RECURSO ESPECIAL Nº 1.248.546 - RS (2011/0081761-1) RELATOR RECORRENTE RECORRIDO RECORRIDO S ADVOGADA INTERES. : MINISTRO HUMBERTO MARTINS : ODAIR MARTINHO E OUTRO : MICHELE BETINA KUSSLER E OUTRO(S) : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF : ROGÉRIO SPANHE DA SILVA E OUTRO(S) : UNIBANCO UNIÃO DE BANCOS BRASILEIROS S/A : LEONARDO DE MATTOS RODRIGUES E OUTRO(S) LUCIANO CORREA GOMES : LIVIA BORGES FERRO FORTES ALVARENGA : SONIA MARIA MOLLER MARTINHO : MICHELE BETINA KUSSLER E OUTRO(S) EMENTA PROCESSUAL CIVIL. VALOR DA CAUSA. SFH. QUITAÇÃO DE FINANCIAMENTO. PROVEITO ECONÔMICO DECORRENTE DA DEMANDA. PRECEDENTES. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. Vistos. DECISÃO Cuida-se de recurso especial interposto por ODAIR MARTINHO E OUTRO, com fundamento no art. 105, III, "a" e "c", da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região que, ao julgar agravo de instrumento contra decisão que acolheu em parte a impugnação do valor da causa, negou provimento ao recurso dos recorrentes. A ementa do julgado guarda os seguintes termos (e-stj fl. 50): "VALOR DA CAUSA. CONTEÚDO ECONÔMICO. Como o valor da causa deve ser a expressão econômica do objetivo da demanda, e considerando que a impugnada propugna pela quitação do contrato de financiamento, pedido principal da ação, que sustenta, inclusive, os demais pedidos, o valor da causa deve corresponder a 48.958,15 (quarenta e oito mil novecentos e cinquenta e oito reais e quinze centavos), a teor do demonstrativo de débito acostado aos autos em apenso (crédito do agente financeiro)." Sem embargos de declaração. Documento: 19321969 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 14/12/2011 Página 1 de 5
No presente recurso especial, o recorrente alega que o acórdão regional contrariou as disposições contidas nos arts. 258 e 259, V, I, II, do Código de Processo Civil. Sustenta, outrossim, que o valor da causa não deve ser fixado com base no proveito econômico a ser auferido em decorrência da demanda, como entende o Tribunal de origem, mas sim no valor correspondente ao valor da avaliação do bem (R$ 140.000,00) ou da atualização do contrato (R$ 294.186,00), ou, ainda, o valor correspondente ao da cumulação de pedidos (R$ 322.534,78). Apresentadas as contrarrazões (e-stj fls. 83/87), sobreveio o juízo de admissibilidade positivo da instância de origem (e-stj fl. 89). É, no essencial, o relatório. Não merece prosperar a irresignação dos recorrentes. Os dispositivos legais supostamente violados são os seguintes: "Art. 258. A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato. "Art. 259. O valor da causa constará sempre da petição inicial e será: I - na ação de cobrança de dívida, a soma do principal, da pena e dos juros vencidos até a propositura da ação; II - havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles; (...) V - quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor do contrato" A alegada violação do art. 258 não existe, pois o Tribunal a quo fixou valor para a causa. Quanto à ofensa aos incisos I, II e V do art. 259, também inexiste, consoante se extrai dos seguintes trechos do acórdão recorrido (e-stj fl. 48): "A teor do demonstrativo de débito acostado à fl. 315 dos autos em apenso, o crédito do agente financeiro em 18/06/2009 correspondia a R$ 48.958,15 (quarenta e oito mil novecentos e cinquenta e oito reais e quinze centavos). Como o valor da causa deve ser a expressão econômica do Documento: 19321969 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 14/12/2011 Página 2 de 5
objetivo da demanda, e considerando que a impugnada propugna pela quitação do contrato de financiamento, pedido principal da ação, que sustenta, inclusive, os demais pedidos, o valor da causa deve corresponder a 48.958,15 (quarenta e oito mil novecentos e cinquenta e oito reais e quinze centavos)." Assim, pretendendo os recorrentes a quitação do contrato de financiamento, a demanda não se enquadra em nenhum dos referidos dispositivos supostamente violados, devendo o valor da causa ser fixado com base no proveito econômico advindo da demanda, como corretamente decidiu o Tribunal de origem. Nesse sentido, as ementas dos seguintes julgados: "AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. AUSÊNCIA. SÚMULA 182/STJ. REVISÃO DE MATÉRIA DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. APLICAÇÃO. OMISSÃO INEXISTENTE. (...) 4. Pacífica a orientação traçada por este Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que o valor da causa deve corresponder ao proveito econômico perseguido, isto é, ao benefício patrimonial almejado. Precedentes. 5. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no Ag 1.257.308/RJ, Rel. Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, Julgado em 1º.3.2011, DJe 21.3.2011.) "PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. FCVS. AÇÃO OBJETIVANDO A QUITAÇÃO ANTECIPADA DE CONTRATO DE MÚTUO COM RECURSOS DO FCVS. VALOR DA CAUSA. EQUIVALÊNCIA COM O PROVEITO ECONÔMICO AUFERÍVEL. 1. O valor atribuído à causa, conforme a maciça jurisprudência desta Corte, deve guardar imediata correspondência com o proveito econômico passível de ser auferido pelo autor da ação. (...)" (AgRg no REsp 640.452/RS, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 26.9.2006, DJ 23.10.2006, p. 260.) Do que foi acima exposto, vê-se que a decisão agravada formou-se no mesmo sentido da jurisprudência que é esposada nesta Corte Superior de Documento: 19321969 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 14/12/2011 Página 3 de 5
Justiça. Deste modo, aplica-se à espécie o enunciado da Súmula 83/STJ: "Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida" (Corte Especial, julgado em 18.6.1993, DJ 2.7.1993, p. 13.283). Ressalte-se que o teor do referido enunciado aplica-se, inclusive, aos recursos especiais interpostos com fundamento na alínea "a" do permissivo constitucional. Nessa seara, os seguintes julgados: AgRg no Ag 1.168.707/AM, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 2.2.2010; AgRg no Ag 1197348/RJ, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJe 25.11.2009; AgRg no Ag 723.265/MS, Rel. Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Terceira Turma, DJe 23.10.2009; AgRg no REsp 999.224/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 31.8.2009; e AgRg no Ag 958.448/MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJ 10.3.2008. Quanto à divergência jurisprudencial, o recorrente colacionou paradigma alusivo à "...anulação de processo de execução extrajudicial de imóvel financiado pelo SFH..." (Ag. 2005.01.00.056743-1/DF) e outro referente a litígio que tenha "...por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico..." (Ag. 2005.01.00.060213-8/DF). Todavia, compulsando os autos, verifica-se que o acórdão a quo decidiu matéria diversa, qual seja, "...quitação do contrato de financiamento... ", de imóvel que foi arrematado por terceiros, consoante consta do acórdão recorrido (e-stj fl. 48): "Nesse passo, entendo que o valor do imóvel, no caso dos autos, não deve balizar o valor da causa, porquanto a garantia esvaiu-se em razão da arrematação do imóvel por terceiro na ação movida pelo condomínio junto à Justiça Estadual, persistindo somente a dívida oriunda do financiamento." Diante destas inferências, constata-se que não há similitude fática e jurídica apta a ensejar o conhecimento do recurso, em face do confronto da tese adotada no acórdão hostilizado e na apresentada no aresto colacionado. Ademais, a identidade há de ser demonstrada, nos termos do art. 255, 2º, do RISTJ, a fim de evidenciar a necessidade da uniformização jurisprudencial preceituada na Constituição Federal de 1988. Ante o exposto, com fundamento no art. 557, caput, do Código de Processo Civil, não conheço do recurso especial. Documento: 19321969 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 14/12/2011 Página 4 de 5
Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 09 de dezembro de 2011. MINISTRO HUMBERTO MARTINS Relator Documento: 19321969 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 14/12/2011 Página 5 de 5