Refletindo Sobre o Conceito do Risco Natural e de sua Dimensão: Breve Análise dos Incêndios Florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães.



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Transcrição:

Universidade Federal de Santa Catarina Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres Curso de Planejamento e Gestão em Defesa Civil PAULO FERNANDO BELLO FREIRE Refletindo Sobre o Conceito do Risco Natural e de sua Dimensão: Breve Análise dos Incêndios Florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Uma contribuição do Cadastro Técnico Multifinalitário para a Defesa Civil Monografia apresentada ao CEPED/UFSC, como exigência parcial para obtenção do titulo de especialista em Planejamento e Gestão em Defesa Civil da Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador; Prof a. Dra. Maria Itayra C. S. Padilha. Florianópolis-SC 2006

ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Refletindo Sobre o Conceito do Risco Natural e de sua Dimensão: Breve Análise dos Incêndios Florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Uma contribuição do Cadastro Técnico Multifinalitário para a Defesa Civil Florianópolis-SC 2006

iii LISTA DE FIGURA 1 Sistema Conceitual Tradicional dos Hazards 14 2 Relação entre Percepções e Resposta 15 3 Relação entre Ameaça, Vulnerabilidade e Risco. 18 4 Modelo de Avaliação de Risco 19 5 Elementos da Avaliação de Risco 22 6 Avaliação do Risco no Entendimento do Perigo Ambiental 23 7 Diagrama do Processo de Marginalização e a Relação com o Desastre 33 8 Relação entre o Sistema Humano e o Evento Natural na Teoria dos Desastres 34 9 Esquema do processo e obtenção e análise dos mapas de focos de calor por 55 incêndios florestais 10 Desmatamento em Mato Grosso (1996 2003) 58 11 Número de Focos de Calor em Mato Grosso 60 12 Visita de Turistas a Casa de Pedra no Parque Nacional 61 13 Vista Panorâmica e Perfil do Campo Sujo 63 14 Gráfico de Focos de Calor em Cuiabá e Chapada dos Guimarães 2001 68 15 Gráfico de Focos de Calor em Cuiabá e Chapada dos Guimarães 2002 68 16 Gráfico de Focos de Calor em Cuiabá e Chapada dos Guimarães 2003 69 17 Número de focos de calor no Parque Nacional e Área Incendiada 70 18 Registros de Ocorrências de Incêndios Florestais no PARNA (1994 2002) 70 19 Focos de Incêndio na Rodovia MT 251/PARNA 73 20 Vários Focos de Calor de Incêndios Florestais no PARNA 75 21 Distribuição Espacial e as Zonas de Focos de Calor (1997, 1999, 2000). 79 22 Mapa Rede Viária, Hidrografia e Focos de Calor no Período 1997 2004. 84

iv LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APA CEPED COGEO EMBRAPA SEMA GMT IBAMA INPE MMA MT NOAA PI s PARNA PNMA PROARCO SR SIG SIDFOC SIDEQ UFSC UTM Área de Proteção Ambiental Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres Coordenação de Geoprocessamento Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias Secretaria Estadual do Meio Ambiente de Mato Grosso Greenwich Mean Time Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais Ministério do Meio Ambiente Mato Grosso National Oceanic and Atmospheric Administration Plano de Informações Parque Nacional de Chapada dos Guimarães Política Nacional do Meio Ambiente Programa Arco do Desflorestamento Sensoriamento Remoto Sistemas de Informações Geográficas Sistema de Detecção de Focos de Calor Sistema de Detecção de Queimadas Universidade Federal de Santa Catarina Projeção Mercator Transversa Universal

v SUMÁRIO Lista de Figura iii Lista de Abreviaturas e Siglas iv Dedicatória vii Agradecimento viii Resumo ix 1 Introdução 1 1.1 Aspectos Gerais 1 1.2 Objetivos 3 1.2.1 Objetivo Geral 3 1.2.2 Objetivo Especifico 3 1.3 Justificativa 3 2 Fundamentação Teórica 6 2.1 Desastres Ambientais 6 2.2 Considerações Sobre o Risco 8 2.2.1 Risco e Vulnerabilidade 17 2.2.2 A Cultura do Risco 19 2.3 O Estudo dos Eventos e Sistemas Ambientais 24 2.3.1 A Dimensão Social 24 2.3.2 Dimensões Políticas e Econômicas 29 2.4 A Mudança Ambiental para a Sociedade 31 2.5 Recuperando os Danos 34 2.6 Reduzindo e Prevenindo dos Perigos Naturais 35 2.7 Aspectos Sobre os Incêndios Florestais 37 2.8 Gerenciando as Queimadas 44 3 Metodologia 49 3.1 Procedimentos ou Objeto de Pesquisa 49 3.2 Material 52 3.2.1 Material Bibliográfico 52 3.2.2 Material Utilizado 52 3.2.3 Equipamento, Programas e Configurações. 53 3.3 Procedimentos Práticos e Análise 53 3.3.1 Esquema Metodológico 53 3.4 Produto 56 4.1 Breve Histórico das Queimadas e Incêndios Florestais em Mato Grosso 57 4.2 Os Incêndios florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães 62 4.2.1 Definição da Área de Estudo 62 4.2.2 Ameaças ao Domínio Cerrado 64

vi 5 Análise dos Focos de Calor na Área de Estudo 67 6 Considerações 85 Referências 88

vii DEDICATÓRIA Dedico a minha esposa e companheira Miriam, que me acompanha nessa caminhada, apoiando-me nas horas difíceis. Agradeço-lhe pela força e estimulo que me ajudou a concretizar grande parte de meus sonhos. Aos meus filhos, Paulo, Danilo e Felipe, que é a minha vida e é o meu grande incentivo.

viii AGRADECIMENTOS A Deus pelas oportunidades concedidas. A Universidade Federal de Santa Catarina, CEPED pela oportunidade da realização deste Curso de Especialização. A Prof a. Dra. Maria Itayra C. S. Padilha, pela dedicação e incentivo na orientação deste trabalho. Aos membros da Comissão Examinadora, pela leitura crítica e suas contribuições ao trabalho. A Defesa Civil Nacional, na pessoa do senhor Dr Lélio Calheiros. A todos os professores do Curso de Especialização em Planejamento e Gestão em Defesa Civil. Aos funcionários do CEPED/UFSC, pelo atendimento sempre atencioso recebido. Aos colegas do Curso de Especialização pela agradável companhia em todos os momentos. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta pesquisa. Aos meus pais, Túlio (in memoriam) e Ecilda, irmã, sobrinhos que, embora distantes, sempre apoiaram a busca do conhecimento. Deixo aqui o meu especial reconhecimento ao amigo, pelo apoio e pelas sugestões apresentadas.

ix RESUMO Fez-se uma abordagem ao conceito de risco natural e sua evolução como ciência, bem como o uso de outras terminologias utilizadas com o mesmo objetivo de estudar o risco natural, tais como hazards e risk naturals, com diferenças de vulnerabilidade para diferentes indivíduos. A problemática que se apresenta é a cultura do risco, as dimensões sociais, econômicas e de políticas públicas perante o risco. Estes fatores associados determinam a dimensão física do evento geoambiental e ao indutor antrópicos que desencadeia os eventos. As presenças desses fatores justificam o planejamento para enfrentar as situações adversas em que a comunidade esta sujeita. Posteriormente, fora realizado uma reflexão sob os incêndios florestais ocorridos no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e entorno no período de 1997 a 2004 no Mato Grosso. Palavra Chave: risco, perigo, incêndio florestal.

1 CAPITULO I 1. INTRODUÇÃO 1.1 Aspectos Gerais A ação do fogo sobre a floresta atinge não só a cobertura vegetal, mas também as características do solo, à fauna silvestre e a atmosfera, podendo ser altamente destrutiva quando se trata de incêndios florestais. Por isto o fogo constitui-se em ameaças permanente ao cerrado, ao meio ambiente, á propriedade e a própria vida humana. As condições metereológicas favoráveis à propagação de incêndios se repetem periodicamente, o que, aliado à cultura histórica da queima para a limpeza de pastagens e de restos de agricultura e à ação de incendiários, pode agravar a situação de tal maneira que grandes incêndios podem ocorrer a qualquer momento, caso não sejam tomadas medidas adequadas de proteção, em função de seu valor ecológico (DIAS, 1996). Entretanto, como essas ações espontâneas são implementadas de forma pontual e, muitas vezes, sem continuidade, de maneira geral não garantem a obtenção da melhoria da qualidade ambiental desejada e preconizada. As ações de respostas aos desastres exigem vultuosos gastos e desviam recursos que poderiam ser colocados em programas de desenvolvimento de prevenção de desastres e de preparação para emergências e desastres. Existem instrumentos da administração de desastres, previstas no Sistema Nacional da Defesa Civil, que podem auxiliar as organizações que participam de situações críticas a desenvolver suas atividades de forma coordenada e eficiente. Estes instrumentos permitem agir sobre a fase de situação, evitando que ela ocorra ou reduzindo a sua capacidade de produzir danos e prejuízos, ou seja, atuando para aumentar a capacidade das comunidades para fazer frente aos desastres. As organizações que respondem a situação crítica, tais como Secretaria Estadual do Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis (IBAMA), DEFESA CIVIL, entre outras, possuem suas maneira de atuar, com objetivos e prioridades, hierarquia definida, canais de comunicação estabelecidos e forma de usarem seus próprios recursos. Contudo nas situações críticas terão que atuar com outros órgãos e instituições nos três níveis de governo, compartilhando,

2 objetivos, informações e recursos. Esta situação conduz as organizações que quando da resposta ao evento negativo possuam sistemas de coordenação e controle previamente padronizados, validados e treinados, que conduz para o melhor gerenciamento da situação crítica. A escolha dessa área de estudo, Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e entorno, deve-se a sua beleza cênica, fragmento 1 de cerrado, importância para vida selvagem, sua proximidade da cidade de Cuiabá e Chapada dos Guimarães e pelos incêndios florestais que ocorrem constantemente. O sensoriamento remoto integrado (SR), por exemplo, somado ao sistema de informações geográficas (SIG), surge como uma das ferramentas estratégicas para o futuro. Segundo Crosta (1992), dois de seus principais objetivos permitem distinguir e identificar as composições de diferentes materiais superficiais sejam eles do tipo de vegetação, padrões de uso do solo, hidrográfico entre outros. A percepção de que os trabalhos técnicos sobre incêndios florestais ou queimadas pouco se relacionavam o risco natural com o cadastro técnico multifinalitário para a gestão territorial circunstanciou a definição deste trabalho que se tornou objeto de investigação, ou seja, a identificação e mapeamento de áreas de focos de calor oriundas de incêndios florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e entorno em Mato Grosso, doravante denominado PARNA. A definição deste objeto de estudo leva em consideração que a atuação nos problemas ambientais urbanos e rurais atuais, como a degradação ambiental provocada pela segregação, pelos assentamentos humanos ou pela apropriação de novas áreas para a atividade produtiva, exercem forte pressão antrópica nos ecossistemas. Isso compromete a qualidade de vida e a busca pelo desenvolvimento sustentado e, portanto, não sendo somente conseqüência da vontade política. Os instrumentos que poderiam facilitar o acesso ao desenvolvimento sustentado 2 são muitas das vezes impedidos ou mal aplicados, geralmente devido à ausência de informações com dados reais e confiáveis sobre o bioma (COLINUAUX, P., 1993) ou a fatores antrópicos, objeto de tomadas de decisivas para intervenção. 1. Ver o conceito de ecologia de paisagem baseado em Formam & Godran (1986), na repartição espacial de ecossistemas. Toda paisagem seria formada por três elementos: matriz, fragmentos e corredores. 2. O conceito mais conhecido e utilizado é o que foi definido pela Comissão Brundtland: o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as futuras gerações atenderem a suas próprias necessidades (Nosso Futuro Comum, 1988).

3 Dessa forma, identificou-se a necessidade de um estudo sobre os riscos para que auxilie na dinâmica da interferência antrópicas sobre uma unidade de conservação, no que diz respeito às queimadas, a partir da conjugação de dados existentes no macrozoneamento ambiental da área considerada e dos dados históricos dos focos de calor, associados ao sistema de informações geográficas para o apoio à decisão, elaborando um mapa síntese dos focos de calor na área estudada, constituindo-se dessa forma em instrumento de gestão territorial, com envolvimento da comunidade e de ações governamentais. A região em estudo pertence a um ecossistema chamado Cerrado, que em sua larga escala segundo Coutinho (2000, 2002), estabelece o maior domínio do Brasil em tamanho após a Floresta Amazônia, e o segundo mais degradado após a Mata Atlântica, e que tem recebido pouca atenção quando comparada aos dois domínios citados. Atualmente, o cerrado é queimado em 20 a 30 % de sua área durante a estação seca, principalmente devido aos resultados da ação do homem sobre a vegetação natural (PEREIRA, 1992, 2003). 1.2. Objetivos 1.2.1. Objetivo Geral Construir uma análise de risco (vulnerabilidade e ameaça) no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e entorno em Mato Grosso dos focos de calor provenientes dos incêndios florestais. 1.2.1. Objetivos Específicos Realizar um estudo bibliográfico a respeito das vulnerabilidades e ameaças do risco de incêndios florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e entorno; Identificar as áreas críticas de incêndios florestais no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e entorno. 1.3. Justificativa Na luta dos espaços políticos que o sistema dominante permite, apresentam-se diversas formas e conteúdos, que sintetizam uma prática social curativa ao meio ambiente. Vale dizer, uma prática social para a construção de um modelo de gestão de desastres

4 provocados pelos incêndios florestais caracterizado pela universalidade, e integralidade da atenção de caráter primário, secundário e terciário ao ambiente, inexiste. Assim, faz-se mister, a definição de uma política pública de promoção e prevenção ao ambiente para fazer frente aos riscos por meio de uma abordagem, mediadora e/ou intervenção social democrática e participante simultânea. Estas definiriam as políticas de gestão dos desastres como fazeres concretos, buscando por sua vez resolver os problemas de saúde e de doença do meio ambiente integralmente, e integrados a um conjunto de problemas gerais que caracterizam as dificuldades de um espaço social determinado, para desenvolver-se plenamente. Está organiza-se, portanto, de forma consciente e em sua ação política e estratégica. Neste sentido, conseguem transferir, aplicar e gerir co-responsávelmente, os conhecimentos científicos e tecnológicos acumulados sobre os hazards e risk, que somados ao saber popular, representam ações objetivas e subjetivas. Tais ações resolvem os problemas encontrados, ou seja, intervêm positivamente em favor da população total, de forma hierarquizada e descentralizada constituindo uma rede única de serviços onde os agentes ambientais envolvidos inserem-se de forma crescente em complexidade, referência e acompanhamento. Esta prática considera todos os atores sociais, espaços sociais e seus respectivos movimentos, promovendo, com ênfase coletiva, uma qualidade de saúde ambiental desejada pela sociedade versus os riscos geoambientais. Enfatiza como prioridade as necessidades e os problemas mais abrangentes, de forma educativa em todos seus momentos ou processos. Em última instância, coloca a categoria ambiente como co-responsável junto ao projeto histórico de qualidade de vida que a sociedade brasileira necessita e almeja. Deste modo e para o conhecimento da situação atual o mapeamento dos focos de calor provenientes dos incêndios florestais realizado anteriormente no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e entorno em Mato Grosso (MT) foi fundamental e, com base nesse estudo, sustenta-se como hipótese que, a partir do processo histórico da concentração progressiva da população em cidades, que como se sabe gera problemas ambientais de toda natureza e da distribuição espacial desigual sejam dos recursos naturais quanto das atividades econômicas à avaliação da vulnerabilidade é a saída sustentável a gestão de risco que é a prevenção de desastres geoambientais relacionados aos incêndios florestais, ainda que as iniciativas governamentais e não governamentais existam, pois os aumentos progressivos ano a ano demonstram sua timidez resolutiva, que somente será fortalecida a partir de ações mais ousadas de caráter repressivo e do aparecimento de novos atores sociais, pois já está provado

5 que o fato da existência de políticas públicas isoladas, não tem sido suficiente para coibir os riscos ao ambiente natural e social e ainda transformar a defesa desses meios, em práticas sociais educativas permanente e continua. O embasamento teórico disponibilizado bem como o método de mapeamento dos focos de calor permite-nos a mensuração das variáveis ambientais, sociais e econômicas e seu relacionamento com os danos ambientais ocorridos. O Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e entorno possuem problemas ambientais, como conseqüência dos processos de uso e ocupação dos solos, que causem danos e riscos ambientais, passíveis de serem identificados e diagnosticados, bem como é possível a determinação das variáveis ambientais, sócias e econômicas envolvidas.

6 CAPITULO 2 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Os Conceitos sobre Risco Natural, Incêndio Florestal e Cadastro Técnico Multifinalitário, em Análise. No que diz respeito à conservação da biodiversidade e na ausência de planejamentos adequados, as políticas públicas nacionais, tem se pautado no método regulatório, isto é, o governo estabelece padrões máximos aceitáveis de poluição e degradação ambiental, elevando cada vez mais o número de normas legislativas ambientais. A legislação em vigor não tem evitado a degradação ambiental do cerrado e dos demais ecossistemas do país. Existem limitações devido à heterogeneidade destes instrumentos legais entre os diferentes Estados da Federação, a fragilidade política, a baixa participação política das comunidades, baixa o senso de percepção e consciência de risco e a inexistência de uma Política Ambiental objetiva para o domínio cerrado o que se reflete uma ameaça a sua vulnerabilidade aos desastres. 2.1. Desastres Ambientais A ocupação territorial dos Estados segue o padrão de desenvolvimento brasileiro. O ouro, as pedras preciosas deram origem à exploração de grande parte do território nacional e, conseqüentemente, dos grandes sertões brasileiros. Este processo, como o que aconteceu no Brasil, foi-se dando de forma conturbada, sem planejamento e com falta de políticas públicas eficazes que pudessem ordenar a ocupação, de forma racional, harmônica e sustentada para evitar a degradação continuada e persistente dos recursos naturais que vivenciamos atualmente. Dentro deste prisma, podemos citar que um dos fatores de maior importância é a manutenção das coberturas florestais nativas representando os seus diversos biomas por fitofisionomias que estão sendo fragmentados e cedendo espaço para as pastagens, culturas agrícolas e cidades. A noção de recursos naturais inesgotáveis, dadas as nossas grandes dimensões territoriais, riqueza e abundante biodiversidade, grande oferta de recursos bióticos e abióticos levou no passado, a umas idéias equivocadas de riqueza, impulsionando de forma

7 predatória a expansão da produção agropecuária, sem preocupação com o aumento de produtividade em áreas já antropizadas. Desta forma, o processo de fragmentação florestal se tornou intenso, com forte degradação e eliminação das reservas florestais provocando uma série de problemas ambientais, tais como alterações climáticas (estiagem, secas, aumento de precipitação hídrica, etc.), empobrecimento dos solos, grandes incêndios florestais, processos erosivos e fortes prejuízos aos mananciais hídricos e a economia regional e local. Neste ritmo de exploração, como não poderia deixar de ser, os recursos naturais não foram poupados, sendo alvo de vigorosos processos de degradação e destruição. De várias formas foram impactados, quer seja, para construção de cidades, estradas, hidroelétricas, ou áreas para culturas agrícolas, pastagens, de distritos industriais, áreas de lazer, entre outras. Esse modelo de desenvolvimento aliado a um problema cultural e a ineficiência dos modelos de comando e controle levou aos domínios florestais a um estado crítico, gerando a necessidade de reabilitá-las. Desta forma, os acidentes relacionados a processos naturais têm ocorrido de forma freqüente, com altos prejuízos econômicos e sociais, em virtude da intensa ocupação desordenada do espaço urbano/rural. Os riscos ambientais constituem, hoje, uma nova preocupação que deve estar presente nas decisões dos gestores público e privados e nos programas de imagem institucional das empresas e do setor público, que, para competir em um mercado aberto e globalizado, precisarão se adequar às normas ambientais que tratam da gestão da qualidade ambiental. Uma crise que é, na verdade, ecológica (esgotamento progressivo da base de recursos naturais) e ambiental (redução da capacidade de recuperação dos ecossistemas). A problemática ambiental está ligada diretamente a dois pontos de vista, ambos relacionados com o uso e ocupação do espaço. A primeira é constituída pela concentração progressiva da população em cidades, num processo de adensamento urbano que ocorre em todas as regiões do país gerando problemas ambientais de toda natureza. A segunda reflete a distribuição espacial desigual, tanto de recursos naturais quanto das atividades econômicas. A superposição destas duas dimensões implica graus diferentes de intensidade dos problemas ambientais em suas especificidades regionais. Os desastres ambientais geram despesas extraordinárias e precisam de soluções imediatas, enquadrando-se perfeitamente nos parâmetros conformadores dos empréstimos compulsórios. Exemplos recentes são os desmatamentos no Mato Grosso, além dos incêndios florestais no Estado de Roraima e no Estado de Mato Grosso, principalmente na região do

8 arco de desflorestamento (PROARCO). Nos casos em que os responsáveis são identificados, seu patrimônio poderá ser insuficiente para a reparação do dano ambiental. Não obstante a previsão de aplicação para os casos de calamidade pública já constar do texto constitucional (BRASIL, 1988), a explicitação do caso especifico dos desastres naturais torna-se importante. O importante é inserir a previsão da consciência do senso de percepção do risco na população associado a outros mecanismos de prevenção e proteção ao ambiente, buscando o desenvolvimento sustentável. 2.2. Considerações Sobre o Risco No nosso cotidiano enfrentamos diferentes tipos de riscos aos quais atribuímos valor de acordo com a percepção que temos de cada um deles. Estamos tão habituados e familiarizados com alguns riscos que na maioria das vezes chegamos a subestimá-los e banalizá-los. A percepção de cada pessoa ou grupo social e sua escala de valores determinam a forma como os riscos são classificados. Podemos entender o risco a probabilidade de ocorrer um dano como resultado a exposição de um agente físico, químico ou biológico. A incerteza, a insegurança e o medo parecem ter invadido nossas vidas, onde no dia-adia de nossa sociedade contemporânea nos sentimos indefesos e impotentes (MORANDOLA & HOGAN, 2004). Nos sentimos constantemente em risco. Este diagnóstico tem sido feito por inúmeros pensadores que identificam em nosso atual estágio tecnológico, marcas distintivas nos sistemas de produção do risco e nos mecanismos de proteção e segurança. Tanto em relação aos riscos conhecidos quanto aos não conhecidos, nos tornamos incapazes de lidar com eles, tanto por nos proteger quanto por minimizar seus danos. Muito se tem feito neste tema, mas, não é possível eliminar por completo tais perigos e nem controlar completamente os fenômenos naturais que estão expostas à vida de milhares de pessoas em todo o mundo. Os riscos possuem diversas dimensões e características e têm sido analisados pelos pesquisadores há várias décadas. No entanto, abordagens diferentes, têm enfatizado diferentes aspectos destes riscos em contextos sociais e geográficos distintos a partir de um cenário real. Temos assim desde abordagens fortemente marcadas por uma leitura objetivista da realidade, encarando o risco num sentido probabilístico, até outras que se orientam por uma abordagem subjetivista, onde o risco só existe a partir das interações sociais. Desenvolveramse outras tendências com diferentes graus de objetivismo e subjetivismo.

9 Mas Mattedi & Butzke (2001), dizem que o aumento da freqüência e intensidade das calamidades naturais coloca no centro do debate das ciências sociais as relações sociedade/natureza e a questão da sustentabilidade do desenvolvimento. Como todos os problemas ambientais, também as calamidades naturais se estabelecem nos pontos de interseção entre sociedade/natureza. O aumento da intensidade dos impactos provocados por calamidades naturais constitui apenas o ponto mais evidente de uma longa cadeia de interações recíprocas estabelecidas entre sociedade-natureza: as atividades sócio-econômicas transformam o ambiente natural o qual, alterado, acaba constrangendo o próprio desenvolvimento sócio-econômico. A sociedade contemporânea, as calamidades naturais não deixam de ser paradoxais: ao mesmo tempo em que produzem destruição, permitem repensar as relações estabelecidas entre sociedade-natureza. As calamidades naturais permanecem sendo um objeto de estudo inexplorado no conjunto de pesquisas sobre meio ambiente no Brasil, apesar da tendência de agravamento dos impactos provocados pelas secas na região nordeste, inundações e deslizamentos no sul e sudeste, queimadas na região norte, entre outros impactos recorrentes. Ações de medidas preventivas não estruturais ou mesmo estruturais é possível e pode contribuir de forma eficaz para evitar perdas de vidas humanas e de bens materiais e conseqüentemente não deixar que o desenvolvimento de uma localidade entre em vias de retrocesso quando ocorrem estes eventos negativos (catástrofes ou calamidades naturais de grande magnitude) 3. Um aspecto importante para a análise e estudo dos riscos naturais é o levantamento histórico do espaço natural e o espaço alterado. Entretanto, este fenômeno temse dinamizado nos últimos tempos, onde atualmente a incidência dos eventos físicos (deslizamento de encostas, terremotos, inundações, secas, incêndios florestais, entre outros) preocupa a sociedade devido aos altos custos econômicos e sociais e muitas das vezes com perdas de vidas humanas e materiais (MATTEDI & BUTZKE, 2001). Para Marandola & Hogan (2004), o que diferencia os esforços de estudo do risco é a ênfase em diferentes escalas de análise. A maior parte dos estudos está preocupada com a escala coletiva, enquanto a individual fica relegada. Como a maior parte destes estudos está voltada ao planejamento e gestão, a principal conseqüência é a formulação de políticas e 3. O debate sobre as formas de interpretação das calamidades naturais nas ciências sociais é complexo e tem sido desenvolvido pela utilização de muitos conceitos como, por exemplo, crises, catástrofes naturais, desastres naturais, riscos naturais, vulnerabilidade, situações extremos, impactos negativos, emergências; contudo, é possível diferenciar duas grandes tradições de análise: a teoria dos Hazards, desenvolvida do ponto de vista geográfico, que enfatiza os aspectos naturais, e a teoria dos Desastres desenvolvida do ponto de vista sociológico, que enfatiza os aspectos sociais. (MATTEDI & BUTZKE, 2001).

10 ações públicas que não consideram o senso de percepção das populações (se percebem) os riscos e como experimentam os riscos em sua vida. Em muitos casos, o resultado é o fracasso das ações mitigadoras dos riscos. Uma última característica destes estudos segundo estes autores é o foco direcionado a espaços-tempo distintos. Ou seja, existe uma preocupação localizada que analisa as dinâmicas envolvidas (sejam de origem natural, social ou tecnológica), sem um vinculo mais evidente com as redes sociais ou culturais. Há, portanto, o predomínio de uma postura pragmática e funcionalista nestes estudos. A partir da década de 1980, os pesquisadores dão esta amplitude ao risco, colocando-o no próprio mecanismo de produção social. Sob o ponto de vista epistemológico, conforme Mattedi & Butzke (2001), o estudo das calamidades naturais pressupõe o estabelecimento de um sistema de coordenadas conceituais que articule ordens de conhecimento distintas, como os fatores naturais e sociais que concorrem para a formação dos problemas ambientais. Do ponto de vista teórico, o estudo das calamidades naturais converte-se em uma crise revelatrice da forma como a sociedade interage com o ambiente natural, constituindo-se num indicador de sustentabilidade. As calamidades naturais são eventos com que todas as sociedades convivem; em alguns lugares elas são muito freqüentes, em outros são relativamente raras, no entanto, em todas as sociedades elas representam um desafio a ser vencido. Entretanto a resposta humana ao risco natural varia segundo o nível de organização do território e possibilidades tecnológicas e de legitimidade disponíveis numa sociedade. Para avaliação do risco é necessário conhecer as possibilidades do perigo presente no processo e a vulnerabilidade da população. Isto nos conduz sobre a necessidade de dispor de informação e inventários cadastral sobre a população humana e instalações físicas expostas ao risco, assim como a sua localização, distribuição espacial, valor, organização, proteção legal e outros fatores. Portanto, esta reflexão nos conduz que um dos meios mais eficazes para reduzir as conseqüências de eventos negativos de cunhos sociais, econômicos, culturais dos riscos ambientais, é as medidas de prevenção e minimização que podem permitir e implementar medidas de reordenamento do território das atividades que podem evitar, em grande parte, as perdas econômicas e de vidas humanas. Estudos sobre a importância de riscos naturais em termos econômicos e sociais são imprescindíveis para o reordenamento do território, planificação, urbanismo, obras públicas e instalações industriais, planos de emergência e de proteção civil e proteção do meio ambiente, desde que associados a uma ferramenta como o cadastro técnico multifinalitário, por exemplo.

11 A noção de risco muitas das vezes é confundida pelas pessoas com a noção de perigo. De forma que esta noção de risco é pré-científica, onde todas as pessoas falavam dela, apesar de não existir ainda qualquer ciência do risco. A utilização dos termos científicos na língua portuguesa nesta ciência, nota-se algumas divergências na interpretação entre hazard e risk, (perigo e risco) 4. Esta ambigüidade, normalmente define perigos naturais como acontecimentos naturais extremos que causam uma ameaça às pessoas e bens materiais. Os primeiros trabalhos de pesquisa sobre hazards foram desenvolvidos nos Estados Unidos (século XX) onde se imaginava que poderiam controlar totalmente as inundações por Gilbert White. Nessa época, o controle das inundações, obtido por um conjunto de medidas, que identificava a natureza pública dos programas de redução de enchentes e caracteriza principalmente em reduzir os impactos através da implantação de medidas estruturais como um meio de reduzir danos. Em 1966, o governo norte americano reconheceu que a medida adotada não diminuía os danos e dar ênfase a medidas não estruturais, que permitiriam a população conviver com a cheia. Ao mesmo tempo, comparados com as informações disponíveis sobre a freqüência e magnitude dos Hazards, os dados relativos à dimensão humana dos Hazards são ainda mais incipientes, segundo Mattedi & Butzke (2001). Esta situação decorre do próprio processo de formação do campo de estudo e reflete a adoção de estratégias diferenciadas na abordagem das dimensões natural e social. Estes estudos, que inicialmente se concentraram sobre as estratégias de ajustamento ao problema das enchentes, foram estendidos a outros tipos de fenômenos naturais (terremotos, erupções vulcânicas, tornados, furacões, secas etc), dando origem ao campo de estudo conhecido hoje como Hazards. De acordo com Marandola & Hogan (2004), qualquer recorte analítico que se fizer no estudo epistemológico da noção e conceito de risco produzirá arestas, de um ou outro lado. 4. Hazards é uma categoria que se destaca pela dificuldade de precisá-la conceitualmente. O emprego do conceito de Hazards pode abranger fenômenos como, por exemplo, avalanches, terremotos, erupções vulcânicas, ciclones, deslizamentos, tornados, enchentes, epidemias, pragas, fome e muitos outros. Como no estudo destes fenômenos os níveis de determinação entre fatores sociais e naturais nem sempre são fáceis de serem discernidas, as soluções encontradas pelos geógrafos foi delimitar sua referência a eventos geofísicos (climatológicos e geológicos) e, por outro lado, referilos ao comportamento dos grupos sociais que afetam. O risco é uma probabilidade calculada de ocorrência de danos, cujos fatores intervêm em diferentes graus e que pode ser estimado se forem conhecidas as características da ameaça (a magnitude do evento) e as características da vulnerabilidade (social, econômica, política, etc.), o que poderia controlar de acordo com os interesses da comunidade. O risco é aceitável quando implica que a comunidade conhece o dano que pode gerara a apresentação deste ou daquele fenômeno esperado e se prepara para a resposta no caso de se apresentar. Esta aceitação do risco esta relacionada com a analise custo-beneficio ou custo oportunidade que for feita. Caso os danos excedam as possibilidades da comunidade em solucioná-los e assumi-los, chama-se risco de desastre, já que demandaria uma resposta superior aos recursos existentes e alterariam significativamente seu desenvolvimento (MATTEDI & BUTZKE, 2001).

12 Por exemplo, os estudos sobre percepção do risco vieram, num primeiro momento, compor um quadro que se desenhava anteriormente, o da avaliação do risco. A percepção é incorporada como forma de enriquecer o modelo teórico elaborado para este processo que tinha em vista a gestão. Em virtude disso, embora distintas, estas duas abordagens aparecem freqüentemente intimamente associadas. Nos estudos de Hazards é relevante no primeiro instante reconhecer e compreender as dificuldades que existe em caracterizar as relações entre a dimensão humana, social e física de um evento negativo. Exemplificando, na concepção original, de acordo com Mattedi e Butzke (2001), os Hazards eram descritos como efeitos de processos geofísicos que cercam o mundo humano, ou seja, elementos do ambientes físicos prejudiciais ao homem e causados por forças externas. O fator determinante para a caracterização dos Hazards era atribuído à perspectiva física dos eventos. As pessoas atingidas foram vistas como vítimas desafortundas que possuíam uma baixa capacidade de reação. Neste contexto, Mattedi & Butzke (2001), definiu Hazards como elementos do ambientes físico prejudicial para o homem, os quais surgem do contínuo do processo de ajustamento entre sistema humano e eventos naturais. A visão do ambiente como um Hazards resulta do modelo de análise sistêmico derivado da Ecologia Humana que representa a relação entre homens e natureza em termos do ajustamento/adaptação humana ao ambiente. Estes estudos estão fortemente comprometidos com a visão objetivista, entendendo que estudos de identificação, avaliação e gestão do risco podem diminuir a incerteza que convivemos diariamente. Marandola & Hogan (2004), dizem que esta postura, que estava presente em certa medida nos estudos dos primeiros geógrafos nos Estados Unidos desde as primeiras décadas do século XX envolvidos com o natural hazards (perigos naturais), e principalmente nos trabalhos ligados a saúde pública, que então demonstrava não apenas a esperança de disciplinar a incerteza, mas também de através do conhecimento científico, fornecer bases seguras para a ação política. No Brasil, segundo Salgado (2005), os hazards foram estudados como riscos, acidentes, acasos ou azares, entretanto defende que o uso do termo perigos como a melhor tradução para exprimir o significado dos fenômenos estudados pelos primeiros geógrafos no primeiro quartel do século XX nos Estados Unidos. Conclui-se que o conceito hazard refere-se a fenômenos tais como: avalanches, enchentes, terremotos, erupções vulcânicas, ciclones, deslizamentos, tornados, epidemias, pragas, fome, entre outros. Mas a forma de interpretação das "calamidades naturais" tem sido desenvolvida doutrinariamente (BRASIL, 2005 e) pela utilização de muitos conceitos, como por exemplo, crises, catástrofes

13 naturais, desastres naturais, riscos naturais, vulnerabilidade, situações extrema, impactos negativos e emergências. Os Hazards têm sido classificados e ordenados de acordo com os processos desencadeadores: meteorológicos, hidrológicos, geológicos etc. Este tipo de classificação taxonômica tem sido justificada por facilitar o ordenamento e as generalizações das ocorrências de Hazards. Desta forma, a solução para a caracterização da dimensão física foi estabelecer uma classificação para cada espécie de Hazards considerando-se: a) Mecanismos Físicos (magnitude, duração, extensão espacial); b) Distribuição Temporal (freqüência, sazonalidade, parâmetros diurnos); c) Distribuição Espacial (localização geográfica); d) Dinâmica de Eclosão (rapidez do início, tempo de preparação e rapidez de término) (BRASIL, 2004 d). Cada um destes aspectos tem sido exaustivamente pesquisado, pois se acredita que, conhecendo as diferentes magnitudes, freqüências e durações dos eventos podemos entender melhor o comportamento humano frente aos Hazards e, desta forma, estabelecer procedimentos de predição, proteção e resposta. As relações entrem estes fatores pode ser descrita pela aplicação desta classificação aos problemas das enchentes e dos terremotos (MATTEDI & BUTZKE, 2001). A dimensão humana não é importante somente porque as pessoas são as vítimas quando os eventos ocorrem, mas também porque os homens definem a verdadeira essência de um Hazard. Os Hazards podem ser definidos levando em conta a perspectiva humana como uma complexa rede de fatores físicos que interagem com a realidade cultural, política e econômica da sociedade. O enfoque metodológico de abordagem para os hazards fora reorientado em função dos fatores sociais que determinam ajustamento humano. Com isso a sua abordagem passou a incorporar, analiticamente, também a disrupção provocada pelo agente físico: percepção dos hazards, ajustamento e escolha de respostas, considerando o comportamento humano antes, durante e depois da ocorrência de um evento. (MATTEDI & BUTZKE, 2001). Os pressupostos alentados por Martin W. Holdgate e Gilbert F. White 5 marcam posição afirmando que o sucesso das ações no campo ambiental demanda da existência de quatro condições, resultado das pesquisas no campo ambiental nas décadas de 1970 e 1980, 5. Quatro condições citadas por Martin W. Holgate e Gilbert F. White. (a) There is adequate qualitative and quantitative knowledge about its causes and trends or the means to obtain that knowledge; (b) The issue is recognized as a genuine environmental problem and sufficiently important to arouse concern; (c) There is social and technological capability to carry out essential action effectively; (d) There is sufficient determination and resources within the community to make the action succeed. (HOLGATE & WHITE, 1977, p.17)

14 conduzindo a um paradigma chamado Risk Analise (análise de risco) 6. As pesquisas sobre analise de risco abordam desde as analises econômicas até as consultorias das companhias de seguros (MARANDOLA E HOGAN, 2004). Entretanto é possível diferenciar a teoria dos Hazards desenvolvida do ponto de vista geográfico, que enfatiza os aspectos naturais, e a teoria dos desastres desenvolvida do ponto de vista sociológico, que enfatiza aspectos sociais, na visão de Matted e Butzke (2001). Esta expectativa de Matted e Butzke (2001) pode ser observada na Figura 1, onde se descreve de forma muito simples as variáveis interligadas no sistema conceitual tradicional dos hazards. Considerando que existe um número considerável de modelos desenvolvidos para analisar o comportamento dos indivíduos antes, durante e depois da ocorrência de um evento. Figura 1 - Sistema conceitual tradicional dos hazards. Sistema de eventos naturais Recursos Hazards Resposta Sistema de uso Humano Fonte: Mattedi e Butzke, 2001, cit in EMEL, PET, 1989., p.64 Estes modelos 7 não são excludentes, mas fornecem uma avaliação das percepções individuais de forma diferente. Estes modelos variam segundo a ênfase atribuída aos fatores cognitivos (variáveis psicológicas e características atitudinais) ou aos fatores situacionais (sistema social). A relação entre estes dois conjuntos de fatores pode ser visualizada na figura 2. 6. Risk analysis is a policy analysis tool that uses a knowledge base consisting of scientific and science policy information to aid in resolving decisions. Risk analysis is thus a subset of decision theory, and its importance and utility derive from its applications and how well the decisions involved were resolved. 7. Uma das primeiras estratégias empregadas para caracterizar as percepções dos ambientes foi o Modelo Behaviorista de análise, especialmente através da aplicação de questionários e surveys em pessoas situadas em áreas de risco, visando a fazer comparações entre os diversos tipos de comportamento. E a estratégia baseada no Modelo de Preferência procura entender o comportamento individual através das preferências reveladas e expressadas em condições de Hazards, procurando determinar o papel da experiência no convívio com os Hazards. Na aplicação do Modelo Utilitarista às situações de Hazards, modifica a visão convencional de racionalidade fundamentada na consideração de que os indivíduos são racionais ao ligarem uma intenção subjetiva a possíveis retornos, pois mostra que, nestas condições, a racionalidade possui outra consistência. O Modelo Marxista sustenta que as pessoas vivem em área de risco porque as sociedades não fornecem alternativas, ou seja, que os Hazards não afetam as pessoas da mesma maneira, pois são os marginalizados os mais atingidos. Desta forma o que caracteriza o Hazards é a capacidade de absorção dos impactos. Enquanto os três primeiros modelos acentuam os fatores cognitivos, o Modelo Marxista ressalta os fatores situacionais (TOBIN & MONTZ, 1997, MATTEDI & BUTZKE, 2001).

15 Figura 2 - Relação entre Percepções e Respostas Fatores situacionais Físicos Sócio-econômicos Respostas Fatores cognitivos Psicológicos Atitudionais Fonte: TOBIN & MONTZ, 1997:136, adaptado por Mattedi Butzke, 2001. Salgado (2005), diz que o risco pode ser definido como: o número previsto de vidas perdidas, pessoas feridas, danos às edificações e danos nas atividades econômicas devido a um determinado fenômeno natural. Ele é visto como a interação entre um fenômeno do perigo, as coisas que sejam expostas a esse perigo, tal como populações, habitações, produção agrícola e outros bens, e o grau a que estão mais ou mais menos vulneráveis ao impacto negativo. Enquanto que os perigos naturais que são de ocorrência geofísicas na natureza surgem dos processos físicos normais dando-se no interior da terra, na superfície terrestre, ou a nível atmosférico. As maiorias de perigos de origem geoambiental podem ser atribuídas a um ou a três categorias: geológico (terremoto, vulcões e desmoronamentos), atmosférico (tempestade, precipitação severa, temperatura extremas) e hidrológico (inundações e enxurradas, secas) (MATTEDI E BUTZKE, 2001). Mas considerando a pouca similaridade entre as três categorias, foi estabelecida uma classificação para cada espécie de hazards, levando em conta os: mecanismos físicos (magnitude, duração, extensão espacial); distribuição temporal (freqüência, sazonalidade, parâmetros diurnos); distribuição espacial (localização geográfica); dinâmica de eclosão (rapidez do início, tempo de preparação e rapidez de término). O perigo natural pode ser distinguido das conseqüências freqüentemente desastrosas de degradação do ambiente, tal como desertificação, estiagem e seca, não só pela sua ocorrência repentina, mas também pela sua duração relativamente curta. Se o perigo é pequeno o risco é reduzido, se a previsão de perigo é grande o risco é enorme. De fato, o risco é parte do perigo, mas, entretanto os dois termos não são sinônimos. O risco é componente importante da subdivisão da análise de perigo e da análise do risco para estudo de perigos naturais. O nível do risco varia dependendo de três fatores: perigo, exposição e vulnerabilidade. A redução de qualquer dos três fatores a zero eliminaria

16 logicamente o risco. Reduzir o risco é muito difícil, então qualquer esforço para a sua redução do nível de exposição ou da vulnerabilidade das coisas que estão em risco. O risco ainda pode ser visto como resultado de alguma probabilidade de ocorrência de eventos particulares e de previsão de perda devendo ser avaliado de acordo com as tendências históricas. Entretanto, esta informação propiciada pela tendência histórica é importante para avaliar o risco técnico, não traduz ou indica o número de exposição de um perigo ou as perdas esperadas por um evento específico. Os detalhes da vulnerabilidade devem ser incorporados avaliação do risco. Estatisticamente, este relacionamento pode ser representado pela expressão: Risco = Probabilidade de ocorrência * Vulnerabilidade Este relacionamento foi usado por Dissen de Furgão e McVerry (1994), conforme Salgado (2005), para avaliar o risco de terremoto na nova Zelândia. Definiram probabilidade como a probabilidade de um terremoto ocorrer (baseado em resultados de um modelo sísmico) e vulnerabilidade como o potencial de danos causados à sociedade (TOBIN & MONTZ, 1997). Enquanto esta fórmula representa uma tentativa útil para incluir fatores adicionais que afetam risco, não consegue incorporar diferenças geográficas em função do tamanho da população e densidade (ou exposição) assim como a adaptação comum em reduzir as perdas de vidas humanas, conforme conclui esta autora. Assim, aparecem outras expressões com o objetivo de um melhor descrever um resultado, por exemplo, à fórmula a apresentada pela Defesa Civil (2004), que define a vulnerabilidade como: V = ID / MA Em combinação, esta relação serve para explicar a interação com a magnitude do evento ou acidente, que defina os efeitos adversos medidas em temas de intensidade dos danos previstos. Outra formula é a de Mitchell (1990), apresentada pelos autores Tobin & Montz (1997) que define perigos como: Hazard = f (risco * exposição * vulnerabilidade * resposta) Os elementos; risco, exposição, vulnerabilidade e reposta, servem para explicar diferenças de hazards do local de ocorrência e de quando em quando é que ocorrem esses eventos. De modo que a extensão dos danos materiais ou o número de vidas que foram

17 perdidas na ocorrência do evento negativo não podem ser sempre determinados exatamente antes da ocorrência do evento, mas podem existir algumas projeções para acontecimentos em termos de número de mortos. Quanto à análise de risco, estas seguem pressupostos que são assentando em diferentes etapas e procedimentos. Nestes pressupostos, as propostas podem ser mencionadas, sendo apenas adaptadas às suas especificidades temáticas ou de origem disciplinar. É importante salientar, que a análise de risco tem como fim fornecer informações científicas para a tomada de decisão, ou seja, a análise do risco é encarada como uma ferramenta de elaboração de política pública para fazer frente aos desastres. Marandola & Hogan (2004), afirma ainda que a sensação de percepção do risco é trazida nos modelos de avaliação e gestão do risco, mas seu pressuposto é diferente. Entretanto, a escolha pessoal e a seu senso de percepção são vista como obscurecida, ou velada, sendo que os cientistas possuem meios de determinar exatamente o risco que esta pessoa corre (objetivismo), enquanto elas não são capazes disso. Dyer &. Sarin (1986), parecem entender a questão quando trabalham o descompasso existente entre a probabilidade de certos acidentes ocorrerem (matematicamente) e a percepção das pessoas acerca deles. Um exemplo é a comparação entre acidentes de carro e acidentes nucleares. Neste exemplo Dyer & Sarin (1986), salienta que as pessoas têm diferentes sensos de percepções em relação às diferentes tecnologias, e que é necessário entender que [...] the factors that influence these attitudes could be helpful to public policy makers, especially those who are managing the introduction of new technologies. A proposta e a preocupação dos autores é que eles se dedicam em excesso à matemática do risco, deixando em segundo plano um estudo mais cuidadoso e aprofundado das razões que movem as atitudes e as condutas humanas. 2.2.1. Risco e Vulnerabilidade A definição de risco e vulnerabilidade em um dado país ou região é o resultado da combinação de características físicas e fatores políticos. Especificamente, as variáveis que induzem o risco estão relacionadas a contextos situacionais dos indivíduos, juntas ou separadamente, influenciam a vulnerabilidade e a nossa capacidade de modificá-la. O Risco é uma das características físicas que podemos determinar pela probabilidade estatística das ocorrências de eventos, enquanto os fatores econômicos políticos determinam a magnitude ou resultado de dano (BRASIL 2004d). Por contraste, a vulnerabilidade é

18 determinada por todos os elementos em várias combinações, se alteramos um dos elementos, nós alteramos vulnerabilidade, caso ela se concretize como evento adverso. Com a crescente importância dos desastres, este tem adquirido a relevância e a questão de vulnerabilidade passa a ser tema atual. De modo geral, esta pode ser definida como a probabilidade de que uma comunidade, exposta a uma ameaça natural, segundo um grau de fragilidade de elementos (infra-estrutura, moradia, atividades produtivas, grau de organização, sistemas de monitoramento e alerta, desenvolvimento político institucional entre outros), podem sofrer danos humanos e materiais. A magnitude destes danos, por sua vez, esta relacionada como grau de vulnerabilidade. A vulnerabilidade pode ser analisada desde diferentes pontos de vista (físico, social, político, tecnológico, ideológico, cultural e educativa, ambiental, institucional), mesmo que todas elas, de alguma maneira, estão relacionadas na realidade atual da região. Sua gestão esta associada diretamente com fatores de ordem antrópicos, isto é, a interação humana com a natureza. O risco se origina como um produto da função que se relaciona a priori a ameaça e a vulnerabilidade, e se considera intrínseco e latente dentro de uma sociedade, em função de seu nível, grau de percepção e meios para enfrentá-lo, dependem das diretrizes marcadas pela mesma sociedade. Em definitivo, a vulnerabilidade e o risco estão associados às decisões de políticas que uma sociedade tem adaptado ao longo do tempo e dependem, por tanto, do desenvolvimento de cada região ou localidade. Na figura 3 demonstra a relação entre ameaça, vulnerabilidade e risco. Figura 3 - Relação entre Ameaça, Vulnerabilidade e Risco. AMEAÇA Fenômenos naturais Probabilidade de que ocorra um evento, com espaço e tempo determinado, com intensidade suficiente para produzir danos. Fonte: CEPAL/BID, 2000. VULNERABILIDADE Grau de exposição e fragilidade, valor econômico. Probabilidade De que devido à intensidade de um evento e as fragilidades dos elementos expostos, ocorrem danos para a economia, ao meio ambiente e a vida humana. RISCO ƒ(a, V). Probabilidade combinada entre os parâmetros anteriores De modo que a vulnerabilidade é uma condição prévia que se manifesta durante o desastre, quando não se tem investido o suficiente em prevenção e mitigação, e se tem aceitado o risco em um nível demasiadamente elevado. Neste instante descortina-se a tarefa