Autora: Maria Izabel unes (izabeln@uol.com.br) UP-TO-DATE. ANO I. NÚMERO 35 CAVALCANTE ASSOCIADOS



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Transcrição:

UP-TO-DATE. ANO I. NÚMERO 35 Í DICE BETA E SUA IMPORTÂ CIA PARA A DETERMI AÇÃO DE RISCO DOS ATIVOS Beta ajustado, contábil, alavancado e desalavancado Sua utilização como medida de risco dos ativos Autora: Maria Izabel unes (izabeln@uol.com.br) Administradora de Empresas graduada pela Universidade Mackenzie Em 1997, concluiu o CEA Curso de Especialização de Analista de Mercado de Capitais, realizado pela FIPECAFI -ABAMEC Analista de Investimentos desde 1991. Fez parte da equipe técnica do Banco Bradesco e recentemente atua na área de Corporate Finance do Banco Bandeirantes de Investimentos Grupo Caixa Geral de Depósitos o 15 Congresso da ABAMEC sua monografia PRI CIPAIS OPERAÇÕES O MERCADO DE CAPITAIS E SUAS METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO, recebeu o prêmio de melhor tese na categoria tema livre. CAVALCANTE & ASSOCIADOS Copyright 1998 Cavalcante & Associados Direitos Reservados. Esta obra não pode ser revendida ou alugada, por qualquer processo, sem o prévio consentimento do autor. 1

Í DICE Apresentação do Up-To-Date 35 03 Risco x Retorno: O eterno dilema do investidor 04 Índice Beta 06 Distorções do indicador: utilizando o beta ajustado Cálculo do Beta (Empresas de Capital Fechado) 08 09 Beta Contábil 11 Caso prático proposto 13 Caso prático resolvido 14 2

APRESENTAÇÃO DO UP-TO-DATE 35 Neste Up-To-Date 35 iremos abordar uma das principais ferramentas que auxiliam o investidor na determinação do grau de risco dos ativos que compõe sua carteira de investimentos: o índice beta. Apesar da relação risco X retorno ser uma preocupação antiga entre os indivíduos que compõe o mercado, somente em 1990 Willian F. Sharpe elaborou uma teoria capaz mensurar a percepção de custo de oportunidade através da conjugação de variáveis como as taxas livre de risco, prêmio de mercado e risco do ativos a qual foi denominada CAPM (Capital Asset Pricing Model) e que já foi abordada com mais detalhes no Up-To-Date 24. Baseado neste cenário, uma das funções básicas do índice beta é estabelecer uma relação entre o retorno de uma determinada ação comparativamente ao mercado em que atua. Os níveis de oscilação destes papéis irão determinar seu grau de risco. Com o passar do tempo, o conceito de beta sofreu uma evolução, pois verificou-se que este índice sofre alterações no longo prazo pois é impactado pela própria estrutura da empresa no que se refere à sua composição de custos (alavancagem operacional) e principalmente, pela forma de financiamento de suas atividades (alavancagem financeira). Visando a melhor compreensão do assunto, foram desenvolvidos os seguintes tópicos: relação risco x retorno bem como a utilização da diversificação de investimentos objetivando a maximização da rentabilidade de um portfólio; conceito básico de índice beta (forma de cálculo), modalidades existentes (beta ajustado, contábil, alavancado, desalavancado) bem como as principais distorções do modelo. 3

RISCO X RETORNO: O ETERNO DILEMA DO INVESTIDOR No mercado, os indivíduos norteiam suas decisões de investimentos a partir de uma expectativa de retorno. Logo, está implícito neste raciocínio que a disposição para assumir riscos crescentes é diretamente proporcional à capacidade de se obter incrementos significativos nos níveis de rentabilidade (prêmio) frente ao custo de oportunidade (taxa livre de risco). O grau de preferência de aquisição de determinados ativos face a relação risco x retorno pode ser traduzido na Curva de Mercado de Capitais CMC. É importante frisar que tal classificação é extremamente flexível, de acordo com conjuntura macroeconômica do momento. Retorno Ações Ordinárias Debêntures de 1 a Linha Títulos Federais CDB - 1 a Linha Risco Observação: Tomando-se como referencial um indivíduo que possua forte aversão por riscos, concluímos que sua melhor opção de investimento seria a aquisição de títulos do governo cuja taxa de risco é nula (e consequentemente tem um retorno baixo em relação a um ativo com maior risco). Dentro deste cenário, a decisão de compra de ativos seguiria uma ordem de prioridades onde se verifica que a aquisição de ações seria a última opção a ser analisada, pois apesar de possuir um nível de rentabilidade muito superior se comparada aos itens anteriores, também possui uma variável risco sensivelmente maior. 4

Como cada ativo possui um risco intrínseco, a melhor forma de maximizar ganhos é, sem dúvida a diversificação do portfólio, que deve observar os seguintes aspectos: Risco não sistemático (diversificável): É caracterizado pelas variáveis que afetam de forma particular uma empresa ou seu setor de atuação (exemplo: os ciclos de preços de algumas commodities face a necessidade de ajustes entre a oferta e demanda, sazonalidade dos negócios, etc). Risco sistemático (não diversificável): Refere-se alterações do sistema econômico (exemplo: inflação, guerra, mudanças no câmbio, etc) impactando, sem exceção, todas as empresas existentes neste contexto. Neste caso, o grau de risco destas companhias será determinado pelo maior/menor reflexo destes eventos em seus resultados A combinação de ativos só faz sentido se suas expectativas de retorno possuírem uma correlação negativa (ou seja, as companhias apresentam respostas opostas frente a uma mesma situação, permitindo que no mínimo, a carteira mantenha sua rentabilidade intacta). o entanto vale frisar que a diversificação baseia-se em um conceito de seletividade, ou seja, só se torna eficiente em um portfólio de no máximo 35 40 ativos. A partir deste número, a performance da carteira tende a ser similar a do mercado. Risco 40 o de ativos 5

ÍNDICE BETA Fórmula: Baseado no conceito de risco sistemático, o índice beta (ß) indica a relação entre o retorno de um ativo e o retorno do mercado: ß = Covariância do retorno do ativo Variância do retorno de mercado Para o melhor entendimento desta fórmula, faremos uma breve revisão de alguns conceitos estatísticos: A definição básica de risco é a probabilidade de uma perda efetiva ou a obtenção de um retorno abaixo do esperado. Partindo-se deste pressuposto, os níveis de rentabilidade de uma ação podem ser expressos através de uma distribuição normal, onde podemos calcular a média dos dados bem como o desvio padrão (grau de dispersão destes resultados frente a esta média). A variância mede as oscilações de rentabilidade de um ativo ou de uma carteira de forma individual. Em termos conceituais, a variância é a diferença dos retornos efetivamente obtidos e a média. A covariância visa relacionar dois elementos independentes (no caso da fórmula do beta o ativo isolado e o mercado, que está representado pela carteira do índice de ações local). A fórmula acima é conhecida como regressão linear onde os retornos médios do ativo que se pretende analisar frente ao risco são ajustados a uma reta. 6

Características: É importante frisar que uma das características mais significativas deste índice é que o beta médio de todos os títulos disponíveis no mercado é sempre igual 1. A partir deste pressuposto, pode-se extrair algumas conclusões: ß =1 ß <1 ß >1 O ativo possui os mesmos níveis de rentabilidade do mercado (ou seja se mercado apresenta uma oscilação de 10% as cotações do ativo também oscilam 10%). Estes ativos são chamados de tipo médio O ativo possui oscilações inferiores a do mercado (ou seja, a volatilidade das ações de um ativo com ß =0,5, é exatamente a metade daquela verificada no mercado). Trata-se de um ativo tipo defensivo O ativo possui oscilações superiores a do mercado (ou seja, a volatilidade das ações de um ativo com ß =2, é o dobro daquela verificada no mercado). Trata-se de um ativo tipo agressivo 7

DISTORÇÕES DO INDICADOR: UTILIZANDO O BETA AJUSTADO O valor do beta pode sofrer alterações no longo prazo em virtude da evolução da empresa no que se refere a melhorias nos níveis de resultados aliadas a seu grau de alavancagem financeira. Os investidores, de forma geral, estão preocupados com as perspectivas futuras para balizar suas decisões. O caráter retrospectivo do cálculo do beta muitas vezes não se enquadra neste perfil. Para solucionar este impasse, Marshall E. Blume, criou o beta ajustado partindo do conceito de que no longo prazo, todas as empresas tendem a apresentar um beta similar ao do mercado (ou seja ß =1) em virtude de seu próprio amadurecimento operacional. A partir deste princípio o beta ajustado da companhia é obtido através de uma ponderação entre seus indicadores históricos e futuros obedecendo a seguinte proporção: ß ajustado = 1/3 x ß histórico + 2/3 x ß de mercado O cálculo do índice só se torna confiável a partir da utilização de uma série histórica de dados longa (no caso americano, recomenda-se um período mínimo de 260 semanas ou 5 anos). No que se refere ao mercado brasileiro, deve-se utilizar um período menor (cerca de 52 semanas) pois o período de estabilidade econômica é relativamente recente, o que pode provocar maiores distorções ao índice dado a sua oscilação frente a estas variáveis macroeconômicas. 8

CÁLCULO DO BETA (CIAS. DE CAPITAL FECHADO) Para financiar o desenvolvimento de suas atividades, cada empresa possui uma estrutura de capital que pode contemplar um maior/menor nível de endividamento. Pode-se deduzir que o grau de alavancagem financeira de uma companhia, comparativamente a sua capacidade de geração de caixa também é um indicador de risco. No caso de empresas que não possuem histórico de rentabilidade de ações que justifiquem o cálculo do beta, utiliza-se um mecanismo denominado beta alavancado / desalavancado, que pode ser expresso através das seguintes fórmulas Beta Alavancado = ß*[1+(1-T)*(D/E)] Beta Desalavancado = ß [1+(1-T)*(D/E)] Onde: T = Alíquota de imposto de renda específica da empresa D = Endividamento Oneroso E = Patrimônio Líquido No caso de empresas de capital fechado, utiliza-se o beta de seu setor de atuação. Antes de se efetuar o cálculo da média é preciso proceder a um ajuste que visa retirar de cada índice os efeitos da relação D/E das empresas originais, ou seja, desalavancar os betas. 9

A partir deste momento, obtém-se o beta médio do setor que deverá se adequar a estrutura de capital da empresa em estudo através do processo de alavancagem. Exemplo: A tradicional fabricante de injetoras de plásticos Jet Flex., pretende efetuar a venda de seu controle. Para dar continuidade ao processo contratou a consultoria WKZ para realizar uma avaliação financeira. Ao final das projeções, o analista teve que calcular qual taxa de desconto seria mais adequada. Parâmetros como taxas livre de risco e prêmios de mercado foram obtidos junto ao departamento de economia. Bolsa. O cálculo do beta, entretanto, mostrava-se mais árduo visto que a Jet Flex. não possuía ações em Após exaustiva pesquisa, ele encontrou cinco empresas de capital aberto que produziam os mesmos itens que a Jet Flex. De posse dos dados foi possível montar a seguinte tabela: Cia. ß (52 semanas) Debt/ Equity Imposto (T) [1+(1-T)*(D/E)] Beta desalavancado ß/[1+(1-T)*(D/E)] A 1,2 55% 33% 1+(1-0,33)*(0,55) = 1,37 1,20/1,37 = 0,88 B 0,7 30% 33% 1+(1-0,33)*(0,30) = 1,20 0,70/1,20 = 0,58 C 1,7 60% 33% 1+(1-0,33)*(0,60) = 1,40 1,70/1,40 = 1,21 D 2,0 80% 33% 1+(1-0,33)*(0,80) = 1,54 2,0/1,54 = 1,30 E 0,5 10% 33% 1+(1-0,33)*(0,10) = 1,07 0,5/1,07 = 0,47 Média 0,89 Com isto ficou o cálculo do Beta para a Cia Jet Flex. ficou mais simplificado, partindo do seguinte raciocínio: ß (setor) Debt/Equity Jet Flex. Imposto (T) [1+(1-T)*(D/E)] Beta alavancado ß*[1+(1-T)*(D/E)] 0,89 75% 33% 1+(1-0,33)*(0,75) = 1,50 0,89*1,50 = 1,34 Ou seja, o índice beta da Cia Et Flex. é igual a 1,34 Desvantagem do Modelo: Estes conceitos só são válidos se forem encontradas empresa que atuem no mesmo setor oferecendo a mesma gama de produtos e serviços. Do contrário, a percepção de risco através da estrutura D/E fica completamente prejudicada. 10

BETA CONTÁBIL O nível de alavancagem operacional de uma empresa (que é traduzido pela relação custos fixos x variáveis) também pode ser considerado um fator de risco, pois se a companhia possui elevada posição de custos fixos tem que efetuar um esforço de vendas mais agressivo para diluir estes gastos, o que certamente irá impactar seus níveis de resultados. Baseado neste princípio, o beta de uma empresa também pode ser calculado através de sua rentabilidade frente ao mercado, através de sua capacidade de geração de lucros operacionais (EBIT = earnings before interest and taxes) comparativamente a seus ativos. O mesmo procedimento deve ser aplicado a todas as empresas que compõe o índice de ações local e por fim é aplicada a mesma fórmula de regressão de linear vista inicialmente. É importante frisar que o beta contábil geralmente mantém a mesma ordem de grandeza do beta obtido a partir dos retornos das ações. No mercado americano, existem diferentes softwares que possuem uma banco de dados detalhado, que permite o armazenamento de uma série histórica razoável para o cálculo destes índices de forma simplificada. Para maiores detalhes, é aconselhável uma pesquisa a um dos maiores sistemas de suporte a investidores norte americanos: sistema BARRA, através do site Erro! Indicador não definido.. Apenas a título de ilustração, tentaremos demonstrar um exemplo hipotético para o cálculo do beta contábil: Suponha que as médias de rentabilidade de uma empresa e do mercado (ponderada pela sua participação na carteira teórica do índice de ações local) apresente a seguinte configuração nos últimos 36 trimestres (8 anos): 11

Rentabilidade média da empresa (EBIT/Ativos) Rentabilidade média do mercado (EBIT/Ativos) 40% 15% 20% 12% 35% 14% 45% 20% 50% 25% 55% 30% 56% 22% 46% 10% 40% 9% 43% 23% 44% 22% 37% 24% 38% 15% 39% 12% 25% 8% 27% 5% 28% 12% 30% 11% 24% 16% 45% 17% 44% 18% 38% 19% 33% 25% 35% 22% 30% 21% 27% 20% 28% 17% 45% 18% 48% 16% 47% 14% 46% 13% 43% 12% 40% 11% 37% 10% 38% 8% 36% 17% 30% 18% Cov (ativo merc) = 0,00176 Var (merc) = 0,003224 * Os cálculos de covariância e variância podem ser obtidos através de uma fórmulas inseridas no Excel. Logo, pela Fórmula do Beta, onde Covariância do retorno do ativo / Variância do retorno de mercado, temos 0,00176/0,003224 = 0,55. Ou seja, o beta do ativo é igual a 0,55. 12

CASO PRÁTICO PROPOSTO Um analista de investimentos estava efetuando dois estudos em paralelo: Venda do controle acionário da empresa X Ray, uma tradicional fabricante de equipamentos eletroeletrônicos. Abertura de capital da Cia Zetech que se destina a produção de componentes de injeção eletrônica para grandes montadoras Mesmo tendo finalizado suas projeções, a determinação do valor justo da empresa estava se tornando difícil pois o cálculo do índice beta (componente da taxa de desconto) não poderia ser calculado facilmente tendo em vista que nenhuma das empresas possuía negociações em Bolsa. Após intensa pesquisa o analista encontrou os seguintes betas médios: Beta Médio Setor de Eletroeletrônicos Brasil Beta Médio Setor de Autopeças USA Empresa Beta D/E Impostos Empresa Beta D/E Impostos A 0,5 50% 33% A 1,5 70% 25% B 0,8 70% 33% B 1,2 60% 25% C 0,3 40% 33% C 0,8 50% 25% D 0,7 60% 33% D 1,7 80% 25% E 1,0 80% 33% E 2,0 90% 25% Vale frisar que a X Ray possui uma relação D/E de 30% e uma alíquota de IR de 33%. Já a Cia Zetech apresenta uma relação de D/E de 20% e possui uma taxa efetiva de imposto também em torno de 33%. A partir destes dados o analista ficou em dúvida se o conceito de beta alavancado/desalavancado seria recomendável para as duas empresas. Qual sua sugestão, destacando os seguintes pontos: 1) Em qual das empresas este método seria aplicável e porque (Efetuar o cálculo para justificar sua resposta) 2) Se houver alguma empresa onde tal cálculo não seja possível, qual a melhor metodologia a ser utilizada: beta ajustado ou beta contábil? 13

CASO PRÁTICO RESOLVIDO 1) O cálculo do beta baseado no conceito de alavancagem financeira (beta alavancado/desalavancado) só seria possível no caso da Cia X Ray pois a média encontrada baseia-se em empresas que possuem linhas de produtos idênticas a sua e atuam no mesmo mercado. Dentro deste cenário, o índice beta poderia ser obtido da seguinte forma: a) Desalavancar o beta das empresas do setor de acordo com sua estrutura de capital: Cia. ß (52 semanas) Debt/ Equity Imposto (T) [1+(1-T)*(D/E)] Beta desalavancado ß/[1+(1-T)*(D/E)] A 0,5 50% 33% 1+(1-0,33)*(0,50) = 1,34 0,50/1,34 = 0,37 B 0,8 70% 33% 1+(1-0,33)*(0,70) = 1,47 0,80/1,47 = 0,54 C 0,3 40% 33% 1+(1-0,33)*(0,40) = 1,27 0,30/1,27 = 0,24 D 0,7 60% 33% 1+(1-0,33)*(0,60) = 1,40 0,70/1,40 = 0,50 E 1,0 80% 33% 1+(1-0,33)*(0,80) = 1,54 1,00/1,54 = 0,65 Média 0,46 a) Alavancar o beta médio de acordo com a estrutura de capital da X Ray ß Debt/Equity Imposto [1+(1-T)*(D/E)] Beta alavancado (setor) X RAY (T) ß*[1+(1-T)*(D/E)] 0,46 30% 33% 1+(1-0,33)*(0,30) = 1,20 0,46*1,20 = 0,55 2) No caso da Cia Zetech, apesar do cálculo de seu beta estar baseado em empresa com linhas de produção similares, o fato destas companhias estarem atuando no mercado americano distorce o conceito de risco pois são cenários macroeconômico diferentes. O método do beta contábil (baseado no lucro operacional antes dos resultados financeiros sobre os ativos totais) se mostraria o mais adequado. Ocorre porém um inconveniente: de forma similar ao cálculo do beta fundamentado no retorno médio das ações seria necessária um série histórica longa para a empresa e o mercado o que seria pouco factível sem a existência de um software que já apresentasse uma sensibilidade destes valores (conforme visto anteriormente este critério é pouco difundido no Brasil). Como se trata de empresa de capital fechado, usaria o beta = 1 pois a longo prazo, todas as empresas tendem a apresentar o mesmo beta do mercado (estaria sendo conservadora visto que a empresa possui baixo nível de alavancagem financeira). A ponderação tal como é proposta no modelo de beta ajustado não seria possível em virtude da ausência de dados históricos. 14