Capítulo 34. Companheiro benfeitor A sua fé se abrilhanta No suor do dia a dia Sois herói na guerra santa Contra a fome tão bravia.



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Transcrição:

Capítulo 34 Companheiro benfeitor A sua fé se abrilhanta No suor do dia a dia Sois herói na guerra santa Contra a fome tão bravia. Bravo heróico defensor Que o seu querer se agiganta Em prol da ecologia E Deus lá do céu garanta Sua imortal companhia. Geovane Alves de Andrade

1051 Investimentos Sociais em Cadeias Produtivas Associadas à Agricultura Familiar para Geração de Trabalho e Renda: a experiência da Fundação Banco do Brasil Jacques Pena Claiton Mello Abstract This chapter presents an assessment of investments, methodology and social articulation made by the Bank of Brazil Foundation in production chains, focusing on actions developed in the city of Picos, state of Piauí, at the Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido Brasileiro - Casa Apis and at Central de Cooperativas de Cajucultores do Estado do Piauí Cocajupi.

1052 Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais Introdução Em conjunto com diversas organizações e empresas estatais, como o Banco do Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Caixa Econômica Federal, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre outras, a Fundação Banco do Brasil geriu um dos comitês do Programa Fome Zero do governo federal, chamado Comitê Operativo Multissetorial, em 2003. O objetivo do grupo era definir uma compreensão comum para as organizações atuarem alinhadas ao Programa Fome Zero. Dessa experiência, a Fundação orientou seus investimentos, de um modo geral, ao mesmo público daquele programa federal: agricultores familiares, assentados da reforma agrária, índios, comunidades quilombolas e população dos grandes centros urbanos que vivem nos e dos lixões. Do ponto de vista territorial, os investimentos deveriam ser priorizados à Região Nordeste. Posteriormente, com a Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (Unitrabalho) e o Sebrae, foi construído um instrumento conceitual traduzido como referencial metodológico, para atuação na área de geração de trabalho e renda, documento chamado de Referências metodológicas para atuação em cadeias produtivas envolvendo populações pobres, que direcionou a forma de se realizar o investimento social, modelo até hoje aplicado pela Fundação Banco do Brasil, conforme aponta Luiz Parreiras, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea): Nele estão os elementos de fundamentação e orientação metodológica da proposta de constituição de empreendimentos sustentáveis e solidários em cadeias produtivas. Assim, o documento passou a ser a fonte de orientação no desenvolvimento de projetos e a referência para um rico diálogo com as lições propiciadas pela experiência de sua execução (PARREIRAS, 2007, p. 33). A partir da concepção do referencial, a base da intervenção social da Fundação Banco do Brasil parte, primeiramente, da mobilização dos atores sociais locais; do envolvimento amplo de parcerias institucionais, buscando as melhores habilidades e competências das organizações; e do investimento financeiro, propriamente dito, focado na sustentabilidade e efetividade das ações.

Investimentos Sociais em Cadeias Produtivas Associadas... 1053 Cadeias Produtivas e Empreendimentos Solidários A primeira cadeia produtiva definida como objeto de investimento da Fundação foi a da cajucultura, dirigida, principalmente, aos estados nordestinos de maior produção da cultura: Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia e Maranhão. Neste último, porém, ainda não foram iniciados os investimentos. Como cadeia produtiva, pode-se entender o conceito nos termos definidos por Mance: As cadeias produtivas compõem todas as etapas realizadas para elaborar, distribuir e comercializar um bem ou serviço até seu consumo final [...] A reorganização solidária das cadeias produtivas, sob a lógica da abundância, amplia os benefícios sociais dos empreendimentos em função da distribuição de riqueza que operam, visando a sustentar o consumo nas próprias redes. (MANCE, 2003, p. 26). A seguir, na Tabela 1, estão descritos os investimentos sociais realizados pela Fundação Banco do Brasil, desde o ano de 2003, apontando os municípios onde se encontram as comunidades participantes e mobilizadas em torno dos empreendimentos solidários; o número de famílias participantes; as unidades de produção e suas fases de implantação; e os recursos financeiros investidos, sem considerar os aportes de recursos de outros parceiros institucionais nos projetos. A intervenção na cadeia produtiva da cajucultura, como apontado no referencial metodológico, parte da mobilização e organização produtiva dos agricultores em cooperativas, que definem os locais para implantação das minifábricas de beneficiamento de caju unidade para o primeiro tratamento do produto, sendo dez unidades por Unidade Federativa, e tem como meta a criação e instituição de uma cooperativa central, instrumentalizada por uma unidade de processamento das amêndoas, que receberá a produção das minifábricas das cooperativas singulares e processará o produto para a comercialização, inclusive para a exportação.

Tabela 1. Investimentos na cajucultura, por Unidade Federativa. UF Municípios Nº de famílias Unidades de produção Investimento social da FBB PI Altos, Vila Nova do Piauí, Francisco dos Santos, 500 6 minifábricas em funcionamento R$ 2,3 mi Ipiranga do Piauí, Itainópolis, Jaicós, Campo 4 minifábricas projetadas Grande do Piauí, Monsenhor Hipólito, Picos, Pio 1 unidade central em funcionamento IX e Santo Antônio de Lisboa CE Barreira, Pacajus, Icapuí, Fortim, Tururu, Granja, 430 10 minifábricas em funcionamento R$ 3,9 mi Acarati e Ocara 1 unidade central em funcionamento RN Serra do Mel, Apodi, Portalegre, Caraúbas, 400 3 minifábricas em funcionamento R$ 1,5 mi Macaíba, Martins, Mossoró e Touros 3 minifábricas em construção 1 unidade central em funcionamento BA Microrregião de Ribeira do Pombal Banzaê, Cícero 350 3 minifábricas prontas R$ 1,5 mi Dantas e Olindina 5 minifábricas projetadas 1054 Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais

Investimentos Sociais em Cadeias Produtivas Associadas... 1055 Os Empreendimentos Solidários em Cadeias Produtivas: o caso da região de Picos, no Piauí No Piauí, os empreendimentos sociais na cajucultura envolvem mais de 500 famílias de agricultores familiares. A Unidade Central de Processamento de Caju, localizada em Picos, recebe toda a produção das minifábricas de beneficiamento e processa a amêndoa, sob a gestão da Central de Cooperativas de Cajucultores do Estado do Piauí (Cocajupi). Além da produção de caju, a região de Picos é uma das grandes produtoras de mel do País. Por ser um pólo metropolitano e de entroncamento rodoviário, situação aliada à estratégia de intervenção da Fundação Banco do Brasil, a cidade de Picos sintetizou-se em território fértil, local onde se encontram as duas unidades de processamento, tanto a de amêndoa de caju quanto a de mel, outra cadeia produtiva que conta com investimentos sociais da Fundação Banco do Brasil. Assim, a apicultura é o segundo grande investimento social da Fundação Banco do Brasil na região. O processo de mobilização social e a organização da produção acontecem da mesma forma que na cajucultura. Primeiro, a organização das cooperativas locais, hoje estabelecidas nos municípios de Picos, Pio IX, Itainópolis, Simplício Mendes, Piripiri, Esperantina e São Raimundo Nonato, no Piauí, além de Horizonte e Barbalha, no Ceará. Posteriormente, segue a implantação das casas de mel, 20 no total, que representam o primeiro estágio de beneficiamento do produto envolvendo 34 pequenas comunidades. Depois desse primeiro estágio, segue a organização e implantação da Unidade Central de Processamento do Mel, que fica também na cidade de Picos e que recebe a produção de todas as casas de mel, contando com a Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido Brasileiro (Casa Apis), entidade que faz a gestão da Unidade de Processamento de Mel e de todo o processo produtivo. O Acompanhamento Técnico e Político aos Empreendimentos Solidários Além da cajucultura e da apicultura, a mandiocultura é a terceira cadeia produtiva priorizada entre os investimentos sociais da Fundação Banco do Brasil junto a comunidades rurais. A cadeia produtiva da mandioca é desenvolvida no sudoeste da Bahia, na região de Vitória da Conquista, uma das regiões de maior produção dessa cultura. Para o

1056 Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais acompanhamento sistemático dos empreendimentos solidários, técnicos da Fundação, em parceria com consultores da Fundação Unitrabalho, formaram o Grupo Técnico de Assessoria (GTA), que participa de todas as etapas, desde a articulação e mobilização, juntamente com os dirigentes locais, até o acompanhamento dos processos de comercialização. A estratégia de criação do GTA mostrou-se acertada, na medida em que cada um desses empreendimentos solidários demandou grande esforço e presença física dos técnicos e consultores durante a formação inicial dos trabalhos de mobilização e organização das comunidades, o que não seria possível sem a existência do grupo. Outro fator fundamental foi a troca de experiências entre os empreendimentos, a partir da visão global do GTA, sobre as ações implantadas nas diferentes cadeias produtivas, como foi o caso do modelo proposto de cooperativas singulares em volta de uma cooperativa central, como aponta Parreiras: Essa decisão colocou todo o processo em um novo patamar de organização, pois a partir daí todas as novas cooperativas singulares passaram a ficar no mesmo plano, sendo igualmente representadas na cooperativa central, com seu espaço próprio de discussão e deliberação coletiva. A participação do GTA foi decisiva nessa transformação da estrutura organizacional do empreendimento, pois foi através dele que as experiências dos projetos em andamento no Piauí, tanto na própria cadeia do caju coma na cadeia do mel, puderam ser trazidas à consideração e compartilhadas pelos participantes do projeto no Ceará (PARREIRAS, 2007, p. 91). Além dos aspectos técnicos, de disseminação de metodologias comuns e de correção de rumos durante o processo de implementação dos empreendimentos, o GTA teve um papel de destaque no suporte político à Fundação Banco do Brasil e demais parceiros, percebendo, antecipadamente, os problemas de ordem relacional entre as entidades e participantes dos empreendimentos, sensibilizando e alertando as instituições parceiras e gestoras dos projetos sobre os problemas e soluções possíveis, para que o investimento social tivesse êxito. Primeiros Resultados dos Empreendimentos Solidários do Piauí A compreensão do conceito empreendimentos solidários envolve, necessariamente, uma perspectiva econômica, como aponta Gaiger:

Investimentos Sociais em Cadeias Produtivas Associadas... 1057 Os empreendimentos econômicos solidários compreendem as diversas modalidades de organização econômica, originadas da livre associação dos trabalhadores, com base nos princípios de autogestão, cooperação, eficiência e viabilidade (GAIGER, 2003, p. 135). A capacidade de produção de cada minifábrica de beneficiamento de caju pode chegar ao beneficiamento de até 1.000 Kg de castanhas por dia, o que representa 200 Kg de amêndoas prontas para o envio à Unidade Central de Processamento. Para uma melhor compreensão desses números, estabelece-se uma proporção de 5 kg de castanhas in natura, beneficiada pela minifábrica, para resultar em 1 kg de amêndoas prontas, para envio à unidade de processamento. Os números observados no primeiro período de funcionamento da Central de Cooperativas de Cajucultores do Estado do Piauí (Cocajupi), até o final do ano de 2007, resultaram na aquisição de castanhas de caju direto dos produtores, por meio de financiamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), volume que ultrapassou R$ 1 milhão. Por meio Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), cerca de 15 toneladas de amêndoas foram vendidas ao governo do estado para distribuição a escolas e creches piauienses. Além disso, outras 9,2 toneladas de amêndoas foram vendidas ao mercado nacional. Já o processo produtivo do mel organizado pela Central de Cooperativas de Apicultores do Semi-Árido Brasileiro (Casa Apis) conta com mais de 65 mil colméias, entre as mais de 1.800 famílias de agricultores familiares, que podem produzir, em média, 25 Kg de mel por ano, cada. Já a Unidade de Processamento de Mel, em Picos, tem a capacidade de processar até 2 milhões de quilos por ano, ou 160 mil quilos de mel por mês, em média. Até o final do ano 2007, a Casa Apis atingiu alguns resultados importantes, do ponto de vista organizacional e comercial. Na organização da produção, 300 cooperados, organizados em 156 apiários, já possuem o certificado de mel orgânico, o que gera maior valor agregado ao produto. A meta é que, no período de 5 anos, todos os filiados à central tenham o certificado. Comercialmente, a Casa Apis fechou contrato com empresa americana para a exportação de 72 toneladas de mel. O preço obtido pelo quilo do produto exportado foi de

1058 Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais US$ 1,76, o que representou, à época, R$ 3,20. Antes, os apicultores vendiam o mesmo produto, em média, por R$ 2,20 aos atravessadores comerciais, intermediários entre o produtor e os grandes atacados distribuidores. Outros negócios foram realizados com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que antecipou R$ 108 mil para formação de estoque. Da mesma forma, o governo do Estado do Piauí adquiriu, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos da Conab, 46 toneladas de mel para distribuição em instituições públicas piauienses, como creches, escolas e hospitais. Uma Visão Ampliada sobre os Investimentos Sociais Os investimentos sociais realizados pela Fundação Banco do Brasil, entre os anos de 2003 e 2007, somam R$ 384 milhões, distribuídos em 4.891 projetos, espalhados por todo o País, incluindo os programas na área de educação. A área de geração de trabalho e renda representa cerca de 70 % de todos esses investimentos, em ações voltadas à reaplicação de tecnologias sociais, como é o caso das barraginhas e do saneamento básico rural, tecnologias desenvolvidas por unidades da Embrapa. Outra tecnologia social é a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais), com mais de 1.000 unidades reaplicadas nos últimos anos. Também são desenvolvidas ações com o foco no desenvolvimento territorial, a exemplo dos projetos Urucuia Grande Sertão, no noroeste mineiro, do Berimbau, no litoral norte da Bahia, e, mais recentemente, no Território de Cocais, no meio-norte piauiense. No campo das cadeias produtivas, outra intervenção social da Fundação Banco do Brasil acontece junto aos trabalhadores catadores de materiais recicláveis localizados nos grandes centros urbanos. Nesse projeto, os investimentos ultrapassam os R$ 20 milhões, aplicados na estruturação do processo de produção, na organização social e na formação de redes para o fortalecimento da comercialização da produção solidária. Considerações Finais e Perspectivas As mais variadas experiências da Fundação Banco do Brasil na área de geração de trabalho e renda nos mostram o quanto diferentes comunidades participantes já avançaram, seja no processo produtivo seja na organização social ou na comercialização

Investimentos Sociais em Cadeias Produtivas Associadas... 1059 de seus produtos. Porém, muito ainda a Fundação tem a caminhar para consolidar e afirmar o modelo da economia solidária, partindo da construção de organizações participativas e democráticas, com capacidade de articulações de parcerias múltiplas, como forma de viabilizar os seus negócios solidários e o fortalecimento da cidadania. É com a perspectiva do desenvolvimento sustentável que os investimentos realizados pela Fundação buscam a articulação de parcerias e a mobilização dos participantes locais como atores protagonistas das ações de transformação social, respeitando as dimensões social, econômica e ambiental, aliadas ao respeito às tradições e à cultura. Dessa forma, ela está contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e que preserva a vida. Referências GAIGER, L. I. Empreendimentos econômicos solidários. In: CATTANI, A. D. (Org.). A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editora, 2003. MANCE, E. A. Cadeias produtivas solidárias. In: CATTANI, A. D. (Org.). A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editora, 2003. PARREIRAS, L. E. Negócios solidários em cadeias produtivas: protagonismo coletivo e desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Ipea: Anpec: Fundação Banco do Brasil, 2007.