O PAPEL SOCIAL DA ESCOLA NA VISÃO DOS PROFESSORES QUE ATUAM NO ENSINO FUNDAMENTAL: UM ESTUDO DE CASO



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Transcrição:

O PAPEL SOCIAL DA ESCOLA NA VISÃO DOS PROFESSORES QUE ATUAM NO ENSINO FUNDAMENTAL: UM ESTUDO DE CASO AZEVEDO, Prof Dr Antulio José de Docente do Curso de Pedagogia da FAEF/ACEG. antuliojose@uol.com.br HABACHE, Marcela Travenssolo ma_habache@hotmail.com SANTOS, Maiara Cristina Santana maiara_cristinna@hotmail.com ZAMORA, Suellen Moreira suellenmoreira1@hotmail.com. Acadêmicas do Curso de Pedagogia da FAEF/ACEG. RESUMO: As tendências pedagógicas representam diferentes formas de conceber a função social da educação e da escola, de acordo com os interesses políticos-ideológicos do grupo dominante. O presente artigo faz uma síntese do papel social da escola na visão de cada tendência pedagógica e traz o resultado de uma pesquisa tipo estudo de caso realizado junto aos professores que atuam em uma escola de ensino fundamental, com a finalidade de traçar o perfil de tais professores sobre suas concepções acerca do papel social da escola. PALAVRAS-CHAVE: educação, pedagogia, escola, professor. ABSTRACT: Teaching trends represent different ways of understanding the social function of education and schools, according to the ideological-political interests of the dominant group. This article is a summary of the social role of the school in view of each pedagogical trend and brings the result of a research case study conducted with teachers who work in an elementary school, in order to profile such teachers about their conceptions about the role of the school. KEYWORDS: education, pedagogy, school, teacher. 1 INTRODUÇÃO Existem três tendências que interpretam o papel da educação na sociedade. A primeira, denominada redentora, considera que o papel da educação é retirar o indivíduo da ignorância, sem se preocupar, contudo, com as questões sociais, como a desigualdade e a injustiça, pois a função da escola não é intervir na sociedade, considerada justa da forma em que se encontra estabelecida. A outra tendência é a reprodutora, que atribui à educação o papel de reproduzir a sociedade da forma em que se encontra estruturada, cabendo à escola preparar o indivíduo para sua inserção. Por fim, a terceira tendência, denominada progressista ou revolucionária, preocupa-se em educar o indivíduo para conhecer criticamente a sociedade, preparando-o para nela intervir e transformá-la, tornando-a menos desigual e injusta (LUCKESI, 1998).

Luckesi (1998) divide as tendências pedagógicas em dois grandes grupos: A liberal, vinculada à educação redentora e a progressista, inserida na educação revolucionária. Nesta perspectiva, é possível dizer que na pedagogia liberal a escola tem a função de preparar o indivíduo para exercer papeis sociais, e neste aspecto ela necessita desenvolver os dons e as aptidões inatos em cada um, de forma a inseri-lo na sociedade, de acordo com as normas de organização e de funcionamento estabelecidas em função dos interesses ideológicos e da cultura da camada dominante. Por sua vez, o termo progressista é usado para designar as tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, atribuem à educação a responsabilidade de dar ao educando uma formação sociopolítica para que este lute pela construção de uma sociedade mais justa. O presente artigo, tendo por base as concepções antagônicas sobre as funções sociais da educação, procura repercutir o resultado de uma pesquisa do tipo estudo de caso realizado junto aos professores de uma escola de ensino fundamental, com o objetivo de estabelecer o perfil dos mesmos com relação às suas visões sobre o papel social da escola. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 As tendências pedagógicas e o papel social da escola A educação escolar brasileira sempre foi estruturada e organizada com base nos princípios das tendências pedagógicas liberais. Sobre as funções educacionais destas tendências, Saviani (2000) ressalta que A educação [...] constitui, pois, uma força homogeneizadora que tem por função reforçar os laços sociais, promover a coesão e garantir a integração de todos os indivíduos no corpo social [...]. A educação é entendida como inteiramente dependente da estrutura social, cumprindo a função de reforçar a dominação e legitimar a marginalização (SAVINAI, 2000, p. 4). Por sua vez, Luckesi (1998) ressalta que a tendência pedagógica liberal sempre serviu de referência ao ideário da educação brasileira e que a mesma ainda

se faz presente implicitamente na prática pedagógica escolar. Diz ele que A educação brasileira, pelo menos nos últimos cinquenta anos, tem sido marcada pelas tendências liberais, nas suas formas ora conservadora, ora renovada. Evidentemente tais tendências se manifestam, concretamente, nas práticas escolares e no ideário pedagógico de muitos professores, ainda que estes não se deem conta dessa influência (LUCKESI, 1998, p. 54). A pedagogia liberal tem-se manifestado no âmbito da educação através de quatro tendências: A pedagogia tradicional, que visava consolidar a hegemonia burguesa dominante, combatendo a ignorância de seus representantes; a pedagogia renovada, progressivista e não diretiva, que desviou o foco do professor para o aluno no âmbito da escola, com a finalidade de corrigir sua rejeição social; e por fim, a pedagogia tecnicista, que veio reparar o malogro educacional das tendências anteriores, tornando o indivíduo competente para integrar-se socialmente (SAVIANI, 2000). Por sua vez, a tendência progressista é formada pela pedagogia libertadora, mais conhecida como pedagogia dialógica de Paulo Freire; pela libertária, que defende a autogestão pedagógica; e pela crítico-social dos conteúdos, que prioriza o saber elaborado no seu confronto com as realidades sociais, articulando a transmissão dos mesmos e sua assimilação ativa por parte de um aluno concreto, resultando no saber criticamente reelaborado. Luckesi (1998) destaca que O termo "progressista" é usado aqui para designar as tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação. Evidentemente a pedagogia progressista não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista; daí ser ela um instrumento de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais (p. 63). Em cada uma das tendências acima mencionadas a escola tem um papel social definido a cumprir, sempre de acordo com os interesses políticos e ideológicos que as fundamentam. Nesta perspectiva, na tendência liberal tradicional a escola por função preparar intelectual e moralmente o aluno para assumir sua posição na sociedade.

Seu compromisso é com a transmissão da cultura, desvinculada das questões sociais, sendo esta a alternativa e oportunidade para todos os indivíduos, pois desde que estudem e se esforcem obterão ascensão social e econômica. Os menos aptos devem superar suas dificuldades e conseguir seu lugar juntos aos mais capazes, caso contrário recomenda-se que procurem a educação profissionalizante, e se habilitem para o mercado de trabalho. Para a tendência liberal renovada progressivista a escola tem a função de ajustar as necessidades do indivíduo ao meio social em que vive, e para que isto ocorra ela deve se organizar de maneira a retratar a vida tal qual ela se manifesta no cotidiano, promovendo experiências que satisfaçam, ao mesmo tempo, os interesses do aluno e as exigências do meio social. Luckesi (1998, p. 58) destaca que à escola cabe suprir as experiências que permitam ao aluno educar-se, num processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente. De acordo com a tendência liberal renovada não diretiva, a escola tem a responsabilidade de formar atitudes no aluno, privilegiando os aspectos psicológicos em relação aos pedagógicos e sociais. Toda ação da escola deve estar voltado a promover mudanças de atitude no aluno de forma a adequá-lo às exigências ambientais. Rogers (1972, apud LUCKESI, 1998) considera que o ensino é uma atividade supervalorizada na escola e que sua formalidade e rigor excessivo pouco importa face ao propósito de proporcionar ao aluno um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal, o que implica estar bem consigo próprio e com seus semelhantes. Por sua vez, a tendência liberal tecnicista considera que numa sociedade harmônica, orgânica e social a escola deve atuar como modeladora do comportamento humano, utilizando-se para tanto de técnicas específicas. Luckesi (1998) ressalta que de acordo com esta tendência pedagógica, compete à escola organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema social global. [...] A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema

produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental (p.61). A tendência progressista libertadora descarta a necessidade da instituição escolar como instância para se desenvolver o processo ensino e aprendizagem, tendo em vista que este se caracteriza pela ausência de formalidade. A educação deve ser organizada, mas não formalizada, pois a produção e apropriação do conhecimento se dá na relação professor e aluno, mediatizados pela realidade que apreendem e da qual extraem os conteúdos a serem assimilados. A pedagogia libertadora questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação, caracterizando-se desta forma como uma educação crítica. A escola na pedagogia libertária tem a função de transformar a personalidade do aluno no sentido torná-lo plenamente livre e para viver grupalmente por meio da autogestão. Luckesi (1998) afirma que no entender desta pedagogia A escola instituirá, com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança (assembleias, conselhos, eleições, reuniões, associações etc.), de tal forma que o aluno, uma vez atuando nas instituições "externas", leve para lá tudo o que aprendeu. [...] A autogestão é, assim, o conteúdo e o método; resume tanto o objetivo pedagógico quanto o político (p. 62). Para a pedagogia crítico social dos conteúdos a função primordial da escola é a difusão dos saberes historicamente acumulados e sistematizados pela humanidade, entretanto, saberes concretos e contextualizados na realidade do aluno, vinculados à sua prática social, que sejam capazes de instrumentalizá-lo politicamente para promover mudanças na sociedade. Saviani (2000) ressalta que a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida dos alunos. Sobre a função transformadora desta pedagogia, Aranha (1998, p. 69) declara: não que a educação possa por si só produzir a democratização da sociedade, mas a mudança se faz de forma mediatizada, ou seja, por meio da transformação das consciências.

2.2 Estudo de caso O estudo de caso é uma das metodologias mais antigas da investigação científica, é utilizado para compreender processos na realidade social nas quais estes se manifestam. É uma metodologia aplicada para avaliar ou descrever situações dinâmicas onde se busca aprender a totalidade de uma situação, compreender e interpretar a complexidade de um caso complexo. Para Goode e Hatt (1999, apud LAZZARINI 1995, p.17), a técnica é um modo de organizar os dados em termos de uma determinada unidade escolhida. Para este artigo foi elaborado um estudo de caso. Neste estudo elaboramos um questionário com oito questões, cada questão com cinco alternativas que foram distribuídos para doze professores do Ensino Fundamental em três escolas diferentes. Este estudo de caso tinha como objetivo pesquisar qual o papel social da escola no Ensino Fundamental e qual a tendência predominante nestas instituições de Ensino, revelando que nas escolas pesquisadas 63% dos professores consideram que o papel social da escola é adequar as necessidades individuais do aluno ao meio social promovendo a integração do indivíduo ao meio através dos interesses do aluno e as exigências sociais. Entretanto a tendência predominante nessas instituições escolares foi a progressista crítico social dos conteúdos que obteve 52% das respostas onde os professores consideram que o objetivo e atuação da escola consistem na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste artigo foi apresentar uma revisão bibliográfica e um estudo de caso sobre o papel social da escola na visão de professores do Ensino Fundamental. O papel social da escola é um assunto amplo com diferentes conceitos em várias tendências, porém para escrever sobre o assunto, analisamos o

ambiente escolar e elaboramos um estudo de caso para verificar qual o papel social e qual tendência é utilizada pelos professores do Ensino Fundamental. Durante o estudo de caso apuramos que a maioria dos professores acham que o papel social da escola é adequar as necessidades individuais do aluno ao meio social, pois a escola deve se organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida, promovendo a integração do indivíduo ao meio através da realização de experiências que devem satisfazer, ao mesmo tempo, os interesses do aluno e as exigências sociais. A tendência pedagógica que se sobressaltou na pesquisa foi a progressista crítico social dos conteúdos em que o seu objetivo e atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Este trabalho apresenta elementos significativos sobre o papel social da escola e as tendências pedagógicas o que nos leva a discutir e a pensar qual tendência deve ser seguida para que o Ensino seja transmitido com qualidade e excelência para os alunos para que os mesmos se tornem cidadãos críticos e exerçam seu papel na sociedade. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1998. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1998. SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 37 ed. São Paulo: Cortez, 2000.