RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS E EDUCAÇÃO INFANTIL 1. Curso de Especialização em Psicopedagogia, Unidade Universitária de Pires do Rio, UEG



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Transcrição:

1 RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS E EDUCAÇÃO INFANTIL 1 Ana Maria Piva de Aquino 2,4 ; Maria Aparecida Carneiro Cunha 2,4 ; Melissa de Paula Santos Costa 2,4 ; Cristiane Maria Ribeiro 3,4. 1 Curso de Especialização em Psicopedagogia, Unidade Universitária de Pires do Rio, UEG 2 Especialistas em Psicopedagogia 3 Pesquisadora Orientadora Resumo O presente trabalho foi elaborado a partir da convivência e identificação com crianças em sala de aula onde pudemos vivenciar manifestações explícitas de nãoaceitação de algumas crianças e de seu grupo étnico-raciais. O estudo vai buscar na Psicologia Social suporte para entender as relações assimétricas entre crianças da Educação Infantil. Palavras-Chave: Relação étnico-raciais, socialização, auto-estima. 2ntrodução O objetivo deste trabalho foi identificar como crianças de idade pré-escolar constroem e se relacionam com a sua identidade racial no âmbito escolar já que este é um espaço que lhes oferece oportunidade de interação com diversos grupos sócio/étnico/raciais. Nossa hipótese foi de que a forma pelas quais os pais e/ou responsáveis vivenciam e socializam as questões ligadas à sua identidade étnico-racial incide na maneira em que as crianças constroem e lidam com sua identidade, sendo assim, nossa perspectiva se difere das demais porque nossa preocupação com base nos instrumentais da Psicologia Social está propondo como objetivo central desta pesquisa identificar como as crianças em idade pré-escolar constroem, se relacionam e vivenciam com sua identidade étnico/racial. Material e Método

2 Para efetivação da pesquisa, escolhemos o estudo de caso, por ser uma das alternativas de pesquisa que melhor possibilitaria compreender os processos que ocorrem no espaço interno das instituições. Para a realização do estudo escolhemos uma creche da rede pública de Pires do Rio o que justificou-se por ser esta uma das redes que congregam um número elevado de crianças de ambos os sexos, com a idade compreendida entre 0 e 6 anos e pertencentes a vários segmentos raciais (negros e brancos). Essa escolha permitiu-nos identificar, entre outros aspectos, como os (as) profissionais, dessa rede desenvolvem as suas práticas com relação à diversidade social e cultural da população infantil (especificamente com relação ao gênero e ao pertencimento social desta clientela). Os procedimentos metodológicos utilizados para a realização deste estudo foram: a observação que ocupou um lugar importante na abordagem de pesquisa, pois, possibilitou um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, quer dizer, in loco as suas experiências diárias; a entrevista permitiu a captação imediata e corrente da informação desejada praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos. Para este estudo, utilizamos entrevistas não totalmente estruturadas (semi-estruturadas), o que quer dizer que, no decurso das entrevistas evitamos a imposição de uma ordem rígida de questões; Foram considerados documentos quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informações sobre o comportamento humano. Estes incluem desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até livros, estatísticas e programas, currículos, arquivos escolares.(ludke e ANDRÉ (1936:38). Resultados e Discussão Ao longo deste trabalho abordamos alguns aspectos importantes que nos permitiram adquirir uma visão mais abrangente sobre o preconceito étnico-

3 racial e analisar de forma mais profunda a questão do racismo brasileiro e suas particularidades mais intrínsecas. Pensávamos que os mecanismos de exclusão do negro não se encontrava de forma cristalizada em crianças de educação infantil. Entretanto a partir do momento em que aprofundamos mais no assunto e víamos os exemplos saltarem a nossos olhos descobrimos que as crianças negras eram excluídas de forma muitas vezes sutil por colegas, professores e funcionários como na fala de um dos alunos a respeito de seu colega também negro: O MP é feio porque ele não obedece a tia (...) ele é preto. (J., negro, 6 anos). Assim, julgamos importante conhecer no cotidiano esses mecanismos que transcendem a simples reprodução de dados sociais. Ademais, analisando as falas das crianças identificamos uma estrutura racista e a presença de situações de preconceito e de discriminação raciais, em que a cor da pele, ou seja, o pertencimento racial orienta a qualidade das relações pessoais. É importante atentar para o fato de que tal percepção não apareceu de maneira explícita na fala dos entrevistados. A análises dos discursos evidenciou uma frágil percepção da diversidade presente na sociedade brasileira, e, por extensão, no cotidiano escolar. Citamos como exemplo a fala da professora pesquisada: Sempre falo em sala de aula que não devemos preocupar-nos com a cor da pele, isso não tem importância não, somos todos iguais, fazemos parte da mesma história, da mesma sociedade, sem distinção alguma entre o negro e o branco... Veja bem na pré-escola eu acho que não há diferenças, todos meninos (as) negros e brancos são tratados, assim, da mesma maneira... Porém, na 4ª série os alunos são maiores já apelidou os colegas negros, tem uma garota que é chamada de Chica da Silva, por gostar de varrer a sala e cantar músicas Afro. (K.L.S).

4 Mostrou-se igualmente frágil a percepção sobre as conseqüências e os efeitos do racismo para as crianças que vivem cotidianamente a discriminação racial, seja nas relações com adultos, seja nas relações com as crianças, e dos efeitos de discriminação e preconceito sofisticados subsidiados pelo material didático e/ou paradidático. Entendeu-se que a boa parcela das relações raciais na instituição está alicerçada no mito da democracia racial, que defende que a sociedade brasileira não tem práticas racistas e que pessoas negras ou brancas têm as mesmas possibilidades de ascensão e sucesso sociais. Percebeu-se que as crianças brancas e negras também percebem que o preconceito e a discriminação raciais em relação às crianças negras configuram algo ruim, negativo. As crianças negras vivem em seus relacionamentos um sistemático processo de discriminação racial que opera de maneira negativa em seu processo de desenvolvimento e aquisição de conhecimento. Considera-se que a educação é base constitutiva na formação do ser humano e na defesa e na constituição dos outros direitos como os econômicos, sociais e culturais tal processo educativo colabora para a submissão social do ser humano negro. Os profissionais em suas falas não se mostram eficazes para o combate ao racismo, visto que eles próprios em suas análises e falas revelam uma sorte de idéias preconcebidas em relação a brancos e negros. Enfim, essa cultura escolar acaba por oprimir e excluir determinadas crianças de maneira sistemática. Oprime, sobretudo, porque lhes torna inferiores nas relações com outras crianças. Exclui quando silencia diante das agressões presentes no seu espaço físico. Esse silêncio opressor e excludente revela a nãoimportância dada a essa temática no cotidiano escolar. Como a família é uma parcela da sociedade brasileira, esta também apresenta a democracia racial.

5 Pudemos perceber que no ambiente familiar encontra-se atitudes preconceituosas. Isso está explícito em falas como: Meu irmão é mais bonito que eu. Ele é mais claro.(c.d, negro) Notamos que a criança de uma prole que for mais clara que o irmão geralmente é tratada com mais benevolência, e tem certas prioridades entre seus familiares. Conclusão Sendo assim, concluímos que o comportamento do brasileiro é produto de um passado histórico e ideologizante, que busca manter a todo custo o mito da democracia racial e do sincretismo. Mas numa análise mais profunda percebemos que as raízes que sustentam esse mito estão há muito empodrecidas e deixam á mostra através de falas sutis, de silêncios gritantes e outras formas de ignorar a diversidade brasileira, os privilégios que o ser humano pode ter ou não, dependendo do grupo racial a que pertence. Referências Bibliográficas ÁRIES, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1981. BRANDEN, N. (2002). Auto estima e os seus seis pilares. São Paulo. Saraiva. BARBOSA, I. M. F. Socialização e Identidade racial. In Cadernos de Pesquisa. (n 63, p. 54-5) São Paulo, 1987. BORGES, Pereira. A criança negra: identidade étnica e socialização. In Cadernos de Pesquisa. (n 63, p. 41-5). São Paulo, 1987). CAVALLEIRO, E. Do silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 1998.

6 CUNHA Ir, H. A indecisão dos pais face à percepção da discriminação racial na escola. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n 63, 1987. DAVIS, Darien J. 1964. Afro-brasileiros hoje / Darien J. Davis; tradução: Felipe Lindoso São Paulo: Summum, 2000. GOFFMAN, E. Estigma, notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro, Guanabara, 1988. HASEMBALG, C. A. Discriminação de desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1979. LUDKE, M. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo, EPU, 1988:19. PATTO, Maria Helena Souza. O fracasso escolar como objeto de estudo: anotações sobre as características de um discurso. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n 65, 1988. ROSEMBERG, F. Educação Infantil: classe, raça e gênero. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n 3, 1996. SILVA, C. J. (1994). Criatividade: Bem-me-quer, mal-me-quer. Em A.M.R. Virgulim & E.M.L.S. Alencar (Orgs), Criatividade: Expressão e Desenvolvimento (p. 73-94). Petrópolis: Vozes.