CENTRO UNIVERSITÁRIO - UNIFMU CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA A EVOLUÇÃO TÁTICA NO FUTEBOL PROFISSIONAL BRASILEIRO EM RELAÇÃO À PREPARAÇÃO FÍSICA DOS ATLETAS



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Transcrição:

CENTRO UNIVERSITÁRIO - UNIFMU CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA A EVOLUÇÃO TÁTICA NO FUTEBOL PROFISSIONAL BRASILEIRO EM RELAÇÃO À PREPARAÇÃO FÍSICA DOS ATLETAS LEONARDO SIMÕES MORGADO 21 1414-B TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO SANDRA MARCELA MAHECHA MATSUDO MARIA REGINA FERREIRA BRANDÃO SÃO PAULO, 2003.

Agradecimentos: Agradeço a todos os profissionais e clubes envolvidos nas entrevistas, que colocaram seu raro tempo à minha disposição, sendo eles, por ordem de entrevista: Prof. Eduardo Miranda. Prof. Manoel da Silveira Faleiro (A. Portuguesa de Desportos). Luiz Carlos Martins (A. Portuguesa de Desportos). Prof. Nelson Baptista Jr. (C.R.Flamengo) Prof. Eduardo Alexandre Baptista (C.R.Flamengo) Prof. Manoel Barrionuevo. Caio Zanardi (S.E.Palmeiras). Prof. Marco Aurélio Schiavo Reis (S.E.Palmeiras). Prof. Altair Ramos. Prof. Walmir Cruz (S.E.Palmeiras). Vagner Benazzi de Andrade (Figueirense F.C). Prof. Celso de Rezende (Figueirense F.C). Prof. Adenor Leonardo Bachi (Tite) (A.D.São Caetano). Prof. Geraldo Magela Delamore Moreira. (A.D.São Caetano). Prof. Cláudio Pereira Café (Avaí F.C). Agradeço a orientação das professoras Sandra Marcela Mahecha Matsudo e Maria Regina Ferreira Brandão. Agradeço a todos que me ajudaram a ter acesso à esses profissionais como meu primo Frederico Marcondes, meus amigos Lucas Bombarda, Marcio Pascini Guerreiro, Luis Carlos de Freitas e a Profa Maria Regina Ferreira Brandão. Por fim, agradeço ao Prof. Rodrigo Gambaro Chavez pela orientação na elaboração do questionário.

Resumo. A preparação física foi um fator que mudou a dinâmica do futebol fazendo-o se transformar para o que muitos chamam de futebol moderno. Objetivo: analisar a evolução tática em função da evolução da preparação física dos atletas na visão de técnicos e preparadores físicos do futebol profissional brasileiro. Metodologia: para isso foram entrevistados 7 técnicos e 8 preparadores físicos do futebol profissional brasileiro na faixa etária de 25 a 52 anos (média de idade de 41 anos), com experiência no futebol de 5 a 37 anos (média de 20,8 anos). Foram entrevistados os técnicos e preparadores físicos da S.E.Palmeiras, C.R.Flamengo, A.D.São Caetano, Figueirense F.C, A.Portuguesa de Desportos, Avaí F.C. Foi elaborado um questionário com o objetivo de abordar questões táticas, físicas e a maneira em que a parte física influenciou na parte tática do futebol. As respostas obtidas dos questionários foram analisadas pela freqüência de respostas e cálculo de porcentagem e por média e desvio padrão das respostas de escala de avaliação de Zero a 10 que visavam quantificar as facilidades e adaptações táticas, além da importância física dos atletas de diferentes posições de jogo. Resultados: foi observado que outros fatores também influenciaram nesta evolução na dinâmica do esporte, como o avanço da ciência de modo geral dentro das comissões técnicas e dos profissionais envolvidos, uma melhora do conhecimento dos atletas para com a parte tática, uma evolução dos técnicos de modo geral, e também que, com esse avanço físico o atleta se tornou mais veloz, porém menos hábil. Podemos identificar isso na opinião dos entrevistados sobre a evolução física dos atletas dentro dos sistemas táticos nas respostas dadas: 28,2% das respostas indica que a condição física é fundamental para o atleta moderno; enquanto 21,8% das respostas mostra que houve uma grande contribuição da parte científica; depois 18,7% demonstra uma multifuncionalidade do atleta moderno; 12,5% mostra uma mudança na dinâmica do jogo e mostra uma evolução de técnicos e comissões técnicas e 6,3% disseram que essa condição limitou o atleta atual. Esses profissionais acreditam também que, em uma escala de Zero a 10, 8,4 foi a média das respostas sobre a importância da preparação física para a aplicação dos sistemas táticos nos dias atuais. Porém, 6,7 foi a média das respostas dadas sobre a facilidade de mudar um esquema de jogo em uma mesma partida. Esse baixo índice é devido a outros fatores ligados a essa questão, como treinamento, qualidade técnicas dos atletas e tempo de entrosamento do time. Conclusão: os resultados obtidos demonstram que, a evolução da preparação física dos atletas de futebol, ajudou a influenciar na parte tática do jogo, porém ocorrendo uma mudança na tática individual dos atletas, que, com uma melhora no rendimento físico, se torna multifuncional dentro dos esquemas de jogo do futebol moderno, sendo muito mais versátil dentro do esquema proposto. Porém, conclui-se também que a preparação física não é fator único na escolha do esquema proposto pelo técnico.

Dedicatória. Dedico esse trabalho aos meus pais e familiares por me incentivarem e me ajudarem nas decisões e projetos da minha vida.

Sumário. I. Introdução pg 1 1.1 Definição do problema pg 1 1.2 Justificativa pg 2 1.3 Objetivo pg 2 II. Revisão da Literatura pg 3 2.1 Histórico do futebol brasileiro pg 3 2.2 A preparação física no futebol brasileiro pg 4 2.2.1 Histórico da preparação física no futebol brasileiro pg 4 2.2.2 A evolução da preparação física no futebol brasileiro pg 5 III. Metodologia pg 7 3.1 Amostra pg 7 3.2 Técnica de coleta de dados pg 7 3.3 Análise dos dados pg 8 IV. Resultados e Discussão pg 9 V. Conclusão pg 18 VI. Referências Bibliográficas pg 19 VII. Anexos pg 24

I- Introdução 1.1- Definição do problema. O futebol é um jogo europeu, mais especificamente inglês, que foi introduzido no Brasil no início do Séc. XX. No começo era praticado basicamente por imigrantes europeus, porém, a partir das transformações sócio-econômicas no governo de Getúlio Vargas, negros e mulatos emergentes começavam a se tornar parte integrante desse esporte. A partir daí, o futebol brasileiro foi tomando uma forma única, com a mescla entre a irreverência dos negros e mulatos e a disciplina européia. Pôde-se notar claramente essa característica na Copa do Mundo da França em 1938. De lá pra cá o futebol brasileiro começou a despertar o interesse do povo e também dos governantes que viriam nesse esporte uma forma de exposição do país. Para tornar um contingente talentoso em equipes vitoriosas, deveriam ser feitos planejamentos e organizações tanto dentro como fora de campo. Com o início da profissionalização do futebol, tanto no Brasil como na Europa, cada vez mais a preocupação em perder se tornava maior do que a de ganhar, ou seja, melhor um empate do que a derrota. A partir de filosofias como essa que o esquema padrão mundial, o 2x3x5, sucumbiu diante do defensivo (para a época) WM, ou 3x4x3. Como depois dessa grande evolução houve poucas mudanças táticas, apenas o ferrolho e o 4x3x3, a preparação física dos atletas tornou-se o diferencial, já que com o sucesso do Brasil em duas Copas do Mundo seguidas (1958 e 1962), o resto do mundo voltou-se a criar maneiras de conter o ímpeto do futebol arte brasileiro e uma das alternativas encontradas foi compensar a qualidade técnica pela condição física dos atletas. Depois o Brasil teve que se adaptar as mudanças mundiais privilegiando a preparação física de seus atletas. Com os métodos utilizados apresentando resultados, as comissões técnicas do futebol brasileiro foram dando cada vez mais ênfase aos esquemas táticos e à preparação física dos atletas, fazendo com que a função dos atletas fossem se modificando. No futebol atual, levando em conta que 70% da condição física utilizada pelo jogador é a velocidade e que ele passa de 2 a 3 minutos apenas com a bola em sua posse, é evidente que a preparação física deve ser uma das prioridades de qualquer comissão técnica. Porém, não se pode esquecer que sem a qualidade técnica dos jogadores não se pode realizar um bom trabalho. 1

1.2- Justificativa Este trabalho foi de extrema importância, pois o autor pretende trabalhar como técnico de futebol tendo em vista o aprofundamento do assunto para se tornar um especialista e poder utilizar as variantes tático-físicas dos atletas em benefício do sistema tático utilizado. Importante também, principalmente, para os atletas conhecerem os sistemas táticos, já que a maioria deles ainda não possui este conhecimento profundamente; e é de extrema importância para que eles possam executar de forma correta dentro do campo as recomendações do técnico. Por fim, este tema é pouco encontrado no campo científico e acredito que será uma grande contribuição para o meio acadêmico, podendo ser utilizado também por outras modalidades esportivas. 1.3- Objetivo O objetivo do trabalho foi analisar a importância da preparação física dos atletas para as evoluções e variantes dos sistemas táticos do futebol brasileiro profissional, na visão de técnicos, auxiliares técnicos e preparadores físicos do futebol profissional brasileiro. 2

II- Revisão de Literatura 2.1- Histórico do futebol Brasileiro. O futebol foi introduzido no Brasil no início do século XX por imigrantes europeus, que desembarcavam nas regiões portuárias (JESUS 1998). De acordo com JESUS (1998), o futebol teve papel importante para a modernidade urbana, tornando-se um espetáculo de entretenimento. Isso aconteceu, pois o Brasil passava por um processo emergente das populações menos favorecidas, que ganhavam assim o seu espaço dentro do futebol. Isso se dava uma vez que, o Presidente da República na ocasião, o populista Getulio Vargas, em meados da década de 30 e 40, criava muitos artifícios para proporcionar uma melhora de vida aos mais necessitados (JESUS 2000). Uma das medidas tomadas pelo populista foi a criação da profissionalização dos esportes quando em 16/04/1941 assinou o Decreto - Lei 3.199 que estabeleceu bases de organização dos desportos em todo país (ASSAF 2002). Essa mescla cultural dentro do futebol brasileiro, fez com que o Brasil tivesse uma maneira peculiar de jogar, aliando a ginga, habilidade e técnica dos negros e mulatos com a força, disciplina e organização européia, tornando assim, o futebol brasileiro competitivo, porém com plástica e beleza, encantando o mundo já na Copa do Mundo de 1938, na França, onde o Brasil alcançou o Terceiro Lugar despertando assim o interesse dos governantes, já que viram no futebol uma maneira de exposição do País (FRANZINI 2000). O Brasil seguiu em constante ascensão tornando-se campeão do Mundo 20 anos depois na Suécia e bicampeão 4 anos mais tarde no Chile, chamando a atenção das outras seleções e principalmente preocupando-as, fazendo com que métodos fossem criados para acabar com a hegemonia brasileira, que, para tristeza deles e nossa alegria seus métodos deram certo apenas na Copa seguinte já que 8 anos mais tarde seríamos Tricampeões no México (ASSAF 2002). 3

2.2- A Preparação Física no Futebol Brasileiro 2.2.1- Histórico da Preparação Física no Futebol Brasileiro A primeira demonstração de preocupação com o preparo físico dos atletas foi na década de 20. Implantado por Ramon Platero, um uruguaio que assumiu o C.R.Vasco da Gama em 1923, exigia que seus jogadores treinassem em período integral, já que estes viviam em regime semiprofissional, dormindo nos dormitórios do clube e alimentando-se em um restaurante conveniado (ASSAF 2002). Na Copa do Mundo de 1930 pôde ser notada a presença de Platero nos treinamentos físicos realizados pela seleção brasileira. Ainda em 1938, o técnico Ademar Pimenta utilizava conceitos de Platero para manter sua equipe bem preparada (ASSAF 2002). A partir da Copa do Mundo de 1938, na França, após a Seleção Brasileira encantar o Mundo, os clubes viram no futebol um esporte que poderia gerar bons frutos ao País e renda para seus cofres (FRANZINI 2000). Porém, mesmo com o início do profissionalismo, os recursos e técnicas de preparação física eram precários e com o tempo foram se aperfeiçoando. Depois de 1938, o próximo marco na história da preparação física foi no início da década de 60, explícito no livro "Power Training", lançado em 1961 pelo Belga Raoul Mollet. Em 1962, um discípulo de Mollet, Helênio Herrera pôs em prática na seleção espanhola os ensinamentos de seu mestre, o qual não havia sido dada importância pelo meio do futebol, para tentar tirar o bicampeonato do Brasil no Chile, porém em vão (ASSAF 2002). Mas, a partir daí, o método de Mollet pôde ser divulgado explicitamente para o Mundo. A partir de 1962, mais precisamente após a vitória da Bélgica que utilizava o "Sistema Mollet" frente a atual seleção bicampeã do Mundo, o Brasil, o Mundo viu nesse sistema a maneira para derrotar a seleção brasileira. No mundial de 1966, foi constatada a maior demonstração do "futebol força", ou seja, a prevalência do físico sobre o técnico. A equipe campeã, a Inglaterra, jogava num esquema que privilegiava o preparo físico dos atletas, assim como as outras equipes melhores sucedidas no mundial como Alemanha e Portugal, por exemplo. Sendo assim, equipes refinadas tecnicamente, porém com fragilidade física sucumbiram diante do "futebol força" (ASSAF 2002). 4

Em 1970, a seleção brasileira teve de se curvar ao estilo de jogo que imperava no Mundo, quando novamente encantava o mundo com a equipe que depois viria a ser considerada a melhor de todos os tempos. Isso se deu não só pela qualidade técnica dos atletas, mas principalmente pelo preparo físico adquirido por eles, que sem sombra de dúvidas, se destacavam em relação aos adversários, principalmente no segundo tempo de jogo (SOUZA 2001). A partir desse fato, o mundo do futebol começava a se aperfeiçoar cada vez mais no campo científico para alcançar um melhor resultado nos atletas (SOUZA 2001). 2.2.2- A Evolução da preparação física no futebol profissional brasileiro. Segundo GARGANTA (2001), o futebol não é uma ciência que as técnicas científicas possam determinar o vencedor ou perdedor de uma partida. Existem outras variáveis que podem influenciar no resultado de uma partida, como, preparação psicológica e os sistemas táticos, por exemplo. Com o passar do tempo, a profissionalização do futebol foi crescendo de forma avassaladora. Com isso, as comissões técnicas foram percebendo que a preparação física dos atletas seria cada vez mais importante para um melhor rendimento de suas equipes (DAOLIO 1998). Segundo SILVA et al.(1997), o futebol atual, comparado a décadas passadas está mais rápido e intenso. O milionário mundo do futebol conta com uma preparação física, técnica e tática que evoluiu vertiginosamente nos últimos anos (CORRÊA et al. 2002). Portanto, fica cada vez mais evidente a valorização e a preocupação com uma preparação física bem desenvolvida e apoiada em conceitos científicos bem fundamentados (SILVA et al. 1999). Para uma evolução eficaz na preparação física dos atletas, foram criados novos testes e técnicas para o melhor desempenho dos atletas (OLIVEIRA et al. 2000). 5

Foram também criados testes físicos aliados a fatores psicológicos dos atletas como citam SAMULSKI e CHAGAS (1996), testes que avaliam agilidade como em CAICEDO e MATSUDO (1993), técnicas de avaliação de biotipo de atletas como em GODOY e MATSUDO (1987) e testes físicos tanto de força como de resistência como citado em SAMULSKI e GONÇALVES (1997), CALDAS (1989) e SILVA (2001). Além disso, as comissões técnicas passaram a utilizar também períodos preparatórios, como a pré-temporada, que consiste em executar avaliações funcionais que exercem um procedimento prévio no controle fisiológico do treinamento físico (TEIXEIRA et al. 1999). Sendo assim, os sistemas táticos sofreram modificações ao longo do tempo e podem ser vistos claramente nos dias atuais (OSTERMAN 2002). Mas para que haja uma prosperidade entre físico, técnica e tática é necessário um planejamento correto e, treinos que aliem esses três fatores para que o êxito seja alcançado (SILVA 1994). Ou não, já que o futebol não é ciência. (GARGANTA 2001). 6

III- Metodologia. 3.1 Amostra Para a entrevista, foram utilizados 7 técnicos e 8 preparadores físicos do futebol profissional brasileiro, atuantes e não atuantes, ex-atletas e não ex-atletas de futebol, formados e não formados em Educação Física, com faixa etária de 25 a 52 anos e média de idade de 41 anos, 5 a 37 anos de experiência de trabalho no futebol com média de 20,8 anos; do sexo masculino e nível sócio-econômico entre classe média baixa e média alta. Estes foram abordados em seus clubes de atuação no caso da A. Portuguesa de Desportos com o Prof. Eduardo Miranda, Prof. Manoel da Silva Faleiro e o Técnico Luis Carlos Martins, na S.E Palmeiras com o Prof Walmir Cruz, Prof. Marco Aurélio Schiavo Reis e com o Técnico Caio Zanardi, na concentração do C.R.Flamengo com o Prof. Nelson Baptista Jr e com o Prof. Eduardo Alexandre Baptista, no campo de treinamento da A.D São Caetano com o Prof. Adenor Leonardo Bachi (Tite) e com o Prof. Geraldo Delamore, no Centro de Treinamento do Figueirense F.C e do Avaí F.C e seus respectivos profissionais (Vagner Benazzi de Andrade/ Prof. Celso de Rezende e Prof. Cláudio Pereira Café), ou num local tranqüilo para a execução da entrevista com o Prof. Altair Ramos e com o Prof. Manoel Barrionuevo. 3.2 Técnica de coleta de dados Os dados foram coletados por um questionário elaborado pelo autor e revisado pelas orientadoras do trabalho. Este questionário foi elaborado em duas partes.a primeira parte, que vai da questão de 1 até 5, visa saber dos entrevistados questões com relação a parte tática, física e o que isso representa na evolução do futebol. A segunda parte do questionário, que vai da questão 6 até 9, visa quantificar a importância da parte física para os atletas, bem como isso representa para a parte tática do futebol. O autor utilizou uma escala de 0 a 10 para quantificar os resultados já que essa escala é universal e podemos analisar as respostas como se fosse em porcentagem (0 a 100%), (Anexo 1). Houve também um outro questionário para caracterizar o entrevistado (Anexo2). Este questionário foi aplicado em forma de entrevistas registradas em fita microcassete PANASONIC modelo MC-60, por um aparelho gravador microcassete SONY modelo M- 530V. 7

Estas entrevistas foram realizadas nos clubes de atuação dos entrevistados, hotéis de concentração dos clubes e em outros locais tranqüilos para a realização das mesmas. Em alguns casos, não houve a realização da entrevista devido à distância de alguns clubes. Nesse caso as respostas foram dadas por escrito através de carta e analisadas da mesma forma pelo autor, no caso da comissão técnica do Figueirense F.C. 3.3- Análise dos dados A análise dos dados foi realizada em forma de freqüência e porcentagem das respostas de 1 a 5, e, média e desvio padrão das respostas de 6 a 9 do questionário aplicado, além de uma discussão teórica de todas as questões do questionário. 8

IV- Resultados e Discussão. Os resultados estão apresentados em forma de tabelas por freqüência e porcentagem e média e desvio padrão das respostas emitidas pelos entrevistados, para o questionário aplicado (Anexo1). Abaixo das tabelas estão os comentários que não puderam ser quantificados. Tabela 1. Freqüência (f) e porcentagem (%) das respostas dadas pelos entrevistados nas questões que se referem às questões táticas. Características táticas SIM NÃO (n=15) f % f % Alteração na disposição tática das equipes 7 46,6 8 53,4 Evolução dos atletas na parte tática 11 73,4 4 26,6 O Atleta é mais adaptável nos dias atuais 15 100 - - Adaptabilidade dos esquemas táticos em função da melhora da condição física dos atletas 15 100 - - Na Tabela 1, foram quantificados os resultados das questões de 1 a 4 do questionário aplicado. Na análise da questão sobre a alteração na disposição tática das equipes, pudemos observar que 46,6% dos entrevistados responderam que houve mudanças táticas no futebol brasileiro a partir da década de 60. O Prof. Manuel Barrionuevo e o técnico, Luiz Carlos Martins e o Prof. Cláudio Café, por exemplo, citaram que essas evoluções não foram criações táticas e sim variações táticas em cima dos esquemas já existentes como, por exemplo, variação do 4x3x3 para o 4x4x2 e do 3x4x3 para o 3x5x2. Por outro lado, 53,4% dos entrevistados disseram que não houve mudanças reais e significativas na parte tática. Em uma opinião unânime para os que disseram "Não", os entrevistados disseram que a mudança ocorreu apenas na parte física. 9

Sobre a questão da evolução dos atletas na parte tática, 73,4% dos entrevistados disseram que estes evoluíram nesse aspecto. Na maioria dos casos, as respostas foram: os atletas assimilam melhor os esquemas, houve uma evolução dos técnicos ao longo do tempo, depende do comando dos técnicos e os atletas que adquirem uma experiência internacional, principalmente européia, voltam muito mais educados taticamente. Já os 26,6% contra, disseram que os atletas ainda são indisciplinados taticamente e que o futebol brasileiro ainda é mais técnico do que tático. A análise das questões 1 e 2 que referem-se respectivamente à evoluções táticas e evoluções de atletas, pudemos identificar que não houve uma grande mudança tática, porém houve uma evolução dos futebolistas, segundo os entrevistados. Uma das causas citadas pelos entrevistados foi a melhora da condição física dos atletas que fez variar os esquemas táticos e criou uma evolução tática dos jogadores. De acordo com GRECO & CHAGAS (1992), os esquemas táticos consistem em determinar e estabelecer meios e planos de ação, para influenciar, controlar ou desviar o adversário do seu plano original, ou seja, necessita de uma percepção do jogador que às vezes pode estar em situações de pressão; sem contar a grande exigência física e psicológica. Como colocado por SEQUEIRA (2002), hoje em dia os modelos de jogo e os seus sistemas táticos exigem cada vez mais das capacidades físicas dos atletas. Na questão do atleta estar mais adaptável nos dias atuais, unanimidade em citar que o atleta atual é mais adaptável do que 30 anos atrás. A incidência das respostas está citada na Tabela 2. Nesta questão, todos os entrevistados acreditam que o jogador atual é mais adaptável do que há 30 anos atrás, sendo que 53,4% da unanimidade acredita que o fator principal foi a melhora da condição física do futebolista, pelo fato dos meios científicos que, ao longo do tempo, tem sido fundamental na exploração, medição e direcionamento dos potenciais individuais dos jogadores (GUERRA 2001). Porém, 46,6% acreditam que se criou ao longo do tempo uma multifuncionalidade para o atleta, como citado por SANTOS (1999), que os laterais modernos são defensores ofensivos, que o zagueiro deve saber jogar como meio-campista e os meio-campistas devem saber marcar e tornarem-se defensores em determinadas situações de jogo. 10

Tabela 2. Freqüência (f) e porcentagem (%) das respostas emitidas pelos entrevistados sobre a questão da adaptabilidade dos atletas nos dias atuais do questionário. O atleta é mais adaptável nos dias atuais (n=15) f % Multifuncionalidade do atleta 7 46,6 Evolução científica para a melhora física 8 53,4 A Tabela 2 mostra que 53,4% dos entrevistados acreditam que a evolução científica que proporcionou uma melhora na condição física dos atletas foi a maior responsável pela adaptabilidade do atleta. Entretanto, outros 46,6% acreditam que a multifuncionalidade do atleta em função da evolução do futebol é que fez com que o atleta viesse a se adaptar mais facilmente. Tabela 3. Freqüência (f) e porcentagem (%) das respostas emitidas pelos entrevistados sobre a questão da adaptabilidade dos esquemas táticos em função da melhora do físico dos atletas do questionário. Adaptabilidade dos esquemas táticos em função da melhora da condição física dos atletas (n=15) f % Outras variáveis influenciam nas questões táticas 4 26,6 Melhora na condição física dos atletas 11 73,4 11

Essa questão sobre a adaptabilidade dos esquemas táticos em função da melhora da condição física dos atletas aponta unanimidade no "SIM" para as adaptabilidades dos esquemas táticos. Desses 100%, 73,4% acreditam que o principal fator para que os esquemas táticos se tornassem mais adaptáveis, foi a melhora da condição física do atleta. Já 26,6%, acreditam que existem outras variáveis que influenciam na montagem de esquemas táticos. (FERNANDES 2000) (Tabela 3). Tabela 4. Freqüência (f) e porcentagem (%) das respostas emitidas pelos entrevistados sobre a evolução da condição física dos atletas dentro dos esquemas táticos. Opinião dos entrevistados sobre a evolução da condição física dos atletas para os esquemas táticos (n=32) f % Condição física fundamental para o atleta 9 28,2 Evolução da parte cientifica 7 21,8 Multifuncionalidade do atleta 6 18,7 Mudança na dinâmica do jogo 4 12,5 Evolução de técnicos e comissão técnica 4 12,5 Limitação da qualidade do atleta 2 6,3 12

Essa questão, uma das mais abertas do questionário, já que lida com opinião pessoal, foram constatadas 6 diferentes respostas para a evolução da preparação física do atleta dentro dos esquemas táticos. Cada entrevistado emitiu o número de opiniões que achou necessário para responder a questão com clareza, por isso o N é 32, e não 15 que seria o número de entrevistados. A resposta mais freqüente, com 28,2%, foi que a boa preparação física para o jogador hoje em dia é uma condição fundamental. Essa condição é analisada por SILVA el.al (2000) pelo futebol se tratar de uma atividade física intermitente realizada por meio de exercícios de intensidade variada, assim como EVANGELISTA E BRUM (1999) e CALDAS (1989) também citaram. 21,8% acreditam que houve uma evolução da parte científica em todos os sentidos, ou seja, em todas os aspectos de uma comissão técnica como, por exemplo, a preparação física, a fisiologia, a parte nutricional e a parte médica (BARROS 2002). A evolução da ciência para a melhora do condicionamento físico dos futebolistas é citada também por YAZBEK (1995). 18,7% acreditam que a preparação física criou uma multifuncionalidade para os atletas (SISTO E GRECO 1995) e (PINTO E ARAÚJO 1999). Com 12,5% de freqüência das respostas, a evolução de técnicos e comissões técnicas foi a terceira resposta juntamente com a mudança na dinâmica do jogo. PEÑAS E ARGILAGA (2002), citam que a integração dos profissionais de uma comissão técnica é uma condição fundamental para uma equipe de sucesso. Já SIMÕES et.al (1998) citou que os técnicos evoluíram a partir do momento em que deixaram de lado a posição imperialista de trabalho e passaram a interagir não somente com a comissão técnica, mas principalmente com os jogadores. Finalmente, com 6,3% de freqüência das respostas, o avanço da preparação física limitou a qualidade dos atletas. 13

Tabela 5. Média (x) e desvio padrão (s) das respostas emitidas pelos entrevistados das questões sobre o físico para o tático do questionário, em escala de 0 a 10. A evolução física influenciando o tático (n=15) x s Importância da melhora do condicionamento físico dos atletas para a aplicação dos esquemas 8,5 1,99 táticos Facilidade de mudança de um esquema tático em uma mesma partida 6,4 1,76 Facilidade de variações táticas em função da versatilidade física do elenco 8,0 1,51 Na tabela 5, foi constatada a opinião dos entrevistados com relação às questões 6, 7 e 9 do questionário aplicado. Na questão 6, que se refere à importância da melhora do condicionamento físico dos atletas para a aplicação dos esquemas táticos, a média dos resultados foi de 8,5 sobre 10 pontos para a importância da melhora do físico dos atletas de futebol profissional, para a aplicação de alguns esquemas táticos, já que na visão dos entrevistados, a preparação física se tornou condição fundamental para o futebol atual. A questão que cita a facilidade de mudar um esquema tático em uma mesma partida, apresentou a média de 6,4 sobre 10 pontos. Essa média baixa, na visão dos entrevistados é pelo fato de existirem outros fatores que influenciam na hora de mudar um esquema tático numa mesma partida. Esses outros fatores citados por eles foram o nível de treinamento da equipe e situações de jogo como perder um atleta expulso ou machucado, necessidade de atacar ou defender, dentre outros. Outros fatores citados foram a condição técnico/tática dos atletas e os métodos de trabalho utilizados pelos técnicos. 14

Todas essas justificativas também se aplicam para explicar o resultado da questão 9, que refere-se à facilidade de variações táticas em função da versatilidade física dos atletas, foi identificado 8,0 sobre 10 pontos para a facilidade de utilizar esquemas táticos diferentes em um elenco em função da versatilidade física dos atletas. As questões 6, 7 e 9, que foram analisadas juntas, mostram que a dificuldade de mudar esquemas táticos em uma equipe apenas com a condição física dos jogadores. Isso mostra que os estudos científicos têm sido em cima das questões fisiológicas em geral, dos atletas, porém a tática deixada de lado no campo da ciência, (GARGANTA et.al 1997), já que na maioria dos casos os profissionais citaram essa dificuldade em função de vários fatores como treinamento, entrosamento e consciência tática da equipe a partir de um padrão estabelecido. 15

Tabela 6. Média (x) e desvio padrão (s) das respostas emitidas pelos entrevistados para a importância da preparação física para as diferentes posições de jogo, em escala de 0 a 10. Importância da preparação física para diferentes posições de jogo. (n=15) x s Goleiro 9,2 1,43 Zagueiro 9,4 0,91 Laterais 9,6 0,61 Meio-campistas 9,5 0,74 Atacantes 9,4 0,83 A Tabela 6 apresenta a opinião dos entrevistados sobre a importância da preparação física para as diferentes posições dos jogadores. Os resultados apresentam uma maior importância para os laterais, com 9,6 sobre 10, depois os meio-campistas com 9,5, atacantes e zagueiros com 9,4 sobre 10 e por fim o goleiro que apresenta 9,3 sobre 10. Por fim, essa questão nos mostra claramente a importância da preparação física para os futebolistas na visão dos entrevistados já que, a capacidade física máxima é considerada um fator importante para o sucesso de jogadores de futebol (SILVA el.al 1997). De acordo com SILVA (2001), na atualidade, é reconhecido que o desempenho do futebolista deve-se à íntima relação da execução do gesto técnico com a capacidade de realiza-lo de uma forma cada vez mais explosiva. É por isso que, como citado por EVANGELISTA & BRUM (1999), o destreinamento físico acarreta em perda das adaptações do sistema cardiovascular (centrais) e metabólicas do músculo esquelético (periféricas) adquiridas com o treinamento físico aeróbio, resultando na diminuição do VO2 máximo. DENADAI et.al (2002) cita também que a velocidade do futebolista é uma condição fundamental para o sucesso do mesmo. 16

Porém, pudemos perceber também na questão 8 que há uma diferença de importância, na opinião dos entrevistados quanto às diferentes posições dos jogadores de futebol. O maior deslocamento de meio-campistas e laterais em partida pode ser explicado pelas funções táticas exercidas por estes atletas no futebol moderno, ou seja, tais jogadores têm como função tanto o ataque como a defesa. Por outro lado, os valores um pouco menores para o grupo de zagueiros e atacantes podem ser explicados por ambas as posições terem funções táticas relacionadas a um setor restrito do campo; o setor defensivo para os zagueiros e o setor ofensivo para os atacantes. Os goleiros, além de realizar treinamento diferenciado, apresentam movimentação específica durante uma partida, daí explica-se um número relativamente menor comparados às outras posições (BALIKAN et.al 2002). 17

VI- Referências Bibliográficas 1- ASSAF, R. Banho de Bola: Os técnicos, as táticas e as estratégias que fizeram história no futebol. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 2002. 2- BALIKIAN P, LOURENÇÃO A, RIBEIRO LFP, FESTUCCIA WTL, NEIVA CM. Consumo máximo de Oxigênio e limiar anaeróbio de jogadores de futebol: comparação entre as diferentes posições. Rev. Bras. Med. Esporte 2002; 8: 32-36. 3- BARROS RML, BERGO FG, ANIDO R, CUNHA SA, FILHO ECL, BRENZIKOFER R, FREIRE JB. Sistema para anotação de ações de jogadores de futebol. Rev. Bras. Ciên e Mov. 2002; 10: 07-14. 4- CAICEDO JG, MATSUDO SMM, MATSUDO VKR. Teste específico para mensurar agilidade em futebolistas e sua correlação com o desempenho no passe em situação real de jogo. Rev. Bras. Ciên e Mov. 1993; 7: 7-15. 5- CALDAS PRC. Força e velocidade no treinamento de atletas de futebol. Revista Digital. 1989; 1:54-63. 6- CORRÊA DKA, ALCHIERI JC, DUARTE LRS, STREY MN. Excelência na produtividade: A performance dos jogadores de Futebol Profissional. Psicologia: Reflexão e Crítica. 2002; 15: 447-460. 7- DAOLIO J. As contradições do futebol brasileiro. Educación Física y Deportes. 1998; 10: 1-5. 8- DENADAI BS, HIGINO WP, FARIA RA, NASCIMENTO EP, LOPES EW. Validade e reprodutibilidade da resposta do lactato sanguíneo durante o teste shuttle run em jogadores de futebol. Rev. Bras. Ciên e Mov. 2002; 10: 71-78. 19

9- EVANGELISTA FS e BRUM PC. Efeitos do destreinamento físico sobre a "performance" do atleta: uma revisão das alterações cardiovasculares e músculoesqueléticas. Rev. Paul. Educ. Fís. 1999; 13: 239-49. 10- FERNANDES, J.L. Mudanças táticas no futebol em função do momento de ocorrência do gol. Revista Instituto de Ciências da Saúde. v.18, n.1,p.7-11, jan/jun 2000. 11- FRANZINI F. No campo das idéias: Gilberto Freyre e a invenção da brasilidade futebolística. Revista Digital. 2000; 26: 1-3. 12- FUENZALIDA JMG e MATSUDO VKR. Perfil z de futebolistas profissionais da primeira divisão. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. 1987; 1: 7-10. 13- GARGANTA J, MAIA J, MARQUES A. Acerca da investigação dos fatores do rendimento em futebol. Rev. Paul. Educ. Fís. 1997; 5: 146-58. 14- GARGANTA J. Futebol e Ciência. Ciência e Futebol. Revista Digital. 2001; 7: 1-1 15- GRECO PJ e CHAGAS MH. Considerações teóricas da tática nos jogos esportivos coletivos. Rev. Paul. Educ. Fís. 1992; 6: 47-58. 16- GUERRA I, SOARES EA, BURINI RC. Aspectos nutricionais do futebol de competição. Rev. Bras. Med. Esporte. 2001; 7: 200-206. 17- JESUS GM. Futebol e modernidade no Brasil: A geografia histórica de uma inovação. Educación Física y Deportes. 1998; 10: 1-3. 18- JESUS GM. A via platina de introdução do futebol no Rio Grande do Sul. Revista Digital. 2000; 26: 1-2. 19- OLIVEIRA PR, AMORIM CEN, GOULART CF. Estudo do esforço físico no futebol júnior. Revista Paranaense de Educação Física. 2000; 1: 49-58. 20

20- OSTERMAN RC. Felipão a alma do penta. Porto Alegre: ZH Publicações; 2002. 21- PEÑAS CL e ARGILAGA MTA. Use of the polar coordinates technique to study interactions among professional soccer players. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. 2002; 2: 21-40. 22- PINTO, J.A; ARAÚJO, N.I. A importância do treinamento da visão periférica no futebol. Revista Mineira Educação Física, Viçosa. 7(2), p.81-93, 1999. 23- SAMULSKI D, CHAGAS MH. Análise do estresse psíquico na competição em jogadores de futebol de campo nas categorias juvenil e júnior. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina. 1996; 11: 3-11. 24- SAMULSKI D, GONÇALVES GA. Comparação do VO2 máximo estimado, tempo de corrida de 50 metros e carga psíquica de jogadores de futebol de posições diferentes de equipes da categoria júnior, da região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. 1997; 18: 174-181. 25- SANTOS JAR. Estudo comparativo, fisiológico, antropométrico e motor entre futebolistas de diferente nível competitivo. Rev. Paul. Educ. Fís. 1999; 13: 146-59. 26- SEQUEIRA MM. Caracterização do esforço em dois jovens jogadores de futebol de alto nível durante o treino de conjunto e jogos oficiais. Revista Digital. 2002; 8: 1-8. 27- SILVA FMA. Tática científica para o futebol total. Revista Sprint. 1994; 1: 42-45. 28- SILVA PRS, ROMANO A, JUNIOR PY, BATTISTELLA LR. Efeitos do treinamento físico específico nas respostas cardiorrespiratórias e metabólicas em repouso e no exercício máximo em jogadores de futebol profissional. Acta Fisiátrica. 1997; 4: 59-64. 21

29- SILVA PRS, VISCONTI AM, ROLDAN A, TEIXEIRA AAA, SEMAN AP, LOLLA JCCR, JUNIOR RG, LEPÉRA C, PARDINI FO, FIRMINO MT, ZANIN MT, ROXO CDMN, ROSA AF, BASÍLIO SS, MONTEIRO JCS, CORDEIRO JR. Avaliação funcional multivariada em jogadores de futebol profissional. Uma metanálise. Acta Fisiátrica. 1997; 4: 65-81. 30- SILVA PRS, ROMANO A, TEIXEIRA AAA, VISCONTI AM, ROXO CDMN, MACHADO GS, VIDAL JRR, INARRA LA. A importância do limiar anaeróbio e do consumo máximo de oxigênio (VO2máx) em jogadores de futebol. Rev. Bras. Med. Esporte. 1999; 5: 225-232. 31- SILVA PRS, INARRA LA, VIDAL JRR, OBERG AARB, JUNIOR AF, ROXO CDMN, MACHADO GS, TEIXEIRA AAA. Níveis de lactato sanguíneo, em futebolistas profissionais, verificados após o primeiro e o segundo tempos em partidas de futebol. Acta Fisiátrica. 2000; 7: 68-74. 32- SILVA PRS. Efeito do treinamento muscular realizado com pesos, variando a carga contínua e intermitente em jogadores de futebol. Acta Fisiátrica. 2001; 8: 18-23. 33- SIMÕES AC, RODRIGUES AA, CARVALHO DF. Liderança e as forças que impulsionaram a conduta de técnico e atletas de futebol, em convívio grupal. Rev. Paul. Educ. Fís. 1998; 12: 134-44. 34- SISTO, F.F;GRECO,P.J. Comportamento tático nos jogos esportivos coletivos. Revista Paulista de Educação Física. v.9 (1), p.63-68, jan/jun 1995. 35- SOUZA KM. Divino: A vida e a arte de Ademir da Guia. Rio de janeiro: Gryphus; 2001. 22

36- TEIXEIRA AAA, SILVA PRS, INARRA LA, VIDAL JRR, LEPÉRA C, MACHADO GS, REBELLO LCW, PRIMA LC, ZAGALLO MJL, SOUSA JM. Estudo descritivo sobre a importância da avaliação funcional como procedimento prévio no controle fisiológico do treinamento físico de futebolistas realizado em pré-temporada. Acta Fisiátrica. 1999; 6: 70-77. 37- YAZBEK. JP. Considerações gerais para a preparação física de atletas. Metodologia e Treinamento. Arq. Bras. Cardiol. 1995; 64: 167-189. 23

VII- Anexos Anexo 1. Questionário aplicado aos técnicos, auxiliares técnicos e preparadores físicos do futebol brasileiro profissional. 1- Houve mudanças na maneira tática das equipes jogarem a partir da década de 60? Se houve, quais foram as principais. 2- Os atletas evoluíram sob o ponto de vista tático, ou seja, estão mais "educados" taticamente? O atleta, hoje, é mais adaptável do que há 30 anos atrás? (posicionamento e função). 4- O Sr. Acredita que os sistemas táticos se tornaram mais adaptáveis em função da melhora da condição física dos atletas? 5- Qual a sua opinião sobre a evolução da condição física dos atletas dentro dos sistemas táticos. 6- Em uma escala de 0 a 10, qual a importância da melhora no físico dos atletas para a aplicação de alguns sistemas táticos. 7- Em uma escala de 0 a 10, qual a facilidade de mudar um esquema tático numa mesma partida. 8- Na sua opinião, qual a importância, numa escala de 0 a 10, da preparação física para um: 8a - goleiro 8b - zagueiro 8c - laterais 8d - meio-campistas 8e - atacantes 9- Em uma escala de 0 a 10, cite o número que melhor representa a facilidade de utilizar esquemas táticos diferentes em um elenco em função da versatilidade física dos atletas. 24

Anexo 2. Questionário para caracterização dos entrevistados. 1- Nome: 2- Idade: 3- Ex-jogador? ( ) Sim ( ) Não 4- Formado em Ed. Física? ( ) Sim - vá para a pergunta 5 ( ) Não - vá para a pergunta 6 5- Qual Universidade? 6- Técnico/Auxiliar ou Preparador físico? 7- Há quanto tempo trabalha ou trabalhou no futebol? 8- Em quais clubes já trabalhou? (Comissão técnica e/ou atleta) 9- Principais títulos obtidos como jogador e/ou como técnico/aux./ preparador físico. 25

V- Conclusão O presente estudo chega a conclusão que a evolução da parte física foi um dos fatores da "criação" do futebol moderno. Não que ela tenha mudado esquemas táticos de jogo, mas proporcionou ao atleta uma versatilidade, uma multifuncionalidade dentro dos padrões de jogo já estabelecidos. Hoje em dia, na opinião da maioria dos profissionais entrevistados, a preparação física é um fator fundamental para o êxito de uma equipe, até porque o futebol moderno é baseado na velocidade dos atletas. Isso acabou tornando o atleta multifuncional, ou seja, os laterais são marcadores e atacantes, como pontas ou elementos surpresas pelo meio do campo, os volantes e meias que compõem o meiocampo interagem entre si na parte de criação e marcação, os zagueiros hoje em dia fazem muito mais gols por terem muita liberdade nos sistemas atuais de jogo e os atacantes, antigos criadores e finalizadores apenas, hoje são os primeiros marcadores quando o time está sem a posse da bola. Porém esse estilo de jogo exige muito treinamento, priorizando muito mais a parte coletiva do que o talento individual como era o futebol antigo. Na opinião dos profissionais entrevistados, as evoluções táticas proporcionadas pela evolução da condição física foram nas funções individuais dos atletas e não em sistemas padronizados de jogo, ou seja, os técnicos têm uma maior opção de escolha de seus sistemas de jogo em função de uma versatilidade dos atletas, dependendo também, é claro das condições técnicas e entrosamento tático do elenco. Além da condição física, houve também uma evolução tática dos atletas. Outro fator que contribuiu para uma evolução tática foi a evolução científica em geral, principalmente dos técnicos e comissões técnicas Com esses dados é visível identificar que a preparação física é uma realidade no futebol profissional brasileiro e influenciou significativamente para a criação do futebol moderno. Porém, não podemos esquecer da condição técnica dos atletas e principalmente dos treinamentos táticos que é fundamental para a aplicação de qualquer sistema de jogo, ou seja, a condição física ainda não substituiu totalmente o julgamento das comissões técnicas e principalmente dos técnicos na escolha de seus esquemas táticos aplicados, tendo outros fatores que também influenciam nessa escolha. 18