Energia elétrica 22 de setembro de 2015 Acreditamos que a bandeira tarifária amarela prevalecerá em 2016, a despeito da melhora da perspectiva de chuvas diante do El Niño Priscila Pacheco Trigo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Se no começo do ano estávamos discutindo a possibilidade de racionamento de energia elétrica em 2015, as atuais condições do regime pluviométrico e do consumo de energia trazem algum alívio para os níveis de reservatórios para o final deste ano. Esse cenário abre espaço para a alteração da bandeira tarifária, no próximo ano, colaborando para a descompressão dos preços ao consumidor final. O nosso cenário base considera que a bandeira vermelha seguirá presente neste ano e será alterada para amarela no próximo. No entanto, não podemos descartar a possibilidade de termos bandeira verde em 2016. Para isso, seria necessário que o volume de chuvas se mantivesse pelo menos 7% acima da média histórica entre novembro deste ano e o final de 2016. Esse cenário alternativo traria alívio adicional de 15 bps no 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 68,64 16,8 20,6 28,5 83,15 33,4 35,8 36,1 73,90 Nesse sentido, o nível dos reservatórios voltou a subir, refletindo também o menor consumo de energia elétrica, que recuou 1,7% entre janeiro e julho deste ano, ante mesmo período de 2014. O desempenho negativo tem refletido tanto a desaceleração da demanda residencial, 37,4 66,86 34,3 IPCA do próximo ano, ante nossa estimativa de alta de 5,95%. Já sabemos que a seca entre o final de 2013 e início deste ano, combinada à elevação do consumo de energia elétrica nesse período, provocou o esvaziamento dos níveis dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste, que chegaram a atingir 16,8% da capacidade em janeiro deste ano, bem abaixo da média de 68% observada nos últimos anos para esse mês. Diante desse cenário, no começo do ano discutíamos uma probabilidade não desprezível de racionamento energético em 2015. Em meados de fevereiro, para nossa surpresa, as chuvas se intensificaram e a energia natural afluente (ENA) passou de 38% da média de longo termo (MLT) em janeiro, para 100% em maio e 91% em junho 1. 31,9 2014 2015 expectativa mais recente média histórica jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez 28,2 49,45 51,46 Nível dos reservatórios do Sudeste/Centro- Oeste diante do tamanho do reajuste tarifário 2, quanto a retração da produção industrial, que já caiu 6,6% no mesmo período. Como comparação, em 2014 a demanda residencial subiu 5,7%, enquanto a industrial apresentou retração de 3,5%. 1 ENA: mede a energia que pode ser produzida segundo as vazões naturais afluentes aos reservatórios; MLT: média de ENA para cada mês, a partir do histórico de 82 anos. 2 Nas regiões com cobertura para o IPCA, o reajuste tarifário neste ano já acumula alta de 48% até julho. 1
Acumulado no ano 2015 2% 0% 1,5% -0,1% Consumo de energia por segmento variação acumulada no ano -1,0% -2% -4% -3,7% Comercial Residencial Total Industrial Fonte: EPE Dessa forma, desde fevereiro houve alguma recomposição dos reservatórios, mesmo durante o período considerado seco, quando normalmente registram esvaziamento diante do menor regime de chuvas. Com isso, o nível dos reservatórios no Sudeste/Centro-Oeste atingiu 34,3% da capacidade no fim de agosto, segundo últimos dados divulgados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). O menor risco hidrológico também se refletiu na queda do preço de liquidação das diferenças (PLD), usado no mercado livre de energia, que passou de uma média de R$/MWh 322,53 em maio para R$/MWh 131,49 em agosto. Vale reforçar que apesar do avanço recente, o nível ainda é bastante baixo perto da média recente, de 67% para os meses de agosto. 150% 130% 2015 2014 MLT ACUMULADO NO MÊS EXPECTATIVA (mais recente) 125% 128% 122,0% ENA no sistema Sudeste/Centro- Oeste em % MLT 110% 90% 70% 50% 30% 53% 38% 58% 38% 77% 63% 87% 82% 100% O cenário prospectivo reforça a recomposição do nível dos reservatórios. A atividade enfraquecida continuará impactando em menor consumo de energia elétrica, ao mesmo tempo em que a previsão para os próximos meses indica regime de chuvas melhores do que o observado em 2014. De fato, os principais institutos de meteorologia apontam que estamos no período de El Niño 3, no qual se observa chuvas acima da média histórica para as regiões Sul e Sudeste do País, principalmente quando ocorre no inverno 76% 91% 92% 92% 88% no hemisfério norte. Os institutos também calculam probabilidade acima de 80% de continuarmos com El Niño até meados de 2016. Ademais, o fenômeno tem se intensificado, o que está atrelado a um volume de chuvas ainda maior. Segundo nossos cálculos, quando o El Niño é classificado como fraco/moderado 4 as chuvas no Sudeste/Centro-Oeste ficam em média cerca de 3% acima da normalidade histórica. Se o fenômeno for classificado como forte ou muito forte, as chuvas superam em média 15% o histórico. 3 O El Niño se caracteriza pelo aumento da temperatura das águas do Pacífico, que devem permanecer 0,5 C acima da média histórica por cinco trimestres móveis. 4 O El Niño é classificado como fraco quando a temperatura das águas do Pacífico supera a média entre 0,5 C e 1,0 C. Moderado e forte representam El Niño com temperaturas entre 1,0 C e 1,5 C e 1,5ºC e 2,0 C acima da média, respectivamente. Acima de 2,0 C da média histórica, o fenômeno é classificado como muito forte. 110,8% JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 62% 83% 2
1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 El Niño 0,64 0,43 0,86 1,00 Temperatura das águas do Pacífico desvio em relação à média histórica em C 0,20 0,17 0,00-0,20-0,31-0,40-0,60-0,58-0,43-0,03-0,04 La Niña -0,80 NDJ DJF JFM FMA MAM AMJ MJJ JJA JAS ASO SON OND NDJ DJF JFM FMA MAM AMJ MJJ Fonte: NOAA Diante desse cenário, vale a pena discutirmos a normalização dos níveis de reservatórios e a possibilidade de mudança da bandeira tarifária. O sistema de bandeiras tarifárias foi criado em 2013, e implementado neste ano, com o intuito de sinalizar para o consumidor final o real custo de geração elétrica, dependendo da composição da geração de energia (que pode depender mais das termelétricas). Desde o início do ano a Aneel vem decretando bandeira vermelha, o que significa que há térmicas operando com custo variável acima de R$ 388,48/MWh. Para que seja decretada bandeira amarela, é necessário que tenha térmicas operando com custo variável entre R$ 200/MWh e os R$ 388,48/MWh. E para a bandeira verde, é preciso que as térmicas ligadas tenham custo variável abaixo de R$ 200/MWh. No último mês o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) decidiu desligar 21 térmicas, que geravam 2 mil MW, dado o menor risco hidrológico 5. Nosso cenário contempla bandeira amarela em 2016, mas dadas as perspectivas de chuvas para os próximos meses, em razão do El Niño, a probabilidade de bandeira verde passou de 25% no final de maio para 32% atualmente, segundo nossas estimativa. Na verdade, para que houvesse recomposição rápida do nível dos reservatórios, seria necessário que o ENA ultrapassasse 107% do MLT a partir de novembro deste ano, considerando a previsão de chuvas e do nível dos reservatórios do ONS entre setembro e outubro deste ano, divulgadas na semana passada. Esse cenário, por sua vez, tem 32% de probabilidade de acontecer, levando em consideração o volume de chuvas histórico. Como comparação, atualmente atribuímos probabilidade de 48% do nosso cenário base, de bandeira amarela, ante 55% em maio. 92,0 82,0 72,0 62,0 52,0 42,0 32,0 22,0 12,0 81,8 83,1 81,7 78,7 79,4 75,5 73,9 72,8 68,6 66,9 65,0 58,8 59,4 52,4 49,5 51,5 50,6 45,9 37,4 90% MLT 95% MLT 33,4 100% MLT 105% MLT 110% MLT Média histórica 19,4 22,4 jan/16 fev/16 mar/16 abr/16 mai/16 jun/16 jul/16 ago/16 set/16 out/16 nov/16 dez/16 Simulação do nível dos reservatórios no sistema Sudeste- Centro-Oeste em 2016, conforme cenário de chuvas a partir de outubro deste ano 5 Ao todo, as térmicas ligadas estavam gerando uma média de 12 mil MW. 3
Dessa forma, esperamos que os reajustes de energia elétrica sejam apenas ligeiramente positivos em 2016, após alta de cerca de 45% neste ano, conforme coletado no IPCA. Somente a alteração de bandeira tarifária de vermelha para amarela no próximo ano, nosso cenário base, trará alívio de 25 bps ao índice cheio no próximo ano. Vale reforçar, que a atual perspectiva de chuvas para os próximos meses elevou a probabilidade de bandeira verde no próximo ano de 25% para 32%. Caso o regime de chuvas de fato seja mais promissor, estaremos falando de um alívio de 40 bps (15 bps a menos do que nosso cenário central). Ainda assim, apesar da intensificação do El Niño, não observamos chuvas acima da média histórica nos sistemas do Sudeste/Centro-Oeste, de forma que por ora mantemos nossa perspectiva de bandeira amarela para 2016. Perfil Setorial Ao todo foram gerados 624,3 TWh de energia elétrica no País em 2014, sendo que 65,2% veio de hidrelétricas, 3,2% de carvão e derivados, 2,5% de nuclear, 6,8% de derivados de petróleo, 13% de gás natural, 2,0% de eólica e 7,4% de biomassa. Com isso, houve variação de 2,14% ante a geração de 611,2 TWk em 2013. As linhas de transmissão têm extensão de 110 mil km. O consumo de energia elétrica no Brasil somou 531,1 TWh em 2014, com as perdas de 14,9% da oferta de energia. Em 2013 foram consumidos 516,2 com perdas de 15,5% TWh. Esse resultado representou um aumento de 2,9% no consumo final de energia elétrica. O segmento industrial responde por 40% do consumo, residencial por 24,2%, comercial por 16,3%. Outros demais consumidores consomem cerca de 18,8% da oferta de energia. Em 2014, do montante total consumido no País, 50,9% correspondia ao Sudeste, 17,9% ao Sul, 17,0% ao Nordeste, 7,3% ao Centro-Oeste e 6,8% ao Norte. Fontes de Energia em 2012 em 2013 em 2014 Hidrelétrica 455.600 76,9% 431.300 70,6% 407.200 65,2% Gás Natural 46.760 7,9% 69.003 11,3% 81.075 13,0% Biomassa 34.662 5,8% 39.679 6,5% 44.733 7,2% Derivados de Petróleo 16.214 2,7% 22.090 3,6% 31.668 5,1% Nuclear 16.038 2,7% 15.450 2,5% 15.378 2,5% Carvão Vapor 8.422 1,4% 14.801 2,4% 18.385 2,9% Eólica 5.050 0,9% 6.578 1,1% 12.210 2,0% Outras* 10.010 1,7% 12.241 2,0% 13.590 2,2% Geração Total 592.800 100,0% 611.200 100,0% 624.300 100,0% 4
Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast / Ariana Stephanie Zerbinatti Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Davi Sacomani Beganskas / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves / Gabriel Marcondes dos Santos / Wesley Paixão Bachiega / Carlos Henrique Gomes de Brito O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5