Não discriminação e igualdade de oportunidades: elementos centrais da Agenda do Trabalho Decente Laís Abramo Socióloga, Mestre e Doutora em Sociologia Diretora Escritório da OIT no Brasil Brasília, 3 de dezembro de 2013
ESQUEMA DA APRESENTAÇÃO 1. Caracterizando a discriminação 2. A normativa da OIT em relação à não discriminação e igualdade 3. Discriminação de gênero e raça/etnia: eixos estruturantes da matriz da desigualdade social no Brasil 4. Promovendo a igualdade de gênero e raça
CARACTERIZANDO A DISCRIMINAÇÃO
DEFINIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO Definição de discriminação (Convenção n. 111 da OIT, 1958): Qualquer distinção, exclusão ou preferência baseada em motivos de raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou social que tenha como efeito anular ou alterar a igualdade de oportunidades e de tratamento no emprego e na ocupação Discriminação é a negação da igualdade de oportunidades e tratamento
CARACTERIZANDO A DISCRIMINAÇÃO A discriminação é um fenômeno geral, recorrente, dinâmico As diferentes formas de discriminação frequentemente aparecem em forma combinada e entrecruzada Reconhecidas há mais tempo (Convenção 111) Gênero, raça, etnia, religião, opinião política, origem nacional e social Recentemente reconhecidas Idade (mais jovens e de mais idade) Orientação sexual Deficiência HIV/AIDS
TIPOS DE DISCRIMINAÇÃO Discriminação direta: Quando há uma exclusão explícita que desfavorece membros de um grupo por razões de sexo, cor, etnia, etc. Discriminação indireta: Deriva de práticas aparentemente imparciais, mas que acarretam prejuízos para determinados integrantes de um grupo Discriminação institucional: toda prática institucional que distribui benefícios, oportunidades de forma desigual entre distintos grupos
CUSTOS DA DISCRIMINAÇÃO A discriminação não é apenas um atentado aos direitos humanos e aos direitos fundamentais no trabalho, mas também representa um grande custo para as empresas e a sociedade: Provoca desperdício de recursos, talentos e potencialidades humanas, com efeitos negativos na produtividade e competitividade das empresas e no desenvolvimento econômico das sociedades Gera desigualdades profundas no acesso aos recursos econômicos, sociais, políticos e culturais Impede o pleno exercício da cidadania Debilita a coesão social e a democracia
A NORMATIVA DA OIT EM RELAÇÃO À NÃO DISCRIMINAÇÃO E IGUALDADE
IGUALDADE DE GÊNERO E RAÇA PARA A OIT É um tema dedireitoshumanos e faz parte das condições essenciais para atingir uma democracia efetiva É um tema de justiça social e diminuição da pobreza, na medida em que é condição para ampliar as oportunidades de acesso a um trabalho decente É um tema de desenvolvimento social e econômico, na medida em que promove a participação das mulheres e negros/as na atividade econômica e na tomada de decisões relativas à formulação de políticas de desenvolvimento que respondam adequadamente aos objetivos da igualdade
CONVENÇÕES SOBRE DISCRIMINAÇÃO Convenções fundamentais da OIT associadas ao princípio da não discriminação: Convenção sobre igualdade de remuneração, 1951 (Num.100), ratificada pelo Brasil em 1957 Convenção sobre a discriminação (emprego e ocupação) (Num. 111), 1958, ratificada pelo Brasil em 1965 Discriminação é a negação da igualdade de oportunidades e tratamento (C. 111) Ratificar essas convenções significa assumir o compromisso de: eliminar dispositivos ou práticas discriminatórias promover ativamente a igualdade de oportunidades
CONVENÇÕES SOBRE DISCRIMINAÇÃO No caso da não discriminação por gênero existem outras convenções que são de grande importância: Convenções de proteção à maternidade: C.3 (1919), C.103 (1952) e C.183 (2000); o Brasil ratificou a C. 103 em 1965 Convenção sobre trabalhadores com responsabilidades familiares, 1981 (Num. 156), não ratificada pelo Brasil Convenção sobre trabalho decente para trabalhadoras/es domésticas/os, 2011 (Num. 189), não ratificada pelo Brasil
OUTROS ÂMBITOS DE DISCRIMINAÇÃO E CONVENÇÕES DA OIT Convenção sobre Trabalhadores Migrantes (Revista), 1949 (n. 97),ratificada pelo Brasil em 1965 Convenção sobre os Trabalhadores Migrantes (disposições complementares), 1975 (n. 143) em processo de ratificação pelo Brasil Convenção sobre Povos Indígenas e Tribais (C. 169), ratificada pelo Brasil em 2002 Recomendação n. 200 sobre HIV e AIDS e o Mundo do Trabalho (2010)
DISCRIMINAÇÃO E DIREITOS FUNDAMENTAIS NO TRABALHO Forte e estreita correlação entre ser objeto de múltiplas e reiteradas manifestações de discriminação e ser uma vítima potencial de outras formas de violência contra a dignidade humana: trabalho forçado ou escravo trabalho infantil tráfico de pessoas Liberdade sindical e de negociação coletiva: instrumentos fundamentais na luta contra a discriminação A atividade sindical também pode ser objeto de discriminação
ELEMENTO FUNDAMENTAL DO CONCEITO DE TRABALHO DECENTE Multidimensionalidade: dimensões quantitativas e qualitativas do emprego A geração de mais e melhores EMPREGOS A promoção dos DIREITOS no trabalho TRABALHO DECENTE A extensão da PROTEÇÃO SOCIAL O fortalecimento do DIÁLOGO SOCIAL Noçãocorrelata: Trabalho inaceitável (a ser abolido) EQUIDADE: eixo transversal
DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO E RAÇA/ETNIA: EIXOS ESTRUTURANTES DA MATRIZ DA DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL
DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO E RAÇA: MATRIZ DA DESIGUALDADE SOCIAL Desigualdades de gênero e desigualdades étnicas e raciais: eixos estruturantes dos padrões de desigualdade social no Brasil Temas que dizem respeito à maioria da sociedade: Mulheres e os negros correspondem a aproximadamente 2/3 da População Econômicamente Ativa (PEA)
COMO MEDIR A DISCRIMINAÇÃO? DIMENSÕES DO TRABALHO DECENTE 1. Oportunidades de emprego 2. Rendimentos adequados e trabalho produtivo 3. Jornada de trabalho decente 4. Conciliação entre trabalho, vida pessoal e familiar 5. Trabalho a ser abolido 6. Estabilidade e segurança no trabalho 7. Igualdade de oportunidades e de tratamento no emprego 8. Ambiente de trabalho seguro 9. Seguridade social 10. Diálogo social e representação de trabalhadores e de empregadores Contexto Socioeconômico (que condiciona o TD)
DESEMPREGO Taxa de desocupação da população de 16 a 64 anos de idade - Brasil, 2004-2011 12 11,7 11,1 11,1 10 8 6 10,0 9,0 8,0 6,8 9,4 8,5 7,6 6,4 9,7 7,9 7,2 6,3 5,2 9,3 8,4 7,3 6,1 9,1 7,6 6,7 5,8 4,9 4 2004 2006 2008 2009 2011 Total Homens Mulheres Brancos Negros Fonte: IBGE/PNAD
FORMALIDADE Taxa de formalidade total da população de 16 a 64 anos de idade - Brasil, 2004-2011 65 64,2 60 58,2 60,0 58,2 55 50 45 54,2 48,4 46,6 44,2 56,2 50,7 48,6 45,9 53,5 51,2 48,3 54,6 52,5 49,7 57,2 55,8 50,3 44,3 45,1 40 40,6 35 38,1 2004 2006 2008 2009 2011 Total Homens Mulheres Brancos Negros Fonte: IBGE/PNAD
SEGURIDADE SOCIAL Proporção da população ocupada de 16 anos ou mais de idade, que contribui para a previdência social - Brasil, 2004-2011 70 65 60 55 50 45 55,1 48,5 47,6 46,3 50,7 49,7 57,3 48,4 54,0 52,9 59,7 51,5 55,2 54,4 61,7 53,3 46,1 47,1 66,1 59,1 59,3 59,5 52,6 40 35 41,7 39,1 2004 2006 2008 2009 2011 Total Homens Mulheres Brancos Negros Fonte: IBGE/PNAD
JOVENS QUE NÃO ESTUDAM E NÃO ESTÃO OCUPADOS NO MERCADO DE TRABALHO Proporção de jovens de 15 a 24 anos de idade que não estudam nem trabalham - Brasil, 2004-2011 30 25 25,9 25,9 24,6 24,8 25,5 20 15 10 20,5 20,9 19,9 20,3 21,0 18,6 18,8 17,9 18,4 19,0 16,7 16,5 15,4 16,0 16,7 12,7 11,4 11,7 11,5 12,0 2004 2006 2008 2009 2011 Total Homens Mulheres Brancos Negros Fonte: IBGE/PNAD
RENDIMENTOS ADEQUADOS E TRABALHO PRODUTIVO Rendimento médio real do trabalho principal das pessoas de 16 anos ou mais de idade, com rendimento - Brasil, 2004-2011 R$ 2.000 1.800 1.733 1.600 1.556 1.400 1.200 1.000 800 1.062 1.385 1.209 840 1.140 1.355 720 1.036 851 600 400 200 30% 29% 36% 28% 44% 578 47% 0 Total Homens Mulheres Brancos Negros Mulheres Negras 2004 2011 Fonte: IBGE/PNAD
IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E TRATAMENTO NO EMPREGO Distribuição das pessoas de 16 anos ou mais de idade, ocupadas como dirigentes em geral (2011) Brancos Negros Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres 72,1 45,1 27,0 27,9 18,5 9,4 Hiato no rendimento médio mensal no trabalho principal da população de 16 anos ou mais de idade, ocupada (2011) % % Homens % Mulheres % Mulheres % Mulheres/Homen Negros/Homens Negras/Mulheres Negras/Homens Negros/Brancos s Brancos Brancas Brancos 73,3 59,8 58,0 60,8 42,8 Fonte: IBGE/PNAD
IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E TRATAMENTO NO EMPREGO % de Pessoas de 15 ou mais anos, por Áreas de Inter-Relação Social, em que a Cor ou Raça Influencia a Vida das Pessoas no Brasil (2008) Casamento 38,4 Trabalho 71,0 Escola 59,3 Atendimento à Saúde 44,1 Repartições Públicas 51,3 Convívio Social 65,0 Relação com Justiça/Polícia 68,3 Outra 2,1 Fonte: IBGE/Pesquisa das Características Étnico-Raciais da População 2008
DIÁLOGO SOCIAL Taxa de sindicalização da população ocupada de 16 anos ou mais de idade - Brasil, 2004-2011 21 21 20 20 19 19 18 18 17 17 16 20,7 20,4 20,2 20,0 19,6 19,5 19,5 19,2 19,1 18,5 18,6 18,6 18,2 17,8 18,0 17,4 17,1 17,5 17,5 16,9 16,7 17,2 16,5 16,8 16,4 2004 2006 2008 2009 2011 Total Homens Mulheres Brancos Negros Fonte: IBGE/PNAD
PROMOVENDO A IGUALDADE DE GÊNERO E RAÇA
O COMBATE À DISCRIMINAÇÃO 1. Convenções internacionais do trabalho 2. Legislação nacional e seu aperfeiçoamento 3. Instituições nacionais de promoção da igualdade de oportunidades e tratamento 4. Políticas ativas de mercado de trabalho 5. O papel da justiça do trabalho e da inspeção do trabalho 6. Política de contratos e compras governamentais 7. O papel dos sindicatos, organizações de empregadores e da negociação coletiva e do diálogo social 8. Ações voluntárias das empresas
CONVENÇÕES INTERNACIONAIS E LEGISLAÇÃO NACIONAL Convenções internacionais do trabalho Definem o mínimo e têm o objetivo de promover valores e padrões universais e evitar competitividade espúria entre países Legislação nacional: papel fundamental no combate à discriminação Legislação trabalhista de muitos países adota explicitamente dispositivos de proibição da discriminação
INSTITUIÇÕES DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE Mas não é suficiente proibir a discriminação. É necessário definir políticas e mecanismos para promover ativamente a igualdade de oportunidades. Introduzir e/ou fortalecer o tema nas políticas públicas Diálogo com a sociedade civil organizada Alguns desafios Adequada dotação de recursos humanos e financeiros e dos instrumentos necessários à promoção da transversalização do tema nas políticas públicas Brasil: criação da SPM e da SEPPIR (2003) instâncias semelhantes em estados e municípios
POLÍTICAS ATIVAS DE MERCADO DE TRABALHO Melhorar o acesso dos grupos discriminados aos serviços de emprego, públicos e privados (qualificação profissional, intermediação da mão de obra, seguro desemprego): Eliminar processos e mecanismos discriminatórios diretos e indiretos Desenvolver políticas ativas dirigidas aos grupos discriminados
JUSTIÇA DO TRABALHO Papel da justiça do trabalho Supervisionar e zelar pelo cumprimento da legislação antidiscriminação Jurisprudência definida pelos tribunais do trabalho em matéria de igualdade tem contribuído para reforçar e aperfeiçoar a legislação
INSPEÇÃO DO TRABALHO A incorporação de disposições contra a discriminação na legislação trabalhista torna a fiscalização do trabalho competente para tratar o tema Os auditores fiscais do trabalho podem fiscalizar os lugares de trabalho por iniciativa própria Além da aplicação de sanções podem e devem fazer um trabalho de prevenção e mediação
POLÍTICAS DE PREFERÊNCIA EM COMPRAS E CONTRATOS GOVERNAMENTAIS As licitações públicas que contém cláusulas de igualdade de gênero e raça são cada vez mais utilizadas como uma ferramenta eficaz no combate à discriminação Instituições financeiras internacionais (ex: BID) têm establecido requisitos de cumprimento dos direitos fundamentais no trabalho (entre eles o da não discriminação) nos empréstimos concedidos BNDES: cláusula social (trabalho infantil, trabalho escravo e discriminação)
A PROMOÇÃO DA IGUALDADE: UM COMPROMISSO TRIPARTITE Papel chave das empresas e das organizações de trabalhadores e empregadores, com destaque para: Negociação coletiva Políticas de responsabilidade social e promoção da diversidade nas empresas ações voluntárias e não derivadas da legislação Instâncias e processos de diálogo social
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