ÍNDICE 3. CRESCIMENTO PRÉ-NATAL DOS OSSOS MAXILARES 3.1 FORMAÇÃO ÓSSEA INTRAMEMBRANOSA 3.2 FORMAÇÃO ÓSSEA ENDOCONDRAL 3.3 TIPOS DE CRESCIMENTO



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Transcrição:

1. INTRODUÇÃO ÍNDICE 2. TEORIAS DO CRESCIMENTO 3. CRESCIMENTO PRÉ-NATAL DOS OSSOS MAXILARES 3.1 FORMAÇÃO ÓSSEA INTRAMEMBRANOSA 3.2 FORMAÇÃO ÓSSEA ENDOCONDRAL 3.3 TIPOS DE CRESCIMENTO 4. CRESCIMENTO PÓS-NATAL DOS OSSOS MAXILARES 4.1 MECANISMO DE CRESCIMENTO 4.2 SURTO DE CRESCIMENTO 4.3 CRESCIMENTO DA BASE DO CRÂNIO 4.4 CRESCIMENTO MAXILAR 4.5 CRESCIMENTO MANDIBULAR 5. CONCLUSÃO 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2 CRESCIMENTO DA MAXILA E MANDÍBULA 1) INTRODUÇÃO Os ortodontistas utilizam os conhecimentos acerca do crescimento e desenvolvimento craniofacial rotineiramente no diagnóstico, planejamento, tratamento e avaliação dos resultados de terapias ortodônticas. Nas maloclusões, muitas vezes a má posições dentárias estão associadas a irregularidades no posicionamento espacial da maxila e da mandíbula, e ao posicionamento destes ossos em relação à base do crânio. Sendo assim, o crescimento é um aliado na correção de maloclusões na maioria dos casos. Devido ao fato do crescimento e o desenvolvimento estarem intimamente relacionados, é comum fazer-se confusão com seus significados, portanto, deve-se salientar que não são sinônimos. Dessa forma, é interessante conceituar certos termos necessários para que se tenha uma melhor compreensão do processo de crescimento e desenvolvimento dos ossos maxilares: Crescimento refere-se a mudanças dimensionais normais na quantidade de substância viva, podendo ser medido em unidade de aumento por unidade de tempo, ou em gramas por ano, por exemplo. É um resultado de divisão celular ou atividade biológica, como é o caso de ossos e dentes. Como resultado do crescimento, pode-se encontrar aumento ou diminuição de tamanho, mudança de forma ou proporção, ou complexidade anatômica. Desenvolvimento engloba mudanças estruturais e fisiológicas dos tecidos, em uma sequência de eventos normais desde a fertilização do óvulo até o estado adulto. Para que ele ocorra, é necessário que haja crescimento, diferenciação celular e morfogênese. Há um aumento de especializações, de modo que, com o desenvolvimento há um acréscimo de complexidade. Maturação significa pleno desenvolvimento, é a estabilização do estado adulto alcançada através do crescimento e desenvolvimento. Para alguns autores é um sinônimo de envelhecimento.

3 2) TEORIAS DO CRESCIMENTO 2.1) Teoria de Hunter John Hunter, há mais de 200 anos, foi o primeiro a afirmar que a mandíbula crescia em direção posterior por uma reabsorção do bordo anterior e aposição óssea do bordo posterior do ramo ascendente, e que isso contribuía para o irrompimento dos dentes posteriores permanentes. Posteriormente, Humphey, através de uma pesquisa utilizando implantes metálicos no ramo ascendente da mandíbula em porcos, confirmou esta hipótese. 2.2) Teoria de Sisher Sisher deu grande importância ao controle genético, salientando que somente a remodelação óssea superficial ou as estruturas trabeculares internas do tecido ósseo estariam sob a influência de fatores locais, como os músculos, por exemplo. Atribuiu valor igual a todos os tecidos osteogênicos (periósteo, cartilagem e suturas), porém, salienta a importância das suturas, motivo pelo qual esta teoria recebe o nome de Teoria do Domínio Sutural, afirmando que as suturas paralelas que unem a face com a base craniana, empurram o complexo nasomaxilar para frente, adaptando seu crescimento ao da mandíbula. 2.3) Teoria de Scott Considerou que os principais fatores de controle do crescimento cranio-facial são as cartilagens e o periósteo, dando menor importância às suturas, pois afirma que o crescimento sutural pode ser influenciado por fatores locais e ambientais. 2.4) Teoria de Moss Moss defendeu a idéia da matriz funcional, onde afirma que a função das estruturas adjacentes aos ossos é que determina o seu crescimento, negando qualquer controle regulador intrínseco dos próprios tecidos ósseos em crescimento. O controle do crescimento, segundo este autor, é feito por fatores locais ou ambientais.

4 2.5) Teoria de Van Limborgh Van Limborgh afirmou que o crescimento cranio-facial é controlado por poucos fatores genéticos intrínsecos e por muitos fatores locais. Sustenta que o crescimento do condrocrânio é controlado por fatores genéticos intrínsecos, enquanto que o do desmocrânio é controlado por poucos fatores genéticos intrínsecos, porém, por muitos fatores epigenéticos, por fatores ambientais locais na forma de função muscular e oclusal. 2.6) Teoria de Enlow Enlow baseou na teoria do princípio que o crescimento sobre os extremos livres aumenta a distância entre eles mesmos, chamada de Teoria do Princípio em V. A aplicação desse princípio pode ser feita em diversas estruturas da maxila e da mandíbula, como por exemplo, o crescimento da órbita, do palato, e da mandíbula como um todo, como será explicado a seguir.

5 3) CRESCIMENTO PRÉ-NATAL DOS OSSOS MAXILARES O osso tem sua formação embrionária a partir de tecido conjuntivo, que pode ser membranoso (ossificação intramembranosa) ou cartilaginoso (ossificação endocondral), dependendo de sua localização. 3.1) FORMAÇÃO ÓSSEA INTRAMEMBRANOSA: Ocorre a partir de uma condensação mesenquimal, onde células ectomesenquimais indiferenciadas diferenciam-se em osteoblastos, que começam a produzir matriz óssea extracelular, também chamada de matriz osteóide. Essa ossificação ocorre de maneira rápida, dessa forma, parte do tecido conjuntivo pré existente não é reabsorvido, e é incorporado no osteóide recém sintetizado, originando-se uma matriz óssea desorganizada. Devido à rapidez de sua formação, esta matriz mineraliza-se deficientemente e muitos osteoblastos ficam envolvidos na matriz, transformando-se em osteócitos e resultando em um osso bastante celular. Esse primeiro osso embrionário é chamado de osso entrelaçado. Há uma contínua e lenta transição do osso entrelaçado do feto para o lamelar verdadeiro do adulto. Essa transição é relativamente rápida durante o desenvolvimento fetal e os primeiros anos de vida. Durante este período de transição o osso é chamado de imaturo. O osso intramembranoso começa sua formação, inicialmente como espículas ósseas, tomando a forma, posteriormente, de placas ósseas, que com o contínuo crescimento, acabam por se fundir. Em alguns locais do complexo crânio-facial ficam remanescentes destes tecidos conjuntivos, representados pelas suturas, as quais constituem campos de crescimento. (Fig. 1) Fig. 1

6 3.2) FORMAÇÃO ÓSSEA ENDOCONDRAL É uma adaptação morfogenética que proporciona uma contínua produção de osso nas regiões especiais que envolvem níveis de compressão relativamente altos. Dessa maneira é encontrada em algumas partes da base craniana, e nos ossos associados com articulações móveis, como os côndilos mandibulares. No local onde se formará o osso por ossificação endocondral, inicialmente, há uma condensação de células mesenquimais, a qual toma a forma geral do osso. Estas células mesenquimais indiferenciadas se diferenciam em células cartilaginosas, e forma-se um pericôndrio ao redor da cartilagem. Ocorre crescimento intersticial da cartilagem embrionária, devido à atividade dos condroblastos, que secretam matriz cartilaginosa e pelo crescimento aposicional às custas da multiplicação celular e secreção de matriz no pericôndrio em desenvolvimento acentuado. A diferenciação das células cartilaginosas continua, de modo que elas se organizam em colunas longitudinais e secretam matriz para o espaço entre estas colunas. A seguir, estas células sofrem hipertrofia, a matriz começa a se mineralizar, e os condrócitos morrem. Ocorre a transformação do pericôndrio em periósteo, e começa uma formação óssea intramembranosa na superfície para formar a cortical óssea do côndilo. A porção mediana da cartilagem vasculariza-se, e condroclastos começam a reabsorver a matriz cartilaginosa calcificada, criando-se espaços para o posterior desenvolvimento de uma vascularização interna. Células ectomesenquimais indiferenciadas migram através dos vasos sanguíneos, para a matriz mineralizada de cartilagem, e diferenciam-se em osteoblastos, que iniciam a deposição de osteóide sobre as colunas calcificadas de cartilagem, e o mineralizam. Neste processo, alguns osteoblastos ficam incorporados na matriz e tornam-se osteócitos. Com o tempo, os espaços criados pela invaginação do sistema vascular transformam-se em medula óssea vermelha. (Fig. 2)

7 Fig. 2 A maxila, o corpo e o ramo mandibulares se formam a partir da ossificação intramembranosa. O côndilo mandibular e a base craniana, a qual tem influência no crescimento facial, formam-se por ossificação endocondral. Durante o desenvolvimento fetal, no terceiro mês de vida intra-uterina a cabeça corresponde a 50% do comprimento total do corpo, e o crânio representa mais da metade do total da cabeça, os membros são rudimentares e o tronco está subdesenvolvido. Na época do nascimento, o tronco e os membros cresceram mais do que o crânio e a face, dessa forma, nesta fase a cabeça corresponde a 30% do total do corpo. O padrão de crescimento segue esse curso, de forma que há uma redução do tamanho da cabeça em relação ao corpo para 12% no adulto. O crescimento da cabeça também ocorre de maneira diferencial, de modo que comparando o crânio de um bebê com o de um adulto, observa-se que ele é bem mais largo e maior do que a face, porém, com o crescimento maior da face do que do crânio essa diferença inicial desaparece. (Fig. 3) Fig. 3

8 3.3) TIPOS DE CRESCIMENTO ÓSSEO: Os ossos de origem intramembranosa crescem a partir de tecido conjuntivo membranoso, como no caso das suturas, periósteo e endósteo, e os de origem endocondral crescem a partir de tecido conjuntivo cartilaginoso, como na base craniana, sincondroses e nos côndilos mandibulares. Portanto, o crescimento ósseo pode ser dividido em tipos: 1) Intramembranoso: 1.1) Aposicional - ocorre através de aposição de osso sobre osso em camadas, podendo ser dividido em: 1.1.1) Subperiosteal - a partir do periósteo que envolve os ossos 1.1.2) Endosteal - a partir do endósteo, no interior de cavidades ósseas 1.1.3) Sutural - a partir das bordas das suturas localizadas entre os ossos. 2) Endocondral. OBS: O Periósteo e o endósteo são membranas conjuntivas que revestem internamente e externamente as superfícies ósseas, e desempenham função de nutrição do osso, pois são ricamente vascularizadas, além disso, são fonte de osteoblastos e osteoclastos, responsáveis pela aposição de novo osso e reabsorção, respectivamente.

9 4) CRESCIMENTO PÓ S-NATAL DOS OSSOS MAXILARES 4.1) Mecanismo de crescimento ósseo Os ossos crescem por deposição de tecido ósseo em um dos lados do córtex e remoção de osso do lado oposto, havendo campos de crescimento e campos de reabsorção, o que recebe o nome de remodelamento, e assim, esse processo dá origem a um movimento de crescimento progressivo e seqüencial, que é chamado de recolocação. Funções do remodelamento: 1. Aumentar progressivamente cada osso como um todo; 2. Recolocar seqüencialmente cada uma das partes componentes do osso para permitir seu crescimento global; 3. Moldar o osso de maneira a acomodar suas várias funções, de acordo com as ações fisiológicas exercidas sobre o osso; 4. Fazer o delicado e progressivo ajuste de todos os ossos separados entre si, bem como com os tecidos moles contíguos em funcionamento e crescimento; 5. Fazer ajustes estruturais regionais para todas as partes se adaptarem às múltiplas mudanças de condições intrínsecas e extrínsecas. Há dois tipos de movimentos durante o crescimento: o deslizamento e o deslocamento. O deslizamento é o movimento provocado pela aposição e reabsorção do próprio osso, e o deslocamento é o movimento de todo o osso como uma unidade. Dessa forma, conforme o osso cresce por deposição óssea em uma determinada direção, ele se desloca no sentido contrário, afastando-se do osso vizinho. Esse deslocamento recebe o nome de deslocamento primário, e ocorre não por compressão de um osso contra outro, mas é levado por uma força de expansão dos tecidos moles em crescimento que o recobrem.

10 Conforme os ossos crescem, ocorre também outro tipo de deslocamento chamado de deslocamento secundário, e que se dá não pelo crescimento do próprio osso, mas pelo crescimento de outros ossos relacionados diretamente ou indiretamente a ele. Por exemplo, o crescimento em direção anterior da fossa craniana média e do lobo temporal do cérebro, desloca a maxila para frente e para baixo. 4.2) Surto de Crescimento É uma maior quantidade de crescimento em um menor intervalo de tempo, e que ocorre na pré-adolescência, quando o crescimento é mais intenso. Esse período varia de pessoa para pessoa, não existindo uma idade cronológica certa para ocorrer, mas uma faixa etária provável. Além disso, há um dimorfismo sexual, sendo que as meninas param de crescer e amadurecem mais precocemente que os meninos: surto de Meninas - 9,6-12,6 anos de idade crescimento Meninos - 10,6-13,6 anos de idade O crescimento pode ser ilustrado por um gráfico, sendo que o surto se localiza na curva ascendente de crescimento, há um pico, e após, uma curva descendente de crescimento. A criança não para de crescer após o pico, mas continua crescendo de maneira mais lenta e quantitativamente menor, as meninas até aproximadamente os 16 anos de idade e os meninos até mais ou menos os 18 anos de idade. (Fig. 4) É durante o surto de crescimento que se obtém os melhores resultados no tratamento ortodôntico. Fig. 4

11 Devido à dificuldade de se determinar o surto de crescimento pela idade cronológica em função de sua grande variabilidade e diferenças quanto ao ritmo de pessoa para pessoa, pode-se detectá-lo através da observação da calcificação do osso sesamóide, nas radiografias de mão e punho, que quando começa a se calcificar, indica o início do surto de crescimento; ou nas meninas procurando-se saber se a menarca já ocorreu, o que indica que a criança já se encontra na curva descendente de crescimento. 4.3) Crescimento da Base do Crânio: É interessante que conheçamos o crescimento da base do crânio, tendo em vista que este influencia diretamente o deslocamento e a direção de crescimento facial. A expansão da fossa craniana média tem um efeito de deslocamento secundário sobre o assoalho craniano anterior, o complexo nasomaxilar e a mandíbula, sendo que esse efeito é bem menor sobre a mandíbula. (Fig. 5) Fig. 5 Como já foi mencionado, a base craniana possui origem endocondral, portanto, seus ossos formaram-se a partir de cartilagens. Conforme a ossificação se processa, bandas de cartilagens denominadas de sincondroses permanecem entre os centros de ossificação (Fig. 6). Elas possuem uma área de hiperplasia celular no centro, com bandas de células de cartilagem se maturando, se estendendo em ambas as direções que serão eventualmente substituídas por osso. São articulações imóveis, contrastando com as articulações extremamente móveis das extremidades, entre elas articulação têmporomandibular.

12 As sincondroses são: Interesfenoidal ossifica até os 2 anos de idade Intraoccipital ossifica entre 5 e 6 anos de idade esfenoetmoidal ossifica entre 6 e 8 anos de idade esfenoccipital ossifica na adolescência. Fig. 6 4.4) Crescimento Maxilar A maxila, como já mencionado anteriormente, é um osso de origem exclusivamente intramembranosa, que cresce por aposição óssea nas suturas que a conectam ao crânio e à base do crânio, e pela remodelação de superfície. O processo pelo qual se dá o crescimento tanto da maxila como da mandíbula é extremamente dinâmico e complexo. A maxila cresce para todas as direções, (Fig. 7), porém para um melhor entendimento, costuma-se dividir este processo em partes, comumente denominados de centros de crescimento. Fig. 7

13 Os principais centros de crescimento maxilares são: Tuberosidade Maxilar: É a maior área de crescimento da maxila, que cresce por deposição óssea periosteal em suas superfícies posterior, lateral (ou bucal) e alveolar (para baixo) (Fig. 8). O lado endosteal do córtex, no interior da tuberosidade é de reabsorção, fazendo com que ele acompanhe esse crescimento em direção posterior. O deslocamento primário da maxila ocorre em direção anterior e inferior. A quantidade desse movimento é igual à quantidade de incremento de crescimento de novo osso na superfície posterior da tuberosidade, porém, a força que causa o movimento de deslocamento é a matriz funcional, ou seja, os ossos crescem numa relação de controle subordinado de crescimento com todos os tecidos moles circundantes. Isso coloca cada osso em posições anatômicas corretas para realizar suas funções. Através do crescimento na tuberosidade maxilar, o espaço para o irrompimento dos dentes molares permanentes é conseguido, e ele contribui para o crescimento no sentido ântero-posterior e para fora (formato divergente) da maxila. O Processo Alveolar depende das funções dos dentes; cresce em resposta à erupção dentária, adapta-se e remodela-se de acordo com as necessidades dentárias, e reabsorve-se quando os dentes são perdidos. Contribui para o aumento da maxila no sentido vertical e ântero-posterior, pois acompanha o crescimento da tuberosidade. (Fig. 8) Fig. 8

14 As Superfícies Maxilares possuem um padrão definido de remodelamento, sendo que na região anterior há reabsorção externa e aposição óssea interna, na região de rebordos alveolares. Acima, há uma área de reversão de crescimento, conhecida como ponto A, muito utilizado em Cefalometria, e, acima desse ponto, há aposição óssea externa, dando forma à espinha nasal anterior. (Fig. 9) Fig. 9 O Palato acompanha a direção de crescimento facial, havendo aposição óssea em sua superfície bucal e reabsorção na superfície nasal, seguindo a teoria de crescimento do princípio em V, de forma que esse osso cresce em direção à sua maior abertura. (Fig. 10) Fig. 10 O Seio Maxilar, que se localiza profundamente em relação à tuberosidade aumenta de tamanho também devido a uma reabsorção endosteal. As superfícies corticais dos seios maxilares são todas de reabsorção, exceto a parede nasal medial, que é de deposição, pois se move junto com a expansão nasal lateral. (Fig. 11) No recém-nascido ele é bem pequeno, aumentando de tamanho com o crescimento, até ocupar grande parte do compartimento suborbitário.

15 O Complexo nasomaxilar alonga-se verticalmente por uma combinação de remodelamento e deslocamento. A remodelação ocorre como mostra a figura 11. Há reabsorção óssea nas superfícies das paredes e do assoalho das fossas nasais, além da face mucosa de cada osso. A aposição óssea ocorre no teto da cavidade nasal (face nasal da lâmina cribiforme), porém, a face craniana é de reabsorção, há aposição também na face intrabucal do palato. Esse padrão de remodelamento faz com que haja uma expansão lateral das fossas nasais, e um movimento inferior, juntamente com o palato e com toda a fossa craniana anterior. O remodelamento nas Órbitas é bastante complexo, pois são muitos os ossos envolvidos: maxila, etmóide, lacrimais, frontal, zigomático, e as asas maior e menor do esfenóide. A órbita cresce pelo princípio em V, ela cresce e se move em direção à sua abertura mais larga, de forma que os depósitos ósseos no seu interior aumentam ao invés de diminuir seu volume. Em associação com o crescimento sutural interno e externo da órbita, seu assoalho é deslocado progressivamente para baixo e para frente, juntamente com o resto do complexo nasomaxilar. (Fig. 11 e 12) Fig. 11 Fig. 12 As Suturas que unem os ossos da face entre si e ao crânio são sítios de crescimento e de ajuste de crescimento, pois se ajustam às diferentes mudanças faciais que ocorrem neste período, ou seja, se adaptam às tensões produzidas pelo crescimento nos tecidos moles que se relacionam com elas, como: cérebro, mucosas, olhos, língua, etc. Dessa forma, conforme os ossos vão se separando pelo crescimento nos órgãos associados, ocorre aposição óssea nas bordas suturais, ampliando os próprios ossos e

16 mantendo as uniões entre eles. São elas: Fronto-nasal, zigomático-maxilar, ptérigomaxilar, palatina mediana, palatina transversa e intermaxilar. A direção de crescimento resultante é para baixo e para frente, como mostra a figura 13. Fig. 13 O osso Malar acompanha o crescimento para posterior do arco maxilar, mantendo uma relação constante com ele, ou seja, sofre aposição posterior, e reabsorção anterior. Da mesma forma, o Processo Zigomático acompanha o crescimento posterior da maxila, sendo que há reabsorção no bordo inferior, na face medial no interior da fossa temporal e aposição na face lateral, fazendo com que esse osso mova-se lateralmente, e aumente a fossa temporal, mantendo os malares proporcionalmente largos de acordo com a face. (Fig. 14) Fig. 14

17 4.5) Crescimento Mandibular Na mandíbula, que é o único osso móvel da cabeça, não há crescimento intramembranoso aposicional sutural, apenas aposicional de superfície e endocondral. Ao nascimento os dois ramos mandibulares estão muito curtos, o desenvolvimento condilar é mínimo, praticamente não existe eminência articular na fossa glenóide, e há uma fina linha de cartilagem na linha média da sínfise para separar os corpos mandibulares direito e esquerdo, a qual se funde aproximadamente durante o primeiro ano de vida. O crescimento da mandíbula é um produto de todas as diferentes forças regionais e dos agentes funcionais regionais que agem sobre ele para produzir a forma topograficamente complexa desse osso como um todo. (Fig. 15) Fig. 15 Os Côndilos Mandibulares são grandes sítios de crescimento, que participam da articulação têmporo-mandibular e, portanto são cobertos por uma cartilagem articular, que suporta as pressões sofridas durante a articulação. Dessa forma, o mecanismo de crescimento é endocondral, pois os côndilos crescem em direção à articulação sofrendo pressão direta, sendo o crescimento uma resposta a essa condição local. Esse tipo de crescimento ocorre apenas na região de contato articular por que é onde existe pressão a níveis acima da tolerância da membrana de tecido mole do osso. Assim, o tecido ósseo de origem endocondral, formado em associação com a cartilagem condilar, localiza-se apenas na porção medular do côndilo, e os córtices ósseos

18 envolventes são produzidos pela atividade osteogênica do periósteo e do endósteo, que não estão relacionadas a forças compressivas, mas estão associadas com tensão, devido às inserções de músculos e tecido conjuntivo (Fig. 16). Nesta região, por lingual e bucal há reabsorção, formando-se uma constrição, o que corresponde ao colo do côndilo. Fig. 16 O crescimento gera um movimento para trás e para cima dos côndilos, contribuindo para o crescimento em altura, em comprimento e lateral da mandíbula, e um deslocamento de todo o osso para baixo e para frente. (Fig. 17) Fig. 17 O crescimento do Ramo Mandibular é formado por reabsorção óssea no seu bordo anterior e aposição no posterior, ou seja, ele sofre uma conversão por remodelamento, onde todo o ramo é recolocado posteriormente, e a antiga parte anterior do ramo, que sofreu reabsorção, é transformada em corpo, o qual se alonga por meio desse processo de remodelamento. (Fig. 18)

19 A direção do crescimento do ramo é para posterior e lateral, devido à sua forma, e esse crescimento permite a erupção dos dentes posteriores inferiores. Fig. 18 A Tuberosidade Lingual é o equivalente anatômico da tuberosidade maxilar, na mandíbula. É um importante sítio de crescimento para a mandíbula: cresce posteriormente por depósitos em sua superfície posterior. As tuberosidades maxilar e lingual, em condições de normalidade, estão alinhadas verticalmente, e possuem quantidade e velocidade de crescimento igual. (Fig. 19) A lingual cresce em direção posterior e medial. Ela é aumentada por um campo de reabsorção localizado abaixo dela, produzindo uma depressão chamada Fossa Lingual. (Fig. 20) Fig. 19 Fig. 20

20 Os Processos Coronóides crescem por aposição óssea nas suas porções superior e lingual, e sofrem reabsorção nas superfícies bucal e anterior. Dessa forma esse osso cresce em direção para cima e para trás, devido à sua forma, exemplificando o princípio do V. (Fig. 21) Fig. 21 A Chanfradura Sigmóide cresce acompanhando a aposição óssea que ocorre sobre a cortical dos côndilos, ou seja, crescimento ósseo intramembranoso aposicional subperiosteal, em direção superior. Há uma área isolada de reabsorção no bordo inferior mandibular na união do ramo com o corpo, a chamada Incisura Antegoníaca, provocada pelo remodelamento do ramo, à medida que ele é recolocado posteriormente. (Fig. 22) Fig. 22

21 No padrão de remodelamento mandibular, há aposição em todo o bordo inferior da mandíbula, e também na região mentoniana, e reabsorção na região alveolar anterior, dando forma ao queixo, e formando-se uma linha de reversão entre os dois campos de crescimento, onde o contorno côncavo da superfície se torna convexo. (fig. 23) Fig. 23 O Rebordo Alveolar na mandíbula, da mesma forma que na maxila, estão na dependência dos dentes, crescendo verticalmente e em largura, conforme estes erupcionam, e acompanhando o crescimento para posterior dos ramos mandibulares, para que ocorra a erupção dos molares permanentes. Conseqüentemente, quando da perda dos dentes, seus rebordos alveolares também desaparecem. (Fig. 24) Fig. 24

22 5) Conclusão: O conhecimento do crescimento crânio-facial é de fundamental importância para todos os Cirurgiões Dentistas, pois, mesmo aqueles que não atendam crianças em seus consultórios, fatalmente algum dia serão solicitados a encaminhar filhos de pacientes a outros especialistas. Dessa forma, torna-se necessário o conhecimento do desenvolvimento normal do complexo crânio-facial para que os desvios dessa normalidade possam ser reconhecidos. A Ortodontia, por sua vez, está embasada nestes conhecimentos. Sendo necessário o entendimento de como se processa o crescimento e desenvolvimento normal do crânio e da face para que os temas que se seguem no estudo dessa ciência possam ser compreendidos. Além disso, na Ortodontia Clínica, o crescimento é um poderoso aliado na grande maioria dos tratamentos, podendo ser redirecionado através dos tratamentos ortodônticos com o fim de se obter melhores resultados nos tratamentos realizados.

23 6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENLOW, DH. Crescimento Facial. Editora Guanabara Koogan, 3a ed., 553p., Rio de Janeiro, 1993 GRABER, TM. Orthodontics Principles and Practice. W.B. Saunders Company, 3a ed., 953p., Philadelphia, 1972. MOYERS, RE. Ortodontia, Guanabara Koogan, 3a ed., 669p., Rio de Janeiro, 1979. PROFFIT, WR. Ortodontia Contemporânea. Pancast Editorial, São Paulo, 1991. TEN CATE, AR. Histologia bucal, 2a ed. Guanabara, 395 p VELLINI FF. Ortodontia, Diagnóstico e Planejamento Clínico, Editora Artes Médicas, 495p., 1996 Campinas, 19 de Março de 2012. Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic Disciplina de Ortodontia 3º Ano - 5º Período - 2012 PROF. VALMIR VICENTE GIACON