IMIGRANTES HAITIANOS NA CIDADE DE VIDEIRA-SC: inserção cultural, social e econômica



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Transcrição:

IMIGRANTES HAITIANOS NA CIDADE DE VIDEIRA-SC: inserção cultural, social e econômica Guilherme Vanz dos Santos 1 ; Solange Francieli Vieira 2 ; Cristiane Aparecida Fontana Grümm 3 ; INTRODUÇÃO O presente projeto de pesquisa teve como objetivo principal analisar a inserção social, cultural e econômica dos imigrantes haitianos na cidade de Videira- SC. A pesquisa buscou identificar as dificuldades encontradas por eles em relação à língua, à cultura e ao trabalho, bem como analisar as relações que os haitianos estabelecem com a sociedade local, além de identificar os fatores atrativos e repulsivos que motivaram o deslocamento destes imigrantes para a cidade de Videira e as relações sociais e anseios desse imigrantes no espaço geográfico da cidade Videira. O Haiti é, historicamente, um ponto de referência e inspiração que em 1804 tornou-se o segundo país do hemisfério ocidental a proclamar independência e a primeira república negra do mundo. (LIBRARY OF CONGRESS COUNTRY STUDIES, 1989). Entretanto, seu desenvolvimento foi conturbado, repleto de corrupção política e dificuldades econômicas que, por fim, acabaram por compor um país com uma economia frágil e com baixo índice de desenvolvimento (BETHELL, 1992). A situação que já era ruim ficou ainda pior no ano de 2010 com o terremoto de 7 graus na escala Richter que causou sérios danos ao país, matando mais de 300 mil pessoas e deixando 1,3 milhões de desabrigados (USGS, 2015). O 1 Aluno do Instituto Federal Catarinense Campus Videira, Videira. Curso técnico em Informática. E- mail: guilhermevanzdossantos@gmail.com 2 Professora Orientadora do Instituto Federal Catarinense Campus Videira, Videira. E-mail: solangevieira@ifc-videira.edu.br 3 Professora Coorientadora do Instituto Federal Catarinense Campus Videira, Videira. E-mail: cristiane.grumm@ifc-videira.edu.br

terremoto é um dos principais fatores repulsivos no Haiti desde seu acontecimento (COGO, 2014). Em contrapartida, o desenvolvimento econômico dos últimos anos transformou o Brasil num atrativo para migrantes, porém a crescente vinda de haitianos revela a fragilidade das instituições nacionais para lidar com situações que envolvem imigração ilegal (COGO e BADET, 2013). Por conseguinte, acredita-se que esta pesquisa teve extrema relevância do ponto de vista das ciências humanas, por ter buscado compreender e analisar as relações sociais entre pessoas de diferentes culturas e nacionalidades tanto no mercado de trabalho quanto na vida cotidiana em sociedade no espaço geográfico de Videira-SC. Desde a dificuldade de conseguir a documentação legal após adentrar o país, a inserção social dentro da cidade e a adaptação a uma nova língua e um novo espaço, este projeto pôde analisar, comparando também com levantamentos bibliográficos, qual é a situação atual da imigração haitiana em Videira. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Primeiramente, foi realizado levantamento bibliográfico relativo a temática pesquisada. Depois buscou-se informações junto à prefeitura e nas empresas referente aos locais de inserção dos imigrantes haitianos no mercado de trabalho na cidade de Videira-SC. A proposta inicial era que estes imigrantes fossem entrevistados com base em um roteiro direcionado sobre os motivos que os levaram a se deslocarem para um outro país e mais especificamente para a cidade de Videira, as dificuldades por eles encontradas na inserção em uma nova cultura e organização social, nos anseios e objetivos almejados com a mudança de país. Como inicialmente o roteiro era com questões abertas, foi estabelecido no projeto como meta transcrever as entrevistas. No entanto, perante o não domínio da língua portuguesa por parte dos imigrantes, optou-se por elaborar e aplicar um questionário

objetivo, não havendo necessidade de transcrição. Cabe ressaltar que, a dificuldade de contato com os imigrantes haitianos para realização das entrevistas foi um grande entrave para o desenvolvimento do projeto. Esta meta realizou-se, portanto, parcialmente. Para compensá-la, realizou um levantamento mais aprofundado de matérias jornalísticas e artigos relacionadas com o tema imigrantes haitianos, aproximadamente 100 títulos no total. RESULTADOS E DISCUSSÕES O Haiti é um país caribenho, atualmente com 10.448.688 habitantes (COUNTRY METERS, 2015). Dessa população, 54% vive em extrema pobreza (CIA, 2014). Está na 168ª posição no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com um total de 0,471 pontos, dados da UNDP (United Nations Development Programme) de 2014. O baixo valor no IDH é explicado pelo terremoto de 2010 que ainda assombra o país e pelos surtos de doenças que vieram após a catástrofe. A recuperação do país é difícil, tendo em vista os altos níveis de corrupção que o colocam entre os 15 países mais corruptos do mundo (TRANSPARENCY INTERNATIONAL, 2015). O Brasil, ao contrário do Haiti, tem uma economia ascendente e uma oferta de empregos muito grande, um dos principais fatores atrativos para os haitianos. Além disso, em outros países, a entrada de imigrantes é comumente mais difícil e burocrática. Mesmo que o Brasil tenha problemas com sua política migratória, em comparação, o acolhimento social quanto aos imigrantes é muito mais amigável em território brasileiro (MORAES, ANDRADE e MATTOS, 2013). Além disso, nosso país tem uma forte tendência para a recepção de mão de obra qualificada ou profissionalizada (BATISTA e PARREIRA, 2013) e, somando-se ao fato de que os haitianos são contratados em empresas que normalmente não conseguem preencher estes cargos com mão de obra brasileira, fica claro o porquê da grande incidência de imigração para o Brasil (COGO e BADET, 2013).

A vinda tornou-se significativa entre o final do ano de 2011 e o início de 2012, a qual contabilizava em torno de 4 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Justiça (MORAES, ANDRADE e MATTOS, 2013). Dentre as principais rotas de viagem está a linha aérea encontrada no país vizinho, a República Dominicana, passando para algum país que não precise de visto e que fique perto do Brasil normalmente Equador, Colômbia ou Peru e, por fim, percorrendo o resto do caminho por meio terrestre de carro, van ou ônibus ou ainda por meio fluvial de barco ou bote. Normalmente a viagem entre os países vizinhos e o Brasil é feita através dos chamados coiotes, pessoas que fazem a travessia até o território brasileiro ilegalmente. É uma viagem extremamente perigosa e sem garantias mas, mesmo assim, de alto custo (COGO, 2014). Na cidade de Videira, de acordo com dados coletados nas entrevistas, os imigrantes haitianos começaram chegar no ano de 2013, procurando principalmente por emprego, melhor educação e condições de vida do que as oferecidas em seu país natal. Como todos os outros imigrantes que vêm para Brasil do Haiti, planejam iniciar uma nova vida e tentar ajudar os familiares que ainda sofrem as consequências do grave terremoto (DW BRASIL, 2012). Grande parte dos imigrantes conseguiu emprego em duas das principais empresas da região, a BRF (Brasil Foods) e a Videplast (DANDOLINI, 2014). Os imigrantes disseram estar empregados no Haiti antes de iniciar a viagem ao Brasil, tanto no setor público quanto privado. Em todos os casos, a média salarial que conquistam trabalhando na cidade de Videira atualmente fica entre R$700,00 e R$1.200,00, pouco acima da média nacional do salário que o haitiano ganha após chegar ao Brasil que é de R$612,00 (SKROMOV e NUNES, 2012). Todos responderam que a maior dificuldade para entrar no Brasil não foi nem o processo burocrático, nem conseguir os meios de transporte para a vinda, e sim o custo da viagem. Segundo Silva (2014) quando a travessia é feita por coiotes, eles podem cobrar de US$150,00 a US$300,00 quando feita já em solo sulamericano ou, quando são responsáveis por toda a viagem, o preço varia entre US$3.000,00 e US$4.500,00 (DW BRASIL, 2014). De acordo com dados da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), os coiotes já faturaram em torno US$60 milhões

ou R$185 milhões levando aproximadamente 38 mil haitianos entre 2011 e 2015 (DOMINGOS, 2015). Com relação ao destino, a maior parte dos imigrantes não teve acesso a informações sobre o Brasil antes de saírem do Haiti, diferentemente de outros que afirmam ter conhecido pela MINUSTAH e também pelos grandes eventos (Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016) (CAVALLI, 2014; ALESSI, 2013). A maioria dos haitianos relatou possuir um domínio regular da língua portuguesa, afirmando ainda que essa falta de um vocabulário mais completo acaba interferindo na comunicação, principalmente em ambiente de trabalho. Em alguns casos, os haitianos vêm ao Brasil já falando o português fluente ou outras línguas como inglês e espanhol (CAVALLI, 2014; ZYLBERKAN 2014; DIÁRIO CATARINENSE, 2014). Quanto ao nível de escolaridade, a maior parte iniciou o ensino superior ainda no Haiti, fato constatado nos imigrantes haitianos que estão no território catarinense (DIARIO CATARINENSE, 2014). Apesar da qualificação dos haitianos ao chegarem ao país, na grande parte das vezes exercem funções que não exigem tal qualificação, como mercado informal, construção civil e trabalhos braçais em geral (BOEHM, 2015). Casados ou solteiros, todos os haitianos que participaram do questionário responderam que ainda mantém contato com familiares ou amigos no Haiti. Alguns deles vieram com a família (marido, esposa e filhos) e dois terços dos que ainda mantém contato com seus familiares de lá mandam alguma quantia em dinheiro para seu país natal. Entretanto, de todos os haitianos que vem para o Brasil dos quais 95% são homens, é pouquíssimo comum que esses imigrantes tragam suas famílias consigo, afinal, além de o custo ser muito maior para trazer mais pessoas (dependendo da quantidade, acima de US$13.000), a inserção do imigrante no país é um processo muito inconsistente e extremamente complicado juridicamente, ainda mais quando a entrada é ilegal (G1 SC, 2014; SKROMOV e NUNES, 2014). Quanto à inserção cultural e social em Videira, os haitianos não encontram nenhum problema, alguns afirmam que a cultura de onde vieram não possui diferenças drásticas com os valores culturais da região. Todos frequentam algum tipo de espaço religioso, predominando a Igreja Batista e o Testemunho de Jeová. As organizações religiosas no Brasil não apenas são espaços de inserção

social como também de apoio e acolhimento dos haitianos, fornecendo auxílio e até hospedagem aos imigrantes. Como principais exemplos estão a famosa Paróquia Nossa Senhora da Paz no estado de São Paulo e as paróquias catarinenses São Judas Tadeu e Nossa Senhora de Fátima em Joinville e a própria Paróquia Imaculada Conceição em Videira (MACEDO, 2015; A NOTÍCIA, 2015). Em seus horários livres permanecem em casa ou frequentam os espaços sociais como: praças, igrejas e shopping. Afirmam ainda que os melhores lugares para manter um contato social são os espaços religiosos e o ambiente de trabalho. O estado de Santa Catarina é um dos mais procurados pelos imigrantes haitianos, tanto pela oportunidade de emprego quanto pela hospitalidade e boa recepção social. (CAVALLI, 2014). Quando questionados sobre o que encontram de melhor na região catarinense, as respostas enfatizaram o gosto pelo trabalho e o próprio povo brasileiro, acrescentando que nunca sofreram ou tomaram conhecimento de qualquer tipo de discriminação ou preconceito em Videira. Esse fato difere-se dos vários casos de discriminação, agressão e, quando envolvida a questão de trabalho, até de escravidão registrados em outras regiões (PIRAGIBE, 2014; SAKAMOTO, 2014; RUSCHEL, 2014; WROBLESKI, 2014). De acordo com os haitianos, os principais atrativos de Videira são as melhores condições de emprego e oportunidade de lazer e bem estar em espaços públicos. Quanto a educação e a saúde, os entrevistados responderam de forma controversa, afirmando em algumas questões que é de qualidade e em outras que deixa a desejar. Somando-se a isso, devido ao escasso debate sobre o assunto nos referenciais bibliográficos levantados, não foi possível chegar a uma conclusão nesse item da pesquisa. Contudo, salientam que dentre os principais pontos negativos estão o clima diferente principalmente na região Sul (CARTOLA, 2014; ZYLBERKAN, 2014), muito mais frio do que no Haiti e a saudade dos familiares e amigos, como relatam a maioria dos outros imigrantes haitianos que também vieram para o Brasil (THOMÉ E DIOGO, 2014; VENTURINI, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS É provável que os haitianos continuem a migrar para o município de Videira, considerando o altíssimo nível de desemprego em seu país de origem que chega a 80% (MORAES et al., 2013) e inúmeras ofertas de emprego na região catarinense, principal atrativo para a migração. A hospitalidade do povo brasileiro e a fama de país receptivo contribuem para que o Brasil seja visado como destino migratório. Todavia, poucos são os haitianos que se instalam no Brasil permanentemente, uma parcela considerável destes migrantes procura estabilidade financeira para si e para sua família a fim de poderem, mais tarde, retornar à sua pátria natal; isso justifica, por parte dos trabalhadores imigrantes, o envio de dinheiro para suas famílias, gerando, inconscientemente, uma entrada de capital e o crescimento da economia do Haiti (RODRIGUES, 2013). Apesar das dificuldades com custos e perigos da viagem migratória, o pouco domínio da língua portuguesa, a diferença climática e a distância do país natal e de entes queridos, eles estão dispostos a enfrentar os desafios para conseguir melhorar as suas condições de vida. REFERÊNCIAS A NOTÍCIA. Estimativa é de que mais de mil haitianos morem em Joinville. Postado: 25 mai 2015. Disponível em: <http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/geral/joinville/noticia/2015/05/estimativa-e-deque-mais-de-mil-haitianos-morem-em-joinville-4768275.html> Acesso: 07 jul. 2015. BETHELL, L. et al. Historia de America Latina: México, América Central y el Caribe, c. 1870-1930. Editorial Crítica, Barcelona. 1992 - Serie Mayor, p. 275-289.

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