ANAIS DO III CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA



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Transcrição:

DALTRO DANÇA O MUNDO: OS DESAFIOS DA DANÇA NO UNIVERSO ESCOLAR Fernanda Oliveira Bignetti (SEDUC) * Flavia Pilla do Valle (UFRGS) ** RESUMO: O texto aborda problematizações acerca dos fazeres de dança dos alunos que atuam no ensino público. O PIBID/dança iniciou na E.E.E.F. General Daltro Filho em 2014 e, lá, há o Projeto Daltro Dança o Mundo. Esse projeto iniciou em 2009 e culmina com uma apresentação de dança. Sendo assim, de que modos os futuros professores se inserem na atuação escolar e como desestabilizam essa prática? Assim, temos procurado que a dança seja um contínuo diálogo entre arte, cultura, pedagogia e realidade escolar. PALAVRAS-CHAVE: dança. Pibid. Educação. Cultura. Escola. ABSTRACT: The paper addresses problematizations about the making of dance students who act in public education. The PIBID/dance started at E.E.E.F. General Daltro Filho in 2014 and, there, there is the Project Daltro Dance the World. This project began in 2009 and culminate with a dance performance. So, in what ways future teachers are part in school acting and how they destabilize this practice? Thus, we wanted dance to be an ongoing dialogue between art, culture, pedagogy and school reality. KEYWORDS: dance. Pibid. Education. Culture. School. 1

Introdução Este texto parte das experiências dentro do universo escolar da instituição de ensino Escola Estadual de Ensino Fundamental General Daltro Filho a partir da visão de supervisora e da coordenadora do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES). A escola citada já possui um trabalho de dança consolidado tanto como parte do currículo quanto como oferta extracurricular. A inserção de acadêmicos da licenciatura em dança da UFRGS nesse âmbito, através do referido programa, tem tido suas especificidades e são estas que se problematizam aqui. A problematização é tomada como uma ferramenta metodológica para pensar a educação e a dança, pois existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir (FOUCAULT, 2009, p.15). Sendo assim, de que modo os futuros professores se inserem na atuação escolar? De que modo eles desestabilizam e como eles desacomodam uma prática já consolidada? Como se colabora na formação desses alunos e o que há a refletir sobre a atuação corrente? Como se dá o trânsito de propostas, ideias e trabalho conjunto? Figura 1: Fachada da escola. Fonte: acervo pessoal. A escola Daltro Filho é situada no bairro Auxiliadora, zona leste da cidade de Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul, essa escola conta com um número aproximado de 600 alunos, (crianças, adolescentes e jovens) entre as idades de 5 aos 17 anos, em dois turnos de trabalho, manhã e tarde. Nesta escola, a disciplina de Artes está inserida na grade curricular em todos os turnos e em todos os anos do ensino fundamental. Desde 2

2008, quando a supervisora passa a assumir a disciplina de Artes da escola, a dança torna-se uma das práticas trabalhadas. Isso decorre porque a supervisora e professora Fernanda Oliveira Bignetti é graduada em Dança: licenciatura pela UERGS/FUNDARTE - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e especialista em Pedagogia da Arte pela UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, além de possuir experiência desde muito nova na área da dança folclórica portuguesa. Assim, a professora leva para o currículo, anteriormente composto apenas de artes visuais, a sua experiência com essas danças além das expectativas frente ao ensino da dança na escola. Da Feira das Nações ao Daltro Dança o Mundo A Escola Daltro Filho tinha, em meio a seus projetos, um que se destacou e que logo passou a trabalhar juntamente com o conhecimento em dança. A Feira das Nações era um projeto de cunho pedagógico realizado pelos alunos, professores e comunidade escolar em um determinado momento no ano. Os alunos estudavam a história de um país, assim como, seus aspectos geográficos, físicos e sociais e, transformavam essas suas pesquisas em apresentações coletivas sobre o mesmo. Com a inserção da dança nas práticas discentes, os alunos foram buscando através desse mesmo projeto, instrumentalizações para a aquisição dos seus conhecimentos em danças típicas, assim como, na cultura específica de cada país. Em dois anos de trabalho no projeto, a dança na escola Daltro Filho, passou a fazer parte de forma efetiva e oficializada do currículo de Artes, tendo o seu espaço na área de conhecimento específico da grade curricular da escola. Hoje, passados mais de seis anos desde o inicio dos trabalhos, a dança está consolidada nas práticas e estudos e é uma referência na escola. A dança está dentro de um currículo que compreende outras linguagens artísticas e dividindo (multiplicando) espaços com as práticas teatrais, cinematográficas, musicais, plásticas, assim como, pinturas e desenhos. O ano letivo é dividido em três trimestres, sendo um deles, específico para o trabalho em dança. Nesse trimestre são abordados com os alunos a apreciação e experimentação coreográfica, pesquisa cultural e artística, história e teoria da dança, bem como, práticas coletivas e individuais na construção do sentido em dança e metodologias e técnicas específicas do movimento em dança. 3

Assim, em 2009, junto ao projeto Feira das Nações, surge a partir dos desejos dos alunos e dos professores, uma mostra de dança folclórica, da escola e na escola. Por dois anos seguidos, essa mostra foi esperada e realizada com grande interesse dos alunos e comunidade escolar. Contudo, foi percebido por parte dos professores e direção, que essa mostra teria que romper os muros da escola e seguir para o caminho do palco e da plateia. Então em 2011, DALTRO DANÇA O MUNDO, nome intitulado para esse projeto, toma novos rumos e chega aos palcos de teatros da cidade de Porto Alegre, através de editais e trabalho coletivo docente. É importante salientar que todos os professores da escola continuam a se integrar no projeto a partir do ponto de vista de sua disciplina. Esse exercício de estabelecer relações é entendido como um exercício interdisciplinar. Nisso, há uma identificação com a perspectiva de Mello (2009, p.24) quanto diz A interdisciplinaridade [...] não precisa, necessariamente, de um projeto específico. Pode ser incorporada no plano de trabalho do professor de modo contínuo; pode ser realizada por um professor que atua em uma só disciplina ou por aquele que dá mais de uma, dentro da mesma área ou não; e pode, finalmente, ser objeto de um projeto, com um planejamento específico, envolvendo dois ou mais professores, com tempos e espaços próprios. O projeto mantém sempre o mesmo nome, mas ano a ano esse projeto ganha versões diferentes. Em 2011, a versão chamava-se Se ela dança, eu danço! Tinha por objetivo a mostra de danças folclóricas trabalhas em sala de aula pelos alunos. Já em 2012 e 2013, conseqüentemente, as versões eram Brasilidades e Em décadas. A primeira tinha em sua essência, o trabalho com danças folclóricas e populares dos estados brasileiros; já a segunda, objetivava o estudo da música desde a década de 1920, tanto no Brasil quanto fora dele. Figura 1: Cartazes na parede da escola. 4

Fonte: acervo pessoal. O protagonismo da dança na escola Com todo esse movimento, o interesse dos alunos e dos professores aumentaram, disparando uma maior vontade de se pensar a dança e desenvolver outras ações e experimentações. Naturalmente o interesse faz surgir aproximações, e nessas aproximações surgem novos trabalhos colaborativos. A escola Daltro Filho conta hoje, além da dança no currículo, com os seguintes grupos de estudo e pesquisa de criação em dança: GRUPO DE DANÇA DOS PROFESSORES, EX-PROFESSORES E FUNCIONARIOS DA ESCOLA DALTRO FILHO, uma vez que os professores, reunidos, acreditaram na proposta de experimentar o fazer dança, implantando práticas saudáveis e culturais aos seus dia-a-dia; GRUPO DE DANÇA TURNO INVERSO (manhã e tarde) tendo assim, os alunos, a oportunidade de trabalhar, no turno inverso de suas aulas curriculares a dança através de técnicas específicas; GRUPO DE DANÇA DOS EX- ALUNOS DA ESCOLA DALTRO FILHO dando a oportunidade aos ex-alunos da escola, retornarem a fim de continuarem o trabalho artístico iniciado quando então eram alunos da escola ainda. No ano de 2014, a escola traz a versão COPA & EDUCAÇÃO, apresentando assim um diálogo entre o folclore e o contemporâneo; entre o esporte e a cultura; entre uma paixão internacional que envolve milhões de pessoas e uma prática básica do povo 5

brasileiro; entre ações e atitudes presenciadas através de um mega projeto realizado no Brasil e um pedido de investimento e reformulação na educação de nosso povo. O PIBID na escola A escola no ano de 2014 firma uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, através do PIBID-Dança/UFRGS. Neste programa, a escola recebeu bolsistas para desenvolverem seus trabalhos junto às propostas da escola. Os bolsistas PIBID - Dança/UFRGS atuam, portanto, no currículo e no extraclasse. Três desses estudantes/bolsistas estão no currículo formal atuando com turmas de 7º e 9º anos; outros três atuam no extraclasse com os grupos de turnos inversos dos 6º ao 9º anos. Alguns desenvolvem suas primeiras práticas em sala de aula e trabalham mais inter-relacionados com a supervisora da escola. Outros, já com alguma experiência, atuam de forma mais autônoma, mas ainda sob a supervisão e coordenação das professoras oficiais. No trabalho curricular houve, num primeiro momento, um período de observação das aulas de artes, que na época estavam envolvendo outras tarefas que não dança. Aos poucos, os pibidianos foram estimulados a propor alguns exercícios e jogos de dança. Assim, somos instigados a pensar sobre esses procedimentos. Como lidar com a disciplina de artes que não envolve apenas dança? De que modos é possível trabalhar relações interdisciplinares entre as artes, a partir da perspectiva da dança? Que experiência a formação universitária está provendo e o que é possível visualizar disso na prática pedagógica dos pibidianos? No último trimestre, a dança ganha força no trabalho curricular com vistas ao espetáculo Daltro Dança o Mundo. Nisso, foi possível observar alguns procedimentos adotados pela supervisora. Uma vez decidido o tema geral do espetáculo, cada turma decide seu subtema. Há uma pesquisa coletiva de músicas, danças e contextos gerais sobre essa subtemática que resulta na coreografia. Alunos trazem sugestões de músicas, histórias e movimentos e os professores ajudam nessa organização num jogo que por vezes dá voz aos alunos e por vezes os professores assumem mais o comando em prol do andamento da coreografia. Com isso, outras questões instigam a pensar. O trimestre é voltado a montagem da coreografia devido ao curto espaço de tempo para isso, mas que outros modos é possível esse fazer? Como variar os ensaios além da repetição? Como a 6

técnica de dança atravessa esse fazer dos alunos? Que conteúdos são ali trabalhados? Essas questões são motes de reflexão para esse trabalho que é continuado e terá outras edições. No trabalho extracurricular as mesmas questões podem ser pensadas, mas lá há um trabalho de forma contínua e de forma voluntária, o que dá uma vantagem. O produto coreografia, entretanto, também ganha um peso nas escolhas pedagógicas. O espetáculo Daltro Dança o Mundo é um grande motivador dessas oficinas extracurriculares. Nesse processo, os futuros professores do PIBID - Dança têm sido incentivados não apenas a trabalhar com os alunos, mas a escreverem pequenos memoriais como uma forma de registrar suas visões e suas provocações no cotidiano escolar. Com isso, tendem a refletir sobre suas próprias práticas, revisitando-as através dos depoimentos e as reorganizando caso seja necessário no próximo encontro. Isso por si só, já reconfigura e reconstrói a prática consolidada na escola. O PIBID da dança da UFRGS que acontece na escola Daltro Filho é privilegiado em diversos aspectos. Primeiro, por haver uma prática de dança consolidada de dança nessa escola realidade distante ainda de outros ambientes onde o PIBID se instaura. Segundo, por ter supervisão na área da licenciatura em dança por parte da supervisora da escola que tem essa formação universitária. Terceiro, por toda a equipe dos professores e da direção nessa escola ter uma relação próxima, afetiva e produtiva entre si e com os alunos. Toda essa predisposição colabora para, tal qual Paulo Freire citado por Marques (2010, p.31) defende, que se possa ir do contato rumo a uma relação. Paulo Freire [...], ao afirmar que contatos são reflexos e não reflexivos -, enfatiza os aspectos instintivos, passivos e ingênuos dos contatos. Quando é estabelecido um contato e não uma relação com o conhecimento, não há discernimento, consciência ou criticidade no que diz respeito ao ato de conhecer e, portanto, de ser/ estar no mundo. Ao contrário disso, relações são reflexivas: conscientes e críticas, fruto de discernimento, de escolhas. Na tentativa de compreender ainda mais a integração das outras disciplinas, além da disciplina de Artes, no Projeto Daltro Dança o Mundo, construiu-se um instrumento 7

para coletar o depoimento dos professores e direção acerca desse projeto. Nele há o seguinte enunciado: Desde o início do ano letivo, bolsistas do PIBID/Dança tem atuado na EEEF General Daltro Filho, tanto nas aulas de Arte da professora Fernanda Bignetti quanto através de oficinas extracurriculares. Neste momento, estamos trabalhando a interdisciplinaridade, entendida por nós como um exercício de estabelecer relações. Acreditamos que o Projeto Daltro Dança o Mundo ilustra bem esse exercício de diálogo interdisciplinar. Para poder explorar possíveis relações, com suas conquistas e desafios, queríamos pedir sua ajuda. Qualquer contribuição para nós é válida. Gostaríamos de seu depoimento sobre uma ou mais questões abaixo: Como esse projeto reflete na sua área de atuação/disciplina (matemática, português, educação física, etc.)? Quais são os ganhos e desafios que você destacaria? Quanto tempo é despendido de suas aulas para esse projeto? O que você tem a comentar sobre esse projeto? Quais seus principais desafios? Esse instrumento está em processo de coleta para discussão posterior de seus resultados. Espera-se, com ele, aprender e apreender um pouco mais da interdisciplinaridade observada nesse projeto e refletir sobre o engajamento que a escola tem com todos os envolvidos. Reflexões finais O Programa de Iniciação à Docência é uma grande experiência para quem deseja trabalhar em sala de aula, mas que ainda não a vivenciou de fato. Pois uma coisa é o desejo de ser professor, outra é ser professor. Uma coisa é imaginar o trabalho, outra é 8

trabalhar com o outro. E aqui, entra-se em um espaço muito delicado: o trabalho coletivo. A importância que se faz, a disponibilidade ao trabalho coletivo e a interdisciplinaridade. Pois não há trabalho individual quando se pensa em coletivo escolar num objetivo em comum. É na troca que as ideias se proliferam e ganham força. Acredita-se na necessidade do diálogo continuo entre a academia e a escola, e o quanto isso é benéfico para todas as partes. O quanto isso enriquece e constrói o ser estudante, docente ou discente. Com o PIBID-Dança isso se tornou uma realidade muito forte na escola. E é por se ter esse diálogo mais aproximado entre as duas instituições, que pode-se vivenciar e discutir mais aprofundadamente as questões da arte e da dança, estejam elas no âmbito escolar, acadêmico, cultural ou pedagógico. Acredita-se que a dança pode ser mais do que um instrumento de construção artística, que ela seja um contínuo diálogo entre a arte, a cultura, a pedagogia e a realidade escolar. Referências 9

FOUCAULT, Michel. Modificações. In: FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 2: o uso dos prazeres. 13ª edição. Rio de Janeiro: Graal, 2009. MARQUES, Isabel. Dança-educação ou dança e educação? Dos contatos às relações. In:TOMAZZONI; WOSNIAK; MARINHO. Algumas perguntas sobre dança e educação. Joinville: Nova Letra, 2010. MELLO, Guiomar Namo de. Referenciais Curriculares da Edu Básica para o século 21. In: RIO GRANDE DO SUL. SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO. DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO. Referenciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul: linguagens, códigos e suas tecnologias. Porto Alegre: SE/DP, 2009. Vol.2. ZORDAN; VALLE; PRASS; SANTOS (org). Caderno Pedagógico de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro PIBID/UFRGS. São Leopoldo: Oikos, 2013. * Fernanda de Oliveira Bignetti é Especialista em Educação pela UFRGS, Graduada em Dança: licenciatura pela UERGS/FUNDARTE. Atualmente professora de Artes e Dança (séries finais do ensino fundamental) na Escola Estadual de Ensino Fundamental General Daltro Filho; professora da Rede Municipal de Porto Alegre; pós-graduanda em Neuropsicopedagogia pela UNIASSELVI/RS. E-mail: f_bignetti@hotmail.com ** Flavia Pilla do Valle é Doutora em Educação/UFRGS, Mestre em Dança/NYU e Especialista em Análise do Movimento Corporal/ Laban/Bartenieff Institute of Movement Studies (LIMS). Possui formação em técnicas de balé, moderno, contemporâneo e dança criativa, entre outras. Atualmente é professora da Licenciatura em Dança da UFRGS em Porto Alegre, RS. E-mail: favalle@terra.com.br 10