AVALIAÇÃO DA SAÚDE DO ESCOLAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO FUNDAMENTAL EM FORTALEZA*



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AVALIAÇÃO DA SAÚDE DO ESCOLAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO FUNDAMENTAL EM FORTALEZA* SOUZA, Darley Bispo de FERREIRA, Andréa Batista RODRIGUES, Ana Letícia da Silva VICTOR, Janaína Fonseca RIBEIRO, Maria Neiaria Assef RESUMO Este estudo teve como objetivo levantar os problemas nutricionais, oftalmológicos e dermatológicos identificados nos escolares de uma escola pública de ensino fundamental do município de Fortaleza-Ceará. A referida escola localiza-se no bairro Planalto Airton Senna sendo vinculada ao Programa Saúde do Escolar (PSE). Fez-se um levantamento das fichas de acompanhamento dos escolares da 1ª a 4ª série que foram avaliados durante o ano de 2003 pela enfermeira do PSE, perfazendo um total de 337 alunos, sendo 165 do sexo feminino e 172 do sexo masculino. Os resultados revelaram que dos 337 escolares avaliados, 210 estavam eutróficos, 18 apresentavam obesidade e 109 estavam desnutridos. Observou-se, ainda, que 87 alunos apresentaram alterações oftalmológicas e 157 escolares estavam com problemas dermatológicos, a maior incidência dessas alterações ocorreu quanto às dermatoses zooparasitárias, escabiose 18 (11,4%) e pediculose 54 (34,3%). O estudo revelou que ações de prevenção de doenças e promoção da saúde devem ser estimuladas cada vez mais nas escolas, devido os escolares do estudo terem apresentado várias situações de saúde-doença, o que pode implicar diretamente no processo de aprendizagem. PALAVRAS CHAVE: saúde do escolar, alterações nutricionais, alterações dermatológicas, alterações oftalmológicas.

HEALTH ASSESMENT OF THE PERTAINING TO SCHOOL OF A PUBLIC SCHOOL OF BASIC EDUCATION IN FORTALEZA ABSTRACT This study had the aim to chart nutritional, ophtalmological and skin problems found at the pupils of a public elementary school in the count of Fortaleza, state of Ceará. The abovementioned school is placed in the neighborhood Planalto Airton Senna and it is linke to PSE (a health school program). An inquire made from the retinue files from first to fourth grade pupils, that were examined by the PSE nurse duringthe year of 2003, accomplishing a total of 337 students, being 165 female and 172 male. The results showed that from the 337 students, 210 were hale, 18 obese and 109 undernourished. It was also noticed that 87 showed ophtalmological alterations and 157 had skin problems, the majority of these alterations were related to zoopararasite dermatitis, scabies 18 (11,4%) and pediculous 54 (34,3%). The study showed that actions to prevent illnesses and foment health ought to be incited in the schools furthor and further, due to the pupils from the study have showed many health illness situations which can affect the learning process. KEY WORDS: pupili s health, nutritional alterations, ophtalmological alterations, skin alterations.

AVALIAÇÃO DA SAÚDE DO ESCOLAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO FUNDAMENTAL EM FORTALEZA* SOUZA, Darley Bispo de FERREIRA, Andréa Batista RODRIGUES, Ana Letícia da Silva VICTOR, Janaína Fonseca RIBEIRO, Maria Neiaria Assef INTRODUÇÃO A criança no período escolar, idade compreendida entre seis e doze anos de idade, apresenta características específicas de crescimento e desenvolvimento, que, apesar de se tornar mais capaz para realizar atividades diversificadas, e estar mais aberta a entender o ponto de vista dos outros, ainda se encontra em processo de maturação de alguns sistemas e órgãos, continuando desta forma susceptível a apresentar afecções e agravos à saúde neste período, decorrente dos fatores extrínsecos e intrínsecos presentes no seu cotidiano (Whaley e Wong, 1999). O escolar, então, precisa de cuidados e atenção que viabilizem a promoção e manutenção de sua saúde, pois de acordo com Sigaud e Veríssimo(1996) os escolares podem apresentar problemas visuais, devido maior tendência à miopia, vícios de postura, que podem ocasionar escoliose, além de apresentarem outras alterações durante esta fase de suas vidas. A escola, portanto, é um elemento significativo para estas crianças que se encontram nesta fase, e por isso, pode viabilizar situações que possibilitem processo de ensino-aprendizagem para o seu bem-estar, levando-as a se tornarem cada vez mais capacitadas para autocuidar-se. Sendo assim, a escola, segundo Whaley e Wong (1999), serve como agente de socialização, atrás apenas da família, exercendo profunda influência no desenvolvimento social destas. Reconhecendo-se, pois, a influência que a escola exerce sobre a criança, foi instituído o Programa de Atenção à Saúde do Escolar (PSE), cuja finalidade é aumentar a qualidade de vida de crianças e adolescentes até 14 anos de idade, por meio da vinculação dos alunos da rede pública ao atendimento nas unidades de saúde da Prefeitura. O programa é importante na formação moral e cultural dos alunos, pois foca suas ações na prevenção de

saúde bucal, vícios de postura, saúde ocular e questões relativas ao uso de drogas e à sexualidade, estimulando aos estudantes a freqüentarem os postos de saúde e participarem de atividades de educação e saúde nas escolas, além de implementar trabalho educativo junto aos pais (Fortaleza, 2004). Em números, o Programa de Saúde Escolar (PSE) contemplou, em maio de 2003, 19.579 alunos da rede pública do Município de Fortaleza. O PSE conta com equipes formadas por médicos, enfermeiros e agentes de saúde, promovendo saúde através de atividades preventivas, e realizando palestras nas escolas atendidas(fortaleza, 2004). Dentre as atividades que a equipe de saúde realiza, podemos ressaltar a atuação da enfermagem que vem procurando estabelecer ações com os alunos, professores e pais vislumbrando cada vez a promoção da saúde de todos, pois segundo Whaley e Wong (1999:409), os profissionais de enfermagem escolar são vitais para o desenvolvimento, a implementação e a avaliação dos planos e programas de cuidado de saúde para tais crianças. Nesta perspectiva, realizou-se este trabalho com o objetivo de levantar os problemas nutricionais, oftalmológicos e dermatológicos identificados nos escolares de uma escola pública de ensino fundamental em Fortaleza que foram avaliados pela enfermagem. METODOLOGIA Para este estudo optou-se pela pesquisa documental, que se caracteriza pela delimitação dos objetivos, elaboração do plano de trabalho, identificação e localização das fontes, obtenção do material, tratamento dos dados, confecção das fichas e redação do trabalho (GIL, 2001). O estudo foi realizado em uma Escola de Ensino Fundamental do município de Fortaleza-Ceará localizada no bairro Planalto Airton Senna vinculado ao Programa Saúde do Escolar (PSE). Para tanto, fez-se um levantamento das fichas de acompanhamento dos escolares que foram avaliados durante o ano de 2003 pela enfermeira do PSE da 1ª a 4ª série, perfazendo um total de 337 alunos, sendo 165 do sexo feminino e 172 do sexo masculino. Sabe-se que a Equipe do PSE realiza diversas atividades junto às escolas visando a promoção e manutenção da saúde. Entretanto, neste estudo, focalizou-se a avaliação física do escolar quanto ao estado nutricional, alterações oftalmológicas e dermatológicas. A escolha por investigar esses problemas de saúde ocorreu pela relação dos mesmos no desenvolvimento e aprendizado infantis.

Para coleta dos dados foi elaborada uma planilha que facilitou o agrupamento das informações, sendo os resultados organizados de acordo com os problemas apresentados, em forma de gráficos. Foi utilizada neste estudo a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ALTERAÇÕES NUTRICIONAIS Nas últimas décadas, as transformações de ordem econômica, social e demográfica pelas quais a sociedade brasileira vem passando, afetaram o perfil nutricional e educacional da população. Nesse cenário surge a desnutrição infantil, determinada, principalmente, pela pobreza, que tem reflexo no crescimento e desenvolvimento dessa faixa etária ( SILVA, 1996). No estudo observou-se a presença significativa de alterações nutricionais o que pode ser visto no gráfico 1. E stad o n utricion al d o s esco lares 120 100 80 60 100 5 2 11 0 5 7 eutrófico des nutrido obes o 40 20 0 13 fem inino 5 m as cu lino Fonte: Ficha do PSE Gráfico 1: Distribuição do número de escolares por sexo e alterações no estado nutricional, Fortaleza, 2003.

De acordo o gráfico 1, pode-se observar que dos 337 escolares avaliados, 210 estavam eutróficos, sendo 100 do sexo feminino e 110 do sexo masculino. Ainda, pode-se verificar que alguns escolares apresentaram problema de obesidade, 13 do sexo feminino e 05 do sexo masculino. Quanto a obesidade na infância, Oliveira e Rivitti (2000) ressaltam que não é um problema exclusivo da população de maior poder aquisitivo; ao contrário, os problemas nutricionais relacionados ao excesso de peso são cada vez mais freqüentes na prática pediátrica, mesmo quando se trabalha com classes sociais menos favorecidas. Ainda constatou-se um número significativo de crianças desnutridas, 109, sendo 52 do sexo feminino e 57 do sexo masculino. Segundo LEI et al (1995) a desnutrição, ao persistir por longos períodos na infância, pode acarretara alterações no comportamento das crianças, tais como; redução na atenção, na atividade e na exploração do ambiente, afetando substancialmente o desenvolvimento. A desnutrição infantil constitui um importante indicador das condições gerais de vida de uma população, o acompanhamento da situação nutricional e do controle do crescimento infantil de um país revelam-se instrumentos essenciais, tanto para a aferição das condições de vida a que está submetida a população infantil, como da sociedade em geral (LAURENTINO; ARRUDA; ARRUDA, 2003). Os estudos revelam que a desnutrição infantil é apontada como um dos fatores de baixo rendimento escolar e baixo desempenho em testes de desenvolvimento cognitivo. Uma vez que provoca alterações funcionais no cérebro, modificando a sua estrutura bioquímica ou anatômica, o que somado com fatores ambientais levam a uma maior lentidão no aprendizado ( MALTA; GOULART, COSTA, 1998). É importante ressaltar que a criança desnutrida torna-se mais susceptível à aquisição de outras doenças, como dermatose, infecções respiratórias e distúrbios gastrintestinais (diarréia), além de acarretar queda no sistema imunológico, enfraquecimento do sistema músculo-esquelético e alterações na concentração e diminuição da capacidade de adquirir conhecimentos. ALTERAÇÕES OFTALMOLÓGICAS A visão é um dos sentidos essenciais para o processo de aprendizagem do escolar, sendo responsável por uma grande parte das informações sensoriais que são recebidas do meio externo. A baixa acuidade visual tem prevalência cinco a sete vezes maior nos países em desenvolvimento, quando comparada aos países desenvolvidos. Outro dado relevante é que

mais de 90% dos casos de cegueira em menores de 16 anos de idade são registrados nos países em desenvolvimento O diagnóstico precoce é necessário pelos danos que pode causar ao desenvolvimento e aprendizado infantis (ALBUQUERQUE & ALVES, 2003). Observou-se neste estudo, conforme o gráfico a seguir, que dos 337 escolares 87 apresentaram alterações oftalmológicas o que representa 25,8% do total esse dado revela um percentual acima do encontrado na literatura, que segundo Sperandio (1999), Albuquerque & Alves (2003) é cerca de 20% dos escolares. Incidência de distúrbiosoftalmológicosnosescolares 160 140 120 100 80 60 40 51 114 36 136 sim não 20 0 feminino masculino Fonte: Ficha do PSE Gráfico 2: Distribuição do número de escolares por sexo e alterações oftalmológicas, Fortaleza, 2003. Segundo o gráfico 2, pode-se verificar que 250 escolares de ambos os sexos não apresentaram problemas de visão. Entretanto, foi observado que 87 alunos (51 meninas e 36 meninos) estavam com alterações oftalmológicas, constatando assim, uma maior predominância no sexo feminino 43%. Tal dado reforça o estudo feito por Gianini et al (2004) com relação às alterações visuais entre os sexos, em que observou serem essas alterações mais prevalentes no sexo feminino, no entanto, os autores não explicam o porquê dessa prevalência. A perda da capacidade visual relaciona-se a fatores biológicos, sociais e ambientais, por vezes passíveis de serem evitados ou minimizados. Até a idade escolar a maior parte das alterações visuais passam despercebidas pela família, sendo no ambiente escolar manifestadas

com maior clareza, devido ao esforço visual necessário para seu processo de ensinoaprendizagem ( ARMOND, TENPORINI, 2000). A identificação de escolares com problemas visuais é um passo fundamental na atenção da saúde dessa faixa etária, visto que estes influenciam tanto no rendimento escolar como na adequada socialização da criança. ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS As alterações dermatológicas geralmente não diferem na infância e idade adulta. Contudo, na infância algumas são específicas de recém-nascidos e lactentes. Os problemas mais freqüentes na criança são: dermatite seborréica, dermatite atópica, pitiríase alba, estrófulo, urticária, micoses superficiais, verrugas, molusco contagioso, escabiose, pediculose e larva migrans, dentre outras ( OLIVEIRA, RIVITTI, 1999). PrincipaisDoençasDermatológicasnoEscolar 60 50 40 30 20 10 0 43 20 26 11 7 7 11 9 8 3 1 1 2 2 1 2 2 3 escabiose molusco pediculose ptiríase verruga estrófulo seborréia lesões outros feminino masculino Fonte: ficha do PSE Gráfico 3: Distribuição do número de escolares por sexo e alterações dermatológicas, Fortaleza, 2003. No gráfico 3, verificou-se que 159 crianças estavam com problemas dermatológicos, sendo 96 escolares do sexo feminino e 63 do sexo masculino. É mister esclarecer que o alto percentual de afecções dermatológicas (46,5%) é um problema comum em nosso meio, principalmente, nas famílias de baixo poder aquisitivo, que possuem precários conhecimentos básicos de higiene, refletindo nesses alunos nesta faixa etária. A maior incidência de alterações dermatológicas ocorreu, principalmente, quanto as dermatoses zooparasitárias, escabiose 18 (11,4%) e pediculose 54 (34,3%). A escabiose também denominada sarna é causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei, que atinge

indivíduos de qualquer idade. A forma de transmissão deve-se ao contato direto fato muito comum entre escolares (COLLET E OLIVEIRA, 2000). Para Oliveira e Rivitti (2000) a escabiose é uma doença contagiosa, caracterizada por lesões e intenso prurido que podem acarretar danos a saúde da criança, caso não tenha um tratamento adequado. Ainda, pode ser considerada como um fator de risco para o aparecimento de outras infecções microbianas, podendo ser uma porta de entrada para infecções. Quanto a pediculose esta ocorre preferencialmente em crianças em idade escolar, especialmente, no sexo feminino, este estudo reforça essa afirmação, pois das 54 crianças acometidas por esta zooparasitoses 43 (27,3%) são do sexo feminino, estes fatos, segundo a literatura ocorre provavelmente ao uso de cabelos compridos (OLIVEIRA E RIVITTI, 2000). Estima-se ainda que dois terços da população de favelas de grandes cidades e de comunidades carentes são afetadas mais comumente por esta zooparasitoses. Segundo Linardi (1997) a pediculose, quando associada a condições sociais precárias e dietas inadequadas, pode levar as crianças infestadas a apresentar anemias pela deficiência de ferro subtraída pela hematofagia exercida pelos piolhos. Quanto às micoses, doenças causados por fungos, observou-se neste estudo que afetam os escolares em escalas menores, apenas 17 (10,8%) apresentaram ptiríase vesicolor, dado interessante, pois esta alteração é mais freqüente em adolescentes, sendo em criança a tinha do couro cabeludo a alteração mais incidente. Contudo, neste estudo, nenhum caso dessa micose foi registrado na ficha de acompanhamento do PSE. Encontrou-se, ainda, entre os escolares alterações dermatológicas causados por vírus como as verrugas vulgares 2 ( 1,2%) e molusco contagioso 10 ( 6,3%). Para (OLIVEIRA E RIVITTI, 1999), as verrugas e os molusco contagioso são comuns na infância com pico de incidência entre 10 e 19 anos, tendo involução espontânea dos casos após dois anos. A presença de estrófulo ocorreu em 4 (2,5%) dos escolares com alterações dermatológicas é decorrente de hipersensibilidade a toxinas de insetos (pernilongos, formigas e pulgas), tende a desaparecer espontaneamente devido a dessensibilização específica natural pela repetida exposição aos alérgenos, sendo mais comum em pré-escolares (OLIVEIRA E RIVITTI, 2000). Pode-se verificar, ainda, um número considerável de escolares, 46, com problemas dermatológicos, classificados como outros (tinha corporis, piodermite, prurido não especificado, manchas hipercrômicas e hipocrômicas, lesões traumáticas).

CONSIDERAÇÕES FINAIS A identificação das alterações nutricionais, oftalmológicas e dermatológicas nos escolares, possibilitou evidenciar que ações de prevenção de doenças e promoção da saúde devem ser estimuladas nas unidades educacionais, onde professores e profissionais de saúde desenvolvam um trabalho multidisciplinar, no intuito de corroborar para uma adequada assistência a saúde dos escolares. Ações educacionais, como operacionais, devem ser aplicadas junto às escolas, no intuito de tratar as próprias alterações físicas identificadas nos escolares, as quais podem acarretar prejuízos no equilíbrio biopsicosocial, e no seu aprendizado. Verificou-se que o acompanhamento dos escolares no PSE possibilita a integração de educação e a saúde a todos que se encontram envolvidos no processo de ensinoaprendizagem. E por isso deve ser expandido para todas as escolas, tanto municipais, como estaduais, para se tornar não um programa, mas uma estratégia de mudança na atenção da saúde do escolar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.WHALEY, L.F; WONG, D. L. Enfermagem Pediátrica - elementos essenciais à intervenção efetiva. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999, 910 p. 2. SIGAUD, C.H. S.; VERÍSSIMO, M. D. L. O. R. Enfermagem Pediátrica: o cuidado de enfermagem à criança e ao adolescente. São Paulo: EPU, 1996, 258 p. 3. FORTALEZA, Prefeitura Municipal de Fortaleza. Atenção à saúde do escolar. Disponívelem:http://www.fortaleza.ce.gov.br/inst/publ/maisfortalezaold/internas/saude.ht m. Acesso em: 31/05/2004. 4. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Atlas, 1995, 206 p. 5. SILVA, M. V. Estado nutricional de escolares matriculados em Centros Integrados de Educação Pública CIEP s. São Paulo, 1996. 110 p. Tese (Doutorado em Saúde Pública - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1996).

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