54 1ª Jornada Científica de Comunicação Social A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios JORNALISMO ECONÔMICO: O CONHECIMENTO QUE NÃO CONSEGUE CHEGAR AO GRANDE PÚBLICO 1. Daira Renata Martins Botelho 2, Rene Rodriguez Lopez 3 Palavras-chave: Jornalismo. Economia. História. Linguagem. Profissional. INTRODUÇÃO - A ciência econômica tem suas primeiras referências nas obras de Aristóteles que, aparentemente, foi quem definiu o termo a partir do grego oikosnomos (de oikos, casa, e nomos, lei), podendo traduzi-la por administração de uma casa, mas que recebe diferentes definições. Jacob Viner, importante economista dos anos 50, diz que Economia é aquilo em que os economistas trabalham, no entanto, Matthew Bishop a define como o estudo de recursos escassos pela sociedade e/ou a ciência das escolhas. A primeira escola econômica foi o mercantilismo que, apesar de não ter um conjunto homogêneo de técnicas, importava-se com a acumulação de riquezas e construiu fortes princípios baseados no comércio. Pelos séculos, a economia teve vários expoentes que a tornaram uma ciência respeitada e também ajudaram a mostrar sua importância para o mundo. Um grande exemplo desses teóricos é Adam Smith, considerado o precursor da moderna Teoria Econômica (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003, p. 16) e que publicou o livro A Riqueza das Nações, em 1776, o qual retrata vários aspectos da economia, como as leis de mercado e até a distribuição do rendimento da terra. Os conceitos criados por Smith são usados até hoje, como a Teoria da Mão Invisível, que afirma a existência de uma mão que rege todos os mecanismos do mercado, direcionando-os, para levar a sociedade à perfeição; e o laissez-faire, que propunha a livre iniciativa de mercado. Também afirmou que o Estado deveria se manter fora das questões econômicas: o Estado teria somente o dever de proteger a sociedade, sem nenhuma intervenção nas leis de mercado. Entre os outros autores que compõem os pensadores da era clássica, podemos citar: David Ricardo, John Stuart Mill, Jean Baptiste Say e Thomas Malthus; teóricos muito importantes que formam a base que constitui a economia moderna. A teoria neoclássica teve Alfred Marshall como nome principal, cujo livro Princípios da Economia serviu como texto básico até a metade do século XX. A partir dos anos 70, a essa ciência vem apresentando algumas transformações que têm feito com que a economia se coloque cada dia mais próxima da população, seja por meio de atos simples do cotidiano, seja pelos efeitos de crises no mundo e que têm efeito direto em nosso país. Mesmo com toda 1 Trabalho apresentado na 1ª Jornada Científica de Comunicação Social, sob o título A pesquisa em Comunicação: tendências e desafios, realizada na Universidade Sagrado Coração Bauru SP, no período de 27 a 29 de agosto de 2009. 2 Jornalista graduada pela Universidade Estadual Paulista UNESP E-mail: dairarmb@yahoo.com.br 3 Jornalista graduado pela Universidade Sagrado Coração mestrando do Programa de Pós Graduação em TV Digital da Unesp Bauru e Jornalista do Laboratório Aberto de Interatividade passa Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico da Universidade Federal de São Carlos E- mail: rene.criacao@gmail.com
55 sua abrangência teórica, a economia não consegue atingir a maioria da população devido aos seus jargões e mecanismos complexos que envolvem a matemática financeira e também a matemática pura. As siglas fazem da economia um universo a ser desvendado pela maior parte das pessoas, exceto os próprios economistas, investidores, e outros que estão diretamente ligados a ela. Por esse motivo a economia é muito criticada, pois precisa de simplificação para ser entendida, bem como a ajuda de especialistas e um glossário de termos que os economistas utilizam a todo momento para explicar qualquer fato remoto ou da atualidade. METODOLOGIA - Através de um estudo de exploração histórica do cenário do jornalismo econômico, foi possível verificar que apesar de seu potencial informativo, seu uso não é reconhecido e nem apreendido pelo publico geral. Com base nos preceitos de um jornalismo de interesse público se faz necessária reflexões sobre o atual modelo de jornalismo econômico comumente empregado nos veículos de comunicação que não contextualizam as informações de modo que beneficie o compreendimento do cidadão comum. Até os anos 50, o que se sabe da existência do jornalismo econômico na imprensa se resume a algumas notas relacionadas com os interesses do comércio e dos cafeicultores, com informações sobre produção, exportação, movimentos de portos ou taxas cambiais (QUINTÃO, 1987). Essa realidade foi se alterar somente a partir da década de 50, devido às mudanças estruturais pelas quais o Brasil estava passando. O cenário brasileiro dessa época mostra o governo de Juscelino Kubitschek tentando uma aproximação com o capital estrangeiro, visando o desenvolvimento e o crescimento do país, que estava no contexto mundial como produtor e exportador de matérias-primas e importador de produtos industrializados. O jornalismo econômico tem um marco considerado como seu verdadeiro início no Brasil: [...] a marca do aparecimento definitivo do Jornalismo Econômico nos moldes como é praticado hoje caberá a um encarte do Correio da Manhã, chamado Diretor Econômico. São 16 páginas diárias voltadas exclusivamente para o tratamento dos negócios no mercado. O desenvolvimento desse Jornalismo e dos próprios negócios é muito estimulado pelo Diretor. (QUINTÃO, 1987, p. 74). No entanto, o tipo de jornalismo econômico pioneiro, feito pelo Diretor Econômico, não foi o que os grandes veículos acabaram por utilizar. Há uma virtual diferença, entretanto, entre o Jornalismo Econômico praticado pelo Diretor e o que veio a ser desenvolvido pelos grandes jornais. O Diretor fez o primeiro Jornalismo de Negócios no Brasil. Já o noticiário e a análise econômica na grande imprensa na década de 70 estão preocupados apenas com o discurso da sociedade política, no exercício do Poder do Estado, endereçado à sociedade civil. O novo noticiário econômico não tratará de questões polêmicas. Abordará numa direção positiva grandes operações financeiras internas ou externas [...]. Dedicará ainda uma boa parte do seu espaço editorial a debater anos seguidos quem e o que seriam as correntes do pensamento econômico contemporâneo: se estruturalistas, monetaristas ou pós-keynesianos, ou, ainda, discutindo academicamente se a inflação brasileira é de custo ou de demanda. Esse tipo de informação, veiculada pela grande imprensa, reflete as mudanças introduzidas na economia brasileira. Elas serão
56 discutidas em editoriais, pelos articulistas começam a aparecer os comentaristas econômicos e no próprio noticiário, através de entrevistas com economistas e empresários.(quintão, 1987, p. 79) Um jornal que tem papel importante para a consolidação da economia enquanto editoria é a Gazeta Mercantil. Ele trará a essência da informação econômica para as páginas de sua publicação. A Gazeta Mercantil sempre deixou bem clara a sua postura editorial. Seu leitor direto é o empresário que necessita todos os dias das informações sobre negócios, investimentos, agricultura, mercado financeiro, sem uma preocupação específica com as políticas governamentais, salvo se elas se refletirem diretamente no mundo dos negócio [...]. (VIEIRA, 1999, p. 25) O ápice do jornalismo econômico aconteceu durante o regime militar do período 1964-1984, em que o jornalismo político foi silenciando-se (QUINTÃO, 1987), já que as atividades políticas já não eram tão evidenciadas devido a uma legislação mais rigorosa e à censura por parte do governo, fazendo com que muitos jornalistas, cronistas e repórteres perdessem seus empregos ou fossem remanejados para outras funções ou editorias. No caso, a de economia. A partir daí, começou a surgir vários modelos desse segmento: em jornais, revistas, periódicos, etc. Jornais com assuntos de economia podemos citar somente o Gazeta Mercantil, já que os outros são ligados a associações de lojistas ou comerciais, com público específico, como o Diário do Comércio e da Indústria e Diário do Comércio, de São Paulo; Jornal do Comércio de Porto Alegre; Diário do Comércio de Belo Horizonte; Jornal do Comércio e o Monitor Econômico, no Rio de Janeiro; Indústria e Comércio, de Curitiba (KUCINSKI, 20002). As revistas compõem grande parte dessa vertente do jornalismo. Existem a Conjuntura Econômica, publicada pela Fundação Getúlio Vargas há 50 anos; Exame; Amanhã; Pequenas Empresas Grandes Negócios; Isto É Dinheiro; etc. A televisão também conta com os programas Conjuntura Econômica, da TV Cultura; e Pequenas Empresas Grandes Negócios, da Rede Globo. O jornalismo econômico foi se desenvolvendo de acordo com a evolução da economia no Brasil e no mundo. Importantes e conceituadas publicações foram se fortalecendo e se especializando cada vez mais nos assuntos que rondam o mundo dos negócios. Ao contrário do Brasil, no exterior já havia há muito periódicos sobre economia, como o The Economist, importante revista, lançada em 1843; e o jornal Financial Times, que chegou às bancas em 1888, ambos na cidade de Londres. Nos EUA, mais precisamente em Nova Iorque, existe o periódico The Wall Street Journal, fundado em 1889, e que, a partir dos anos 60, teve incluído em sua publicação matérias de cultura e internacional. Nesses dois centros financeiros mundiais o jornalismo econômico chegou no século XIX, o que aconteceu em nosso país quase um século depois. Apesar de normalmente direcionada a um público que domina esta linguagem, hoje podemos observar a necessidade da disseminação das informações econômicas sobre uma abordagem que a aproxime do leitor comum. Com esse novo segmento do jornalismo, os profissionais tiveram que se adaptar e se inteirar do que é a economia, conhecer essa ciência para poder passar para os cidadãos as informações acerca do que acontece no mercado financeiro. A Ciência Econômica é uma área do conhecimento complexa e de demorada aprendizagem. Sua abrangência teórica, com todos os conflitos ideológicos, paradigmas e paradoxos que a compõe, exige do jornalista de economia um saber diferente do convencional. (VIEIRA, 1999, p. 9).
57 A especialização dos jornalistas é um processo longo, que requer muito estudo e dedicação ao assunto, já que a economia não é um objeto tão simples, pois envolve vários aspectos da sociedade. Por abranger ciências exatas e humanas, se torna complexa, necessita de um entendimento global e não só de uma análise lateral. (VIEIRA, 1999). Os fatos relacionados à economia nunca são isolados, um acontecimento factual faz parte de uma cadeia de fatos, ou seja, não se pode fazer uma análise individual de um fenômeno, partindo do resultado, deve-se checar o que realmente fez com que tudo acontecesse. Por isso, o jornalista deve ter uma visão global, no caso do jornalismo econômico, mais ainda. Muitos aspectos que envolvem a economia são desconhecidos por grande parte da população, e é essa intermediação que o profissional que se dedicar ao jornalismo econômico tem que fazer: decifrar a economia e passar esse conhecimento para os cidadãos. Os próprios jornalistas acreditam que esse é o maior desafio para o profissional que escolhe a economia como campo para especialização. Essa dificuldade é que caracteriza o jornalismo econômico: temos uma ciência de difícil entendimento e acesso; uma linguagem rebuscada, como siglas e mecanismos que não podem ser explicados com duas linhas de uma matéria de jornal ou em 30 segundos de uma reportagem na TV; e um público que não acredita que a economia faça parte do seu dia-a-dia. São fatores que realmente fazem com que o jornalismo econômico atinja uma minoria e, geralmente, a elite de empresários ou quem está envolvido no mundo dos negócios. Chegar ao público é uma árdua tarefa, que depende da experiência do jornalista e da sua capacidade de interpretação, para esmiuçar a economia e repassá-la para o veículo de informação, como afirma Silvia Regina Rosa. [...] a população não reconhece a sua realidade nas páginas dos jornais, não se identifica com os personagens retratados e não consegue enxergar a influência direta da política econômica em sua vida. Tal distanciamento é resultado de uma distorção do conceito de economia nos cadernos econômicos, que foi resumido ao dinheiro ou a capacidade de gerá-lo, destituído de seu conceito mais amplo que envolve as atividades do homem para satisfazer suas necessidades. De ciência da escassez a economia passou a figurar como a ciência da riqueza, voltada não à satisfação do homem, e sim às necessidades de acumulação do capital. (ROSA, 2005, p. 37). Quando os jornalistas conseguirem aproximar a economia do cotidiano da população, o jornalismo econômico terá conseguido atingir o grande ato de sua existência. E isso só poderá ser feito com a revisão dos conceitos de economia e do próprio jornalismo, buscando ferramentas para atingir de maneira mais plena possível todas as camadas da sociedade. Em um universo de siglas, estrangeirismos e termos técnicos é onde se instala o jornalismo econômico, em que essa particularidade afasta as pessoas dos cadernos de economia, por exemplo. A dificuldade de entendimento e o distanciamento da maioria da população fazem com que a economia seja esquecida, deixada de lado; não há interesse das pessoas, já que acreditam que ela não influencia em nada as suas vidas. O jornalista econômico deve buscar uma linguagem mais simplificada que vise atingir todas as camadas da sociedade. Para isso, já que a economia é uma ciência complexa, os profissionais têm que se inteirar do assunto de forma profunda, para poder informar com
58 qualidade. A notícia não deve ser somente reprodução de informação, além de estar em uma linguagem inteligível, ela deve ser produzida de modo que seja contextualizadora, para, além de ser entendida, ela interaja com o universo do cidadão comum. REFERÊNCIAS BASILE, S. Elementos do Jornalismo Econômico. Rio de Janeiro: Campus, 2002. BISHOP, M. Economia sem mistério: glossário dos termos essenciais. São Paulo: Publifolha, 2005. CALDAS, S. Jornalismo Econômico. São Paulo: Contexto, 2003. HEILBRONER, R. Introdução à macroeconomia. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973. KUCINSKI, B. Jornalismo Econômico. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000. RESENDE, J. V. Construtores do Jornalismo Econômico: da cotação do boi ao congelamento de preços. São Paulo: SAA APTA, 2003. ROSA, S. R. Jornalismo Econômico: uma leitura possível. 2005. Monografia (Graduação em Jornalismo) - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru. SARCINELLI, J. Jornalismo Econômico: a sedução do Poder. Disponível em: <http://www.hottopos.com/mirand3/econ.htm>. Acesso em: 15 set. 2009. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. São Paulo, 2003. VIEIRA, F. Jornalismo Econômico: especialização, linguagem e argumentação. 1999. Monografia (Graduação em Jornalismo) - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru.