MEMÓRIA E IDENTIDADE: RELATO DE UMA OFICINA DE AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO

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Transcrição:

13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ISSN 2238-9113 ÁREA TEMÁTICA: ( ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE (x ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA MEMÓRIA E IDENTIDADE: RELATO DE UMA OFICINA DE AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO Luciane Gomes Pereira (lugplu@gmail.com) Fabiane Kravutschke Bogdanovicz (fabianebolan@yahoo.com.br) Adriano Da Costa Valadão (adrianocv01@yahoo.com.br) Luiz Alexandre Gonçalves Cunha (llagc2@yahoo.com.br) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo apresentar e discutir os resultados de uma oficina de avaliação e planejamento realizada pela equipe da IESol Incubadora de Empreendimentos Solidários, no ano de 2014, na Comunidade Emiliano Zapata, que foi adaptada de material da incubadora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). A oficina foi embasada na metodologia da Educação Popular e teve como finalidade a construção de um planejamento participativo com os trabalhadores, a partir de um breve resgate da história do grupo na sua relação com a incubadora, pautando os temas da memória e identidade. Como resultados, além do fortalecimento dos vínculos de pertencimento dos trabalhadores ao coletivo, várias questões esquecidas puderam voltar ao debate, redirecionando o grupo quanto aos seus ideais e seus objetivos, fortalecendo-os. A partir dessa atividade, foi elaborado o planejamento semestral das atividades de incubação junto ao grupo. PALAVRAS-CHAVE Economia Solidária. Planejamento. Memória Introdução A Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol) foi criada no ano de 2005 como um programa de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (PROEX) com o objetivo de fomentar a Economia Solidária na Região dos Campos Gerais. Este programa iniciou com o desenvolvimento de projetos apoiando a organização e formalização de grupos de geração de trabalho e renda, a partir dos princípios da Economia Solidária, como a cooperação, associativismo, solidariedade e autogestão. Com a finalidade de cumprir com os objetivos da extensão universitária, em suas práticas, a IESol busca valorizar a formação dos acadêmicos, a partir da compreensão e sistematização das questões teóricas e práticas relativas à Economia Solidária e da realidade dos grupos incubados. Portanto, além de realizar o trabalho de formação junto aos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), a incubadora realiza formações internas com toda a equipe, trabalhando diversos temas correlatos à temática da Economia Solidária e

13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 2 pertinentes à realidade dos EES, configurando o tripé indissociável do ensino, pesquisa e extensão. O trabalho realizado pela IESol junto à Comunidade Emiliano Zapata visa apoiar os processos de produção e comercialização de produtos agroecológicos das famílias que estão vinculadas aos projetos da incubadora. Esta Comunidade se constitui em um grupo de cerca de 50 famílias que moram em uma área ocupada pelo MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - desde o ano de 2003. Atualmente, a IESol acompanha dois grupos da comunidade: um deles formado por integrantes da ATERRA Associação dos Trabalhadores Rurais da Reforma Agrária e o outro formado por integrantes da Cooperas Cooperativa Camponesa de Produtores Agroecológicos da Economia Solidária. O processo de incubação desses grupos pela IESol é marcado por um histórico de avanços e retrocessos, limites e desafios, tanto para os trabalhadores quanto para a incubadora, devido aos diversos fatores relacionados ao contexto do MST, além das enormes dificuldades enfrentadas por Empreendimentos Econômicos Solidários para se sustentar no modo de produção capitalista (CRUZ, 2011). Por diversas vezes, a equipe de incubação destes grupos teve dificuldades em realizar um planejamento de atividades com a participação dos trabalhadores. Percebeu-se que existem muitos ruídos relacionados à execução de um grande número de projetos na comunidade, por diferentes instituições, desde o início da organização do acampamento. Muitos desses projetos despertaram grandes expectativas nos trabalhadores e, na medida em que algumas dessas expectativas não foram correspondidas, geraram também grandes frustrações, o que acabou gerando desconfianças em relação a novas propostas apresentadas à comunidade. Dessa forma, uma das maneiras que a equipe encontrou para conseguir realizar um planejamento participativo e em conformidade com os interesses dos grupos foi buscando resgatar e esclarecer um pouco do histórico de incubação, a partir do resgate da memória coletiva do EES. Assim, a equipe preparou uma oficina de avaliação e planejamento das atividades, a partir da adaptação de duas oficinas sistematizadas em uma apostila de metodologias 1 da incubadora da Universidade Estadual de Campinas (ITCP/UNICAMP). Na execução da oficina com os EES da Comunidade Emiliano Zapata, foram utilizados materiais (documentos e fotos) de diversas atividades realizadas pela IESol na 1 ITCP/UNICAMP. Empírica: metodologia de incubação. ITCP/UNICAMP: PREAC/UNICAMP Campinas, SP: Instituto de Economia, 2009. Disponível em: http://www.itcp.unicamp.br/empirica/sites/default/files/empirica.pdf.

13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 3 comunidade, desde o início do processo de incubação. Com essa atividade, o grupo conseguiu sistematizar os objetivos dos EES, elencando as prioridades que foram incorporadas ao planejamento semestral de ações da equipe de incubação. Objetivos O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir os resultados de uma oficina de avaliação e planejamento realizada pela IESol, na Comunidade Emiliano Zapata, em 2014, com o intuito de, através de um resgate do histórico de incubação, fortalecer a memória e a identidade do grupo, resultando em um planejamento semestral de atividades de incubação com os empreendimentos. Referencial teórico A Economia Solidária fundamenta o trabalho da IESol junto aos grupos de geração de trabalho e renda e que atuem com base nos princípios da Economia Solidária, grupos este que pode estar organização de forma formal ou mesmo informalmente. A proposta da Economia Solidária é a construção de uma outra lógica de desenvolvimento que incorpora de maneira efetiva as dimensões social, cultural, ecológica e política (SOUZA, 2011, p. 61). Esta outra lógica tem como premissa a valorização do trabalhador, em detrimento do lucro capitalista; o cuidado com o meio ambiente e a saúde das pessoas; o respeito ao consumidor, com as práticas do comércio justo e solidário e o fortalecimento de redes e cadeias produtivas, como forma de viabilizar econômica e ambientalmente os EES; e que os trabalhadores sejam também donos do empreendimento do qual participam de forma coletiva e organizados através da autogestão. No processo de incubação dos EES pelas incubadoras, a Economia Solidária cumpre também um papel educativo na relação dos diversos atores (trabalhadores, apoiadores e gestores públicos) entre si e de todos com os princípios desta outra economia, através da prática da solidariedade, da autogestão, do respeito mútuo e do diálogo. O caráter educativo desses processos está no fato de que nos ensinam que é preciso não apenas driblar a lógica excludente do mercado capitalista, mas fortalecer os processos constituintes de outras formas de produzir a vida (TIRIBA, 2007, p. 154). Nesse sentido, as práticas das incubadoras em Economia Solidária vão ao encontro da redefinição da extensão universitária, ao propiciarem um ambiente de aprendizado para as partes envolvidas: professores, estudantes e comunidades (NASCIMENTO; RIGO e FRANÇA FILHO, 2013, p. 193).

13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 4 O modelo metodológico básico de incubação empregado pela IESol é a Educação Popular, partindo sempre dos conhecimentos dos trabalhadores e de suas situações concretas do cotidiano para discutir a teoria e a prática dos temas relativos à Economia Solidária. Portanto, o trabalho do educador popular precisa ser centrado no diálogo, desafiando o grupo popular a pensar sua história social como a experiência igualmente social de seus membros, [...] revelando a necessidade de superar certos saberes que, desnudados, vão mostrando sua 'incompetência' para explicar os fatos (FREIRE, 1996, p. 81). O trabalho com a memória do grupo é uma questão de grande relevância, pois está atrelada à construção de sua identidade. Ela é o resultado de um trabalho de organização e de seleção do que é importante para o sentimento de unidade, de continuidade e de experiência, isto é, de identidade (ALBERTI, 2005 apud LOPEZ, 2008, p. 17). Afirma Lopez (2008, p. 31 e 69) que a articulação das histórias contribui para uma nova memória social. Articuladas, as narrativas produzidas por diferentes indivíduos, grupos e instituições tecem uma nova memória social, plural e democrática., sendo que a possibilidade de compartilhar dessa memória dá a cada membro do grupo o senso de pertencimento e contribui para o desenvolvimento social baseado no respeito e na compreensão das múltiplas experiências. Metodologia A oficina de avaliação e planejamento realizada com os trabalhadores da comunidade Emiliano Zapata foi adaptada de duas oficinas da apostila Empírica (ITCP/UNICAMP): a oficina 49 de Avaliação das Atividades e oficina 22 Jogo dos Objetivos e Obstáculos. Teve como objetivo recordar e avaliar coletivamente as atividades realizadas no processo de incubação do grupo pela IESol, com o intuito de trabalhar a memória social do grupo, reforçando sua identidade, bem como colher críticas e sugestões e incorporá-las ao planejamento das atividades subsequentes. A atividade consistiu de três etapas. Na primeira, foram disponibilizados materiais como fotos e documentos relacionados às atividades desenvolvidas pelo grupo junto com a IESol, a fim de resgatar a história do empreendimento, desde o início do processo de incubação. Nesse momento, surgiram várias perguntas dos membros mais novos do empreendimento, que foram respondidas pelos membros mais antigos, compartilhando suas histórias e percepções. Na segunda etapa, após a análise do material, o grupo realizou uma avaliação sobre o histórico da incubação, a partir de perguntas e discussões. Na terceira etapa, ao final da avaliação, o grupo apresentou os resultados da avaliação. Nessa etapa, o grupo identificou os objetivos do empreendimento e as principais dificuldades enfrentadas para

13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 5 alcançá-los. Após a sistematização dos dados levantados, houve um momento de reflexão entre o grupo e esclarecimento de dúvidas pela equipe de incubação. A visualização dos dados sistematizados facilitou a discussão sobre soluções possíveis aos problemas identificados e ajudou a equipe a organizar um planejamento de ações para o próximo semestre, voltadas àquelas demandas específicas que surgiram na dinâmica. Resultados e discussão O diálogo suscitado pela dinâmica foi bastante rico, apresentando aspectos desconhecidos por muitos dos trabalhadores e também de pessoas da equipe de incubação. Essa atividade representou uma oportunidade de os novos integrantes conhecerem melhor a história do empreendimento e, ao mesmo tempo, começarem a fortalecer o vínculo com o grupo, a partir do fortalecimento da identidade do EES. Percebeu-se que, apesar de existir uma divisão entre os trabalhadores que fazem parte da ATERRA e os que fazem parte da Cooperas, existe uma identidade comum enquanto moradores da comunidade Emiliano Zapata, que têm preocupações e objetivos em comum, que visam ao bem de todos os moradores da comunidade. Seguem no quadro abaixo os resultados da oficina, com os objetivos do grupo, os obstáculos a esses objetivos e suas possíveis soluções. Quadro 1 Resultados da atividade Objetivos Obstáculos Possíveis Soluções Fortalecimento da agricultura familiar Baixa renda Mais pontos de comercialização Ampliação de tecnologias Projetos não executados Produção de mudas Ampliação do número de pessoas Construções não acabadas Maior produção Formação (capacitação técnica) Pouco pessoal Mais variedades Aumentar os pontos de comercialização Falta de recursos Processamento de hortaliças Fonte: Trabalho de Campo. A aplicação da oficina permitiu aos dois grupos estabelecer como objetivo principal o fortalecimento da agricultura familiar, o que está ligado à produção de alimentos seja para o consumo próprio e para comercialização. Também foram elencados os principais obstáculos em relação aos objetivos propostos, nos quais apareceu a questão da renda como central pelos participantes da oficina, confirmando percepções que a equipe de incubação já havia apontado. Nossa experiência junto à comunidade nos permite afirmar que existe um potencial de produção que não é explorado, principalmente por dificuldades em acesso a pontos de comercialização e o transporte desta produção até a cidade. Considerações Finais

13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 6 A partir da atividade realizada de resgate histórico do processo de incubação junto à comunidade Emiliano Zapata, foi possível trabalhar com o grupo sua memória, fortalecendo a questão identitária. Tal questão é importante, pois reforça os vínculos de pertencimento dos trabalhadores ao grupo, relatando aos novos membros a história do coletivo no qual ingressaram, e também trazendo à tona lembranças positivas e negativas que marcaram a trajetória daquele grupo. Com isso, foi possível retomar questões que ficaram pendentes e redirecionar o grupo quanto aos seus ideais e seus objetivos, fortalecendo-os. Esse diálogo resultou no planejamento participativo das ações subsequentes, o que demonstra o sucesso da atividade no engajamento dos trabalhadores e na continuidade do trabalho junto ao grupo. APOIO: Ministério da Educação MEC; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq e Petrobrás (patrocinadora). Referências CRUZ, A. A Acumulação Solidária: os desafios da economia associativa sob a mundialização do capital. In: Revista Cooperación & Desarrollo, nº 99. Bogotá, Indesco/UCC, 2011. Disponível em: <xa.yimg.com/kq/groups/23533422/337870816/name/acumulacao+ solidaria.pdf>. Acesso em junho 2015. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. ITCP/UNICAMP. Caderno Empirica. Campinas, SP: Instituto de Economia, 2009. Disponível em < www.itcp.unicamp.br/empirica/sites/default/files/emp+%c2%a1rica_a4.pdf>. Acesso em junho 2015. LOPEZ, I. Memória social: uma metodologia que conta histórias de vida e o desenvolvimento local. 1 ed. São Paulo: Museu da Pessoa: Senac São Paulo, 2008. Disponível em: http://idis.org.br/wp-content/uploads/2008/06/livro_mem%c3%b3ria_social.pdf. Acesso em junho de 2015. NASCIMENTO, I. T. R.; RIGO, A. S.; FRANÇA FILHO, G. C. Incubação em Economia Solidária e Extensão Universitária: Reflexões a Partir da Experiência da ITES/UFBA. In: CUNHA, E.V.; MEDEIROS, A. C.; TAVARES, A. O. Incubação em Economia Solidária. Reflexões sobre suas práticas e metodologias. Juazeiro do Norte, CE: Imprece, 2013. SOUZA, J. C. M. Economia Solidária e Desenvolvimento. In: SETRE Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia. Economia Solidária. Salvador, BA: SETRE, 2011. TIRIBA, L. O lugar da Economia Solidária na educação e o lugar da educação na Economia Solidária. In: MELLO, S. L.; BARBIERI, E. M.; SÍGOLO, V. M. (org.). Economia Solidária e Autogestão: Encontros Internacionais vol. 2. São Paulo: NESOL-USP, 2007.