A EDUCAÇÃO INFANTIL NA PERSPECTIVA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO¹ Swellen Silva Pinheiro Acadêmica do curso de Licenciatura em Pedagogia Universidade Federal do Maranhão UFMA; E-mail: swellen_01@hotmail.com Resumo: Este trabalho tem por objeto de estudo o Estágio em Docência na Educação Infantil ofertado pelo curso de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão UFMA, realizado em uma creche municipal de São Luís MA. Este estágio tem por finalidade a formação inicial de professores da educação infantil, sendo trabalho em três etapas. A primeira com discussões em sala de aula de textos acerca da temática estágio, a segunda com observação participante na escola-campo e a terceira com elaboração de um projeto de trabalho e intervenção em sala de aula. O presente trabalho pretende trazer à tona as dificuldades encontradas durante o estágio e também as contribuições dessa experiência para a formação inicial do professor de educação infantil. Desse modo, o consideramos como sendo um ponto de partida para a construção do perfil docente que pretendemos consolidar durante a caminhada acadêmica. Palavras-Chave: Educação Infantil. Docência. Estágio. Introdução Comumente o estágio obrigatório é visto apenas como a parte prática dos cursos de graduação, momento onde serão aplicadas as teorias estudadas durante todo o percurso acadêmico. Como afirma Pimenta e Lima (2004, p. 33) o estágio sempre foi identificado como a parte prática dos cursos de formação de profissionais, em contraposição à teoria. No curso de Pedagogia essa realidade não é diferente, acredita-se que no estágio a teoria será, finalmente, colocada em prática. Ou ainda, que a teoria difere da prática, sendo esta, considerada a parte principal do curso por muitos estudantes que acreditam que é na prática que se aprende. Mas será mesmo que é apenas na prática que se aprende? Será que teoria e prática estão separadas? Para responder a essas perguntas é necessário reconhecer o estágio não como a parte prática do curso, mas sim como teoria e prática juntas. De modo que, para realizar determinada atividade, seja qual for, é necessário saber o que se está fazendo, tendo um aporte teórico que a sustente. Assim, o presente trabalho aborda as experiências enquanto estagiária em uma turma de maternal I de uma creche-escola municipal por meio do estágio em docência na educação infantil, oferecido pelo curso de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, sendo o ¹Este trabalho advém da realização do estágio curricular do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão - UFMA
meu primeiro contato com o cotidiano da creche, com crianças de 2 e 3 anos de uma turma de tempo integral. A construção de uma relação autêntica com os sujeitos da turma nos permitiu desenvolver as atividades com mais segurança, sabendo que havia alguém disposto a nos ajudar e colaborar nos momentos de dificuldades que surgissem durante a nossa intervenção. A observação participante foi muito importante para que essa relação pudesse ser construída. No estágio em docência na educação infantil, percebemos que este não se trata da parte prática do curso de pedagogia, mas sim, de um momento de extrema importância para a nossa formação profissional. De maneira que, para que as atividades por nós desenvolvidas no campo de estágio pudessem ser realizadas, sentimos a necessidade de recorrer aos textos norteadores discutidos durante a preparação inicial e contínua do estágio e também revisitar conceitos importantes que nos ajudaram a perceber as crianças em suas relações e brincadeiras. Neste trabalho abordamos nossas experiências enquanto estagiárias, as etapas primordiais desse processo, algumas dificuldades encontradas e as contribuições advindas do estágio. A relação teoria e prática: os primeiros passos do estágio Durante a preparação para o estágio, surgiram questões importantes que nos permitiram refletir sobre o que esperar das etapas de observação participante e gestão docente. (...) o estágio curricular e obrigatório, não é um tempo para a aprendizagem ou para a preparação do que pode vir a ser. Não é um ensaio para se chegar depois a um lugar qualquer. Antes, um tempo em que o estudante e o cotidiano daquele lugar se enlaçam, se alteram, se misturam. Numa observação, que é, ao mesmo tempo, inserção, ação, relação, presença. (SILVA, 2001, p. VIII) Este trecho despertou nossa atenção durante a discussão na turma, ainda na UFMA, por traduzir de forma bem clara o que é o estágio, de modo que este não é um teste, é a realidade acontecendo. Nesse sentido, somos nós inserindo-nos na rotina da escola, criando relações com a professora da turma, a cuidadora, os demais profissionais e principalmente com as crianças, sendo presença no campo de estágio. É um momento único de vivenciar a rotina da educação infantil. E essa rotina é mencionada por Souza e Weiss (2012, p. 34) quando falam que a rotina com essas crianças tão pequeninas é algo extremamente intenso e agitado. Em poucas palavras, esse trecho diz muito da educação infantil, é preciso disposição para acompanhar as crianças, para
conseguir viver cada experiência que elas nos proporcionam e as perceber como cidadãs em construção, aprendendo a viver nesta sociedade por meio das relações que estabelecem em casa, na escola e em outros ambientes, por meio de brincadeiras e tantos outros elementos constituintes desse processo de desenvolvimento dos pequenos. Mello (2007, p. 94) reforça essa ideia quando diz que a compreensão de que o que está em processo na infância são a formação e o desenvolvimento da inteligência e da personalidade envolve uma reviravolta na organização das práticas educativas na escola da infância.. Quando se compreende o que está em jogo na educação infantil, é preciso rever as práticas educativas utilizadas, com vistas a fazer o melhor para que as crianças consigam desenvolver as suas potencialidades. Já Pimenta e Lima (2004, p 46) ressaltam que a pesquisa no estágio é uma estratégia, um método, uma possibilidade de formação do estagiário como futuro professor. O campo de estágio é uma oportunidade de o estudante perceber-se, de fato, enquanto docente em processo de formação, e todas as situações vividas durante esse percurso são fontes de pesquisa e de aprimoramento para que o ser professor floresça cada vez mais por meio dessas experiências. Assim, Moretti e Silva (2011, p. 55) destacam que (...) uma disciplina de apenas meio semestre não dá conta da transformação deste olhar para a infância, da educação do olhar dos alunos e das alunas para buscarem observar as sutilezas das trocas das crianças nos momentos lúdicos (...). De fato, é pouco tempo se comparado ao tanto de detalhes que as crianças nos estimulam a perceber, e quando começamos a nos acostumar e a entender os sinais de cada uma, o estágio acaba deixando saudade e também fazendo falta na continuidade da construção desse olhar para as crianças. Considerando que Rosa e Lopes (2012, p. 63) afirmam que brincando, a criança aprende a ser humana, solidária, aprende a viver, a sonhar, a imaginar, a ter autonomia e a construir conhecimento sobre o mundo à sua volta, não podíamos deixar de perceber as brincadeiras das crianças, as suas atitudes, o conteúdo implícito em um simples brincar de bonecas ou de carrinho. Perceber as nuances do momento da brincadeira nos permite visualizar o que há além do obvio e dar conta de sinais que alertam para algo que possa estar acontecendo com a criança. As referências utilizadas nos permitiram enxergar o campo de estágio com outros olhos, tendo base para lidar com as situações que viessem a surgir dentro e fora da turma, com as crianças e também para fundamentar as atividades por nós, desenvolvidas.
Do mesmo modo, estas referências nos ajudaram a construir uma nova perspectiva docente, sabendo o que e como observar, permitindo que durante a vivência no campo de estágio as crianças nos mostrassem novas possibilidades de observação, sendo a cada dia de estágio um momento de constante descoberta das crianças e de nós mesmos. As intervenções em sala de aula O estágio em docência na educação infantil foi organizado em três etapas principais, sendo a primeira na UFMA, com estudo e discussão dos textos norteadores em sala de aula, com vistas a preparar os estagiários para a chegada à escola. A segunda, já no campo de estágio, foi a de observação participante, onde tivemos a oportunidade de vivenciar o cotidiano da turma do maternal I sem ainda intervir diretamente, mas participando de todos os momentos com as crianças. Uma semana antes de iniciar a terceira etapa, a de gestão docente, elaboramos uma sequência didática para trabalhar o tema meio ambiente, considerando a proximidade da data comemorativa. Para realizar essa atividade utilizamos materiais que representaram o mar, com os peixes vivos e os mortos e o lixo, com o objetivo de incentivar as crianças a não poluir o mar, mostrando a elas que o lixo havia matado os peixes e que elas também deveriam manter limpos os outros ambientes em que vivem, para que ninguém ficasse doente, estimulando assim a percepção ambiental delas. Após esse dia, utilizamos o tema festas juninas para elaborar o projeto a ser desenvolvido durante o estágio, intitulado O Maravilhoso Mundo das Festas Juninas. Trabalhamos com as crianças os objetivos traçados nesse projeto por meio das atividades que fizemos na turma, proporcionar a elas um contato mais próximo da cultura popular maranhense, valorizando-a. Nós preparamos as atividades em sequências didáticas. Trabalhamos música e movimento por meio das danças típicas das festas juninas, nesse dia algumas crianças preferiram brincar enquanto outras dançavam, e estas aos poucos foram entendendo que estávamos em época de São João. Preparamos também fantoches, uma atividade na qual todas as crianças participaram e ficaram muito animadas quando conseguiram colocar os detalhes em seus fantoches. Confeccionamos também um livro com a história do bumba meu boi do Maranhão, algumas não entenderam a história, outras já ficaram extremamente atentas, curiosas e perguntavam tudo que lhes chamava a atenção.
Nesse período de gestão docente tivemos muita dificuldade em chamar a atenção das crianças, de sermos ouvidas por elas, de organizá-las para participarem de uma atividade. Em alguns momentos ficávamos tristes por nossas sequências não terem surtido o efeito que deveriam, por nem sempre conseguirmos a atenção de todas as crianças, ou pelo menos da maioria. Nossas sequências sempre sofriam alterações, e apesar de ser um pouco frustrante, percebíamos que em determinada atividade, as mudanças seriam necessárias e assim fizemos, tendo como apoio a professora da turma, que sempre nos ajudava quando precisávamos durante a realização das atividades propostas por nós. Durante o estágio foi possível perceber as crianças de uma forma diferenciada, com um olhar mais atento ao que elas estavam fazendo, às suas brincadeiras, questionar os motivos delas apresentarem certos comportamentos, e esses detalhes nos permitiram compreender melhor o que já havia sido discutido em sala de aula. E, além de compreender melhor as discussões realizadas em sala de aula, esse olhar diferenciado e atento às crianças, nos permitiu enxergar algo além do que esperávamos da vivência na escola-campo. Considerações Finais O estágio supervisionado nos deu uma bagagem enorme para nossa formação docente, nos permitiu vivenciar o contexto da creche, tendo a professora da turma por perto para indicar o melhor caminho a seguir, mostrando nossos erros e acertos, e nos ajudando na construção de uma identidade profissional. A professora da turma foi fundamental nesse processo por ter sido autêntica conosco o tempo todo e por nos ajudar com as crianças sempre que necessário, nos dando conselhos para melhorar nosso desempenho em sala de aula. Esta contribuição não poderia passar despercebida. De modo que tivemos um retorno imediato do que estávamos realizando com as crianças, sempre com vistas a uma melhora não apenas para nós enquanto estagiárias, mas também para as crianças que eram o foco das nossas atividades. O estágio é um momento de aprendizado mútuo, e que nos chama a atenção para o quanto a educação é importante desde muito cedo, de modo que as crianças pequenas têm muito a aprender, e também nos ensinam coisas surpreendentes e que enriquecem a nossa formação e a de qualquer um que se permita surpreender por uma criança, se deixando envolver por tudo que uma
vivência na educação infantil proporciona e também percebendo as crianças como sujeitos da história, percebendo-as por inteiro e contribuindo para o desenvolvimento delas. Nesse sentido, não podemos deixar de falar das contribuições deste estágio para nossa formação acadêmica, as orientações da nossa supervisora docente foram de grande importância durante todo o estágio, os textos estudados e debatidos em sala de aula também contribuíram para o embasamento das nossas observações, assim como das intervenções, as conversas com a professora da turma, o convívio com as crianças. Tudo isso contribuiu para que nos percebêssemos enquanto estudantes de pedagogia, tendo um compromisso ainda maior com o curso e conosco, no sentido de observar onde nos encaixamos de fato, respeitando nossas limitações e dificuldades, e mais do que isso, respeitando quem somos a fim de começar a definirmos nosso futuro profissional a partir dessa experiência. Referências MELLO, Suely Amaral. Infância e humanização: algumas considerações na perspectiva históricocultural. Revista Eletrônica Perspectiva. Santa Catarina, v.25, n.01, 2007. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/1630/1371. Acesso dia 28 de agosto de 2016. MORETTI, Nara Martins; SILVA, Nélia Aparecida. Brincar na educação infantil: transgressões e rebeldias. In: Culturas Infantis em creches e pré-escolas: estágio e pesquisas. Campinas, SP: Autores Associados, 2011. OSTETTO, Luciana Esmeralda. (org); SOUZA, Andressa Célia; WEISS, Vanilda. Aprendendo a ser professora de bebês. In: Educação infantil: Saberes e fazeres da formação de professores. 5ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2012. (org); ROSA, Cristina Dias; LOPES, Elisandra Silva. Aventuras de viver, conviver e aprender com as crianças. In: Educação infantil: Saberes e fazeres da formação de professores. 5ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2012. PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Mara Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004 (Coleção docência em formação). Série Saberes pedagógicos. SILVA, Adriana et. Al. Culturas infantis em creches e pré-escolas: estágio e pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 2011.