Arquitetura e expografia: um estudo de suas relações em museus e instituições culturais Paulo Roberto Sabino



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Transcrição:

Arquitetura e expografia: um estudo de suas relações em museus e instituições culturais Paulo Roberto Sabino Centro Universitário SENAC SP. Versión digital en : http://www.uam.es/mikel.asensio Resumo: Este artigo analisa a arquitetura de museus, a expografia e o objeto da exposição por meio das relações e influências entre esses elementos. Para tanto, foram investigadas vinte instituições culturais localizadas na cidade de São Paulo a partir de conceitos museológicos e das propostas de dois autores para modelos arquitetônicos em museus contemporâneos. Tem como objetivo estimular o estudo da arquitetura de museus no Brasil dentro de um contexto interdisciplinar. Palavras-chave: Arquitetura; Museu; Museologia; Exposição. Abstract: This article analyzes the architecture of museums, and the object exhibithion through the relations between these elements and yours influences. Therefore, we investigated twenty cultural institutions located in São Paulo from the concepts of Museology and the two authors proposals architectonic models for contemporary museum. It aims to encourage the study of museum architecture in Brazil within an interdisciplinary context. Key-words: Architecture; Museum; Museology; Exhibition. Introdução O estudo das influências em um projeto de exposição museológica envolve desde os processos de elaboração e concepção espacial, curadoria, mediação, comunicação visual e demais elementos que correspondem ao fazer expositivo, inclusive o objeto exposto e o visitante. Essas questões estão são inerentes ao campo da Museologia em que a exposição é entendida como meio de comunicação do patrimônio. [43]

Pensar o espaço de exposições direciona o olhar para o fenômeno do museu contemporâneo e seu elemento de maior destaque: a arquitetura. Assim, este artigo como parte da pesquisa realizada para dissertação de Mestrado em Design propõe uma análise das exposições museológicas em relação a proposta arquitetônica do espaço que a abriga. A expografia entendida como parte da museografia, área que representa as ações práticas da Museologia (CURY, 2005, p.13), tem seu arcabouço teórico construído na medida de seu fazer. Por isso, é justamente essa ação que orienta nosso trabalho e, mais precisamente, ao se relacionar à arquitetura, ao objeto e ao projeto expositivo em uma tríade que possuí ligação com o conceito do fato museal elaborado por Waldisa Rússio Guarnieri (GUARNIERI, 2010, p. 203). Este apresenta como campo de estudo da Museologia a relação do homem com o objeto em um cenário institucionalizado. Assim, este estudo busca auxiliar a prática da atividade expográfica tendo em vista a observação, a relação e a interpretação dos elementos que interferem na concepção da exposição. Além disso, a pesquisa visa servir para o aprofundamento das questões sobre a arquitetura de museus no Brasil e para a concepção de seus espaços expositivos. O presente artigo apresenta os resultados obtidos na observação de vinte instituições que abrigam espaços expositivos na cidade de São Paulo. A estruturação do gráfico (fig. 2) possibilita a visualização da classificação dos museus paulistanos por meio de sua arquitetura e a relação desta com o espaço expositivo. Como procedimento metodológico foram pesquisados materiais bibliográficos, e realizadas pesquisas de observação, com o objetivo de gerar material iconográfico que possa servir não somente para aprimorar o entendimento das análises propostas, mas também como registro do processo de realização da pesquisa. Arquitetura dos museus contemporáneos O espaço museológico contemporâneo utilizado como local de exposições sofreu diversas mudanças em sua forma. A arquitetura estabeleceu, ao longo do tempo, novos modos de se projetar esses locais. Novos conceitos arquitetônicos aplicados à construção de museus modificaram não somente o espaço, mas o modo de expor os acervos. Observa-se que o conceito do local destinado às exposições moldou-se às necessidades dos museus e instituições culturais, que se tornaram, externamente, cada vez mais espetaculares. [44]

Para orientar esta pesquisa foram utilizados dois modelos de classificação da arquitetura de museus contemporâneos, um deles desenvolvido pelo português Nuno Grande, que opera entre paradigmas modernistas e pós-modernos, traçando um panorama da arquitectura (no sentido espacial) de alguns dos mais recentes museus e centros de arte contemporânea à luz das diferentes arquitecturas institucionais. (GRANDE, 2009, p. 6). A classificação de Grande apresenta os museus divididos em ícone, reduto, paisagem, squatter, laboratório, acervo e cluster. O segundo modelo trabalhado é do arquiteto espanhol Josep Maria Montaner, que nos mostra o panorama e a condição contemporânea da arquitetura de museus (MONTANER, 2003, p. 8), destacando importantes referências para o século XXI. O trabalho de Montaner cria oito tipologias preponderantes na arquitetura do museu contemporâneo: organismos extraordinários, evolução da caixa, objeto minimalista, museu-museu, museu voltado para si mesmo, museu colagem, antimuseu e as formas de desmaterialização. Proposta de classificação arquitetônica e suas influências na expografia Como dito anteriormente, a forma das exposições contemporâneas também sofreu grandes transformações. Sobretudo a partir das ações das vanguardas artísticas dos séculos XIX e XX (CASTILLO, 2008), somado às questões das influências arquitetônicas no espaço expositivo e artístico, bem como da construção do pensamento museológico a partir da metade do século XX, podemos afirmar que existe, atualmente, uma relação entre: a) o projeto arquitetônico dos museus e centros culturais; b) o objeto da exposição; e c) a expografia. Dessa forma, o projeto arquitetônico das instituições pode estar intrinsecamente relacionado ao objeto a ser exposto, qual seja o conjunto de obras ou objetos de cunho artístico, histórico, científico, entre outros, além de como o projeto expográfico irá comunicar tal objeto. Assim, é a relação desses fatores que influenciam no resultado final da exposição no interior do espaço expositivo (fig. 1). Figura 1 Relações entre os elementos que influenciam a exposição. [45]

Para analisar tais relações foram selecionadas vinte instituições brasileiras, relacionadas no Cadastro Nacional de Museus do Instituto Brasileiro de Museus IBRAM, localizadas na cidade de São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, Centro da Cultura Judaica, Centro Cultural São Paulo, Galeria de Arte do SESI, Instituto de Arte Contemporânea, Instituto Itaú Cultural, Instituto Tomie Ohtake, Memorial da Resistência, Museu Afro Brasil, Museu de Arte Contemporânea/USP, Museu de Arte Moderna, Museu de Arte de São Paulo, Museu Brasileiro da Escultura, Museu da Casa Brasileira, Museu do Futebol, Museu da Imagem e do Som, Museu da Língua Portuguesa, Paço das Artes, Pinacoteca do Estado de São Paulo e SESC Pompei Análise do gráfico de classificação Esta pesquisa está representada pelo gráfico (fig. 2) que, a partir da classificação arquitetônica de museus utilizada e dos dados observados em campo, possibilita uma leitura dos espaços expositivos em relação às suas respectivas arquiteturas, algumas comentadas a seguir. Não há um museu de características espetaculares ou experimentais que se encaixe nas posições tipológicas de museus como organismos extraordinários, antimuseus ou formas de desmaterialização. A maioria das instituições está localizada em posições tradicionais, marcadas pela influência da arquitetura moderna ou no uso de prédios antigos. Dois modelos concentram a maioria das instituições analisadas em São Paulo: evolução da caixa, demonstrando uma forte influência modernista nos projetos arquitetônicos e museus voltados para si, que interpretamos como fruto da proximidade na forma de programação expositiva dessas instituições. Como museu-museu, situam-se dois edifícios: o Centro Cultural Banco do Brasil, que manteve as características originais da arquitetura do prédio, e o Centro da Cultura Judaica. Observamos que os demais modelos de instituições que utilizam prédios antigos alteraram de alguma maneira sua estrutura arquitetônica, certamente para uma adequação às necessidades museológicas ou institucionais. No percurso de Nuno Grande, o gráfico apresenta uma distribuição mais abrangente, com instituições ocupando todas as faixas, mas com maior concentração no museu squatter oito no total, reforçando a constatação sobre a utilização de edifícios antigos ou abandonados para instalação de museus. O museu laboratório evidencia-se em quatro das instituições, com proposta programática diferenciada e ligada à tecnologia. [46]

Não foram encontrados em São Paulo museus com projetos arquitetônicos arrojados, como o Guggenheim Bilbao, na Espanha ou o Kunsthaus Graz, na Áustria, o que pode ocorrer devido à própria tessitura urbana ou ainda em razão da condição financeira do país. Influências sobre a expografia Após a classificação das instituições de acordo com seus modelos arquitetônicos, analisaremos suas influências no projeto expositivo, considerando também o objeto da exposição, entendido aqui como o conjunto exposto no interior de um determinado recorte curatorial. Para este trabalho utilizaremos uma gradação simplificada com três níveis: alto, médio e baixo. Para um grau de nível alto, a exposição tem projeto arquitetônico do espaço em relação direta com o objeto exposto, e a expografia considera os dois elementos no campo conceitual e também na execução do projeto. Ou seja, três elementos se relacionam. No caso de um grau de influência médio, o projeto arquitetônico não tem relação direta com o objeto exposto, mas, de alguma forma, é absorvido pelo projeto expográfico. Em um grau baixo de influência, a proposta arquitetônica do espaço não possui qualquer relação com o objeto exposto e nenhum dos elementos é considerado pela expografia. Ressaltamos que tal análise não possui nenhum critério de valoração sobre as exposições visitadas. Assim, um grau alto não significa que uma exposição está bem resolvida expograficamente, da mesma forma um baixo grau de influência pode representar uma exposição que tenha tido bons resultados em relação aos seus objetivos. O que esta indicação de graus de influência pretende observar é se ao elaborar uma exposição o projeto de arquitetura do espaço museológico e o objeto da exposição foram considerados ou influenciaram a expografia. Notamos que a maioria das instituições analisadas apresenta uma alta influência (cor azul do gráfico) na expografia, totalizando 15 das vinte instituições analisadas. Com base nas informações do diagrama, temos que a maior incidência de baixo e médio grau de relacionamento ocorre com museus do tipo squatter, demonstrando que as intervenções ou adaptações de edifícios antigos ou abandonados nem sempre têm suas características históricas consideradas nos programas expositivos. Necessidades de adaptações museológicas que encobrem o edifício original ou a diversidade do programa de exposições podem ser as causas desta situação. [47]

Os museus voltados para si agrupam o maior número de alto grau de influência, seis instituições. O que reflete a forte relação destas com seus acervos e conceitos arquitetônicos, geralmente localizados em prédios que possuem relação direta com suas propostas. Nos modelos identificados segundo a proposta de Nuno Grande, observamos que todos os quatro museus laboratórios possuem alto grau de influência, o que pode representar uma programação de exposições que pensa a utilização do espaço em toda potencialidade para o qual foi projetado. Figura 2 Proposta de classificação arquitetônica e níveis de influência. Podemos dizer que o gráfico acima é a fotografia de um momento. A relação de uma exposição específica em determinado espaço expositivo e arquitetônico. Elas podem ser alteradas de acordo com o tipo de exposição, pois alguns espaços têm propostas expositivas bem determinadas, outros já são bem diversos. Ou seja, uma mesma exposição em outro local poderia apresentar diferentes graus de relação. [48]

Conclusão A exposição e a arquitetura foram e, ainda são, elementos fundamentais para a mudança das posições conceituais dos museus ao longo dos séculos. De monumentos clássicos dedicados à elite, os museus passaram por um período de abandono e rejeição em que eram conhecidos como depósitos de velharias. No final do século XX, porém, surgem como templo da espetacularização da cultura. A arquitetura é grande responsável pela eloquência desses novos museus. A reformulação dos conceitos situa a instituição museológica em um novo patamar e, de certa forma, provoca uma mudança na forma de se expor. Soma-se, a isso, as mudanças propostas pelas vanguardas artísticas e pelas transformações da sociedade em geral. A exposição contemporânea é também influenciada pela Museologia, que vai estabelecer novos pensamentos para o museu e suas funções. Uma forma diferente de pensamento museológico lança as bases para uma compreensão mais ampla, e a exposição passa a ser entendida como um meio de comunicação do patrimônio visando sua preservação. No Brasil uma mudança na forma de apresentação de exposições tem início a partir dos anos 1990, com a realização das grandes mostras internacionais. Nos anos 2000 inicia-se a implantação de novos museus (ou a revitalização dos tradicionais), como o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol com uso de tecnologias interativas e audiovisuais para a exposição de patrimônio imaterial. No contínuo desse processo, novos museus com arquiteturas contemporâneas serão inaugurados na cidade do Rio de Janeiro: O Museu da Imagem e do Som MIS, com projeto do escritório de Nova Iorque Diller Scofidio+Renfro; o Museu de Artes do Rio MAR dos arquitetos Thiago Bernardes e Paulo Jacobsen e um projeto do espanhol Santiago Calatrava, o Museu do Amanhã. Os dois últimos fazem parte do projeto de e reurbanização e revitalização turística da zona portuária da cidade. Apesar da notabilidade dos museus e de futuros projetos que serão realizados no país, ainda carecemos de uma bibliografia que dê conta das características brasileiras no que diz respeito à arquitetura e à expografia. Lisbeth Rebollo Gonçalves (GONÇALVES, 2004), Marília Xavier Cury CURY, 2005) e Sonia Salcedo Del Castillo (CASTILLO, 2008) são algumas autoras que preenchem essa lacuna, complementada por artigos e teses nas áreas de museologia, arquitetura e artes plásticas, que também tratam do assunto. Houve, portanto, uma intenção deliberada por parte desta pesquisa de tratar sobre o tema arquitetura e exposição para poder iniciar um debate e, pretensiosamente, [49]

suscitar novos estudos sobre a arquitetura de museus no Brasil e sobre sua influência nos projetos de exposições. Desde já fica clara a necessidade de aprofundamento de várias questões propostas neste trabalho, que, por sua característica acadêmica, não foi possível desenvolver. Um mapeamento amplo da arquitetura de museu brasileira e sua historicidade, a pesquisa de uma determinada instituição a partir de suas diversas formas expográficas ou a investigação dos diferentes níveis de influência de acordo com variáveis socioeconômicas, são alguns exemplos de questões que ainda precisam de muita reflexão. Referencias Bibliográficas ANTUNES, Bianca. Arte e Arquitetura. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 196. jul. 2010. ARAÚJO, Marcelo Mattos; BRUNO, Maria Cristina de Oliveira. Um momento de reflexão sobre o nosso passado museológico. In: BRUNO, Maria Cristina de Oliveira (coord). O ICOM-Brasil e o pensamento museológico brasileiro: documentos selecionados. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Secretaria de Estado da Cultura: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, 2010. Vol. 2. 164 p. CARVALHO, Mario César; SEABRA, Catia. Atrações poderão ser vistas da rua. Folha de São Paulo, São Paulo, 18 jun. 2009. Ilustrada, p. E4. CASTILLO, Sonia Salcedo Del. Cenário da arquitetura da arte: montagem e espaços de exposições. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 347 p. CURY, Marilia Xavier. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume, 2005. 160 p. GRANDE, Nuno. Museomania: museus de hoje, modelos de ontem. Porto: Fundação de Serralves; Jornal Público, 2009. 182 p. il. GUARNIERI, Waldisa Rússio Camargo. Conceito de Cultura e sua inter-relação com o patrimônio cultural e a preservação. In: BRUNO, Maria Cristina de Oliveira (coord). Waldisa Rússio Camargo Guarnieri: textos e contextos de uma trajetória profissional. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Secretaria de Estado da Cultura: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, 2010. Vol. 1. 313 p. [50]

HORTA Maria de Lourdes Parreiras. Vinte anos depois de Santiago: a declaração de Caracas. In: BRUNO, Maria Cristina de Oliveira (coord). O ICOM-Brasil e o pensamento museológico brasileiro: documentos selecionados. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Secretaria de Estado da Cultura: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, 2010. Vol. 2. 164 p. LIMA, Anny Christina da Silva. Preservação pela comunicação: a relação entre a exposição e a ação educativa. 2002. 167 p. Monografia (Especialização em Museologia) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. MENESES, Ulpiano Bezerra Toledo de. A problemática da identidade cultural nos museus: de objetivo (de ação) a objeto (de conhecimento). Anais do Museu Paulista Nova Série, São Paulo, v. 1, p. 207-222, 1993. MONTANER, Josep Maria. Museus para o século XXI. Barcelona: Gustavo Gili, 2003. 158 p. MORALES, Alexander. La cultura caribe ya tiene su museo. El Heraldo, Barranquilla, 25 abr. 2009. p. 3A. NIEMEYER, Oscar (Org.). Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Rio de Janeiro: Revan, 1997. 84 p. il. O DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 138 p. il. OLIVEIRA, Olívia de. Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura. São Paulo: Romano [51]