Preconceito na Própria Raça e Outras Raças



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Transcrição:

Preconceito na Própria Raça e Outras Raças Aline Figueiredo* José Roberto Mary** Diferença de Racismo e Preconceito Muito se fala de racismo e preconceito atualmente, porém é importante a compreensão das diferenças entre essas tendências de pensamento e como elas em um determinado momento se unem. Lima e Vala (2004) definem o preconceito como uma atitude hostil contra um indivíduo, simplesmente porque ele pertence a um grupo desvalorizado socialmente. Os mesmo

autores dizem ainda que pelo fato de existirem vários grupos socialmente desvalorizados, temos tantos tipos de preconceito quantas pertenças a grupos minoritários na estrutura de poder (e.g., preconceito contra as mulheres ou sexismo, preconceito contra os homossexuais ou homofobia, preconceito contra os velhos ou ageísmo, preconceito contra pessoas gordas, preconceito contra pessoas com deficiências físicas e/ou mentais, preconceito contra os nordestinos no Brasil ou contra os alentejanos em Portugal, etc.). Dentre as várias formas possíveis de preconceito existe uma peculiar, que se dirige a grupos definidos em função de características físicas ou fenotípicas supostamente herdadas: tratase do preconceito racial ou, para alguns autores, preconceito étnico (LIMA E VALA, 2004) Já o racismo e definido como a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras (SITET-UFU, 2012). Na atual sociedade, observa-se a presença do racismo e do pré-conceito acerca de raças em diversas áreas, classes sociais e diferentes nacionalidades. No Brasil, tais práticas são coibidas com leis. Um exemplo e a lei nº Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989, tendo os artigos 1º e 20º modificados na Lei Nº 9.459 de 13 de Maio de 1997.

Tais artigos modificados dizem que: "Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional." "Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa. 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas. 4º Na hipótese do 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido." Art. 2º O art. 140 do Código Penal fica acrescido do seguinte parágrafo: "Art. 140 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem: Pena: reclusão de um a três anos e multa." (BRASIL, 1997)

O Racismo entre a mesma raça e diferentes raças no Brasil e no mundo A crença da existência de raças superiores e inferiores, utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade e ao complexo de inferioridade, se sentindo, muitos povos, como inferiores aos europeus (JUNIOR, 2014) Sonia Silva (2003) fala que a identidade cultural é definida por elementos objetivos comuns, como a língua, a história, a

religião, os costumes, as instituições, e por um sentimento subjetivo de auto-identificação. Ainda no artigo a autora explícita que são vários os níveis deste sentimento de pertença (do tribal ao civilizacional) mas todos eles têm em comum a sua fundamentalidade, porque são produto de séculos e marcam uma "mundividência" estrutural menos permeável à mudança do que as ideologias e os regimes políticos. No âmbito mundial, e visto que cidadãos de raças adotam esse comportamento de descriminação com outras pessoas de países diferentes ao seu. Tal comportamento e classificado como Xenofobia. Que é definida por Abreu (2010) como o medo irracional, aversão ou a profunda antipatia em relação aos estrangeiros, a desconfiança em relação a pessoas estranhas ao meio daquele que as julga ou que veem de fora do seu país. No ano de 2013, o conceituado jornal The Washington Post publicou uma matéria na qual há mapas criados com os dados do World Values Survey e do Instituto de Harvard, que mostram o nível de racismo e de diversidade étnica em diferentes países. Ao analisar os mapas, percebe-se um fato curioso, os países que são mais preconceituosos possuem uma menos diversidade ética. São esses:

Nível de racismo Diversidade étnica Fonte: http://www.washingtonpost.com/blogs/worldviews/wp/2013/05/15/a-fascinating-map-of-theworlds-most-and-least-racially-tolerant-countries/ Fonte:http://www.washingtonpost.com/blogs/worldviews/wp/2013/05/16/a-revealing-map-of-the-worldsmost-and-least-ethnically-diverse-countries/ Segundo os mapas, o Brasil é um país que possui muita diversidade étnica e pouco preconceito relacionado à Xenofobia.

Porém artigos nacionais mostras que há no país uma crescente e histórica descriminação entre brasileiros com outros próprios brasileiros. Tais artigos apontam que em sua maioria, a relação de preconceito com membros de uma mesma raça, ocorre entre as regiões Nordeste e Sudeste. Souza (2010) mostra que existe preconceito no Rio de Janeiro e São Paulo contra migrantes nordestinos. Todos os nordestinos, independente dos seus Estados de origem são chamados de paraíbas no Rio de Janeiro e baianos em São Paulo. Não é respeitada a diversidade cultural dos vários estados nordestinos. Com o preconceito os habitantes da região sudeste constroem estereótipos em torno dos migrantes nordestinos. Eles são considerados atrasados, sem capacidade intelectual e são relacionados com ocupações de baixo prestígio social. Esse preconceito está presente também nos meios de comunicação de massa (televisão, rádio, etc.). Dessa forma o preconceito acaba sendo disseminado e naturalizado. O estereótipo é compartilhado pela população, até mesmo pelos próprios discriminados. Segundo esse estereótipo os nordestinos são feios, sujos, de mau-gosto, preguiçosos e

responsáveis pelo aumento dos problemas sociais (criminalidade, desemprego, etc.) nas cidades para onde imigram. Os nordestinos de classes sociais mais elevadas são considerados uma elite de segunda classe porque possuem os mesmos valores culturais dos migrantes típicos. (SOUZA, 2010) O que fazer em caso sofra preconceito Segundo o Website Racismo no Brasil as condutas a serem tomadas são: A vítima deve registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia e, em seguida, procurar um advogado para cuidar do processo, mas não é obrigatório um advogado para poder dar entrada no processo de discriminação racial. Se a discriminação ocorrer no ambiente de trabalho, a vítima pode procurar o Ministério Público do Trabalho. Se a discriminação não se referir especificamente a uma pessoa, pode procurar o Ministério Público do Estado. Não se cale, denuncie!

Referências: ABREU, José. Ainda a Xenofobia. Disponível em:<http://bloglog.globo.com/blog/blog.do?act=load Site&id=215&postId=25752&permalink=true>. Acessado em: 29 de Abril de 2014. BRASIL. LEI Nº 9.459, DE13 DEMAIO DE 1997. Disponível em: <http://www.leidireto.com.br/lei- 9459.html>. Acessado em: 29 de Abril de 2014 LIMA, Marcus Eugênio Oliveira e VALA, Jorge. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n3/a02v09n3.pdf>. Acessado em: 29 de Abril de 2014 SILVA, Sônia. A educação intercultural como antídoto do racismo e da xenofobia. A acção da união europeia. Disponível em: <http://repositorio.ipv.pt/bitstream/10400.19/799/1/a %20educa%C3%A7%C3%A3o%20intercultural.pdf >. Acessado em: 29 de Abril de 2014. SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICO- ADMNISTRATIVOS EM INSTITUIÇÔES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DE UBERLÂNDIA. Antirracismo. Uberlândia, MG. Disponível em: <http://www.sintetufu.org/2012/antiracismo.php?id= 12>. Acessado em: 29 de Abril de 2014.

SOUZA, Vanessa Alexandre. A discriminação na sociedade brasileira Globalizada. Disponível em: <http://www.revistaespacolivre.net/el10.pdf#page=60 >. Acessado em: 29 de Abril de 2014. * e **: Acadêmicos de Enfermagem e Licenciatura do 8ª período na Universidade Federal Fluminense