Simulação computacional para análise do sistema de fabricação de sapatas diamantadas um estudo de caso

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Transcrição:

Simulação computacional para análise do sistema de fabricação de sapatas diamantadas um estudo de caso Eglon Rhuan Salazar Guimarães eglon_rhuan@hotmail.com João José de Assis Rangel joao@ucam-campos.br Ana Lúcia Diegues Skury lucia@uenf.br RESUMO Este trabalho objetivou analisar, por simulação computacional, o processo de produção de sapatas diamantadas, avaliando o número de operadores nos processos, leiaute das máquinas e fluxo de produção, entre outros parâmetros utilizados para avaliar a dinâmica e regras operacionais do sistema. Esta análise visou auxiliar a tomada de decisão necessária para a implementação da empresa, que será a primeira fábrica brasileira para produção de ferramentas diamantadas, com tecnologia brasileira, incubada no TEC-Campos. Os primeiros resultados indicaram que o aumento na quantidade de determinadas máquinas deve ser acompanhada de forma proporcional pelo número de operadores, para se atingir o ganho proporcionado pelo sistema. Palavras-chave: Ferramentas Diamantadas; Modelagem; Simulação; Diamante; Sapata Diamantada. Computer simulation system for the analysis of the system of manufacturing abrasive crowns - a case study ABSTRACT This study has the objective to analyze, by computational simulation, the process of producing abrasive crowns, evaluating the number of operators in the processes, the layout of the machinery, and the production flow, among other parameters used to evaluate the dynamics and operational rules of the system. The analysis aims to assist the decision making necessary for the implementation of the company which will be the first Brazilian plant for the production of diamond tools, with Brazilian technology, housed in TEC-Campos. The initial results indicated that the increased number of certain machines must be proportionate to the number of operators, in order to achieve the gain produced by the system. Key words: Diamond Tools; Modeling; Simulation; Diamond; Abrasive Crowns. Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013. 281

Simulação computacional para análise do sistema de fabricação de sapatas diamantadas um estudo de caso 1. Introdução O Estado do Rio de Janeiro é o quinto maior produtor de rochas ornamentais do Brasil. Segundo Zepeda (2009), o Estado possui um parque de processamento de 1.500 empresas que geram mais de 11 mil empregos formais distribuídos na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro (62%, em sua maioria, de marmorarias) e nas regiões Norte-Noroeste. Somente no Município de Santo Antônio de Pádua e cidades vizinhas, como Miracema, São José de Ubá, Itaperuna, Laje do Muriaé, Natividade, Porciúncula, Varre-Sai, Bom Jesus do Itabapoana, Cambuci e Italva, existem em torno de 165 empresas, entre pedreiras e serrarias, das quais 99,9% são de micro e pequeno porte. Todavia, essas empresas dependem da importação de tecnologias de extração de rochas, além de diversas ferramentas diamantadas, que são usadas em processos de corte e polimento. Diante dessas circunstâncias, foi identificado um potencial nicho de mercado na região fluminense. Essa oportunidade alavancou a criação da empresa ABRASDI, a qual se propôs a produzir novas ferramentas diamantadas com tecnologia totalmente brasileira, visando atender às necessidades das empresas brasileiras, em especial as localizadas no Estado do Rio de Janeiro. As ferramentas diamantadas produzidas no Brasil com tecnologia nacional trarão economia considerável de custos, redução de tempo e, consequentemente, aumento da produtividade do setor (ZEPEDA, 2009). Uma das principais vantagens competitivas da ABRASDI é a proximidade de seus clientes. Para que as ferramentas possam ser aplicadas de forma ideal, é necessário que se façam testes em reais condições de trabalho. A distância entre o Brasil e os países exportadores impossibilita a realização de testes com rochas típicas do país. Portanto, pode-se ter um tipo de ferramenta que faça corte ou polimento com grande eficiência nas rochas italianas, porém isso não basta para garantir esse mesmo desempenho nas rochas nacionais (ZEPETA, 2009). A criação da ABRASDI foi iniciativa de pesquisadores ligados ao Laboratório de Materiais Superduros da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e está sendo incubada pela incubadora de empresas TEC-Campos, que é mantida pela Universidade, além de receber o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). A empresa produzirá quatro tipos de ferramentas diamantadas diferentes, entre as quais duas serão destinadas ao corte das rochas (serras e fios diamantados) e duas ao polimento (sapatas e ceras diamantadas). Este trabalho objetivou analisar por simulação computacional o processo de produção de sapatas diamantadas, avaliando o número de operadores nos processos, leiaute das máquinas, fluxo de produção e outros parâmetros avaliando a dinâmica do sistema e as regras operacionais. A análise auxiliará a tomada de decisões para implantar a primeira fábrica brasileira de produção de ferramentas diamantadas. Modelos de simulação permitem representar cenários complexos com considerável rapidez. Em razão das diversas fontes de incertezas e da complexidade operacional relacionada ao processo de produção das sapatas diamantadas, o método utilizado tem por base a técnica de simulação computacional de eventos discretos, utilizando-se o software Arena. As principais medidas de desempenho avaliadas são: taxa de utilização de operadores e máquinas, peças em processo (WIP) e lead time do processo (considerando como restrições: custo das ferramentas, qualidade do produto e outros). O modelo de simulação proposto por este trabalho foi baseado na metodologia proposta por Freitas Filho (2008) com os seguintes passos: formulação e análise do problema; planejamento do projeto; formulação do modelo conceitual; coleta de macroinformações e dados; tradução do modelo; verificação e validação; projeto experimental; experimentação; interpretação e análise estatística dos resultados; comparação e identificação das melhores soluções; documentação; e apresentação dos resultados. Seu objetivo foi auxiliar a tomada de decisão relacionada ao processo de produção de sapatas diamantadas (KELTON et al., 2007). 2. Descrição do problema Com o intuito de representar o local e os processos que serão simulados, suas limitações físicas e a localização das máquinas, foi criada uma planta ilustrativa da empresa com algumas imagens que representam as máquinas e bancadas disponíveis para cada processo. Na Figura 1, apresenta-se o espaço físico da empresa com um leiaute inicial, porém as distâncias entre as máquinas não foi disponibilizada, e esse leiaute 282 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013.

Eglon Rhuan Salazar Guimarães, João José de Assis Rangel e Ana Lúcia Diegues Skury poderá ser alterado com base nas informações encontradas a partir do modelo de simulação. A Figura 1 possui, em alguns locais, siglas de F1 a F10, as quais representam as etapas (de 1 a 10, respectivamente) que compõem o processo de fabricação de sapatas diamantadas. Todos os processos necessários para a fabricação da sapata serão efetuados no galpão da ABRASDI, apresentado na Figura 1. Esse galpão é dividido em duas partes, a primeira consiste em uma partição com escritórios, laboratório de preparação da mistura, áreas de estoque e banheiro. A segunda parte do galpão consiste na área das máquinas, possuindo sinterizadora, máquina de brazagem (não utilizada na fabricação de sapatas), retífica e tensionadora (não utilizada na fabricação de sapatas), além de algumas mesas e bancadas, onde são feitos os processos de preparação do molde, limpeza e desmolde, entre outros. Figura 1 - Espaço físico da ABRASDI A matéria-prima para produção da ferramenta consiste em pó de diamante e liga metálica inorgânica. O processo inicia-se no laboratório, onde as porções desses materiais são misturadas e pesadas por um operador utilizando uma máquina específica (F1). Após esse processo, o mesmo operador será responsável por fazer inspeção da mistura (F2). Nesse ponto, estima-se que 3% da mistura não está homogênea o suficiente e, nesse caso, será retirada e voltará para a etapa F1, para que a mistura seja refeita. Após fazer a inspeção, um operador fará o transporte do material para a mesa de molde, onde se dará início à preparação do molde (F3) para sinterização, etapa em que serão preenchidos pequenos moldes com a mistura para que sejam submetidos à sinterização. A sinterização (F4) consiste em um processo de compactação da mistura através de tratamento térmico, em que a mistura passará por transformação e se tornará material cerâmico. Depois de sinterizado, o molde segue para a bancada de desmolde, onde será submetido a um material desmoldante, além de passar por secagem, desmolde e pré-limpeza. Esses processos serão feitos pelo mesmo operador simultaneamente, motivo pelo qual foram agrupados em uma só etapa (F5). Nessa etapa, separa-se o molde da sapata, que segue no processo para ser submetida aos acabamentos, enquanto o molde volta para o processo F3 para ser reutilizado. A próxima etapa (F6) consiste em uma inspeção que verificará a qualidade da ferramenta criada, e 3% dessa é considerada defeituosa e descartada nesse momento. As sapatas consideradas de boa qualidade (97%) seguem no processo, sendo cada uma delas colada em um suporte (F7) e, então, levada à retífica para que seja submetida ao processo de retificação (F8). Após a retificação, a ferramenta passa por uma pintura (F9) para, então, ser submetida ao último processo necessário, a embalagem (F10), que é feita por outro operador destinado unicamente a essa função. Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013. 283

Simulação computacional para análise do sistema de fabricação de sapatas diamantadas um estudo de caso 3. Modelo conceitual Segundo Brooks e Robinson (2001), um modelo conceitual é a descrição do modelo que se deseja construir, não dependendo da ferramenta de simulação que se deseja utilizar. Um modelo conceitual, além de servir como documentação do modelo real, pode auxiliar na elaboração do modelo computacional, agilizando seu processo e definindo os pontos de coleta de informações (LEAL et al., 2008). Visando melhorar a descrição e entendimento dos processos da produção de sapatas diamantadas, foi criado um modelo conceitual com base no padrão IDEF-SIM, proposto por Leal et al. (2008). O modelo criado é apresentado no Anexo A. Para complementar o modelo conceitual, o Anexo A contém uma tabela em que se descrevem todas as informações contidas nesse modelo. Essa tabela apresenta cada processo, juntamente com seus tempos estimados e quantidade de recursos necessários, além de descrever os devidos recursos, seus movimentos e as entidades apresentadas no modelo conceitual. 4. Descrição do modelo de simulação Conforme citado, o modelo de simulação proposto neste trabalho foi desenvolvido com base na metodologia apresentada por Freitas Filho (2009). Nele, o modelo conceitual descrito na seção 3 deste trabalho foi traduzido para o software Arena 12, possibilitando que as simulações computacionais sejam de fato realizadas. A empresa a ser simulada está em fase de incubação e não começou a produzir em escala industrial. Esse fator possibilita que vários cenários sejam simulados para que o melhor cenário encontrado seja implantado, e esse procedimento permite identificar problemas e oportunidades de melhoria no processo antes do início das linhas de produção. Contudo, devido ao fato de as linhas de produção não estarem implantadas, não foi possível coletar os tempos reais dos processos. Por esse motivo, os tempos foram estimados pelos responsáveis pela idealização, planejamento e implantação da ABRASDI, devido à vasta experiência na produção de diamante e de ferramentas diamantadas possuídas por eles. Os tempos estimados para cada processo estão apresentados na Tabela 1, em que é possível notar que, nesse processo, não existem distribuições estatísticas. Dessa forma, não se pode classificá-lo como modelo estocástico clássico, tampouco determinístico. No entanto, o conjunto de regras que interagem entre si, compondo o funcionamento do sistema, torna esse conjunto um modelo dinâmico complexo (RANGEL et al., 2009; BANKS et al., 2010), com variáveis dependentes, tornando-se, assim, necessário o emprego de simulação de eventos discretos para sua análise e avaliação. Antes de realizar a simulação do processo, foi necessário validar e verificar o modelo (CARSON, 2004; CHWIF; MEDINA, 2006). Essas etapas foram efetuadas com base na metodologia apresentada por Sargent (2007). Com o intuito de facilitar a verificação do modelo, todos os processos e movimentações tiveram seus tempos alterados para o valor de um segundo, sendo essa mudança feita para facilitar sua análise e verificar se o modelo estava condizente com o sistema a que se propõe simular. Após essa alteração, o modelo foi executado passo a passo e os eventos, analisados em relação ao tempo, identificando se havia coerência entre o modelo de simulação, o modelo físico e o modelo conceitual. Todavia, para aumentar a confiabilidade da verificação, uma tabela foi criada, na qual foram cadastradas todas as informações dos processos consideradas necessárias, entidades e recursos que o modelo de simulação possibilitou, viabilizando, assim, uma análise mais apurada. Essa tabela serviu para confirmar, de fato, que o sistema descrito representava o modelo conceitual e físico. Devido ao fato de não existir sistema real para que seja feita a validação do modelo criado, essa etapa foi realizada pelos idealizadores da empresa ABRASDI. Devido à experiência na referida área, considerou-se suficiente a verificação feita por essa análise. Tabela 1 - Tempos estimados dos processos Tempos estimados dos processos Processo Tempo Preparação da mistura e pesagem (min) 30 Inspeção da mistura 10 Sinterização 15 Secagem, desmolde e pré-limpeza 15 Inspeção 10 Colar no suporte 2 Retífica 2 Pintura 5 Embalagem 3 284 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013.

Eglon Rhuan Salazar Guimarães, João José de Assis Rangel e Ana Lúcia Diegues Skury Os parâmetros de entrada do modelo (chegada) foram as porções de diamante e liga metálica, porções essas que chegam juntas e na mesma proporção. Há também a entidade- molde, que chega diretamente na mesa de molde, onde aguarda a chegada da porção da mistura (liga metálica + diamante), para que possa prosseguir. Após a entrada das entidades, estas circulam por todas as etapas de produção da ferramenta, passando por cada processo, aguardando o tempo necessário (Tabela 1) e sofrendo as alterações de entidade, conforme apresentado no modelo conceitual (vide Anexo A) para, então, chegar ao final do processo, momento no qual a entidade já foi transformada em sapata pronta para a comercialização. Este trabalho visa identificar a capacidade de produção de sapatas diamantadas, tendo em conta as possíveis variações de quantidade de operadores e de máquinas, avaliando-se a quantidade ideal de cada recurso. O projeto experimental ainda não está totalmente concluído e possui alguns resultados preliminares, que são apresentados na seção 5. 5. Projeto experimental e análise dos resultados A experimentação realizada neste trabalho foi baseada na estratégia de simulações computacionais do tipo Projeto Fatorial 2k descrita por Freitas Filho (2008). Nessa estratégia, altera-se um dos dois níveis de um fator (k) por vez, mantendo os demais fixos. Os experimentos são iniciados com uma configuração típica (a mesma utilizada na validação do modelo), para todos os fatores, depois se alteram os níveis de um fator por vez, nos experimentos sucessivos. Antes, todavia, de efetuar os experimentos com os cenários considerados possíveis, considerou-se necessária a realização de testes com o mesmo cenário, alterando o número de replicações. Esse procedimento se justifica pela necessidade de identificar a quantidade ideal de replicações a executar, e essa quantidade pode ser identificada quando a média do número de sapatas produzidas nas replicações começa a convergir, ou seja, quando os resultados obtidos através do cenário, variando o número de replicações, começam a apresentar valores aproximados. Os resultados começaram a apresentar convergência quando executados em 20 replicações. Dessa forma, o valor adotado em todos os testes foi de 20 replicações. Após identificar o número de replicações necessárias, foi realizado um experimento para verificar a quantidade ideal de operadores no processo. Esse experimento foi efetuado utilizandose oito níveis e um fator, tornando-o linear, pois a única variação necessária para essa verificação é a variação de operadores. Na Tabela 2, apresentam-se os cenários que foram utilizados nas simulações computacionais, resultando em um total de oito cenários. Todos os experimentos executados neste trabalho foram efetuados em uma máquina com processador semprom 2800+ 1.61 GHz e 1 GB de memória RAM. O modelo foi ajustado para rodar durante 8 h de trabalho, com simulação de um dia de produção, executando-se 20 replicações em cada cenário. Conforme citado, os resultados são preliminares, e os testes foram realizados considerando o processo de produção de sapatas até o processo de inspeção (F5), excluindo-se os outros processos. Tabela 2 - Descrição dos cenários simulados no primeiro experimento Fatores Cenários Num. de operadores 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 8 8 A Figura 2 ilustra um gráfico com os resultados obtidos pelas simulações computacionais, adotando-se os valores de um a oito operadores para os respectivos níveis. Como variável de resposta foi definida a quantidade de sapatas produzidas. O eixo y do gráfico (vertical) representa a capacidade de produção, e o eixo x (horizontal) mostra a quantidade de operadores definida para o devido nível. Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013. 285

Simulação computacional para análise do sistema de fabricação de sapatas diamantadas um estudo de caso Tabela 3 - Descrição dos cenários utilizados no segundo experimento Fatores Cenários Num. operadores Num. de 1 Nível 1 máquinas Nível 1 2 Nível 1 Nível 2 3 Nível 2 Nível 1 4 Nível 2 Nível 2 Figura 2 - Gráfico com os resultados do primeiro experimento É possível notar que a quantidade ideal de operadores necessários para a fabricação das sapatas é em torno de 3 e 4. Operando com somente um operador, a capacidade de produção é de 18 sapatas por dia. Porém, adicionando um operador, a capacidade é dobrada e, caso seja possível adicionar mais um operador, chega a três deles, e a capacidade aumenta novamente em 47,22%. Aumentando de três para quatro operadores, ainda obtém-se um ganho, porém este não é muito expressivo, representando apenas 1,89%. Contudo, a viabilidade da contratação ou não de mais um operador depende da necessidade da empresa, uma vez visto que pequeno aumento na produção pode trazer ganho considerável para a companhia, garantindo o cumprimento de algum contrato ou pedido. Um segundo experimento foi realizado para identificar o impacto que poderia causar a variação da quantidade das máquinas. A máquina escolhida para ser analisada foi a misturadora, devido à demora exigida no processo de mistura (30 min) e ao preço da máquina, que é menor que o das demais. Variando a quantidade de operadores entre três e quatro e a quantidade de misturadores entre uma e duas, obtém-se um experimento com dois níveis e dois fatores, resultando em um total de quatro cenários. Na Tabela 2, apresentam-se os cenários que foram utilizados nas simulações computacionais para o segundo experimento, no qual o modelo também foi ajustado para rodar durante 8 h de trabalho, simulando um dia de produção. A Figura 3 contém um gráfico com os resultados obtidos pelas simulações computacionais no segundo experimento. Neste foram adotados os valores de 3 e 4 para os níveis do fator número de operadores e os valores de um e dois para os níveis do fator número de máquinas. Como variável de resposta, também foi definida a quantidade de sapatas produzidas. O eixo y desse gráfico (vertical) representa a capacidade de produção, e o eixo x (horizontal) exibe a quantidade de máquinas definida para o devido nível. A quantidade de operadores é representada pelas séries do gráfico, conforme legenda. Figura 3 - Gráfico com os resultados do segundo experimento Com base nos valores apresentados na Figura 3, nota-se que a quantidade de mistuadoras influencia diretamente na capacidade de produção. Contudo, quando se aumenta para duas misturadoras mantendo três operadores, o aumento é pouco representativo (3,57%), pois a máquina fica sem operador. Mas, aumentando a quantidade de máquinas para duas e a quantidade de operadores para quatro, obtém-se um ganho de 33,96% em relação ao cenário de uma misturadora e três 286 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013.

Eglon Rhuan Salazar Guimarães, João José de Assis Rangel e Ana Lúcia Diegues Skury operadores, chegando à capacidade de produção de 71 sapatas diamantadas por dia. ainda, à Direção da empresa ABRASDI, pelos dados e pelas sugestões. 7. Referências 5. Considerações finais O potencial de produção de rochas ornamentais possuído pelo Estado do Rio de Janeiro, juntamente com a carência que o Brasil possui de ferramentas de suporte a esse tipo de segmento, torna visível um potencial nicho de mercado na área. Essa oportunidade alavancou a idealização da empresa ABRASDI. Este trabalho implementa técnicas de Simulação Computacional a um processo consideravelmente novo no Brasil, auxiliando a tomada de decisão para a criação da primeira empresa nacional dedicada à fabricação de ferramentas diamantadas. A importância deste trabalho se reforça pelo fato de não existir no Brasil outra empresa de fabricação de ferramentas diamantadas para que se possam identificar parâmetros de análise. Desse modo, o modelo de simulação propõe-se a apresentar diversas informações consideradas importantes para a análise do seu processo. Este artigo apresentou um modelo de simulação para auxiliar a tomada de decisão em relação ao número de operários e de máquinas necessários para o funcionamento da empresa. Os resultados indicam alguns cenários que podem ser considerados ideais, a depender de sua necessidade, indicando que ganhos consideráveis podem ser obtidos com algumas mudanças nos parâmetros. Conforme citado, este trabalho apresenta resultados preliminares do projeto. Como trabalhos futuros, propõe-se a execução do modelo em outros cenários, analisando alterações no leiaute das máquinas, lead time do processo e, possivelmente, estimando custos de produção. BANKS, Jerry; CARSON, John, S.; NELSON, Barry, L.; NICOL, David M. Discrete-event system simulation. 5nd ed. New Jersey: Prentice Hall, 2010. BROOKS, R. J.; ROBINSON, S. Simulation, with inventory control, operational research series. Basigstoke: Palgrave, 2001. CARSON II, J. S. Introduction to modeling and simulation. In: THE WINTER SIMULATION CONFERENTE, 2004, Marietta. Proceedings Marietta, USA, 2004. p. 9-16. Available: <http://www.wintersim.org>. CHWIF, L.; MEDINA, A. C. Modelagem e simulação de eventos discretos, teoria e aplicações. Bravarte, 2006. FREITAS FILHO, Paulo José de. Introdução a modelagem e simulação de sistemas. 2. ed. São Paulo: Visual, 2008. 372 p. KELTON, W. D.; SADOWSKI, R. P.; STURROCK, D. T. Simulation with arena. 4nd ed. New York: MacGraw-Hill, 2007. LEAL, F.; ALMEIDA, D. A.; MONTEVECHI, J. A. B. Uma proposta de técnica de modelagem conceitual para a simulação através de elementos do IDEF, XL SBPO, 2008. RANGEL, J. J. A.; AZEVEDO, L. R.; CUNHA, A. P.; VIANNA, D. S. Modelo de simulação para análise do frete e lead time no transporte de cana-de-açúcar fornecida para uma usina. 2009. SARGENT, R. G. Verifications and validation of simulations models. In: Winter simulation conference. Miami, USA, 2007. p. 124-137. ZEPEDA, V. Novos produtos deverão impulsionar setor de rochas ornamentais no Estado. Boletim FAPERJ. Disponível em: <http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=5886>. Acesso em: 30 out. 2009. 6. Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), pelo suporte financeiro a esta pesquisa; Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013. 287

Simulação computacional para análise do sistema de fabricação de sapatas diamantadas um estudo de caso Anexo A Modelo conceitual do processo de produção de sapatas diamantadas e tabela de descrição dos elementos 288 Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013.

Eglon Rhuan Salazar Guimarães, João José de Assis Rangel e Ana Lúcia Diegues Skury Código Descrição Tempo e quantidade F1 Preparação da mistura e pesagem tempo: 30 min (um operador 1 e 1 misturadora) F2 Inspeção da mistura Tempo: 10s (um opeador 1) F3 Preparar e preencher o molde Tempo: 2 min (um operador 1) F4 Sinterização Tempo: 15 min (um operador 3 e uma sinterizadora) F5 Secagem, desmolde, passar desmoldante e pré-limpeza Tempo: 15 min (um operador 3) F6 Inspeção Tempo: 10s (um operador 4) F7 Colar no suporte Tempo: 2 min (um operador 4) F8 Retífica Tempo: 2 min (um operador 5 e uma retífica) F9 Pintura Tempo: 5 min (um operador 6) F10 Embalagem Tempo: 3 min (um operador 7) R1 Operador 1 Quantidade: 1 MA1 Misturadora Quantidade: 1 R2 Operador 2 Quantidade: 1 R3 Operador 3 Quantidade: 1 MA2 Sinterizadora Quantidade: 1 R4 Operador 4 Quantidade: 1 R5 Operador 5 Quantidade: 1 R6 Operador 6 Quantidade: 1 MA3 Retífica Quantidade: 1 R7 Operador 7 Quantidade: 1 E1 E2 E3 E4 E5 Diamante Liga metálica inorgânica Mistura Molde Sapata M1 Movimentação do laboratório para a mesa de molde Dist. Indefinida (um operador 1) M2 Movimentação da mesa de molde para a sinterizadora Dist. Indefinida (um operador 3) M3 Movimentação da sinterizadora para a mesa de limpeza Dist. Indefinida (um operador 3) M4 Movimentação da mesa de limpeza para a retífica Dist. Indefinida (um operador 5) M5 Movimentação da retífica para a mesa de pintura Dist. Indefinida (um operador 5) M6 Movimentação da mesa de pintura para a mesa de embalagem Dist. Indefinida (um operador 6) Artigo selecionado entre os 10 melhores do VI Encontro Mineiro de Engenharia de Produção - EMEPRO 2010. Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 281-289, Jan./Jun. 2013. 289