A INCLUSÃO/EXCLUSÃO NA SALA DE AULA: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS RELATOS DOS ESTUDANTES NO ENSINO FUNDAMENTAL



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Transcrição:

A INCLUSÃO/EXCLUSÃO NA SALA DE AULA: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS RELATOS DOS ESTUDANTES NO ENSINO FUNDAMENTAL Resumo CUNHA, Kivania Karla Silva Albuquerque 1 - UEPB PIRES NETO, João Pessoa 2 - UEPB O presente trabalho é resultado de uma pesquisa qualitativa, que objetivou analisar o processo de inclusão/exclusão existentes na sala de aula a partir de relatos dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental de uma escola pública estadual na cidade de Campina Grande PB. Como instrumento metodológico, foi utilizado um questionário semiestruturado contendo nove questões envolvendo as relações de gênero, disposição em sala de aula e atividades individuais e em grupos. Os resultados apontaram para uma reflexão sobre a importância em tratar as questões de inclusão/exclusão no ambiente escolar e especificamente na sala de aula, de modo a minimizar possíveis danos à aprendizagem dos estudantes e consequentemente o comprometimento na relação professor/aluno e suas implicações no processo de ensinoaprendizagem. Palavras-chave: Inclusão/exclusão. Ensino/aprendizagem. Sala de aula Introdução Várias pesquisas estão voltadas às questões sociais no espaço escolar e tornando-se cada vez mais complexa as exigências do ensino e da educação. A evasão escolar, a indisciplina, baixo rendimento escolar, estão dentro desse rol que integram o quotidiano dos professores. A motivação nesta pesquisa está relacionada aos seguintes aspectos: a) devido à relevância social que o tema traz ao meio acadêmico, especificamente na formação de professores; b) por ser uma temática pouco explorada na literatura, uma vez que os termos inclusão/exclusão estão sempre associados a pessoas com necessidades especiais; e c) no sentido de fomentar discussões acerca de outros fatores existentes nos espaço escolar, caracterizando o processo de inclusão/exclusão. 1 Especialista em Serviço Social e Políticas Públicas e Bacharela em Serviço Social e. kivaniass@gmail.com. 2 Mestre em Ensino de Ciências e Licenciado em Química. E-mail: joaoppneto@yahoo.com.br E-mail:

Nesse sentido, participaram dessa investigação, 27 estudantes do 9º ano do ensino fundamental de uma escola pública estadual na cidade de Campina Grande- PB, em que responderam um questionário semi-estruturado contendo nove questões referentes ao tema central da pesquisa. Para análise dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo (BAUER, 2010), Desenvolvimento O processo de inclusão/exclusão no espaço escolar tem sido objeto de estudos em vários níveis acadêmicos, no entanto, pouco se tem falado nas diversas modalidades de inclusão/exclusão que estão presentes no ambiente escolar, especificamente na sala de aula. Tendo em vista que a inclusão/exclusão é discutida na literatura, contemplando as várias formas de incluir os sujeitos que estão em situação de riscos e ou que apresentam algum tipo de necessidades educativas especiais, a exemplo: deficientes visuais e auditivos, pessoas com dificuldades de locomoção, entre outras limitações físicas e ou cognitivas, percebe-se que as diversas outras formas de inclusão/exclusão existentes no espaço escolar, a exemplo das relações sociais entre os pares envolvidos no processo de ensino-aprendizagem é considerado como algo superfulo. No entanto, e de acordo com Collins e Green (1992) defendem que a aprendizagem se dá através de uma situação em que os professores e estudantes constroem os padrões da vida de cada sala de aula, ou seja, é no ambiente da sala de aula que há interação entre professor e estudante e consequentemente as diversas particularidades envolvidas neste ambiente precisam estar atentas de modo a não valorizar certas práticas includentes e ou excludentes, uma vez que Gomes (2004) reforça que cada sala de aula tem suas particularidades únicas e que tanto os professores como os alunos é que constroem a vida da sala de aula gradativamente. Para Santos e Nogueira (1999) os termos inclusão/exclusão escolar, datado nos primeiros séculos da nossa história, tinha uma conotação de possibilidade ou impossibilidade ao acesso ao sistema de ensino, o que mais tarde, no inicio do século XXI, através das políticas públicas voltadas para as questões de inclusão no espaço escolar, houve uma reformulação do pensamento voltado para as questões da inclusão/exclusão como sendo a possibilidade ou impossibilidade de permanência no sistema de ensino, outros autores referem-se ao processo de segregação/diferenciação internos do sistema escolar.

De acordo com Gomes (2004) a nossa realidade educacional é marcada po r algumas desigualdades, quer seja na forma de enturmação dos estudantes, a partir de diferenciação entre classes fortes, médias e fracas, quer seja na definição do currículo, ou seja, os critérios adotados no que serão ensinados estarem relacionados à expectativa que se tem do rendimento dos estudantes, através da separação das turmas, classificando-os como bons e maus dentro da sala de aula. Essa observação é notória, no instante em que ainda há escolas que separam os estudantes por turmas através de letras alfabéticas, a exemplo de 1º A, B, C,..., de acordo com o coeficiente escolar dos estudantes e seus comportamentos, ou seja, estudantes que não foram reprovados, geralmente ficarão na turma A e os restantes são distribuídos nas demais turmas, caracterizando dessa forma um processo marcante de inclusão/exclusão no ambiente escolar. Dessa forma, Gomes (2004) ainda aponta que, Com a multiplicação das desigualdades, os indivíduos se vêem em dificuldades para construírem suas próprias identidades e afirmarem-se como sujeitos iguais, uns aos outros. A relação entre identidade e desigualdade não passa somente pela frustração relativa ao choque entre igualdade de princípios e desigualdades reais, mas é um problema de definição do próprio sujeito que não é totalmente igual ou desigual em função das dimensões de sua experiência. (p.36) Resultados e discussão A partir do referencial teórico, em que buscamos apresentar a complexidade do tema em questão, apresentamos os resultados coletados de modo que possamos ter uma aproximação e compreensão da inclusão/exclusão presentes no processo de ensino aprendizagem. Dos 27 estudantes pesquisados, 17 (63%) são do sexo feminino e 10 (37%) do sexo masculino, dentro de uma faixa etária entre 13 a 15 anos de idade. Quando questionados sobre em quais momentos os estudantes se sentiam incluídos nas atividades desenvolvidas na sala de aula, 13 ( 48%) relataram que seria quando o professor desenvolve atividades em grupos, incluindo: jogos, seminários, debates e produção textual; 11 estudantes (41%) disseram que em todos os momentos se sentem incluídos e apenas dois (7%) reataram serem totalmente excluídos nas atividades desenvolvidas em sala de aula. No entanto, quando se perguntou sobre os momentos que os mesmos se sentiam excluídos das atividades em sala de aula, 10 (37%) estudantes apresentaram não se sentirem

excluídos em nenhum momento, dois ( 7%) estudantes relataram que seria em alguns momentos e 15 (56%) expuseram que seriam excluídos em algumas situações, a exemplo de, Quando os professores explicam a uns e a outros não (Est. 26) Nas aulas de matemática (est. 9) Quando os professores escolhem os alunos a dedo, dando privilégios aos outros (est. 22) Quando não trago o livro e os professores querem me tirar da sala (Est. 25) Quando minhas colegas não vêm para a escola (Est. 6) Quando os professores só fazem falar e não dão oportunidade a gente (Est. 3) Quando há peças de teatro ou alguma atividade diferente (Est. 16) Quase sempre, os professores nunca ligam para os meninos (Est. 11) Nesse sentido, Gomes (2004) relata que em uma proposta inclusiva de ensino - aprendizagem, a prática dialógica será essencial, tendo em vista que a partir desse modelo de prática não só quem está presente na comunicação, mas também grupos sociais e culturais a que pertencem os estudantes e instrumentos culturais, como livros, laboratórios, se envolvem nas atividades. No momento em que foi perguntado se haveria algumas disciplinas em que o professor daria mais atenção aos meninos ou meninas, 17 (63%) estudantes relataram não haver nenhuma forma de diferenciação, no entanto, sete (26%) estudantes pesquisados apontaram as seguintes formas de inclusão/exclusão por parte dos professores que direcionam mais atenção as meninas em suas disciplinas, através dos seguintes argumentos, Porque o número de meninas na sala é maior, e também porque os meninos são muito tapados (Est. 1) Em todas as disciplinas, não porque os meninos estão sendo excluídos, mas porque a sala é de 90% de meninas e os meninos que têm são meio lerdos (Est. 17) Nessa perspectiva os processos sociais de formação dos sujeitos da pesquisa, incluindo às questões de gênero, ainda existem barreiras para o acesso ao conhecimento científico para mulheres (Longino, 1993; Sharan, 1985 e Slavin, 1983 citados por Bianchinni, 1997). Para Gomes (2004) o risco de estigmatizar ou de individualizar as ações dos estudantes tendem a cair em armadilhas da meritocracia escolar, bem como da posição determinista de que as condições sociais que determinam o sucesso ou o fracasso dos estudantes. Como forma de complementar a pergunta anterior, foi solicitado que os mesmos ao afirmassem que haveria diferenciação em relação a atenção dos professores das disciplinas

quanto a gênero masculino e feminino, os sete estudantes que havia informado alguma forma de atenção às meninas, seis estudantes relataram que o professor(a) da disciplina de português daria mais atenção às meninas do que aos meninos, e apenas um estudante relatou que seria na disciplina de geografia. Quando foi questionado se existiam disciplinas em que o professor(a) daria mais atenção aos meninos, cinco ( 19%) estudantes responderam que sim, divididos da seguinte forma: dois estudantes associaram a disciplina de Educação Física e os outros dois as disciplinas de artes, ensino religioso, inglês e ciências. Foi perguntado também sobre em que local da sala de aula os estudantes costumavam se sentar e se este fator estaria relacionado a alguma forma de inclusão/exclusão por parte dos professores. Os resultados apontaram que oito (30%) estudantes se sentam nas primeiras filas da sala de aula, dentre estes, apenas um estudantes relatou que haveria diferenciação por parte do(as) professores(as) pelo fato da localização em que o estudante havia escolhido para assistir as aulas, Para os professores, os primeiros da sala são os mais inteligentes e os do final são os mais burros. (Est. 9) Em relação aos nove ( 33%) estudantes que assistem às aulas localizadas no meio da sala, apenas dois relataram existir alguma forma de diferenciação por parte dos professores, Pois fico na lateral do meio da sala e os professores dão mais atenção ao centro da sala (Est. 10) Os professores dão mais atenção aos alunos que sentam na frente da sala de aula ((Est. 16) Para os 10 ( 37%) estudantes que assistem às aulas no final da sala, cinco destes responderam que havia tratamento diferenciado por parte dos professores pelo fato das suas localizações na sala de aula, Devido à bagunça, os professores mandam a gente ir para frente, pra prestar mais atenção na aula (Est. 27) Os professores acham que somos bagunceiros e não vamos prestar a atenção. No entanto, a maioria que se senta atrás, tem bom rendimento (Est. 22) Os professores falam que os meninos são bagunceiros e quando sentamos atrás, aí sim... Todos os professores só dão atenção aos que sentam na frente e as meninas (Est. 11) Alguns professores acham que o lugar onde o aluno se senta, interfere no nosso desempenho (Est. 5) Eu acho que alguns professores pensam que só porque os alunos sentam no final da sala, não são inteligentes (Est. 26)

Nesse sentido, Richardson (1997) chama a atenção quanto a preocupação dos professores com a reorganização da disposição da sala de aula, ou seja, a forma como o mobiliário está disposto poderá ter influência no tempo de aprendizagem escolar e, consequentemente, na aprendizagem dos alunos. Ainda de acordo com o autor, a flexibilidade na colocação das cadeiras e das mesas, bem como no agrupamento dos alunos, é essencial para proporcionar uma aprendizagem cooperativa, o apoio entre pares e a apresentação dos conteúdos a todos os elementos da aula. Considerações finais Ao longo deste trabalho, foram abordadas questões relacionadas ao processo de inclusão/exclusão presentes na sala de aula à luz do processo de ensino-aprendizagem. Primeiramente foram priorizados os aspectos relacionados às questões de gênero quanto as possíveis relações professor/aluno no processo de ensino/aprendizagem, tendo em vista o reconhecimento por parte dos estudantes pesquisado quanto às diferenças, percebe-se que esses aspectos estão interligados. Percebeu-se também neste espaço, o processo de inclusão/exclusão na sala de aula pelo fato da distribuição dos estudantes na sala de aula, ou seja, para os estudantes pesquisados, o fato de assistirem as aulas em um determinado local da sala, terão por parte do professor uma imagem diferenciada. Ademais, percebe-se a complexidade instalada nesta problemática de inclusão/exclusão existente na sala de aula, comprometendo de forma significativa a aprendizagem dos estudantes e consequentemente a atenção ao estudantes por parte dos professores. REFERÊNCIAS BAUER, M. W. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: Bauer MW, Gaskell G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático, 8 ed. Petrópolis RJ: Vozes; 2010. p.189-217. BIANCHINI, J. Where knowledge construction, equity, and context intersect: student learning of science in small groups. Journal of Research in Science Teaching. Vol.34, no. 10, pp. 1039 1065, 1997.

COLLINS, E. & GREEN, J.L. Learning in classroom settings: making or breaking a culture. IN: Hermine Marshall (ed.) Redefining students learning, Ablex, Norwood, New Jersey, 1992. GOMES, M. F. C. Construindo relações de inclusão/exclusão na sala de aula de química: histórias sociais e singulares. UFMG, 2004. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004. SANTOS, L.L. & NOGUEIRA, M.ª A. Dicionário crítico da educação: exclusão/inclusão escolar; in: Presença Pedagógica, v.5.n.30 nov./dez. 1999.