Ano XVIII boletim 14 - Agosto de 2008. Mudanças ambientais globais



Documentos relacionados
Mudanças Ambientais Globais

PASSO A PASSO PARA FAZER A CONFERÊNCIA NA ESCOLA*

introdução Trecho final da Carta da Terra 1. O projeto contou com a colaboração da Rede Nossa São Paulo e Instituto de Fomento à Tecnologia do

EDUCAÇÃO EM SAÚDE AMBIENTAL:

COMO FAZER A TRANSIÇÃO

PROJETO MEIO AMBIENTE NA SALA DE AULA

PROJETO MEIO AMBIENTE NA SALA DE AULA

11 de maio de Análise do uso dos Resultados _ Proposta Técnica

1.3. Planejamento: concepções

CURSOS PRECISAM PREPARAR PARA A DOCÊNCIA

SUA ESCOLA, NOSSA ESCOLA PROGRAMA SÍNTESE: NOVAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA

P.42 Programa de Educação Ambiental - PEA Capacitação professores JUNHO 2013 Módulo EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Entusiasmo diante da vida Uma história de fé e dedicação aos jovens

VAMOS CUIDAR DO BRASIL COM AS ESCOLAS FORMANDO COM-VIDA CONSTRUINDO AGENDA 21AMBIENTAL NA ESCOLA

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

PLANTANDO NOVAS SEMENTES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

TRANSVERSALIDADE. 1 Educação Ambiental

Política de Sustentabilidade das empresas Eletrobras

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

Com-Vida. Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida

AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO-CURRICULAR, ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E DOS PLANOS DE ENSINO 1

JUQUERIQUERÊ. Palavras-chave Rios, recursos hídricos, meio-ambiente, poluição, questão indígena.

PRODUTO FINAL ASSOCIADA A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

AS NOVAS DIRETRIZES PARA O ENSINO MÉDIO E SUA RELAÇÃO COM O CURRÍCULO E COM O ENEM

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

5 Considerações finais

GUIA DE SUGESTÕES DE AÇÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

REGULAMENTO NÚCLEO DE APOIO PEDAGÓGICO/PSICOPEDAGÓGICO NAP/NAPP. Do Núcleo de Apoio Pedagógico/Psicopedagógico

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

(Publicada no D.O.U em 30/07/2009)

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (OBMEP): EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS A PARTIR DO PIBID UEPB MONTEIRO

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Nesta IV edição o Encontro nacional de Juventude e Meio Ambiente vêm contribuir,

SUGESTÕES PARA ARTICULAÇÃO ENTRE O MESTRADO EM DIREITO E A GRADUAÇÃO

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

A Sustentabilidade e a Inovação na formação dos Engenheiros Brasileiros. Prof.Dr. Marco Antônio Dias CEETEPS

7º ano - Criação e percepção - de si, do outro e do mundo

Descrição e regras e dinâmica do jogo Unidos para produzir um lugar saudável - PDTSP TEIAS

O papel educativo do gestor de comunicação no ambiente das organizações

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

Ideal Qualificação Profissional

Projeto Escola com Celular

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA APROPRIAÇÃO DE PROBLEMAS AMBIENTAIS LOCAIS COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM CAMPINA GRANDE-PB.

5ª SÉRIE/6º ANO - ENSINO FUNDAMENTAL UM MUNDO MELHOR PARA TODOS

Termo de Referência nº Antecedentes

MATRIZES CURRICULARES MUNICIPAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA - MATEMÁTICA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA EM MOGI DAS CRUZES

Dados do Ensino Médio

O papel do CRM no sucesso comercial

Apesar de colocar-se no campo das Engenharias, profissional destaca-se, também, pelo aprimoramento das relações pessoais

Tecnologia sociais entrevista com Larissa Barros (RTS)

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

Meio ambiente conforme o Dicionário Aurélio é aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas.

A árvore das árvores

ATUAÇÃO DO PIBID NA ESCOLA: (RE) DESCOBRINDO AS PRÁTICAS LÚDICAS E INTERDISCIPLINARES NO ENSINO FUNDAMENTAL

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

Aula 19 Conteúdo O homem e o meio ambiente. Principais problemas ambientais do mundo.

Orientações para informação das turmas do Programa Mais Educação/Ensino Médio Inovador

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Aline de Souza Santiago (Bolsista PIBIC-UFPI), Denis Barros de Carvalho (Orientador, Departamento de Fundamentos da Educação/UFPI).

Profª. Maria Ivone Grilo

Educação para a Cidadania linhas orientadoras

Pós-Graduação em Gerenciamento de Projetos práticas do PMI

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PERMEIA MUDANÇAS DE ATITUDES NA SOCIEDADE

educação ambiental: estamos caminhando... EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ESTAMOS CAMINHANDO...

INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS E A RECONSTRUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Elaboração de Projetos

Processo de Implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade

CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL COM BASE NOS PARÂMETROS CURRICULARES DO ESTADO DE PERNAMBUCO

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

FACEMA SUSTENTÁVEL: Incorporação de educação ambiental na IES: Pedro Augusto da Silva Soares

ESCOLA MUNICIPAL DE PERÍODO INTEGRAL IRMÃ MARIA TAMBOSI

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

A PRÁTICA DE ENSINO EM QUÍMICA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE COMO TEMA TRANSVERSAL

Educação bilíngüe intercultural entre povos indígenas brasileiros

Ministério da Educação. Primavera Atualização do Redesenho do Currículo

Gestão da Informação e do Conhecimento

MARINHA DO BRASIL CAPITANIA DOS PORTOS DO RN O NOSSO LIXO, O QUE FAZER?

O futuro da educação já começou

Resumo. O caminho da sustentabilidade

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

Palavras Chaves: material didático, cartografia, bacias hidrográficas, lugar.

Comemoração da 1ª semana de Meio Ambiente do Município de Chuvisca/RS

Educação a distância: desafios e descobertas

PLANO DE AÇÃO FÓRUM DO MUNICÍPIO QUE EDUCA

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

Caderno do aluno UM POR BIMESTRE: teoria, exercícios de classe, as tarefas de casa atividades complementares.

ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, COM A UTILIZAÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA.

Política de Sustentabilidade das Empresas Eletrobras

ESCOLA ESTADUAL JOAQUIM GONÇALVES LEDO

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Transcrição:

Ano XVIII boletim 14 - Agosto de 2008 Mudanças ambientais globais

SUMÁRIO Mudanças ambientais globais PROPOSTA PEDAGÓGICA... 03 Silvia Czapski Colaboração: Ananda Zinni Vicentini PGM 1 - A Conferência - Reflexões para o trabalho na escola... 18 Silvia Czapski (texto feito a partir da entrevista com as professoras Eda Tassara, Vanessa Louise Batista, e Solange Rocha) PGM 2 - O AR - Chaves para um uso diferenciado... 28 Silvia Czapski (texto feito a partir da entrevista com a professora Martha Tristão) PGM 3 - A ÁGUA - Caminhos da mobilização... 36 Silvia Czapski (texto feito a partir da entrevista com professora Deise Keller Cavalcante) PGM 4 - O FOGO - Caminhos da criatividade... 41 Silvia Czapski (texto feito a partir da entrevista com a consultora Silvia Pompéia) PGM 5 - A TERRA - Trabalhando a diversidade... 50 Silvia Czapski (texto feito a partir da entrevista com professora Leonor Franco de Araújo) MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 2

PROPOSTA PEDAGÓGICA MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS Silvia Czapski 1 Colaboração: Ananda Zinni Vicentini 2 Introdução REFLEXÕES E DESAFIOS Sabemos que o meio ambiente não pode ser reduzido a preocupações com a ecologia uma área das ciências biológicas ou com a natureza. Os seres humanos nem sabem mais o que é natureza, pois o meio ambiente já está tão completamente penetrado e reordenado pela vida sociocultural humana, que nada mais pode ser chamado, com certeza, de apenas natural ou social. A natureza se transformou em áreas de ação nas quais precisamos tomar decisões políticas, práticas e éticas 3. Enfrentamos agora uma crise ambiental nunca vista na história, que se deve à enormidade de nossos poderes humanos. Pois tudo o que fazemos tem efeitos colaterais e conseqüências não antecipadas que, diante dos poderes que possuímos atualmente, tornam inadequadas as ferramentas éticas que herdamos do passado. Um filósofo contemporâneo, Hans Jonas, descreveu com uma simplicidade contundente a crise ética de profundas incertezas em que nos achamos: Nunca houve tanto poder ligado com tão pouca orientação para seu uso. Pois é, tecnologias altamente impactantes nos chegam sem manual de instruções ou bula. A Educação Ambiental assume, assim, a sua parte no enfrentamento dessa crise, radicalizando seu compromisso com mudanças de valores, comportamentos, sentimentos e atitudes, que deve se realizar junto à totalidade dos habitantes de cada base territorial, de forma permanente, continuada e para todos. Uma educação que se propõe a fomentar processos continuados, de forma a possibilitar o respeito à diversidade biológica, cultural, étnica, MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 3

juntamente com o fortalecimento da resistência da sociedade a um modelo devastador das relações de seres humanos entre si e destes com o meio ambiente. Encontramo-nos hoje diante de um duplo desafio: um planetário, relacionado à difícil tarefa de enfrentamento das mudanças ambientais globais; o outro, educacional, visa contribuir para a educação integral, que resgate uma função social da escola quase escondida: propiciar um ambiente de aprendizagem criativo e transformador, que dê gosto permanecer na escola. No que se refere ao desafio planetário, sentimos em nosso cotidiano uma urgente necessidade de mudanças radicais para superarmos as injustiças ambientais, a desigualdade social, a apropriação da natureza e da própria humanidade como objetos de exploração e consumo. Vivemos em uma sociedade de risco 4, com efeitos que muitas vezes escapam à nossa capacidade de percepção direta, mas aumentam consideravelmente as evidências de que tais efeitos podem atingir não só a vida de quem os produz, mas a de outras pessoas, espécies e até gerações. O desafio da educação integral pode ser enfrentado ao realizar, com planejamento e densidade, os processos de Conferência na Escola, sendo uma forma de ação fundamental para atualizarmos e aprofundarmos debates ambientais tão urgentes. Com o apoio de uma Educação Ambiental crítica, participativa e emancipatória, possibilitamos o empoderamento das comunidades locais e propiciamos também subsídios para o sempre falado, mas tão difícil exercício da transversalidade, da inter e da transdisciplinaridade das questões ambientais no cotidiano da vida escolar. Podemos, assim, gerar uma atitude responsável e comprometida da comunidade escolar com as questões socioambientais locais e globais, bem como enfatizar a melhoria da relação ensino-aprendizagem. Conferência na Escola: pretexto e texto para um bom trabalho Com uma visão de educação integral, a Conferência na Escola permite ampliar tempos, espaços e conteúdos educacionais. Ao distribuir um material didático de apoio a todas as escolas do Ensino Fundamental e realizar a série Mudanças ambientais globais, no programa MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 4

Salto para o Futuro/TV Escola o que permite aprofundar a discussão, propomos também a consecução de outros objetivos mais específicos, mas igualmente importantes, como contribuir para a melhoria do desempenho das escolas participantes com base nos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDEB, incentivar que o Plano Político- Pedagógico de cada escola inclua o conhecimento e o empenho na resolução dos problemas socioambientais, além de fortalecer o papel da escola na construção de políticas públicas de educação e meio ambiente. Na I Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente (em 2003), 16 mil escolas criaram suas propostas sobre como Vamos Cuidar do Brasil juntos, de acordo com o tema e o lema da Conferência. Já na II CNIJMA (2006), as escolas foram instigadas a definir responsabilidades e ações sobre os documentos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, no que se refere às mudanças climáticas, segurança alimentar e nutricional, diversidade etnorracial e biodiversidade. Assim, as comunidades escolares não se limitam a ser meras reprodutoras desses conhecimentos e responsabilidades, mas acima de tudo se tornam produtoras. É assim também, e de forma ainda mais radical (no sentido etimológico de raiz), na terceira Conferência, cujo processo inicia-se em 2008, para culminar em 2009. A constatação da crise ambiental pode representar uma oportunidade positiva para implantar novos modelos de desenvolvimento, outras sociedades possíveis, mais felizes e saudáveis. Vamos cuidar do Brasil com as escolas! Mudanças ambientais globais Mudanças ambientais globais 5, uma temática desafiadora para a sociedade e as escolas, é debatida em uma perspectiva sistêmica e integrada, com abordagens das Ciências Naturais, Ciências Humanas (História, Geografia), Matemática e Linguagens. Nessa série, assim como também ocorre na publicação Mudanças Ambientais Globais pensar + agir na escola e na comunidade, essa ampla temática foi dividida em temas MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 5

relacionados aos quatro elementos da natureza água, ar, terra e fogo em sua abordagem ambiental, retomando conceitos da filosofia ocidental, desde os pré-socráticos até hoje, como também olhares da literatura e das artes plásticas. Cada tema pode ser trabalhado em duas dimensões: 1) por um lado, tem-se a biosfera, a atmosfera, a hidrosfera, a energia e a mobilidade vistas como bases de sustentação da vida e das sociedades humanas no Planeta; e 2) por outro lado, a intervenção da tecnosfera, de tecnologias de produção e consumo desvinculadas de uma ética voltada para a sustentabilidade socioambiental e que, dessa forma, resultam na destruição da qualidade de vida planetária. Esses temas, já bastante difundidos pela mídia, geralmente são tratados de forma descontextualizada de seus processos históricos, com fortes componentes de sensacionalismo e catástrofe, e muitas vezes confundem e reduzem a potência de ação das pessoas, chegando a amedrontar crianças e adultos. O grande desafio é falar de uma maneira clara e objetiva, e na linguagem infanto-juvenil, sobre a complexidade da matéria. De um jeito simples, porém não simplista. Na produção do já mencionado material didático de apoio, pedimos ajuda a especialistas 5 em cada tema, professores, cientistas, técnicos e gestores, que trabalharam diretamente nos textos. Todos eles enfatizaram a importância de abordarmos essas questões partindo dos ciclos do Planeta, já que a natureza trabalha em ciclos nada se perde, tudo se transforma. Assim, a temática, que praticamente se impõe a nós pela sua emergência, bem como os demais temas tratados, são relacionados de maneira didática aos quatro elementos e ciclos do Planeta, vinculando-se, ainda, aos problemas contemporâneos que afetam os sistemas naturais e as populações humanas. Entre os subtemas estão: a atmosfera e as mudanças climáticas; a biodiversidade e a questão da homogeneização, das queimadas e desmatamento; água e o MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 6

problema da escassez, da poluição e da desertificação; energia e mobilidade, com a questão do modelo energético atual e dos transportes. Cada capítulo, portanto, se propõe a tratar o tema referindo-se a dois ciclos: a) Um ciclo que podemos chamar de ciclo original, que se processa há milhões de anos e se recicla em um movimento ininterrupto, resultando assim nas condições específicas que permitiram a existência da vida na Terra. Nesse ciclo, aborda-se o fenômeno natural, sempre incluindo os seres humanos em sociedade, até a chegada da Revolução Industrial. Trata-se de um longo período em que a concentração da população nas cidades ainda era baixa, a industrialização apoiava-se em tecnologias mais brandas, que não prejudicam a capacidade do Planeta de se regenerar. Todo o lixo gerado tanto no ar como na água ou no solo reintegrava-se sem causar impactos irreversíveis. Bens essenciais para a vida sempre foram partilhados por todos os seres vivos, pois, ciclicamente, as moléculas de elementos por exemplo, o oxigênio que respiramos e a água que bebemos já foram compartilhadas milhões de vezes entre todos os seres que aqui vivem e viveram. Animais, excrementos, folhas e todo tipo de material orgânico morto se decompõem com a ação de milhões de microrganismos decompositores, como bactérias, fungos, vermes e outros, disponibilizando os nutrientes que vão alimentar outras formas de vida. Assim, tudo é integrado: o que cada um, o que cada povo faz com o ar, a água e a terra tudo é importante para os demais. b) Um ciclo que podemos chamar de ciclo impactado pelos seres humanos. Adotamos a II Guerra Mundial (meados do século 20) como um marco do rompimento da sociedade industrial moderna com os ciclos originais da natureza, ultrapassando a capacidade regenerativa dos sistemas naturais. Verificamos que, a partir desse momento, a escala de tempo mudou bruscamente, e as mudanças vêm ocorrendo no intervalo de décadas, não mais de milênios. MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 7

Desde a Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças no Clima, durante a Conferência Rio-92, realizada pela ONU no Rio de Janeiro, em 1992, a comunidade internacional reconheceu que a temperatura no Planeta teve um aumento considerável provocado pelas atividades produtivas humanas. Mais recentemente, em fevereiro de 2007, o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas IPCC da ONU confirmou o crescente aquecimento global e reafirmou que há 90% de certeza de que o efeito estufa seja provocado por atividade humana. Em grande parte, isso se deve à inserção histórica de uma lógica capitalista e de mercado, na qual a produção deixou de ser uma resposta a necessidades básicas e reais da humanidade. Grande parte da ciência e da tecnologia passou a constituir uma forma de os grupos que detêm os meios de produção, incluindo o capital financeiro, acumularem riqueza por meio da indução artificial de demandas. Para concentrarem renda, estimulam o consumo crescente de bens que podem produzir e vender, mesmo que para isso seja necessário esgotar a terra, poluir a água, acabar com as nascentes, destruir a biodiversidade, envenenar o ar e provocar mudanças no ambiente que afetam os ciclos da vida. Quando a mídia aborda as mudanças climáticas, comentando os aumentos de picos de temperatura, do clima, das chuvas e dos ventos, entre tantas alterações, na realidade se refere às conseqüências nos ciclos vitais em especial o da atmosfera que geram amplas mudanças ambientais globais. Tais alterações interferem na sobrevivência das espécies, pois podem inviabilizar algumas delas e favorecer outras. Isso seria o processo natural da evolução, não fosse a extrema rapidez com que se processam essas mudanças, diferentemente do que ocorre na natureza. Assim, a humanidade está provocando mudanças tão repentinas que não há condições para a adaptação das espécies, e várias delas tendem a desaparecer. Certamente, esses impactos não foram feitos de propósito, de forma premeditada, mas agora que temos esse conhecimento, se não forem mudados os rumos, pode-se entender que participamos de uma destruição deliberada. MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 8

Temos alternativas e saídas? Se nós, seres humanos, fazemos parte de um sistema construído historicamente, com os valores e atitudes adotados pelas últimas duas gerações, e provocamos graves mudanças no Planeta, será que conseguiremos achar uma saída? Todos esses temas estão relacionados entre si e baseados, no fundo, em valores que geram uma determinada concepção de mundo, de vida, de felicidade, de sociedade. Nesse modelo de sociedade valoriza-se muito a realização pessoal, pelo fato de se ter conforto, poder, status. Para isso, é preciso possuir e acumular bens, ocupar uma posição de mando, acima dos outros. Como os bens são finitos e as posições sociais são relativas, a sociedade se estrutura de forma hierarquizada. Tudo se passa como se as principais condições para a felicidade fossem escassas: somente alguns, considerados ganhadores, conseguem alcançá-las; os demais, vistos como perdedores, vão ficando sem elas. Essa visão estimula a competição, a violência, o medo da escassez, a necessidade de acumular mais, enfatizando a produção e o consumo de bens materiais, mesmo os mais desnecessários. Além da relação entre os temas, o livro citado aborda também, em cada capítulo, algumas ações e medidas sustentáveis como políticas mitigadoras, adaptativas, preventivas e transformadoras; formas de conviver e reverter alguns impactos ambientais, enfatizando que não se trata de uma questão a ser discutida daqui a 30, 40 ou 50 anos, mas no momento atual, em todos os âmbitos. Em outras palavras, vamos descobrir, mostrar, propor alternativas de mitigação, feitas por governos, empresas e outros setores, de adaptação às novas condições da humanidade com o Planeta e, principalmente, aquelas educadoras, tanto para prevenir, como para termos condições de transformar a visão de mundo e as bases socioeconômicas, que geraram e estão aprofundando as condições adversas. Não é somente uma questão de reduzir os impactos, de mitigar ou minorar os estragos, de reduzir a produção do lixo, de cobrar pelo uso ou poluição da água, mas de propor uma MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 9

mudança na forma de ver o mundo, a sociedade e os valores que realmente contribuem para a sobrevivência humana com qualidade de vida. Pensar com responsabilidade pelo presente e pelo futuro, não só no curto prazo, mas numa perspectiva que supere a lógica de acumulação insustentável. Essa configuração de sociedade nem sempre foi assim. Não é assim atualmente com os povos originários ou as populações tradicionais que lutam por manter as tradições conservacionistas, e com quem devemos aprender a cuidar do Planeta. Somos parte de um modelo civilizatório, historicamente construído, que não garante sustentabilidade para a vida. Essas constatações levam as pessoas a se questionarem se não seria necessária uma grande revisão desse modelo. Para tal, partimos dos conhecimentos e do debate democrático para construir novos caminhos. A era dos limites A senadora Marina Silva tem afirmado que começou a era dos limites. Segundo ela, as informações sobre clima são dramáticas e para evitar o catastrofismo, que pode paralisar, a competição tem de ser substituída por uma atitude solidária e cooperativa 7. A reeducação vale, inclusive, para países pobres que pensam ter o direito de devastar o meio ambiente só porque os ricos fizeram isso ao longo da história. O conceito de sociedade de risco levanta a questão dos (auto)limites do desenvolvimento e a nossa tarefa é rediscutirmos padrões de responsabilidade, segurança, controle, para reverter as conseqüências dos danos causados pela sociedade industrial moderna para a sociedade e o meio ambiente. Tanto esse livro, como o programa Salto para Futuro sobre a CNIJMA, podem apoiar as escolas a construir, aproveitando diferentes saberes, projetos de pesquisa sobre processos produtivos e de consumo compatíveis com os limites do Planeta, que rompam com o padrão atual e garantam princípios de respeito às pessoas e à natureza. O livro, juntamente com o Passo a passo para a conferência de meio ambiente na escola + educomunicação: mudanças ambientais globais, que o acompanha, aportam um conjunto de instrumentos para MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 10

intervir sobre a realidade, divulgando a informação e mobilizando todas as pessoas a respeito da responsabilidade das comunidades com relação às suas opções. É importante que cada Conferência na Escola se aproprie criticamente de cada frase e cada sugestão do seu variado conteúdo, transmutando-as para as suas atitudes e práticas cotidianas. Produzindo conhecimento na escola Estas atividades tratam de como apoiar a escola em sua tarefa de formar cidadãos e cidadãs com espírito científico, preparados para conhecer e interagir com seu meio. Para que cada escola se torne um centro de produção (não só de reprodução) do conhecimento, com pesquisas em ciências humanas e biológicas, precisamos trilhar alguns caminhos, para os quais sugerimos algumas pistas. Esses caminhos passam pela informação, pelo conhecimento e pelos saberes acumulados. Algumas pistas se encontram nesta publicação Mudanças Ambientais Globais: pensar + agir na escola e na comunidade que propõe subsídios para um trabalho pedagógico inserido em contextos da contemporaneidade. Ele se baseia na práxis da inter e transdisciplinaridade da Educação Ambiental, provocando a reflexão, incentivando o debate, o raciocínio e a capacidade de aprender de forma continuada e permanente. A Educação Ambiental educa com a sociedade, a vida e o Planeta em mente. Quando aprendemos a reconhecer a complexidade da vida, passamos a respeitar, preservar e conservar. Precisamos conhecer nossa realidade para poder realizar nossos sonhos de qualidade de vida e construir a nossa felicidade. Cada escola pode ser, e algumas vezes já é, um local de pesquisas do mundo, partindo e voltando para seu cotidiano e sua própria realidade. MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 11

O professor e a professora não precisam somente reproduzir o saber acadêmico, mas podem e devem também produzir conhecimentos e realizar pesquisas sobre nossos sistemas naturais, tão ricos em beleza e diversidade de espécies, bem como sobre as culturas humanas com as quais os seres humanos convivem, muitas vezes de forma respeitosa e integrada, outra vezes modificando e destruindo sem limites, principalmente ao longo das últimas décadas. Fazer pesquisas sobre o meio ambiente, de maneira inovadora, questionando, dialogando, propondo alternativas, não é um bicho-de-sete-cabeças. É uma questão de atitude, raciocínio e método. Nesta parte do livro, propomos três tipos de atividades que podem ser adaptadas e utilizadas na escola com todos os temas. Basta criatividade! Metodologia científica 8 A metodologia de pesquisa científica exige rigor ao descrever o caminho percorrido para a produção dos saberes, de modo que outros possam trilhar percursos semelhantes, comparando com seus próprios resultados e ampliando os conhecimentos existentes sobre o assunto. O que caracteriza a Ciência é seu método. Sendo crítica, ela oferece como metodologia a busca de elementos para o julgamento de verdades. Ao longo da era moderna, o método científico passa a ser aplicado para criticar o que se tem como verdades sobre fatos do mundo, inicialmente do mundo natural, passando, aos poucos, ao mundo social. Muitos pensadores contribuíram para construir uma forma do pensar científico que auxilia na busca de respostas a questões relacionadas ao mundo natural e social. Para descrever os fatos da natureza ou os sociais, devemos partir de uma série de procedimentos de observação criteriosa, ou mediante a experimentação, que é um controle obtido por meio de uma intervenção planejada sobre a ocorrência desses fatos. Se o argumento construído conseguir conjugar adequadamente a descrição desses fatos a experiência com a demonstração lógica da verdade das afirmações sobre os mesmos a MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 12

razão, aceitando que pode haver outras verdades, ou explicações as hipóteses, este será um argumento de prova das afirmações em questão as teses. A pesquisa científica pode estruturar-se em torno de perguntas especulativas: O que é o arcoíris? Ou, então, de grandes perguntas metafísicas: Como se originou o Universo? Ou, ainda, de perguntas aplicadas à solução de problemas práticos da realidade social ou natural: Como resolver o problema da violência urbana? Ou: Como impedir a erosão nos loteamentos? Ou: Como encontrar uma vacina para o vírus da Aids? Nestes últimos casos, trata-se de pesquisa de orientação tecnológica, uma vez que se destina à resolução de problemas técnico-práticos. A exigência é que os conhecimentos que venham a orientar as soluções sejam científicos. No entanto, essas pesquisas não precisam ser desenvolvidas apenas por cientistas em laboratórios sofisticados nas universidades ou centros especializados. É claro que temos muito a aprender com os cientistas, mas sabemos que, em cada local, há pessoas que monitoram muito bem os processos da natureza no cotidiano, aquelas que retratam de maneira encantadora o que as pessoas pensam e falam sobre sua realidade. O conhecimento popular oferece riquezas fundamentais para o conhecimento científico, e a escola se torna um espaço onde podemos fazer os dois dialogarem, comunicando seus achados e contribuindo para o crescimento de todos. A internet, quando disponível, pode ser utilizada para a pesquisa de dados e informações sobre qualquer tema. É uma verdadeira biblioteca universal e democrática, muito rica em informações. Mas, para que ela contribua com o processo educacional, é preciso ter alguns cuidados. Os alunos precisam perceber que não devem copiar tudo indiscriminadamente. Ao contrário, devem tentar avaliar o conteúdo com o olhar crítico de quem sabe que se trata de um meio de comunicação sem um filtro de qualidade. As informações são muitas vezes excelentes. Mas às vezes não são confiáveis. Por isso, é fundamental aprender a selecionar o que interessa, MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 13

adaptar o conteúdo às suas necessidades e informar a fonte das buscas. Dessa maneira, a rede mundial de computadores pode se tornar uma aliada, não uma inimiga da sala de aula. Um por todos e todos pelo conhecimento! Cada aluno e cada aluna dos grupos devem participar de todas as etapas do trabalho. As inquietações, curiosidades e sonhos dos jovens devem ser trabalhados desde a definição da pesquisa, seus caminhos e resultados, até sua apresentação e a avaliação final da atividade. Dessa forma, cada pessoa poderá sentir que está contribuindo individualmente com suas idéias, textos e registros, e o professor, ou professora, terá subsídios para avaliar o desempenho de cada um e cada uma na construção das experiências coletivas. As atividades propostas abaixo pretendem ajudar a produzir o pensamento científico na escola, junto com os jovens, pelo caminho das descobertas e do diálogo com pessoas da região que conhecem seu entorno, com técnicos, com acadêmicos, com pesquisadores e com os livros. A situação de conferência de meio ambiente na escola, ou uma feira de ciências, apresenta momentos especiais para a comunicação dos resultados do trabalho, de modo que mais pessoas possam se enriquecer com esses resultados. Isso trará seriedade e segurança para o grupo, uma oportunidade de experimentar diferentes maneiras de socializar os conteúdos de seu trabalho, além de propiciar intervenções mais consistentes e transformadoras na comunidade. Assim, todas as pesquisas realizadas pela escola devem ser consideradas com grande seriedade, tanto na dimensão de geração de conhecimentos quanto em seu poder de comunicar com outros públicos fora da sala de aula, e até de propor políticas públicas locais que gerem mudanças. Para isso, é essencial divulgar as aprendizagens para a escola como um todo, para MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 14

a comunidade escolar e para os órgãos interessados por meio de diferentes formas de comunicação. Temas para o debate na série Mudanças ambientais globais, que será apresentada no programa Salto para o Futuro/TV Escola (SEED/MEC) de 25 a 29 de agosto de 2008: PGM 1: A CONFERÊNCIA Se nós, seres humanos, provocamos as mudanças ambientais globais, conseguiremos superar os problemas que elas trazem? Com essa premissa, o primeiro programa apresenta reflexões contextualizadas e mostra que a Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente é um bom pretexto para o aprofundamento dos debates. Um histórico das conferências anteriores, discussão sobre as Mudanças Ambientais Globais, e a discussão sobre atividades interessantes que combinadas com a criatividade e a experiência dos professores e professoras podem tornar as aulas mais estimulantes e divertidas, alimentarão as conversas nesse programa. PGM 2: O AR A composição da atmosfera é tão especial que deu ao ar a capacidade de reter o calor dos raios solares na dose certa para haver vida na Terra. Mas agora enfrentamos o perigo do aquecimento global. O que podemos fazer, na escola e na comunidade, com relação a isso? E de que forma essas atividades se enquadram na Conferência na Escola? Além de esmiuçar dados, os debatedores deste segundo programa discutirão o cardápio de ações adaptativas, mitigadoras, preventivas e transformadoras que podem ser pauta das atividades. PGM 3: A ÁGUA MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 15

Pode parecer estranho pedir para encher um copo de água só para observar. Mas é assim que pode começar um mergulho nesse tema, que nos leva a entender como esse precioso líquido está ameaçado por problemas como poluição, desmatamento e, ainda, a relação com o aquecimento global. As informações podem subsidiar debates e ações práticas, na escola e na comunidade, inspirando atividades relacionadas à Conferência na Escola. Essa é a proposta do terceiro programa da série. PGM 4: O FOGO Para as sociedades humanas, o fogo se tornou energia que move a vida, amplia a nossa força, nosso trabalho e facilita nosso movimento. Este quinto programa irá além das explicações sobre fontes, geração e usos da energia, discutidos nos textos de apoio, para debater temas relacionados à mobilidade cada vez mais complexa, sobretudo nas grandes cidades e seus impactos ambientais no decorrer dos séculos. Também serão debatidas formas de trabalhar o tema na escola e na comunidade, para enfrentar as mudanças ambientais globais. PGM 5: A TERRA Em nosso Planeta Vida, convivemos com milhões de espécies que formam conosco uma fascinante teia de vida, ainda insuficientemente conhecida. Neste quarto programa, serão discutidos diversos temas, desde o que significa conviver com uma grande riqueza de espécies vivas no planeta, até as ameaças que pairam sobre elas. Podemos salvar aquelas em risco de extinção? Ao salvá-as, ajudaremos a combater o aquecimento global? Jornalista especializada em temas socioambientais e autora do texto da publicação Mudanças Ambientais Globais: pensar + agir, na escola e na comunidade. Consultora da série. 2 Coordenação Geral de Educação Ambiental do Ministério de Educação. Colaboração na consultoria da série. MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 16

3 BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora Unesp, 1997. 4 Conceito criado por Ulrich Beck, que designa um estágio da modernidade em que começam a tomar corpo as ameaças produzidas no caminho da sociedade industrial. Ibid., p. 17. 5 Sugestão de Carlos Nobre, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Inpe, que nos trouxe essa dimensão abrangente de que as mudanças não devem ser consideradas como somente climáticas, mas ambientais, sistêmicas e complexas. 6 Eda Tassara (Psicologia Social USP); Ayrton Camargo e Silva (Associação Nacional de Transportes Públicos ANTP/SP); Emília Wanda Rutkowski (Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo Unicamp); Flávio Bertin Gândara (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Esalq/USP); Gilvan Sampaio (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos Inpe); João Bosco Senra (Secretaria de Recursos Hídricos MMA); José Domingos Teixeira Vasconcelos (Colégio Vera Cruz SP); José Augusto Rocha Mendes (Secretaria de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras SP); Paulo Artaxo (Instituto de Física USP); Fabíola Zerbini (Instituto Kairós). 7 BARROCAL, André. Carta Maior, 27/04/2007, em uma audiência pública promovida pelas Comissões de Meio Ambiente e da Amazônia da Câmara Federal. 8 Conceituação proposta pela Prof a Eda Terezinha de O. Tassara. CADERNO CONFERÊNCIA NA ESCOLA Reflexões para o trabalho na escola PROGRAMA 1 A CONFERÊNCIA MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 17

Silvia Czapski 1 Texto feito a partir de entrevista com as professoras Eda Tassara 2, Vanessa Louise Batista 3 e Solange Rocha 4 Ao receber a publicação Mudanças Ambientais Globais: pensar + agir na escola e na comunidade cuja produção ela acompanhou desde o início a professora Eda Tassara teve duas percepções aparentemente opostas. De um lado, diz a professora que preside o Instituto Brasileiro de Educação Ciência e Cultura /Unesco (IBECC), Comissão Estadual de São Paulo e é coordenadora do Laboratório de Psicologia Sócio-Ambiental e Intervenção (LAPSI), apesar da densidade das colocações, a leitura da publicação desperta interesse e é bastante fácil de ser realizada. Além disso, ela considera que as informações se entrelaçam de tal forma que, em cada caderno temático, cujo título lembra os quatro elementos da natureza Ar, Água, Terra, Fogo os demais estão presentes. Este é um aspecto da abordagem sistêmica, desejável, mas ainda rara nos materiais didáticos, diz ela. Considerar que as mudanças sofridas pelo planeta não são só climáticas, mas ambientais, sistêmicas e complexas, como o texto deixa entender, é justamente uma proposta da III Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, para a qual o material didático foi idealizado como subsídio, bem como da série sobre o tema no programa Salto para o Futuro 5. Antes de seguir adiante na sua exposição, vale relembrar a estrutura dos cadernos temáticos, bem esquematizada em outra publicação de apoio da mesma Conferência, a cartilha Passo a passo para a conferência de meio ambiente na escola + educomunicação: mudanças ambientais globais, também já expostas na Proposta pedagógica desta série do Salto para o Futuro/ TV Escola. Sobre os temas: o Caderno Ar enfoca a Atmosfera na relação com clima, mais particularmente, as mudanças climáticas; no Caderno Água, aborda-se a Hidrosfera, com os subtemas recursos hídricos e desertificação; o Caderno Terra enfoca a Biosfera, com destaque MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 18

para os prismas da biodiversidade e desflorestamento; no Caderno Fogo, chega-se à Sociosfera, com a discussão de questões como energia e mobilidade, matriz energética e transportes. Além de apresentarem o fenômeno e seus reflexos no Brasil, em cada caderno há um retrato em dois tempos: 1- o ciclo original: como cada fenômeno se dava antes da intervenção acelerada das ações humanas; 2- o ciclo impactado : alterações decorrentes das ações humanas, principalmente pós II Guerra Mundial, quando o avanço das tecnologias de produção e o consumo se aceleraram, sem a preocupação com uma ética voltada para a sustentabilidade socioambiental. Para a professora Eda Tassara, é nessa dimensão da história, que a unidade sistêmica do livro fica mais clara. Ao acompanhar as mudanças no sistema técnico e nas formas de produção retratadas nos quatro cadernos, entendem-se as conseqüências, que se traduzem na crise socioambiental que afeta o Planeta Terra. As pessoas estão cada vez mais atentas para as mudanças ambientais, pelo destaque dado na mídia, em especial quando ocorrem catástrofes. Mas, quase sempre, essas notícias aparecem de modo descontextualizado. É o contrário do que busca a publicação, que no final de cada caderno temático traz algumas sugestões de ações, em quatro perspectivas: 1- mitigação do problema, 2- adaptação às mudanças, 3- prevenção e 4- transformação, que é mais desejável, inclusive como proposta educadora. Outro lado E é nesse ponto que chegamos à outra percepção da professora Eda Tassara, dessa vez com relação ao uso do livro para trabalhar com o enfrentamento das Mudanças Ambientais Globais nas escolas e comunidades, por meio de uma Educação Ambiental crítica, MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 19

participativa e emancipatória. Reflexo da própria complexidade do assunto, a publicação traz muitos elementos novos, com uma estrutura de informações diferenciadas em relação ao que se concebe como informação didática e o funcionamento da escola. Por isso, ela propõe certos cuidados, para evitar uma natural dificuldade de reprodução do conteúdo. Segundo ela, os conteúdos das ciências naturais e exatas são os elementos mais facilmente identificáveis numa primeira leitura. Ocorre que a publicação trabalha essas informações de uma forma não reducionista, resultando numa seqüência lógica em que a análise das mudanças climáticas entra como contexto. Quer dizer, é como um pano de fundo, para o qual as pessoas nem sempre atentam. Por isso, se não houver um preparo e um planejamento específico, a tendência pode ser a transmissão das informações, de um modo simplificado. Tem uma outra dimensão que Eda Tassara considera ainda mais difícil de interpretar, que é a civilizatória. Nesse ponto, ela lembra que, enquanto modernidade refere-se à perspectiva histórica, a expressão civilização é mais ampla, abarcando, por exemplo, as visões antropológica, psicológica e cultural. A problemática das mudanças ambientais globais que estamos vivendo, de acordo com o que depreende a professora, tem relação com uma nova ordem civilizatória, sobre a qual devemos agir. Em resumo, ela diz que o livro desenha um contexto para convencer o sujeito a se contrapor à atual situação. Se o objetivo é mudar o comportamento o pensar + agir que o título da publicação propõe, não basta incorporar as informações que o livro traz, que são importantes, mas também absorver esse pano de fundo, e desenvolver uma crítica à vida que se leva, do ponto de vista da nossa civilização. Para tanto, é preciso induzir um tipo de reflexão, para a qual não basta um enfoque simplificador, como mencionado no início dessa conversa. Sugestão para trabalhar a complexidade Impossível acompanhar o raciocínio da professora Eda Tassara sem lhe fazer a mesma pergunta que ela fez a si própria: Como trabalhar o tema Mudanças Ambientais Globais, MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS 20