A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE O TÊNIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA



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Transcrição:

A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE O TÊNIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA Raniere de Azevedo Travassos; Eduardo Ribeiro Dantas Universidade Estadual da Paraíba ranieretravassos@hotmail.com RESUMO: O presente estudo questiona a produção de conhecimento sobre o tênis na Educação Física brasileira, buscando identificar e analisar possibilidades pedagógicas para o trato do tênis na escola e na Educação Física escolar, expressas na produção científica da área. Trata-se de uma pesquisa exploratória, do tipo documental, realizada em anais de 9 congressos do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. A partir da busca pelos descritores tenis, tennis e tênis, chegamos a seis artigos sobre a temática. Observamos que nenhum deles aborda a temática do tênis relacionada à Educação Física escolar, à escola, ou mesmo a seus processos de ensino-aprendizagem. Assim sendo, verifica-se que apesar das contribuições dessa produção de conhecimento para a difusão do tênis na área da Educação Física brasileira, seja em relação à formação cidadã dos alunos, verificada em projetos sociais, seja na qualificação de eventos de esporte e lazer, ou mesmo na melhor condução do esporte em sua dimensão de rendimento, não há produção teórica nos documentos analisados, que favoreça a perspectiva do tênis como um esporte que pode oferecer uma grande contribuição, se inserido na Educação Física escolar. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física escolar; Tênis; Produção de Conhecimento. INTRODUÇÃO Além de apontarem a perspectiva da cultura corporal de movimento para o trato da Educação Física na escola, os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN s, destacam que a Educação Física no ensino fundamental deve ser norteada pelos seguintes princípios básicos: princípio da inclusão, princípio da diversidade e das categorias de conteúdos. O primeiro princípio tem como meta incluir o aluno na cultura corporal de movimento. O segundo princípio tem como objetivo ampliar as relações entre os conhecimentos da cultura corporal de movimento e os sujeitos da aprendizagem. E por fim, o terceiro princípio diz que o objeto central da cultura corporal de movimento gira em torno do fazer, do sentir e do compreender com o corpo (BRASIL, 998, p. 9). Assim, hoje em dia as aulas de Educação Física escolar podem propiciar aos alunos a oportunidade de experimentar e vivenciar diversas práticas corporais originadas das mais diferentes

manifestações culturais e das mais variadas circunstâncias presentes no cotidiano do ser humano. Tal diversidade pode ser comprovada nas muitas práticas corporais como: esportes, lutas, ginásticas, e outras manifestações como os jogos e brincadeiras, além das danças que constroem um variado repertório cultural a ser valorizado e aproveitado por todos. Desse modo, destacamos neste trabalho o tênis, que enquanto elemento da cultura corporal de movimento, também pode ser abordado nas aulas de Educação Física escolar, apesar de ser ainda hoje estigmatizado como um esporte caro, destinado a poucos. Compreensões que remetem à sua entrada no país. No final do século XIX, ao desembarcarem no Brasil, os ingleses, que vieram trabalhar na urbanização das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, trouxeram consigo o tênis. Foi com a criação do Clube Atlético Paulistano, em 892, em São Paulo, que o esporte se difundiu e foram inauguradas as primeiras quadras de tênis brasileiras. No Rio de Janeiro, as quadras de tênis ficavam no Fluminense Futebol Clube. O grande responsável pela chegada e difusão do tênis foi a expansão da urbanização e industrialização em São Paulo e no Rio de Janeiro. Como estava em processo o surgimento e afirmação de uma nova elite, o gosto por modas trazidas da Europa tomou-se instrumento para tal composição (RAMALHO, 2006, p. 20). Recentemente, a figura de Gustavo Kuerten, atleta profissional que chegou a ser o número do mundo, foi fundamental para a popularização do tênis no Brasil. Diante da significativa representação de Guga, o tênis tornou-se uma das práticas corporais que cresceu e veio a ocupar mais espaço na cultura do povo brasileiro. Apesar disso, essa modalidade esportiva encontra-se geralmente fora dos muros da escola e mesmo do círculo universitário, no tocante à formação superior de professores de Educação Física. Diante dessa problemática, nos questionamos acerca da produção de conhecimento sobre o tênis na Educação Física brasileira, buscando identificar e analisar possibilidades pedagógicas para o trato do tênis na escola e na Educação Física escolar, expressas na produção científica da área.

Tênis e Educação Física escolar Inicialmente, cabe destacar que a Educação Física é entendida como uma área de conhecimento da cultura corporal de movimento e a Educação Física escolar uma disciplina que integra e introduz o aluno na cultura corporal de movimento. Este aluno poderá usufruir, como informado, dos jogos, dos esportes, das lutas e das ginásticas em busca da melhoria da qualidade de vida e do exercício crítico da cidadania (BRASIL, 998). Dessa forma, o esporte não é o único nem o principal conteúdo a ser abordado na Educação Física escolar, como posto em outros momentos históricos de nossa área, em que a formação de atletas era o principal objetivo a ser alcançado pelos professores de Educação Física. Portanto, o trabalho com o esporte na Educação Física escolar varia de acordo com os princípios que norteiam o trabalho dos professores. Do ponto de vista tradicional, o trabalho muitas vezes é centrado na técnica da prática esportiva. No entanto, a escola tem como um dos objetivos formar cidadãos capazes de se situar de maneira crítica no mundo e socializar-se, e o esporte é uma excelente ferramenta de socialização entre a criança e o meio no qual está inserida. O que queremos no espaço escolar é o entendimento da modalidade esportiva, porém, com significados que levem os alunos a participarem de maneira consciente das aulas. No sentido da construção do conhecimento, utilizando o que o senso comum lhes traz sobre o assunto, interpretando de maneira subjetiva, levando em consideração sua historicidade de ser social e cultural para desenvolverem tal conteúdo de acordo com suas possibilidades (físicas, cognitivas, afetivas, motoras e sociais) para execução. Não objetivamos ter como centro das ações o gesto técnico, que em muitos casos, prende o aluno como uma "camisa de força", fazendo com que muitas vezes este desista das práticas em aula. O que almejamos em nossas práticas seria o entendimento global de cada situação que o esporte envolve, para que os praticantes resolvam os problemas delas decorrentes da maneira que sua leitura peculiar permite (RAMALHO, 2006, p. 38). Logo, é importante refletir sobre como o esporte se adequará as propostas que cuidam da

formação integral do aluno, e para isto é necessário rever a prática e se a preocupação está focada só no desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas do jogo. Além da superação da perspectiva predominantemente técnica que guiou a inserção do esporte na escola e, particularmente, nas aulas de Educação Física escolar, precisamos ampliar, na perspectiva da pluralidade cultural, as modalidades a serem abordadas pelos seus professores. Os conteúdos que os professores de Educação Física Escolar (EFE) desenvolvem de forma generalizada no ensino dos esportes giram prioritariamente em torno dos jogos esportivos coletivos (basquetebol, futebol, futsal, handebol e voleibol). Assim reproduzem uma monocultura dessas cinco modalidades esportivas na escola, reduzindo as opções para divulgação, ensino e prática de outras modalidades, principalmente as de raquete, como conteúdos da EFE (GRECO; SILVA; ABURACHID, 2009, p. 82). Como visto, existem modalidades esportivas predominantes nas aulas de Educação Física escolar. Contudo, diante das propostas atuais no campo teórico da Educação Física brasileira, existe uma necessidade de intervir na intenção de se fazer conhecer outras modalidades, como o tênis, que possuem a possibilidade de contribuir para o desenvolvimento social e intelectual dos alunos. Para tanto, esta modalidade em especial, precisa quebrar os estigmas que carrega historicamente. O esporte na modalidade tênis de campo é uma das alternativas até então menos presentes no espaço da cultura escolar. Considerada historicamente uma modalidade dispendiosa e restrita às elites, o tênis de campo quase sempre é antevisto como um ensino-aprendizagem inviabilizado pelos custos atribuídos às instalações e ao material esportivo e pelo espaço e tempo destinados pela escola às aulas de educação física (DIAS; RODRIGUES, 2009, p. 63). Considerando o exposto, existem fatores que impedem a presença do tênis na Educação Física escolar, a exemplo da limitada formação do professor para o trato do tênis e da sua qualificação como esporte de elite. No entanto, tendo em vista a perspectiva da Educação Física expressa nas suas abordagens críticas, é importante incluir o tênis na educação escolar por possibilitar aos alunos a ampliação da visão acerca dessa manifestação cultural na sociedade

contemporânea, mesmo com as limitações identificadas na formação inicial de professores de Educação Física para o trato do tênis na escola. O tênis nas escolas podem ser incluídos [...] enquanto conteúdo curricular e extracurricular, dependendo exclusivamente dos professores de educação física e dos diretores das escolas [...] a partir de uma capacitação inicial mínima dos conhecimentos do esporte em questão tendo em vista que quase nenhum curso de graduação oferece a disciplina enquanto currículo obrigatório (SOUZA; MARTINS JR., 2009, p. 5). Ainda há muito a ser feito para inserção desse esporte na Educação Física escolar. Além do dever e da importância da escola no processo de tornar o esporte acessível a todos, sem exceções, há também a responsabilidade e compromisso dos professores de Educação Física em busca de mudar essa realidade. O tênis é patrimônio da humanidade, sendo o seu acesso um direito de todos e não de uma única classe social. É por isso, que a produção de conhecimento sobre a temática, além de sua divulgação, tornam-se peças fundamentais para esse fim. METODOLOGIA Para a realização de nosso estudo, optamos inicialmente por explorar a produção teórica da Educação Física brasileira, expressa em periódicos da área. Escolhemos a Revista Brasileira de Ciências do Esporte, periódico do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte CBCE, pela acessibilidade de sua produção, em um único CD que reunia trabalhos publicados entre os anos de 979 e 2003. Em se tratando do periódico de uma das associações científicas mais representativas da área no Brasil, esperávamos obter trabalhos sobre o tênis, que pudessem nos propiciar a análise do seu trato na Educação Física escolar. Ao efetuarmos um primeiro levantamento a partir dos descritores tenis, tennis e tênis, não encontramos nenhum trabalho sobre a temática neste periódico, de modo que resolvemos realizar uma pesquisa exploratória nos anais dos congressos do CBCE, disponíveis on-line no site

http://congressos.cbce.org.br/. Segundo Gil (999), as pesquisas exploratórias são desenvolvidas para nos dar uma visão geral de um tema ou fato pouco explorado, envolvendo habitualmente levantamento documental. Dessa forma, acessamos informações sobre 28 congressos listados no site, como data e local dos eventos, bem como, visitamos cada um deles, realizando-se a busca por trabalhos sobre o tênis nos congressos que disponibilizaram seus anais on-line. RESULTADOS Dos 28 congressos listados no site investigado, 9 não haviam disponibilizado os seus anais. Assim sendo, procedemos a investigação tendo em vista os mesmos descritores utilizados na pesquisa com a Revista Brasileira de Ciências do Esporte, nos 9 congressos restantes. Além da identificação dos trabalhos sobre o tênis, procuramos identificar sua localização dentro dos Grupos de Trabalhos Temáticos GTT s, do CBCE, por entendermos que os trabalhos publicados no GTT Escola tinham mais chance de abordar as questões pedagógicas do trato do tênis na Educação Física escolar, se aproximando mais do nosso objeto de estudo. Para a sistematização do material analisado, retiramos das fontes documentais os seguintes dados: ano em que foi realizado o congresso, nome do mesmo, quantidade de trabalhos relacionados ao GTT escola, títulos dos trabalhos encontrados e seus respectivos GTT s, que apresentamos nos dois quadros seguintes, criados para facilitar a visualização dos dados. Quadro : Congressos com anais disponíveis e quantidade de trabalhos do GTT Escola O Sistema Online de Apoio a Congressos (SOAC) do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) tem a finalidade de disponibilizar uma ferramenta de gerenciamento dos seus congressos e de publicação eletrônica dos anais de congressos científicos, e assim, contribuir para a democratização do acesso ao conhecimento produzido. Por meio dessa ferramenta é possível navegar nos congressos e ter acesso aos textos aprovados e apresentados na íntegra através dos anais e ainda utilizar o formulário de pesquisa para buscar por artigos, resumos e autores que estejam publicados nos anais dos congressos hospedados no SOAC.

N. ANO NOME DO CONGRESSO GTT ESCOLA 2 3 set/4 set/4 ago/3 VII CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE VI CONCOCE CONGRESSO CENTRO-OESTE DE CIÊNCIAS DO ESPORTE E X CONEF CONGRESSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA JATAÍ-GO XVIII CONBRACE E V CONICE 22 24 6 4 abr/3 IV SEMINÁRIO NACIONAL CORPO E CULTURA 2 5 6 7 8 9 0 out/3 Dez/2 set/2 set/2 set/2 set/ V SIMPÓSIO NAC. DA CULTURA CORPORAL E POVOS INDIGENAS E I SEMINÁRIO INTER. DE ED. FÍSICA, ESPORTES E COMU. TRADICIONAIS VI COLOQUIO DE EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA IV CONGRESSO NORDESTE DE CIÊNCIAS DO ESPORTE IV CONGRESSO SUDESTE DE CIÊNCIAS DO ESPORTE / XII CONESEF VI CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE XVII CONBRACE / IV CONICE 4 24 42 28 69 2 3 4 jun/ dez/0 dez/0 set/0 VII CONGRESSO GOIANO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE III CONGRESSO NORTE-BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE V CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE III CONGRESSO NORDESTE DE CIÊNCIAS DO ESPORTE 2 27 9 9 5 6 7 8 out/0 set/0 jun/09 set/09 V COLÓQUIO DE EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA IV CONGRESSO CENTRO-OESTE DE CIÊNCIAS DO ESPORTE E I CONGRESSO DISTRITAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE VI CONGRESSO GOIANO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE XVI CONBRACE / III CONICE 4 36 4 55

9 set/08 CSBCE - IV CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE 9 Neste primeiro quadro, notamos que o GTT escola acumulou nos 9 congressos analisados, o total de 527 trabalhos, sendo um dos GTT s que mais publicam trabalhos nos eventos científicos do CBCE. No segundo quadro a seguir, entretanto, notamos que apenas 5 congressos tiveram publicações sobre o tênis, totalizando 6 2 trabalhos, sendo que nenhum deles estava no GTT Escola. Quadro 2: Trabalhos encontrados e seus respectivos GTT s Nº MÊS/ANO AGO/203 2 SET/ 3 DEZ/0 4 SET/0 5 SET/09 NOME DO CONGRESSO XVIII CONBRACE e V CONICE XVII CONBRACE / IV CONICE V Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte III Congresso Nordeste de Ciências do Esporte XVI CONBRACE / III CONICE Nº DE TRABALHOS 2 GTT TREINAMENTO ESPORTIVO TREINAMENTO ESPORTIVO POLÍTICAS PÚBLICAS COMUNICAÇÃO E MÍDIA COMUNICAÇÃO E MÍDIA TÍTULOS DOS TRABALHOS INCIDÊNCIA DE BURNOUT EM TENISTAS INFANTOJUVENIS A PERCEPÇÃO E A TOMADA DE DECISÃO NO TÊNIS EFEITOS DA BANDAGEM KINESIO TAPING NA RECUPERAÇÃO DE HEMATOMA DECORRENTE DE DISTENSÃO DURANTE A PRÁTICA DO TÊNIS: UM ESTUDO DE CASO A SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO CONTEXTO DE UM PROJETO SOCIAL DE TÊNIS. MÍDIA ESPORTIVA: EM DEBATE A COPA PETROBRAS DE TÊNIS EM ARACAJU-SE MÍDIA ESPORTIVA: ANÁLISE DA COBERTURA DA COPA PETROBRAS DE TÊNIS NA ORLA DA PRAIA DE ATALAIA/ARACAJU-SE Como não encontramos trabalhos sobre o tênis no GTT específico para a discussão junto à escola, realizamos a leitura dos trabalhos para verificar se traziam alguma informação sobre o tênis 2 Dois trabalhos que apresentaram a palavra tênis, não se referiam ao esporte, portanto não foram contabilizados.

na escola, na Educação Física Escolar ou mesmo sobre o processo de ensino-aprendizagem do tênis, que pudessem orientar melhor os professores da Educação Física escolar, sobre a inserção desse conteúdo em suas aulas. Considerando os trabalhos encontrados, observamos que no primeiro artigo Incidência de Burnout em Tenistas Infanto-juvenis o objetivo é verificar a ocorrência da síndrome em tenistas infanto-juvenis comparando sua incidência por sexo, tendo sido publicado no GTT Treinamento Esportivo. Já o segundo trabalho, que tem por título A percepção e a tomada de decisão no tênis, também publicado no GTT Treinamento Esportivo, se propôs a identificar os sinais relevantes implícitos no jogo e relacioná-los com o modelo de objetos da percepção nos jogos esportivos, desenvolvido por Konzag e Konzag. O terceiro artigo, publicado em ano diferente mas no mesmo GTT dos anteriores, que tem por título Efeitos da bandagem Kinesio Taping na recuperação de hematoma decorrente de distensão durante a prática do tênis: um estudo de caso objetivou quantificar os efeitos da bandagem Kinesio Taping na recuperação de hematoma na região posterior da coxa. No quarto artigo A socialização de crianças e adolescentes no contexto de um projeto social de tênis a proposta é compreender de que forma a participação de crianças e adolescentes no contexto de um projeto social esportivo pode refletir nos seus processos de socialização. Já os artigos Mídia esportiva: em debate a copa PETROBRAS de tênis em Aracaju- SE e Mídia esportiva: análise da cobertura da copa PETROBRAS de tênis na orla da praia de Atalaia/Aracaju- SE apesar de estarem publicados em diferentes congressos, objetivam investigar o papel da cobertura jornalística dos eventos esportivos que ocorre na orla de Atalaia, visando abordar três eixos centrais: os espaços públicos de lazer; as competições esportivas que acontecem na Orla e as Tribos que frequentam a Orla.

DISCUSSÃO A partir da descrição da síntese dos seis artigos encontrados, observamos que nenhum deles aborda a temática do tênis relacionada à Educação Física escolar, à escola, ou mesmo a seus processos de ensino-aprendizagem. Assim sendo, verifica-se que apesar das contribuições dessa produção de conhecimento para a difusão do tênis na área da Educação Física brasileira, seja em relação à formação cidadã dos alunos, verificada em projetos sociais, seja na qualificação de eventos de esporte e lazer, ou mesmo na melhor condução do esporte em sua dimensão de rendimento, não há produção teórica nos documentos analisados, que favoreça a perspectiva do tênis como um esporte que pode oferecer uma grande contribuição, se inserido na Educação Física escolar. Dessa forma, considerando os limites da formação inicial e continuada de professores de Educação Física para o trato na escola de esportes não tão tradicionais quanto o futebol ou outras modalidades coletivas de maior projeção no país, a falta de uma produção teórica específica para a inserção do tênis na Educação Física escolar, especialmente numa perspectiva que vise a apropriação crítica dessa manifestação cultural por parte dos alunos, dificulta ainda mais a superação de estigmas como a sua elitização e consequente falta de acesso a grande parte da população brasileira. CONCLUSÕES Diante da pesquisa realizada, nos deparamos com a pouca produção científica sobre a temática do tênis nos congressos do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Além disso, não registramos nenhum trabalho que tratasse do ensino do tênis na escola, ou seja, além de escassa, a produção analisada não estabeleceu relação nenhuma com a Educação Física escolar. Somada às dificuldades existentes que travam a inserção do tênis nas escolas, como a

ausência, em muitos casos, da temática na própria graduação, a carência de uma produção especializada, especialmente numa perspectiva crítica, que compreenda o tênis como um elemento da cultura corporal de movimento a ser tematizado na Educação Física escolar, restringe ainda mais as alternativas para que os professores de Educação Física possam rever a sua prática pedagógica, contrapondo-se à monocultura de determinadas práticas corporais no interior da escola, como o futebol. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Educação Física. Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 998. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 999. DIAS, J. M.; RODRIGUES, O. A. F. O tênis nas escolas: Uma prática apropriada à cultura escolar. In: O ensino do tênis: Novas perspectivas de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2009. GRECO, P. J.; SILVA, S. A.; ABURACHID, L. C. Iniciação esportiva universal: uma escola da bola aplicada ao tênis. In: O ensino do tênis: Novas perspectivas de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2009. RAMALHO, A. L. Tênis de campo: Uma abordagem que busca entendê-lo como conteúdo da Educação Física Escolar. Campinas, São Paulo, 2006. SOUZA, S. P. de; JÚNIOR, J. M. O tênis nas escolas: diagnóstico da necessidade e perspectivas para sua implantação. Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar. Maringá, Paraná, outubro de 2009.