenos quenos grupos nos lares, inspiradas em práticas do início do cristianismo, já que não havia templo físico, físico as 8

congregações eram realizadas nos lares. Estas são utilizadas como uma extensão da igreja, criando uma maior interação entre os fiéis. Nas palavras do pastor entrevistado, as células servem para cuidar melhor das ovelhas(fiéis).as células dependem apenas de um lar podendo se encontrar em qualquer parte da cidade desde que tenham fiéis dispostos a criá-la. Por ocorrerem nos lares as células não criam grandes custos para igreja, no entanto, as doações feitas nas células são direcionadas à Igreja. Apesar de ocorrer nos lares,às células possuem uma organização sendo ela: líder, vice-líder, o secretário (anota cada visitante, e recebe a oferta) e uma pessoa responsável por convidar outras a ingressarem na mesma. 5.1CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS DAS IGREJAS ANALISADAS (SÍMBOLOS E REPRESENTAÇÕES) As religiões praticam territorialidades. Assim, produzem símbolos e representações que indicam que tal espaço os pertence. Esses símbolos podem ser de forma material (como estátuas de santos) ou imaterial (festas e práticas religiosas), que demarcam o local como sagrado e/ou pertencente à determinada crença.segundo Rosendahl (2003), O conceito de sagrado e sua representação simbólica remete-nos, inevitavelmente, à perspectiva do poder mantido e reproduzido pela comunidade em suas territorialidades religiosas ou quase-sagradas. Esses símbolos são perceptíveis, principalmente na Paróquia São Pedro São Paulo (católica), já que logo na sua fachada há estátuas dos santos que dão nome àentidade. Outro ponto que simboliza os fiéis desta religião é o fato dos mesmos fazerem uma prática da Igreja, o sinal da cruz, ao passarem pela frente. Dentro da paróquia, são inúmeros os objetos sagrados, como cruzes e imagens de santos. Para Rosendahl(2003), os objetos sagrados nos podem dizer muito mais do que aparentam, (...) existe mais simbolismos nos objetos e nas coisas do que a aparência indica sugere reconhecer tanto o valor mercantil como o valor cultural de um bem simbólico, isto é, a mercadoria e o símbolo. 9

Já na Igreja Evangélica Filhos da Promessa (IEFP) tais símbolos não são expressivos. Na fachada da sede (congregação), não há demarcações explícitas do espaço. Importante ressaltar que a IEFP, apresenta uma interpretação diferente dos mandamento bíblicos. Para eles, diferente da Igreja Católica Apostólica Romana, fazer imagens é considerado pecado. Por isso não há imagens no templo. No entanto, eles apresentam o simbolismo em suas práticas, presente em suas festividades como a Festa dos Tabernáculos ou da Cabana, que remete aos tempos do Profeta Moisés, em que os israelitas vagavam pelo deserto e moravam em tendas (cabanas). 6.RESULTADOS PRELIMINARES As dinâmicas territoriais religiosas expressam uma relação de poder com seus fiéis,já que essa se faz com a sua manutenção e atração.para Raffestin (1993), existem três tipos de trunfos de poder, [...] população, o recurso e o território. Nessa discussão o trunfo população é essencial, pois [...]é concebida como um recurso, um trunfo, portanto, mas também como um elemento atuante. (Raffestin, 1993, p.58), ele nosdiz que a população é a origem de todo o poder existente, ressaltando que nelas residem as capacidades de transformação e colocando a população como o sujeito que executa as ações em determinado espaço atuante. As igrejas analisadas possuem estratégias territoriais distintas, no entanto, possuem certas semelhanças na organização do espaço. Apesar de não ser admitido pelos seus representantes (Pároco e o Pastor). O programa desenvolvido pela Igreja Católica (pastoral) funciona como uma estratégia de manutenção e atração de novos fiéis, afinal (Raffestin, 1993, p.58) traz em sua obra, "frequentemente o objetivo declarado mascara os verdadeiros trunfos". Já a Igreja Evangélica Filhos da Promessa (IEFP), têm a dinâmica das células, que são uma extensão da igreja e atuam como territórios cíclicos, 10

[...]territórios com uma temporalidade bem definida podem igualmente ser encontradas nas grandes cidades. Por exemplo, a apropriação de certos espaços públicos por grupos específicos, como [...] a ocupação das calçadas de certos logradouros públicos por camelôs. (SOUZA, 2008, p. 91). Pois no horário das células (culto), os lares onde são realizadas passam a ser territórios da igreja, já que recebem a oferta, qualquer pessoa interessada em participar do culto pode adentrar a casa, os membros exercem as mesmas relações e atitudes que tem com o seu espaço de culto (templo). Diferente da pastoral, que é realizada no próprio espaço paroquial, as células podem ser realizadas nos lares dos fiéis podendo alcançar um limite territorialmaior, possibilitandouma atração maior de fiéis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HAESBAERT, Rogério. Território e multiterritorialidade: um debate. GEOgrafia, v. 17, 2007. HAMMES, R. Atual organização da Igreja Católica na região. In:.Igreja Católica, Sindicatos e Movimentos Sociais: Quarenta anos de história projetando luzes para a defesa e promoção da vida na região.edunisc, Santa Cruz do Sul, 2003. p. 48-49. RAFFESTIN, C. Por uma geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993 ROSENDAHL, Zeny. Espaço, Cultura e Religião: dimensões de análise. In: CORRÊA, R. L; ROZENDAHL, Z. (Orgs.).Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p. 187-221.. O sagrado e sua dimensão espacial. In CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (orgs.). Olhares geográficos: Olhares geográficos: modos de ver e viver o espaço. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p. 73-99. 11

. Território e Territorialidade: uma perspectiva geográfica para o estudo da religião. In: Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina - EGAL. 2005 SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder. Autonomia e desenvolvimento. In CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas.11º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008, p.77-116. TONACO, Daiane Aparecida. Território e territorialidades: construção do espaço sagrado em Santo Antônio de Goiás (1946-2000). 2008. (Apresentação de Trabalho/Seminário). 12